SÁBADO, DOMINGO E SEGUNDA FEIRA XXIII
CANTO INTEMPORAL DE UMA SEREIA NUMA PRAIA DO NOSSO IMAGINÁRIO
Ali era outro o mar, outra a viagem
E outra a luz de um tempo imprevisível
Que ecoava absurdo, irónico, irascível
E esmagava o real, como uma vagem.
Fora ali que eu deixara uma mensagem
Pr` alguém que, mais atento ou mais sensível,
Descobrisse o que fiz quando, invisível,
Me derramara inteira sobre a margem.
Pedi, naquela carta, um pouco ainda,
Do vosso imaginário colectivo,
Quanto se expressa em criatividade
Nas voltas de um futuro que não finda
Em que, pr`a estar convosco, sobrevivo
Incólume a tão dura austeridade…
Maria João Brito de Sousa – 27.11.2010 – 20.26h
MEUS LONGOS, LONGOS DIAS DE MENINA...
De vez em quando, o mar, o vento, a areia,
Vêm, num rodopio, lembrar-me os dias
Em que encontrava, sempre, uma sereia
Em cada espelho de água em que me via
Eram dias de sol, de maré cheia,
De um tempo de crescer que eu percorria
E que neste momento tenho ideia
Me davam muito mais do que eu pedia...
Mas, mar, areia e vento, em rodopio,
Inda dançam pr`a mim quando me rio
E só por não poderem não trarão
De volta os longos dias que, em menina,
Me faziam sentir que era divina
A lentidão das horas desse então…
Maria João Brito de Sousa – 27.11.2010 – 17.59h
NÃO NEGO ABRIL!
Não negarei Abril, que Abril sou eu
E tudo o que em mim vive e se desdobra
Como se fosse vosso o que me sobra
E o que vos sobra, a todos, fosse meu!
Não negarei o espaço, nem o céu
Ou o que há de divino em cada obra
E hei-de pagar ao mundo o que ele me cobra
Porque o que cresce em mim, de Abril nasceu.
Não nego Abril, que Abril me seduziu,
Me foi estendendo um braço companheiro
Nas asas e canções de voz liberta!
Prometeu e se, acaso, não cumpriu,
Foi só por não ter sido o derradeiro
Abril da liberdade sempre incerta...
Maria João Brito de Sousa – 27.11.2010 – 21.06h