Maria João Brito de Sousa
Fotografia de Carlos Ricardo
*
GUERRA E PAZ *
Há guerra e paz na voz com que protestas
E umas notas frutadas que não sei
Se te vêm de um mês de espanto e festas,
Se de outro, contra o qual me revoltei *
Mas há-as, porque as vejo abrindo frestas
Na dor, quando a teu lado a partilhei
Num grito feito de ervas e giestas
Que ousei colher, quando jamais plantei *
Que mais há nessa voz que é minha e tua,
Que som nasce do som que vem da rua,
Se não a impotência e a tristeza *
De não poder-te dar melhor, nem mais
Do que estes vôos rasos sem os quais
Talvez nem pão houvesse à nossa mesa? *
Maria João Brito de Sousa
19.05.2018-17.04h ***
publicado às 12:04
Maria João Brito de Sousa
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*
DOIS IMPROVISOS AO CORRER DAS TECLAS *
Comigo desavinda também estou
E muito impropério então cometo,
Mas p'ra mim são e só a mim os dou
Pois quero fazer bem e não acerto. * *
Ora, bem sabemos nós que a perfeição
Não são "favas contadas" ou gostosas...
Quisera em paciência um bom quinhão
E não as vãs ciências enganosas. * *
Nem sei o que me deu em vir aqui
E neste arrazoado ser fisgada
Eu que de inspiração não tenho nada. * *
Porém, agora é certo que escrevi...
E deixo a quem me ler a sensação
De uma qualquer versada narração. * *
Helena Teresa Ruas Reis
23.05.2025 ****
Pra quem, de inspiração, diz nada ter
E logo após poeta desta forma,
Saiu-se muito bem, vou-lhe dizer,
E juro que vai muito além da norma! * *
Perfeita é sempre a Musa que a trouxer
Essa que só com muiiiito se conforma,
Que só vem ter conosco quando quer
Mas que nos agiganta e nos transforma * * Fico muito feliz por vê-la aqui
A transformar o verbo em poesia
E, como sempre, a dar o seu melhor * * Enquanto eu ando às voltas c`o I.M.I.
E só não digo onde é que o meteria
Porque, enfim, inda sinto algum pudor... * *
Mª João Brito de Sousa
23.05.2025 ***
publicado às 16:21
Maria João Brito de Sousa
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*
COMIGO DESAVINDA... *
Hoje, comigo mesma desavinda,
Tentei chorar e já não fui capaz...
Rir-me da minha pequenez infinda,
É bem mais fácil e bem mais me apraz *
Viver comigo mesma na berlinda,
Tornar-me de mim mesma capataz,
É opção que jamais será bem vinda
Por não deixar-me estar comigo em paz... *
Sou, no entanto, crítica severa
De tudo quanto faço, escrevo ou digo,
Quer esteja só, quer esteja acompanhada *
E, se erro, cresce em mim furor de fera
Capaz de apunhalar o próprio umbigo
Que culpa de inspirar-lhe a estrofe errada. *
Mª João Brito de Sousa
22.05.2025 - 22.00h ***
publicado às 22:30
Maria João Brito de Sousa
RIBALTA *
Às vezes é tão tarde, querido amigo,
Que uma nesga de céu nos bate à porta,
Que a gente nem a ouve... Ou já está morta,
Ou nem tem porta por não ter abrigo... *
Não quer entrar e conversar comigo?
Venha daí se o que eu disser lhe importa,
Quero mostrar-lhe os frutos duma horta
Que cozinhei num fogo muito antigo... *
É que a conversa, amigo, faz-nos falta,
Tanta quanta nos faz o pão prá boca
Ou a canção que anima e junta a malta *
Esta é a minha casa, a minha toca,
O meu pequeno palco e a ribalta
Da minha velha Musa ousada e louca. ª
Mª João Brito de Sousa
21.05.2025 - 21.30h ***
Sonetos de Todos os Tempos
publicado às 21:46
Maria João Brito de Sousa
“E” de EVOLUÇÃO *
Estranho este escuso embrionário estado
Entre eras (qu)e entrevejo entrelaçadas:
Esculpo-me em estanho e estranho-me estanhado.
