SÁBADO, DOMINGO E SEGUNDA FEIRA XVII
SOZINHO
Falaste-me de ti e eu ouvi-te
Com a mesma atenção que dispensei
Às coisas que mais amo. Então pedi-te
De volta esses minutos que te dei
Bem mais do que falar, era um convite
Para um sonho comum que eu te entreguei.
Seduziste-me assim. Eu seduzi-te
Com as verdades – tantas! - que contei.
Falávamos, tão só, de outro Poeta,
De alguém que nos fascina e nos deixou
Um rasto de palavras e um caminho
Sou apressada, eu sei… a minha meta
É agora, é enquanto por cá estou.
Mais tarde falarás só tu. Sozinho.
Maria João Brito de Sousa – 28.0.2010 – 13.41h
Posso não estar muito segura da qualidade e da oportunidade daquilo que digo mas estou, sempre, firmemente convicta de que devo dizê-lo.
SHEHERAZADE
Amanhã nascerá a nova história
Que, agora, nem sequer vou preparar.
Depois, farei bom uso da memória,
Do que lhe for capaz de acrescentar,
Pois, se um dia falhar, vai-se-me a glória
Dessa infinita história de encantar
E nunca poderei cantar vitória
Porque o velho sultão vai-me matar,
Mas, enquanto eu viver, a cada dia
Dependo mais e mais da minha fé;
Por cada estória, engendro uma conquista!
Acusam-me de quê? Monotonia?
Isso é se se não cria; nunca é
Cuidar de que o carrasco não resista.
Maria João Brito de Sousa – 2.08.2010 – 19.00h
A BOLA DE CRISTAL
Tentaste confundir-me. Eu percebi
E emprestei-te a bola de cristal
Pr`a que pudesses tê-la só pr`a ti
E não tentasses mais deixar-me mal
Mas, mesmo disfarçando, eu bem senti
Que, com bola ou sem ela, és sempre igual
E não volto a pedir-te o que pedi
Não vás tu encontrar forma ideal
De confundir-me e seres bem-sucedido...
Eu ando por aqui para mostrar-te
Que a própria confusão é produtiva
Pois se a bola mostrar ter-me entendido
Nas minhas concepções de engenho e de arte,
Terá adivinhado que estou viva.
Maria João Brito de Sousa – 28.08.2010 – 19.57h