SÁBADO, DOMINGO E SEGUNDA FEIRA XXII
NAS TUAS MÃOS
Nas tuas mãos eu, ave, te confesso
Que esvoaço, sucumbo e, já rendida,
Procuro noutras mãos uma guarida
Onde a chama que sou não tenha preço.
Eu, ave, só te entrego o que não peço;
Submeto-me à carícia prometida
Nas asas da loucura em mim escondida
Que tu nem sonharias e eu não meço.
E que outra ave marinha of`receria
Tão extrema e profundíssima alegria?
Que outra alma se daria em seda pura?
As tuas mãos… quem mais se atreveria
A desvendar-lhes sede e fantasia
Para enchê-las de sonho e de ternura?
Maria João Brito de Sousa – Maio 2007
LEITORA COMPULSIVA
Em que ficamos nós? Que hei-de fazer
Se o sol quiser nascer enquanto a lua
Me instiga a que desvende o que eu puder
De um livro que tem vida e geme e sua?
Enquanto esta leitura me quiser,
Procurarei razões que esta alma estua
E entenderei, no fim, que sou mulher
A viajar nos versos de alma nua
À hora em que sol nasce deslumbrado,
Entendo finalmente que é escusado
Tentar chegar ao fim... e adormeço,
Pois só adormecida me liberto
Do livro, sobre mim, que ainda aberto
Me oferece muito mais do que eu lhe peço.
Maria João Brito de Sousa – 19.11.2010 – 18.41h
ANJO IMPREVISTO
Sinto-te vir, mais suave que uma prece.
Volteia sobre mim, Anjo Imprevisto!
És o jorrar de um néctar que conquisto
No culminar de um corpo que adormece.
De tudo o que na vida me acontece
Sempre que o isco surge e não resisto,
És bem menos provável – nisso insisto! –
Do que um dia a romper quando anoitece.
Portanto, anjo impossível que não esqueço,
Adeja sobre mim quando adormeço,
Conquista-me este sonho e vai-te embora!
Pois tu não sabes que não tenho preço,
Que acordo, me reinvento e te despeço?!
(o meu espanto é lunar, não se demora)
Maria João Brito de Sousa – 20.11.2010 – 18.03h