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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
24
Mai25

GUERRA E PAZ - Reedição

Maria João Brito de Sousa

carlos Ricardo nuvemvulto.jpg

Fotografia de Carlos Ricardo

*

GUERRA E PAZ
*

Há guerra e paz na voz com que protestas

E umas notas frutadas que não sei

Se te vêm de um mês de espanto e festas,

Se de outro, contra o qual me revoltei
*


Mas há-as, porque as vejo abrindo frestas

Na dor, quando a teu lado a partilhei

Num grito feito de ervas e giestas

Que ousei colher, quando jamais plantei
*


Que mais há nessa voz que é minha e tua,

Que som nasce do som que vem da rua,

Se não a impotência e a tristeza
*


De não poder-te dar melhor, nem mais

Do que estes vôos rasos sem os quais

Talvez nem pão houvesse à nossa mesa?
*


Maria João Brito de Sousa

19.05.2018-17.04h
***

23
Mai25

DOIS IMPROVISOS AO CORRER DAS TECLAS

Maria João Brito de Sousa

cats and moon (3).jpg

Imagem Pinterest

*

DOIS IMPROVISOS AO CORRER DAS TECLAS
*

Comigo desavinda também estou

E muito impropério então cometo,

Mas p'ra mim são e só a mim os dou

Pois quero fazer bem e não acerto.
*
*

Ora, bem sabemos nós que a perfeição

Não são "favas contadas" ou gostosas...

Quisera em paciência um bom quinhão

E não as vãs ciências enganosas.
*
*

Nem sei o que me deu em vir aqui

E neste arrazoado ser fisgada

Eu que de inspiração não tenho nada.
*
*

Porém, agora é certo que escrevi...

E deixo a quem me ler a sensação

De uma qualquer versada narração.
*
*

Helena Teresa Ruas Reis

23.05.2025
****

Pra quem, de inspiração, diz nada ter

E logo após poeta desta forma,

Saiu-se muito bem, vou-lhe dizer,

E juro que vai muito além da norma!
*
*

Perfeita é sempre a Musa que a trouxer

Essa que só com muiiiito se conforma,

Que só vem ter conosco quando quer

Mas que nos agiganta e nos transforma
*
*
Fico muito feliz por vê-la aqui

A transformar o verbo em poesia

E, como sempre, a dar o seu melhor
*
*
Enquanto eu ando às voltas c`o I.M.I.

E só não digo onde é que o meteria

Porque, enfim, inda sinto algum pudor...
*
*

Mª João Brito de Sousa

23.05.2025
***

22
Mai25

COMIGO DESAVINDA

Maria João Brito de Sousa

grumpy cat (2).jpg

Imagem Pinterest

*

COMIGO DESAVINDA...
*


Hoje, comigo mesma desavinda,

Tentei chorar e já não fui capaz...

Rir-me da minha pequenez infinda,

É bem mais fácil e bem mais me apraz
*


Viver comigo mesma na berlinda,

Tornar-me de mim mesma capataz, 

É opção que jamais será bem vinda

Por não deixar-me estar comigo em paz...
*


Sou, no entanto, crítica severa

De tudo quanto faço, escrevo ou digo,

Quer esteja só, quer esteja acompanhada
*


E, se erro, cresce em mim furor de fera

Capaz de apunhalar o próprio umbigo

Que culpa de inspirar-lhe a estrofe errada.
*

 

Mª João Brito de Sousa

22.05.2025 - 22.00h
***

 

 

21
Mai25

RIBALTA

Maria João Brito de Sousa

RIBALTA (1).png

RIBALTA
*


Às vezes é tão tarde, querido amigo,

Que uma nesga de céu nos bate à porta,

Que a gente nem a ouve... Ou já está morta,

Ou nem tem porta por não ter abrigo...
*


Não quer entrar e conversar comigo?

Venha daí se o que eu disser lhe importa,

Quero mostrar-lhe os frutos duma horta

Que cozinhei num fogo muito antigo...
*


É que a conversa, amigo, faz-nos falta,

Tanta quanta nos faz o pão prá boca

Ou a canção que anima e junta a malta
*


Esta é a minha casa, a minha toca,

O meu pequeno palco e a ribalta

Da minha velha Musa ousada e louca.
ª


Mª João Brito de Sousa

21.05.2025 - 21.30h
***

Sonetos de Todos os Tempos

21
Mai25

"E" de EVOLUÇÃO

Maria João Brito de Sousa

E de EVOLUÇÃO (1).png

“E” de EVOLUÇÃO
*

Estranho este escuso embrionário estado

Entre eras (qu)e entrevejo entrelaçadas:

Esculpo-me em estanho e estranho-me estanhado.

