QUARTA E QUINTA FEIRA
AONDE O MEU BALOIÇO OUSOU PEDIR-ME...
Na manhã desse dia eu quis voar,
Mas estava presa à terra e vacilei…
Só no dia seguinte é que voei
Sem que o mundo me ousasse aprisionar
Não sei se era de noite e se o luar
Me abençoou, ou não, quando lancei
Corpo e alma no espaço e conquistei
O direito a poder, ou não, pousar
Foi depois que nasceram os poemas,
Que as asas, a crescer, ganharam penas
E me senti mais perto de cumprir-me
Era eu menina e as asas que cresceram
Eram frágeis demais, nunca puderam
Levar-me onde o baloiço ousou pedir-me…
Maria João Brito de Sousa – 30.11.2010 – 19.26h
NO OLHAR DE CADA SEM-ABRIGO
A pobreza tem voz, tem dignidade,
Sabe de cor a cor dos nossos medos,
É arauto gritando os mil segredos
Que nunca revelamos de verdade
Se chora, chora mesmo! É a saudade,
São as horas amargas dos degredos,
São as noites passadas nos lajedos
Dos edifícios velhos da cidade…
A pobreza diz mais, sem dizer nada,
Pois conhece os degraus de cada escada,
Desdenha do valor de cada perigo
E percorre, em silêncio, a longa estrada
Da sobrevida ao longo da calçada
No olhar de cada um dos sem-abrigo…
Maria João Brito de Sousa - 01.12.2010 – 18.29h