SONETO DE CODA
(Em decassílabo heróico)
Quando o verso desponta e, de repente,
Sinto que o Tejo vem, de vaga em vaga,
Depor, nas rochas que em meu peito traga,
Em líquido compasso, o comburente
Deste fogo maior, insano, urgente,
Que ateia a poesia em qualquer fraga
E, sem hesitações, rejeita e esmaga
Razões de outra razão bem mais urgente
Eu, bicho, ao descobrir que o não comando,
Que, sabendo porquê, nunca sei quando
O fluxo se me impõe com força tal
Que dele brote o poema, agreste ou brando,
E, com força de grito ou murmurando,
Se afirme, em rebeldia, um bicho igual,
Deixo aberto esse espaço em que, voando,
Se imponha livremente e vá brotando
De geração espontânea e natural…
Maria João Brito de Sousa – 17.09.2013 – 17.05h
Nota – Este é o meu primeiro “soneto de coda”.
Dedico-o ao poeta Frassino Machado pois, ao contrário do que ele imaginava, não conhecia esta “modalidade” até me deparar com alguns sonetos de coda, de sua autoria.
Nasceu da forma espontânea que tão naturalmente me foi surgindo e descrevo no corpo do poema. Nunca planeei escrever um soneto deste tipo. Friso bem que foi o próprio poema que se foi impondo, ao longo da concepção, enquanto “soneto de coda”.
O último terceto – que caracteriza esta modalidade – nasceu da absoluta necessidade de tornar inteligível a estrutura de uma simples mensagem que, desde o início, pressupus poética.
Também não fiz qualquer pesquisa sobre o tema e não sei se me voltará a nascer mais algum.
Maria João