Endosso. Ensaio efeitos. Embrulhadas...
*


Encómios evoquei. É-me (n)egado

Expor-me entre eros e ébrios. Ensonadas,

Esperam-me exéquias de éter. Estipulado.

Extremismo. Exaltações exacerbadas...
*


Escondo o ego esculpido (qu)e enrodilho,

Excluo “esses” e “erres” e estribilho

Expurgando eternos erros (d)e escansão
*


Especializo-me em estrelas, ecos, entes...

Executo estratégias eloquentes,

Emancipo-me em “E” (d)e evolução.
*


Maria João Brito de Sousa 

21.05.2025
***

Soneto modificado, trabalhado sobre o original de minha autoria ,"E" de EPHEMERA que aqui vos deixo porque o ChatGPT ainda tem algumas dificuldades ao nível da palavra impressa.

20
Mai25

SONETO - 8

Maria João Brito de Sousa

Soneto_8_Cravo_Imagem (2).jpg

SONETO - 8
*

 

Pra que amanhã do luto nasça a luta,

Rego os cravos vermelhos que secaram

Renego os deuses que me desprezaram

E transformo a fraqueza em força bruta
*


Inda que irresolvida, resoluta,

Cuspo nessoutros que os cravos pisaram

E sobrevivo a quantas dor´s me varam

Assim que as mãos retornam à labuta
*

 

Revejo-me nos cravos que resistem:

Inda que em solo hostil estejam plantados

Jamais se vergarão aos que os conquistem
*


Rompem mordaças, quebram cadeados,

Derrubam muros, mesmo os que inexistem,

E desabrocham quando espezinhados.
*

 

Mª João Brito de Sousa

20.05.2025 - 00.05h

*


Sonetos da Contagem Decrescente

03
Mai25

A MINHA DOR - Reedição

Maria João Brito de Sousa

a MINHA DOR (1).png

Imagem processada pelo ChatGPT

*

A MINHA DOR
*

A minha dor é física e real

Tanto quanto o cenário de combate

No qual este meu corpo se debate,

Para meu mal maior, sem qu`rer-me mal
*


Por mais cruel que seja e mais brutal,

Condená-la seria um disparate:

Vá, canta a tua dor, modesta vate,

Que à dor maior cantou-a uma imortal
*


A dor que eu canto é qual cabana velha

A que o vento arrancou, telha por telha,

A cobertura, as portas, o conforto...
*


É nela que o meu corpo agora mora

E é no dossel de musgo que a decora

Que o meu rosto se espelha assim que morto.
*


Mª João Brito de Sousa

27.04.2022 - 21.00h
***
Memorando o soneto homónimo de Florbela Espanca
***

02
Mai25

O FALCÃO DE KUSTURIKA - Mª João Brito de Sousa e Laurinda Rodrigues

Maria João Brito de Sousa

o falcao de kusturika - chat (2).png

Imagem precessada pelo ChatGPT

*

 

O FALCÃO DE KUSTURIKA
*

Coroa de Sonetos
*

Mª João Brito de Sousa e Laurinda Rodrigues
*

1.
*

À Via Láctea fui com Kusturica

Voando sobre o dorso de um falcão

Cuja fidelidade o dignifica

E a mim me rouba o lastro da razão
*


Mas se a genialidade o justifica,

Quem justifica a minha absurda opção

De roubar o falcão de Kusturica

Após ver Kusturika em contra-mão?
*


Adormeci, por fim, a meia Via,

Láctea, suponho, a crer no que se lia

No canto esquerdo do pequeno ecrã
*


Não sei se Kusturika enfim chegou

Onde entendeu chegar ou se acabou

Por chocar contra a Estrela da Manhã...
*


Mª João Brito de Sousa

11.03.2022 - 10.00h
***

2.
*

"Por chocar contra a Estrela da Manhã"

ando eu a confundir o dia e a noite

num filme gypsi onde não é vã

a mão dum outro artista que se afoite.
*

Talvez tenha vestígios de xamã

a voz de Kusturika, quando açoite

a nossa vibração que, com afã,

abriu uma cratera onde pernoite.
*


Porque isto de falcão livre no espaço

fez eclodir em nós o embaraço

de poder competir com ele em voo...
*


Eu não vou conseguir: sou só humano!

