A BARCA DE CARONTE (Ao Poeta António de Sousa)
Sou, por tua vontade, ó mar ingrato,
Da Barca de Caronte o timoneiro;
Nela percorro o Universo inteiro
Em busca do pecado ou do recato.
E, nela, o meu destino, esse insensato,
Me condena ao inferno derradeiro
De eterno comandante e prisioneiro
Da barca a que me prendo, onde me mato...
Aqui, neste vai-vem, eu nasço e morro
Mil vezes por segundo em cada dia
Das mil eternidades por chegar
E, pr`a mim não há esp`rança de socorro,
Nem porto para a barca da agonia
A que me condenaste, ingrato mar...
Maria João Brito de Sousa - 27.02.2008 - 12.54h
Na foto, Miguel Torga e António de Sousa
em Coimbra, 1937.
Fotografia retirada do JL de 16.03.1981
NOTA - O soneto é de minha autoria e quem, como eu, tivesse vivido junto dele durante tantos anos, saberia que o "vestiu" na perfeição das suas horas mais amargas...