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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
08
Jun11

DAS TOURADAS E DAS GRANDES CONVICÇÕES - Carta aberta ao meu avô poeta

Maria João Brito de Sousa

… e depois, António,

eles benzer-se-ão e partirão gloriosos

para a mortandade

sem que os tenhamos podido desculpar

e agradecerão as palmas

com a consciência do ritual cumprido

e haverá crianças

- crianças como eu era quando,

ao vê-los,  fugia do ecrã da televisão… -,

haverá crianças, António,

que também baterão palmas

e que crescerão embaladas

pela apoteótica matança,

abençoadas pelo deus a que eles se confiaram

e em que eu nunca acreditarei

porque, perdoa-me, António,

eu não posso, nem quero, acreditar

nesse mesmíssimo deus cruel e estúpido,

se ele for tão estúpido e tão cruel

que abençoe a ritualização da tortura…

 

 

 

Ou fomos nós que

sempre estivemos enganados?

Ou fomos nós que

errámos quando condenámos a raiz comum

de todas as descriminações

e de todas as atrocidades?

Ou éramos só nós que víamos,

nos olhos do touro,

a mesma inocência dos dos cristãos novos, no Paço,

dos dos negros, nos porões das naus,

dos dos judeus, em Auschwitz,

dos dos nossos amigos, nas masmorras da Pide?

 

Todos diferentes, todos animais,

António…

 

E eu, António,

eu que, hoje, como há cinquenta anos,

os sinto, os entendo

e, do mais fundo de mim,

os tento perdoar,

não consigo deixar de condenar

essa crua faceta de tantos

 

tantos dos que,

caminhando sobre duas patas,

acreditam que a dor é monopólio seu

e que a racionalidade

lhes confere o direito de SERem os únicos.

 


 

TODOS DIFERENTES, TODOS ANIMAIS!


 

Ao meu avô, António de Sousa, Poeta, tradutor, advogado, crítico literário e um daqueles seres vivos que sempre acreditaram na sensibilidade de todos os outros.

 

Maria João Brito de Sousa - 07-06-2011-11:41h


[against all odds, com honras de blog principal]


 

Ps – Perdoa-me se te arrasto o nome para o campo de uma batalha que prevejo desproporcional, dura e infindável. Por esta altura, tu, lá na tua Ilha de Sam Nunca e eu, ainda por cá, fisicamente desgastada, pouco mais poderemos emprestar para além disto; nome e versos… mas não fomos nós quem sempre acreditou na força das convicções e das palavras que as levam mundo afora?

 

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