Endosso. Ensaio efeitos. Embrulhadas... *
Encómios evoquei. É-me (n)egado
Expor-me entre eros e ébrios. Ensonadas,
Esperam-me exéquias de éter. Estipulado.
Extremismo. Exaltações exacerbadas... *
Escondo o ego esculpido (qu)e enrodilho,
Excluo “esses” e “erres” e estribilho
Expurgando eternos erros (d)e escansão *
Especializo-me em estrelas, ecos, entes...
Executo estratégias eloquentes,
Emancipo-me em “E” (d)e evolução. *
Maria João Brito de Sousa
21.05.2025 ***
Soneto modificado, trabalhado sobre o original de minha autoria ,"E" de EPHEMERA que aqui vos deixo porque o ChatGPT ainda tem algumas dificuldades ao nível da palavra impressa.
publicado às 15:25
Maria João Brito de Sousa
SONETO - 8 *
Pra que amanhã do luto nasça a luta,
Rego os cravos vermelhos que secaram
Renego os deuses que me desprezaram
E transformo a fraqueza em força bruta *
Inda que irresolvida, resoluta,
Cuspo nessoutros que os cravos pisaram
E sobrevivo a quantas dor´s me varam
Assim que as mãos retornam à labuta *
Revejo-me nos cravos que resistem:
Inda que em solo hostil estejam plantados
Jamais se vergarão aos que os conquistem *
Rompem mordaças, quebram cadeados,
Derrubam muros, mesmo os que inexistem,
E desabrocham quando espezinhados. *
Mª João Brito de Sousa
20.05.2025 - 00.05h
*
Sonetos da Contagem Decrescente
publicado às 01:03
Maria João Brito de Sousa
Tela de minha autoria fotografada e digitalizada por
Vítor Martinez
***
Por aqui, se faz favor
publicado às 22:03
Maria João Brito de Sousa
Imagem processada pelo ChatGPT
*
A MINHA DOR *
A minha dor é física e real
Tanto quanto o cenário de combate
No qual este meu corpo se debate,
Para meu mal maior, sem qu`rer-me mal *
Por mais cruel que seja e mais brutal,
Condená-la seria um disparate:
Vá, canta a tua dor, modesta vate,
Que à dor maior cantou-a uma imortal *
A dor que eu canto é qual cabana velha
A que o vento arrancou, telha por telha,
A cobertura, as portas, o conforto... *
É nela que o meu corpo agora mora
E é no dossel de musgo que a decora
Que o meu rosto se espelha assim que morto. *
Mª João Brito de Sousa
27.04.2022 - 21.00h *** Memorando o soneto homónimo de Florbela Espanca ***
publicado às 01:26
Maria João Brito de Sousa
Imagem precessada pelo ChatGPT
*
O FALCÃO DE KUSTURIKA *
Coroa de Sonetos *
Mª João Brito de Sousa e Laurinda Rodrigues *
1. *
À Via Láctea fui com Kusturica
Voando sobre o dorso de um falcão
Cuja fidelidade o dignifica
E a mim me rouba o lastro da razão *
Mas se a genialidade o justifica,
Quem justifica a minha absurda opção
De roubar o falcão de Kusturica
Após ver Kusturika em contra-mão? *
Adormeci, por fim, a meia Via,
Láctea, suponho, a crer no que se lia
No canto esquerdo do pequeno ecrã *
Não sei se Kusturika enfim chegou
Onde entendeu chegar ou se acabou
Por chocar contra a Estrela da Manhã... *
Mª João Brito de Sousa
11.03.2022 - 10.00h ***
2. *
"Por chocar contra a Estrela da Manhã"
ando eu a confundir o dia e a noite
num filme gypsi onde não é vã
a mão dum outro artista que se afoite. *
Talvez tenha vestígios de xamã
a voz de Kusturika, quando açoite
a nossa vibração que, com afã,
abriu uma cratera onde pernoite. *
Porque isto de falcão livre no espaço
fez eclodir em nós o embaraço
de poder competir com ele em voo... *
Eu não vou conseguir: sou só humano!