E, ao tentar construir um aeroplano,

fiquei presa no verso que eu entoo.
*


Laurinda Rodrigues
***

3.
*

"Fiquei presa no verso que eu entoo"

Até que a minha Musa ao ver-me assim

Bateu as asas e se ergueu num vôo

Que resgatou o que sobrou de mim...
*


Se lhe perdôo? Claro que perdôo

Esse paternalismo mas, enfim,

Confesso que da ave me condôo

Pois não a trouxe a Musa ao meu festim
*


Ainda que o festim tenha acabado

Assim que Morfeu veio disfarçado

E me induziu num sono tão profundo
*


Que nem sequer dei conta do sequestro

Do meu corpo e do meu franzino estro,

Humano - é bem verdade - mas fecundo.
*


Mª João Brito de Sousa

11.03.2022 - 13.35h

***

4.
*

"Humano - é bem verdade - mas fecundo"

em palavras, que são um arco-íris

de vibrações intensas neste mundo

p'ra um diferente mundo construíres.
*


Desta galáxia saltas num segundo

sem medo ou cautelosa por sentires

que afinal estás num astro vagabundo

envolto na revolta de faquires.
*


E, então, gritas que volte esse falcão

que Kusturika trouxe como irmão

pois, sendo dois, a solidão fenece...
*


E ele responde-te logo como amigo:

prefere a estar sozinho estar contigo

entoando a balada que não esquece.
*

Laurinda Rodrigues
***

5.
*

"Entoando a balada que não esquece",

Respeitarei a escolha do falcão:

Em mim a mesma escolha prevalece

Se solitária (en)canto a solidão...
*


Ao longe há uma estrela que arrefece,

Nalgum lugar dum`outra dimensão...

Talvez sejam os olhos do falcão

Espelhados nela até que o fim comece
*


Tão curiosa quanto um bom felino,

Sigo o falcão que, embora peregrino,

Não corre a Via Láctea em dez segundos
*


Não me aproximo muito. A estrela é dele,

Se nela pouso pondo em risco a pele

Talvez me afaste do melhor dos mundos...
*


Mª João Brito de Sousa

11.03.2022 - 18.25h
***

6.
*

"Talvez me afaste do melhor dos mundos"

sem saber se esse mundo é dos melhores...

Mas, nesse jogo de contrastes moribundos,

eu espero francamente que não chores.
*


Pois, sem o Kusturika, só com Edmundos

mesmo que em mutação esses adores

não te inibas de gritos furibundos

que ponham um final em tais folclores.
*


É melhor viajar em plano inverso

p'ra apurares o sentido do universo

onde é possível encontrar falcões.
*


E, de asas bem abertas, ambos voarem

até os Kusturikas encontrarem

na saga das estrelas e papões.
*


Laurinda Rodrigues
***
7.
*

"Na saga das estrelas e papões"

Quis o falcão, não quis a Kusturika,

Que eu sou muito selecta nas paixões

E sendo pobre, sei quanto sou rica
*


Estranhas são estas minhas ambições

Que pouca gente entende ou justifica

Porquanto advogo sólidas razões

E não me importo se alguém mas critica
*


Chorar, não choro, mas lamento imenso

Porque bem sei que um choro, um choro intenso

Faz tão bem ou melhor do que um sorriso
*


Sou um bicho-do-mato afectuoso,

Algo selvagem, nada rancoroso,

Que num poema encontra o Paraíso
*


Mª João Brito de Sousa

11.03.2022 - 19.47h

***

8.
*

"Que num poema encontra o Paraíso"

e faz dele alimento permanente

porque a Musa lhe diz o que é preciso

p'ra que fique saudável e contente.
*


E, dia a dia, num caminho liso

onde caem destroços, de repente,

troca-lhe as voltas mostrando juízo

porque não é nem torpe nem demente.
*


Assim, a glória espalha-se p'lo ar

sem que haja falcão p'ra agarrar

porque as asas não chegam ao telhado.
*


Fazemos versos como furacão

e, quando vemos p'ro que está no chão,

é o nosso retrato, lado a lado.
*

Laurinda Rodrigues
***
9.
*

"É o nosso retrato, lado a lado"

O mundo tresloucado que hoje vemos?

