A IMAGEM NO ESPELHO
Esta parte de mim nunca tem fundo;
É um poço, um abismo, um nunca-acaba!
Se nela caio, já ninguém me agarra
Que esta parte de mim é de outro mundo...
Nesta parte de mim, quando caminho
Neste fio-de-navalha em que me vivo,
Descubro os sonhos novos que cultivo
E que cheiram a mel e rosmaninho...
É aqui, neste espelho em que me mostro,
Que sou mais eu, que sou mais verdadeira,
Que dispo outras roupagens que me cobrem
Noutra imagem de mim, quando demonstro
Que, apesar de dispersa, fico inteira,
Muito além das feições que aqui me morrem...
Maria João Brito de Sousa - 21.04.2008 - 13.19h
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Fotografia - Pormenor da tela homónima deste poema, de Georges Rouault
Paris, 1906