E, ao tentar construir um aeroplano,
fiquei presa no verso que eu entoo. *
Laurinda Rodrigues ***
3. *
"Fiquei presa no verso que eu entoo"
Até que a minha Musa ao ver-me assim
Bateu as asas e se ergueu num vôo
Que resgatou o que sobrou de mim... *
Se lhe perdôo? Claro que perdôo
Esse paternalismo mas, enfim,
Confesso que da ave me condôo
Pois não a trouxe a Musa ao meu festim *
Ainda que o festim tenha acabado
Assim que Morfeu veio disfarçado
E me induziu num sono tão profundo *
Que nem sequer dei conta do sequestro
Do meu corpo e do meu franzino estro,
Humano - é bem verdade - mas fecundo. *
Mª João Brito de Sousa
11.03.2022 - 13.35h
***
4. *
"Humano - é bem verdade - mas fecundo"
em palavras, que são um arco-íris
de vibrações intensas neste mundo
p'ra um diferente mundo construíres. *
Desta galáxia saltas num segundo
sem medo ou cautelosa por sentires
que afinal estás num astro vagabundo
envolto na revolta de faquires. *
E, então, gritas que volte esse falcão
que Kusturika trouxe como irmão
pois, sendo dois, a solidão fenece... *
E ele responde-te logo como amigo:
prefere a estar sozinho estar contigo
entoando a balada que não esquece. *
Laurinda Rodrigues ***
5. *
"Entoando a balada que não esquece",
Respeitarei a escolha do falcão:
Em mim a mesma escolha prevalece
Se solitária (en)canto a solidão... *
Ao longe há uma estrela que arrefece,
Nalgum lugar dum`outra dimensão...
Talvez sejam os olhos do falcão
Espelhados nela até que o fim comece *
Tão curiosa quanto um bom felino,
Sigo o falcão que, embora peregrino,
Não corre a Via Láctea em dez segundos *
Não me aproximo muito. A estrela é dele,
Se nela pouso pondo em risco a pele
Talvez me afaste do melhor dos mundos... *
Mª João Brito de Sousa
11.03.2022 - 18.25h ***
6. *
"Talvez me afaste do melhor dos mundos"
sem saber se esse mundo é dos melhores...
Mas, nesse jogo de contrastes moribundos,
eu espero francamente que não chores. *
Pois, sem o Kusturika, só com Edmundos
mesmo que em mutação esses adores
não te inibas de gritos furibundos
que ponham um final em tais folclores. *
É melhor viajar em plano inverso
p'ra apurares o sentido do universo
onde é possível encontrar falcões. *
E, de asas bem abertas, ambos voarem
até os Kusturikas encontrarem
na saga das estrelas e papões. *
Laurinda Rodrigues *** 7. *
"Na saga das estrelas e papões"
Quis o falcão, não quis a Kusturika,
Que eu sou muito selecta nas paixões
E sendo pobre, sei quanto sou rica *
Estranhas são estas minhas ambições
Que pouca gente entende ou justifica
Porquanto advogo sólidas razões
E não me importo se alguém mas critica *
Chorar, não choro, mas lamento imenso
Porque bem sei que um choro, um choro intenso
Faz tão bem ou melhor do que um sorriso *
Sou um bicho-do-mato afectuoso,
Algo selvagem, nada rancoroso,
Que num poema encontra o Paraíso *
Mª João Brito de Sousa
11.03.2022 - 19.47h
***
8. *
"Que num poema encontra o Paraíso"
e faz dele alimento permanente
porque a Musa lhe diz o que é preciso
p'ra que fique saudável e contente. *
E, dia a dia, num caminho liso
onde caem destroços, de repente,
troca-lhe as voltas mostrando juízo
porque não é nem torpe nem demente. *
Assim, a glória espalha-se p'lo ar
sem que haja falcão p'ra agarrar
porque as asas não chegam ao telhado. *
Fazemos versos como furacão
e, quando vemos p'ro que está no chão,
é o nosso retrato, lado a lado. *
Laurinda Rodrigues *** 9. *
"É o nosso retrato, lado a lado"
O mundo tresloucado que hoje vemos?