Não sei, que o furacão - talvez tornado -

É a arma que tenho. Ou a que temos?
*


Voltemos ao falcão que, ao ter voado,

Deixou na praia o bote e os seus remos;

Mudei a velha rota a este Fado,

Ficou-me a meta além do que entendemos...
*


É esta a grande "Ceia do Poeta",

Não há manjar que a Musa não prometa

A quem a saiba, em vida, preparar
*

E enquanto fia a Grande Fiandeira,

Somam-se os versos sobre a cabeleira

De um cometa que passa sem passar.
*

Mª João Brito de Sousa

12.03.2022 - 10.30h
***

10.
*

"De um cometa que passa sem passar"

ou asteróide feito em raio de luz,

em todos nos podemos retratar

sejam astros de amor ou sejam cruz.
*


Num diálogo louco, sem parar,

mesmo quando parar o que traduz,

iremos num veleiro navegar

por águas que ao nordeste nos conduz.
*

E sejas tu o Kusturika ardente

que transportas a Musa já cadente

a juntar-se, no céu, ao tal cometa...
*


Que eu sou apenas uma mosca-morta

e, se ela te incomoda, então exorta

que, um dia, também possa ser poeta.
*

Laurinda Rodrigues

***
11.
*

"Que um dia também possa ser poeta"

Disseste e eu sorri, pois tanto quanto

O sou, tu és também... e a dilecta

Da minha Musa, quando aspira ao canto!
*


Este rio nunca corre em linha recta,

Nem suas águas param num quebranto,

Que sempre crescem na razão directa

Da força do seu estranho, infindo espanto...
*


Nas asas de um falcão, algures no espaço,

Acendemos agora um novo abraço;

Duas gotinhas somos, nada mais,
*

Mas, ao juntar-nos, crescemos um pouco;

Voa um falcão sobre este mundo louco

E a Barca fica à espera, presa ao cais...
*


Mª João Brito de Sousa

12.03.2022 - 11.40h
***

12.
*

"E a Barca fica à espera, presa ao cais"

enquanto as multidões olham a guerra

onde uma propaganda é já demais

p'ra quem quer a mudança nesta terra.
*


Somos navegadores, que o tempo encerra

na coragem de povos tão fatais,

que eretos ficam, mesmo ao pé da serra

que, p'la grandeza, nos torna imortais.
*


Damos as mãos com os olhos no além

feito de sonhos e reais também

até p'ro desafio mais imprevisto...
*

Aves do céu, afastem vossas asas,

porque a poesia invadiu as casas

num concerto de amor nunca antes visto.
*

Laurinda Rodrigues
***

13.
*

"Num concerto de amor nunca antes visto"

Voarão juntos pombas e falcões

E surgirá a Paz em que hoje invisto,

Sem bombas, sem granadas, nem canhões
*


Terá a Paz a solidez do xisto

E a justa força das revoluções

Do proletariado - nisto insisto! -

De todas, mesmo todas, as nações
*


"Utopias!", dirão, talvez sorrindo

Os que vão dando o mundo por já findo

E não crêem na força da Vontade
*


Dos que avançam sobre os que vão caindo,

Esses que o mundo vão (re)construindo,

Sem egoísmos, pela Humanidade!
*


Mª João Brito de Sousa

12.03.2022 - 14.30h
***

14.
*

"Sem egoísmos, pela Humanidade!"

Que seja a lucidez o seu guião!

A Razão é só parte da Verdade

quando não foi ouvido o coração.
*


O gesto de uma mão, com suavidade,

que dá uma palavra, além de pão,

nasce quando nasceu a caridade

consagrada por Cristo na Paixão.
*


Se são injustas a pobreza e a dor

de gente que trabalha com fervor

sem nunca ser bastante o que lhe fica,
*

Todo o Universo está em harmonia.

E, criando no céu a fantasia,

"À Via Láctea fui com Kusturika".
*

Laurinda Rodrigues
***

01
Mai25

SIGAMOS MAIO AFORA - Mª João Brito de Sousa e Joaquim Sustelo

Maria João Brito de Sousa

cravo vermelho (2).jpg


SIGAMOS MAIO AFORA
*

Coroa de Sonetos
*

Mª João Brito de Sousa e Joaquim Sustelo
*

1.
*

Sigamos Maio afora confiantes

Sabendo, embora, quanto nos espera,

Sejamos mais do que o que fomos antes

Em cada Maio e em cada Primavera,
*


Que Maio sempre fez de nós gigantes

Diante da malícia de uma fera

Que nos tem por dispersos, vãos, errantes

Cavaleiros do sonho e da quimera.
*


Sigamos Maio afora; Junho e Julho

Esperam por nós, de nós terão orgulho,

Tal como cada mês que está por vir
*


Nos há-de abrir os braços, finalmente,

Quando o futuro se tornar presente

De quanta gente em Maio o construir!
*


Maria João Brito de Sousa - 02.05.2020 - 08.39h
***
2.
*
"De quanta gente em Maio o construir!"

