22
Jun11
DOR
Maria João Brito de Sousa
Não me doas assim, tão cruamente,
Roubando-me a noção de tudo o mais,
Deixando-me irascível, descontente,
Exausta do suplício em que me esvais…
Deixa-me em paz o corpo onde sou cais,
Sozinha, eu sei, mas orgulhosamente!
Devolve-me o meu "eu" de aonde sais
Pr´a que o poema nasça urgentemente...
Quem pode assim escrever, desfeita em dor,
Abafando os gemidos da lamúria,
Sem descanso ou momento de conforto?
Quem poderá provar-te sem temor,
Sem que a voz lhe rebente numa fúria,
Ou preferir-te à paz de um cais já morto?
Maria João Brito de Sousa