Não sei, que o furacão - talvez tornado -
É a arma que tenho. Ou a que temos? *
Voltemos ao falcão que, ao ter voado,
Deixou na praia o bote e os seus remos;
Mudei a velha rota a este Fado,
Ficou-me a meta além do que entendemos... *
É esta a grande "Ceia do Poeta",
Não há manjar que a Musa não prometa
A quem a saiba, em vida, preparar *
E enquanto fia a Grande Fiandeira,
Somam-se os versos sobre a cabeleira
De um cometa que passa sem passar. *
Mª João Brito de Sousa
12.03.2022 - 10.30h ***
10. *
"De um cometa que passa sem passar"
ou asteróide feito em raio de luz,
em todos nos podemos retratar
sejam astros de amor ou sejam cruz. *
Num diálogo louco, sem parar,
mesmo quando parar o que traduz,
iremos num veleiro navegar
por águas que ao nordeste nos conduz. *
E sejas tu o Kusturika ardente
que transportas a Musa já cadente
a juntar-se, no céu, ao tal cometa... *
Que eu sou apenas uma mosca-morta
e, se ela te incomoda, então exorta
que, um dia, também possa ser poeta. *
Laurinda Rodrigues
*** 11. *
"Que um dia também possa ser poeta"
Disseste e eu sorri, pois tanto quanto
O sou, tu és também... e a dilecta
Da minha Musa, quando aspira ao canto! *
Este rio nunca corre em linha recta,
Nem suas águas param num quebranto,
Que sempre crescem na razão directa
Da força do seu estranho, infindo espanto... *
Nas asas de um falcão, algures no espaço,
Acendemos agora um novo abraço;
Duas gotinhas somos, nada mais, *
Mas, ao juntar-nos, crescemos um pouco;
Voa um falcão sobre este mundo louco
E a Barca fica à espera, presa ao cais... *
Mª João Brito de Sousa
12.03.2022 - 11.40h ***
12. *
"E a Barca fica à espera, presa ao cais"
enquanto as multidões olham a guerra
onde uma propaganda é já demais
p'ra quem quer a mudança nesta terra. *
Somos navegadores, que o tempo encerra
na coragem de povos tão fatais,
que eretos ficam, mesmo ao pé da serra
que, p'la grandeza, nos torna imortais. *
Damos as mãos com os olhos no além
feito de sonhos e reais também
até p'ro desafio mais imprevisto... *
Aves do céu, afastem vossas asas,
porque a poesia invadiu as casas
num concerto de amor nunca antes visto. *
Laurinda Rodrigues ***
13. *
"Num concerto de amor nunca antes visto"
Voarão juntos pombas e falcões
E surgirá a Paz em que hoje invisto,
Sem bombas, sem granadas, nem canhões *
Terá a Paz a solidez do xisto
E a justa força das revoluções
Do proletariado - nisto insisto! -
De todas, mesmo todas, as nações *
"Utopias!", dirão, talvez sorrindo
Os que vão dando o mundo por já findo
E não crêem na força da Vontade *
Dos que avançam sobre os que vão caindo,
Esses que o mundo vão (re)construindo,
Sem egoísmos, pela Humanidade! *
Mª João Brito de Sousa
12.03.2022 - 14.30h ***
14. *
"Sem egoísmos, pela Humanidade!"
Que seja a lucidez o seu guião!
A Razão é só parte da Verdade
quando não foi ouvido o coração. *
O gesto de uma mão, com suavidade,
que dá uma palavra, além de pão,
nasce quando nasceu a caridade
consagrada por Cristo na Paixão. *
Se são injustas a pobreza e a dor
de gente que trabalha com fervor
sem nunca ser bastante o que lhe fica, *
Todo o Universo está em harmonia.
E, criando no céu a fantasia,
"À Via Láctea fui com Kusturika". *
Laurinda Rodrigues ***
publicado às 10:42
Maria João Brito de Sousa
SIGAMOS MAIO AFORA *
Coroa de Sonetos *
Mª João Brito de Sousa e Joaquim Sustelo *
1. *
Sigamos Maio afora confiantes
Sabendo, embora, quanto nos espera,
Sejamos mais do que o que fomos antes
Em cada Maio e em cada Primavera, *
Que Maio sempre fez de nós gigantes
Diante da malícia de uma fera
Que nos tem por dispersos, vãos, errantes
Cavaleiros do sonho e da quimera. *
Sigamos Maio afora; Junho e Julho
Esperam por nós, de nós terão orgulho,
Tal como cada mês que está por vir *
Nos há-de abrir os braços, finalmente,
Quando o futuro se tornar presente
De quanta gente em Maio o construir! *
Maria João Brito de Sousa - 02.05.2020 - 08.39h *** 2. * "De quanta gente em Maio o construir!"