Esse futuro por agora tenso

Que o mês de Maio irá fazer surgir

Envolto em sonhos bons tal como penso
*


Junho há-de com mais força também vir

A força de vencer, que me convenço

Depois deste "maduro Maio" florir

Irá florir o mundo ao qual pertenço
*

Confio em ar mais puro... a atmosfera

Irá consolidar a primavera

Nos campos e nas almas desta gente,
*

Que agora ainda está na incerteza

Mas que depois verá com mais clareza

Todo um futuro alegre e sorridente.
*


Joaquim Sustelo
***
3.
*

"Todo um futuro alegre e sorridente"

Há-de chegar um dia, não duvido,

Mas ainda haverá que fazer frente

A um tempo difícil e dorido.
*

Sou optimista, não inconsciente

Dos riscos do caminho já escolhido

E tu, que és meu irmão, terás em mente

Que há que roer este osso... bem roído!
*

Não se pode sonhar... sonhando apenas

Como se o tempo fosse de açucenas

E apenas nos bastasse acreditar
*

Que há pão na mesa que vemos vazia

Ou música se sopra a ventania...

Também há que lutar, lutar, lutar!
*


Maria João Brito de Sousa
***
4.
*
"Também há que lutar, lutar, lutar"

E nessa luta haver vários reveses

Não basta nós ficarmos a esperar

Pelo Maio passar e mais uns meses
*


Só muitos, muitos mais a ajudar

Mas em tempo contínuo e não às vezes

Muit'água pelos rios há-de passar

Há-de pregar-se em muitas dioceses
*

Mas sempre com querer, com confiança

Que a última a morrer é a esperança

E o homem quando quer pra melhor muda
*


Então vamos fazer, nós, todo o povo,

Que nasça brevemente um mundo novo

Que quase em horizonte nos saúda.
*


Joaquim Sustelo
***
5.
*
"Que quase em horizonte nos saúda"

Pois nunca poderemos lá chegar

A menos que uma coisa mais graúda

Nos lance, de repente e sem tardar...
*


Não espero que minha alma inda se iluda,

Já que tem a razão para a amparar,

Mas, meu irmão, às vezes fica muda

De tanta coisa estranha contemplar...
*


Mas, não, nunca descri dos amanhãs

Que hão-de falar de coisas menos vãs

Cantando alto e bom som, ou sussurando,
*


Que há justiça na Terra para os povos!

Não será para nós, para os mais novos,

Pró homem, prá mulher que vão chegando!
*


Maria João João Brito de Sousa
***
6.
*

"Pró homem, prá mulher que vão chegando!"

Talvez ele até venha um mundo novo

Com calma a pouco e pouco se implantando

Com grande f'licidade em todo o povo
*


Eu creio. E nessa fé cá vou pensando

No que será... Por vezes me comovo

Quando se adensa o sonho, ou seja quando

Mais forte o sinto em mim e o renovo
*


Nós não estaremos cá, vamos de "férias"

Porém não penses que isto é tudo lérias

Pois tenho até uma forte convicção!
*


E vamos passo a passo, rua a rua

Num sonho que por ora continua

A adentrar-me a alma e o coração.
*

Joaquim Sustelo
***
7.
*

"A adentrar-me a alma e o coração"

Como se um bando de aves me adentrasse

Gerando vida, espanto, evolução

Que a morte nunca visse, nem sonhasse...
*


Sonhar é também ter a convicção

De mais tentar, ainda que bastasse

À nossa muito humana condição

Um nada de ambição que um desenlace
*


Mais ou menos feliz, desse à função,

Dessa existência, quando se apagasse

A pequenina chama da razão
*


Talvez, depois, a fome já não grasse

Nem a doença, nem a frustração

Com que o tempo nos brinda neste impasse...
*


Maria João Brito de Sousa
***
8.
*

"Com que o tempo nos brinda neste impasse..."