Esse futuro por agora tenso
Que o mês de Maio irá fazer surgir
Envolto em sonhos bons tal como penso *
Junho há-de com mais força também vir
A força de vencer, que me convenço
Depois deste "maduro Maio" florir
Irá florir o mundo ao qual pertenço *
Confio em ar mais puro... a atmosfera
Irá consolidar a primavera
Nos campos e nas almas desta gente, *
Que agora ainda está na incerteza
Mas que depois verá com mais clareza
Todo um futuro alegre e sorridente. *
Joaquim Sustelo *** 3. *
"Todo um futuro alegre e sorridente"
Há-de chegar um dia, não duvido,
Mas ainda haverá que fazer frente
A um tempo difícil e dorido. *
Sou optimista, não inconsciente
Dos riscos do caminho já escolhido
E tu, que és meu irmão, terás em mente
Que há que roer este osso... bem roído! *
Não se pode sonhar... sonhando apenas
Como se o tempo fosse de açucenas
E apenas nos bastasse acreditar *
Que há pão na mesa que vemos vazia
Ou música se sopra a ventania...
Também há que lutar, lutar, lutar! *
Maria João Brito de Sousa *** 4. * "Também há que lutar, lutar, lutar"
E nessa luta haver vários reveses
Não basta nós ficarmos a esperar
Pelo Maio passar e mais uns meses *
Só muitos, muitos mais a ajudar
Mas em tempo contínuo e não às vezes
Muit'água pelos rios há-de passar
Há-de pregar-se em muitas dioceses *
Mas sempre com querer, com confiança
Que a última a morrer é a esperança
E o homem quando quer pra melhor muda *
Então vamos fazer, nós, todo o povo,
Que nasça brevemente um mundo novo
Que quase em horizonte nos saúda. *
Joaquim Sustelo *** 5. * "Que quase em horizonte nos saúda"
Pois nunca poderemos lá chegar
A menos que uma coisa mais graúda
Nos lance, de repente e sem tardar... *
Não espero que minha alma inda se iluda,
Já que tem a razão para a amparar,
Mas, meu irmão, às vezes fica muda
De tanta coisa estranha contemplar... *
Mas, não, nunca descri dos amanhãs
Que hão-de falar de coisas menos vãs
Cantando alto e bom som, ou sussurando, *
Que há justiça na Terra para os povos!
Não será para nós, para os mais novos,
Pró homem, prá mulher que vão chegando! *
Maria João João Brito de Sousa *** 6. *
"Pró homem, prá mulher que vão chegando!"
Talvez ele até venha um mundo novo
Com calma a pouco e pouco se implantando
Com grande f'licidade em todo o povo *
Eu creio. E nessa fé cá vou pensando
No que será... Por vezes me comovo
Quando se adensa o sonho, ou seja quando
Mais forte o sinto em mim e o renovo *
Nós não estaremos cá, vamos de "férias"
Porém não penses que isto é tudo lérias
Pois tenho até uma forte convicção! *
E vamos passo a passo, rua a rua
Num sonho que por ora continua
A adentrar-me a alma e o coração. *
Joaquim Sustelo *** 7. *
"A adentrar-me a alma e o coração"
Como se um bando de aves me adentrasse
Gerando vida, espanto, evolução
Que a morte nunca visse, nem sonhasse... *
Sonhar é também ter a convicção
De mais tentar, ainda que bastasse
À nossa muito humana condição
Um nada de ambição que um desenlace *
Mais ou menos feliz, desse à função,
Dessa existência, quando se apagasse
A pequenina chama da razão *
Talvez, depois, a fome já não grasse
Nem a doença, nem a frustração
Com que o tempo nos brinda neste impasse... *
Maria João Brito de Sousa *** 8. *
"Com que o tempo nos brinda neste impasse..."
Que afeta todos nós em mais ou menos
Mudando a cada dia a nossa face
Por nossos pensamentos não serenos *
Como se este Covid não bastasse
Os tempos que aí vêm, nada amenos,
Nem fazem com que a gente aqui já trace
Tão boas plantações pelos terrenos... *
Porém, se o pensamento em nós já lavra,
Sabemos ser a força da palavra
Aliada a um crer, forte... eficaz, *
Duma forte mudança, o seu fator
E do ressurgir pleno do Amor
Que até hoje não trouxe ainda a paz. *
Joaquim Sustelo *** 9. *
"Que até hoje não trouxe ainda a paz"
Pela qual tanto, tanto nós pugnamos
E que tão grande falta ao mundo faz
Embora o contradigam grandes amos... *
Talvez a nossa voz seja incapaz
De se fazer ouvir, mas bem tentamos
E há sempre uma vozita mais audaz
Que sobe ao alto dos mais altos ramos *
Ou que grita mais alto, embora atrás
Dos que já se destacam, entre humanos,
Perecíveis... que importa se subjaz *
Esta vontade imensa? Longos anos
Faltarão pra sabermos que nos traz
O tal futuro que hoje lobrigamos *
Maria João Brito de Sousa ***
10. *
"O tal futuro que hoje lobrigamos",
Não vem em nosso tempo nem lá perto
Por ele há muito tempo que lutamos
Mas o caminho é... inda algo incerto *
Porém fazer por ele sempre vamos
No campo da poesia, neste "aperto",
Em que a nossa vontade apregoamos
Se bem que o chão se mostre algo deserto *
Virá o Junho, o Julho e o Agosto
Virão os outros meses e aposto
Que sempre alguma coisa vai mudar *
"Se nós mudarmos todo o mundo muda" (*)
Ah que ninguém se fique e nem se iluda
Pois este mundo velho há de cessar. *
Joaquim Sustelo
(*) frase do dr. Lair Ribeiro
*** 11. *
"Pois este mundo velho há-de cessar"
E havemos de tomar um novo rumo
Sem que haja sempre alguém a cobiçar
Do fruto humano a polpa, o próprio sumo *
Um mundo bem mais justo, um mundo-lar
Do qual cada um seja o fio-de-prumo,
No qual a luz do sol possa brilhar
E onde se não morra envolto em fumo. *
Nisto, sei que vou sendo idealista...
Talvez o que aqui sonho nunca exista,
Talvez não passe de uma outra utopia *
Mas não me peças nunca que desista
De te falar do sonho. Cada artista
Compõe conforme sente a melodia... *
Maria João Brito de Sousa ***
12. *
"Compõe conforme sente a melodia..."
E toca consoante o instrumento
Indo todos criar a sinfonia
Que se for bem tocada dá alento *
Tocar muito melhor, sim, eu queria
Se bem que à melodia esteja atento
Porém há sempre um toque de mestria
Que não vou atingir, se bem que tento... *
Somos uns idealistas? Não faz mal
Todos devemos ter um ideal
E este é dos melhores que há na vida *
Imaginar a estrada especial
Pugnar por ela vir de pedra e cal
Assim atapetada... assim florida... *
Joaquim Sustelo ***
13. *
"Assim atapetada... assim florida"
Como se jardim fora, ou astro errante
Soltando a cabeleira colorida,
Coberta de poeira flamejante... *
Irmão, juntei ao astro a cor da vida
E vi, ou julguei ver, por um instante,
A humanidade menos dividida,
Mais forte, mais feliz e mais pujante; *
Poetas e também trabalhadores
Cantavam, lado a lado, os seus amores
Como se nada, nada fosse em vão *
Mas, nesse mundo que mal vislumbrei,
Não pude ver que houvesse qualquer rei,
Nem vi que a alguém faltasse tecto ou pão. *
Maria João Brito de Sousa ***
14. *
"Nem vi que a alguém faltasse tecto ou pão"
Havia um equilíbrio, uma equidade
Que todos adquiriram a noção
De a ter de pôr em prática. Em verdade, *
Ganhavam dia a dia o seu quinhão
Pelo que produziam, não metade
Do que cabia à mesa do patrão
Que açambarcara dantes com maldade *
Fosse sonho ou não fosse o que tu viste
Uma etapa feliz já coloriste
Pintando-a de cor negra que era dantes *
A pouco e pouco iremos... e sorrindo
Sabendo que esse tempo ele é bem-vindo
"- Sigamos Maio afora confiantes." *
Joaquim Sustelo ***
NOTA - Coroa de sonetos dialogada a quatro mãos e terminada em menos de doze horas.
publicado às 00:15