Que afeta todos nós em mais ou menos

Mudando a cada dia a nossa face

Por nossos pensamentos não serenos
*


Como se este Covid não bastasse

Os tempos que aí vêm, nada amenos,

Nem fazem com que a gente aqui já trace

Tão boas plantações pelos terrenos...
*


Porém, se o pensamento em nós já lavra,

Sabemos ser a força da palavra

Aliada a um crer, forte... eficaz,
*


Duma forte mudança, o seu fator

E do ressurgir pleno do Amor

Que até hoje não trouxe ainda a paz.
*


Joaquim Sustelo
***
9.
*

"Que até hoje não trouxe ainda a paz"

Pela qual tanto, tanto nós pugnamos

E que tão grande falta ao mundo faz

Embora o contradigam grandes amos...
*


Talvez a nossa voz seja incapaz

De se fazer ouvir, mas bem tentamos

E há sempre uma vozita mais audaz

Que sobe ao alto dos mais altos ramos
*


Ou que grita mais alto, embora atrás

Dos que já se destacam, entre humanos,

Perecíveis... que importa se subjaz
*


Esta vontade imensa? Longos anos

Faltarão pra sabermos que nos traz

O tal futuro que hoje lobrigamos
*


Maria João Brito de Sousa
***

10.
*

"O tal futuro que hoje lobrigamos",

Não vem em nosso tempo nem lá perto

Por ele há muito tempo que lutamos

Mas o caminho é... inda algo incerto
*


Porém fazer por ele sempre vamos

No campo da poesia, neste "aperto",

Em que a nossa vontade apregoamos

Se bem que o chão se mostre algo deserto
*


Virá o Junho, o Julho e o Agosto

Virão os outros meses e aposto

Que sempre alguma coisa vai mudar
*


"Se nós mudarmos todo o mundo muda" (*)

Ah que ninguém se fique e nem se iluda

Pois este mundo velho há de cessar.
*

Joaquim Sustelo

(*) frase do dr. Lair Ribeiro

***
11.
*

"Pois este mundo velho há-de cessar"

E havemos de tomar um novo rumo

Sem que haja sempre alguém a cobiçar

Do fruto humano a polpa, o próprio sumo
*


Um mundo bem mais justo, um mundo-lar

Do qual cada um seja o fio-de-prumo,

No qual a luz do sol possa brilhar

E onde se não morra envolto em fumo.
*


Nisto, sei que vou sendo idealista...

Talvez o que aqui sonho nunca exista,

Talvez não passe de uma outra utopia
*


Mas não me peças nunca que desista

De te falar do sonho. Cada artista

Compõe conforme sente a melodia...
*


Maria João Brito de Sousa
***

12.
*

"Compõe conforme sente a melodia..."

E toca consoante o instrumento

Indo todos criar a sinfonia

Que se for bem tocada dá alento
*


Tocar muito melhor, sim, eu queria

Se bem que à melodia esteja atento

Porém há sempre um toque de mestria

Que não vou atingir, se bem que tento...
*


Somos uns idealistas? Não faz mal

Todos devemos ter um ideal

E este é dos melhores que há na vida
*


Imaginar a estrada especial

Pugnar por ela vir de pedra e cal

Assim atapetada... assim florida...
*


Joaquim Sustelo
***

13.
*

"Assim atapetada... assim florida"

Como se jardim fora, ou astro errante

Soltando a cabeleira colorida,

Coberta de poeira flamejante...
*


Irmão, juntei ao astro a cor da vida

E vi, ou julguei ver, por um instante,

A humanidade menos dividida,

Mais forte, mais feliz e mais pujante;
*


Poetas e também trabalhadores

Cantavam, lado a lado, os seus amores

Como se nada, nada fosse em vão
*


Mas, nesse mundo que mal vislumbrei,

Não pude ver que houvesse qualquer rei,

Nem vi que a alguém faltasse tecto ou pão.
*


Maria João Brito de Sousa
***


14.
*

"Nem vi que a alguém faltasse tecto ou pão"

Havia um equilíbrio, uma equidade

Que todos adquiriram a noção

De a ter de pôr em prática. Em verdade,
*


Ganhavam dia a dia o seu quinhão

Pelo que produziam, não metade

Do que cabia à mesa do patrão

Que açambarcara dantes com maldade
*


Fosse sonho ou não fosse o que tu viste

Uma etapa feliz já coloriste

Pintando-a de cor negra que era dantes
*


A pouco e pouco iremos... e sorrindo

Sabendo que esse tempo ele é bem-vindo

"- Sigamos Maio afora confiantes."
*


Joaquim Sustelo
***

NOTA - Coroa de sonetos dialogada a quatro mãos e terminada em menos de doze horas.

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