Maria João Brito de Sousa
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*
A PREMÊNCIA DO VERBO *
Quem me dera cantar mais alto e mais,
Quem me dera que a voz não esmorecesse,
Quem dera houvesse luz que não morresse
Quando o ocaso embarca e deixa o cais *
Ah, quem dera cantar como os pardais
Quando no horizonte o Sol nascesse,
Como se, feito verbo, amanhecesse
E pudesse irromper, dentre os demais *
Cantar esta tristeza, esta alegria
Do verbo (im)pessoal, da melodia
Inexplicavelmente antecedida *
Por tanta, tanta sede de harmonia
Que quase me parece ser magia
Cantar os versos meus... e ser ouvida! *
Maria João Brito de Sousa
11.02.2008 - 02.27h ***
publicado às 23:45
Maria João Brito de Sousa
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na seqência da leitura/processamento
do soneto abaixo
*
SONETO -7 *
De quanto de ti quis, nada encontrei
Por mais que me inventasse e distorcesse:
Foi de cardos o leito em que te amei
Muito embora de amor o preenchesse *
Ergui-te nas bandeiras que empunhei,
Chamei-te meu, gravei-te numa prece,
Esculpi-te em pedra e em pó me transformei,
Fui nuvem sobre um dia que amanhece... *
Foste o mosto do vinho que pisei,
O fio da manta que o meu corpo aquece
E, em tempos, foste tudo o que sonhei: *
Do trigo, foste a espiga que se of`rece
Pra ser o pão que em mim levedarei
Num mundo que não mais me reconhece. *
Mª João Brito de Sousa
06.01.2025- 20.00h ***
publicado às 20:29
Maria João Brito de Sousa
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*
SONETO - 6 *
Pedem-me uma carta, uma carta de amor
Que eu saiba de cor sem dela estar já farta...
De três se me aparta a memória em torpor:
Só me trazem dor e temem que as reparta *
Sigo para a quarta. Não lhe encontro ardor
E a quinta é pior: vem de seda e de marta
Mas como a lagarta, rói, não tem valor
Seja pra quem for... Pró raio que a parta! *
Muito se descarta quando se procura
Uma tessitura que de tão vulgar
Se pode ir buscar em qualquer altura *
Mas que, porventura, pode não se achar
Em nenhum lugar... E o que me assegura
Que a antiga amargura me não vá magoar? *
Mª João Brito de Sousa
05.01.2025 - 23.00h ***
publicado às 23:40
Maria João Brito de Sousa
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***
QUE FAREI QUANDO TUDO ARDE? *
* Desarrezoado amor, dentro em meu peito,
tem guerra com a razão. Amor, que jaz
i já de muitos dias, manda e faz
tudo o que quer, a torto e a direito. *
Não espera razões, tudo é despeito,
tudo soberba e força; faz, desfaz,
sem respeito nenhum; e quando em paz
cuidais que sois, então tudo é desfeito. *
Doutra parte, a Razão tempos espia,
espia ocasiões de tarde em tarde,
que ajunta o tempo; enfim vem o seu dia: *
Então não tem lugar certo onde aguarde
Amor; trata traições, que não confia
nem dos seus. Que farei quando tudo arde? *
Sá de Miranda
in 'Antologia Poética' ***
QUE MAIS PRETENDES TU, SE TUDO ARDE? *
Sempre que em chamas arde este meu peito,
É certo que um poema irá nascer
Qual cavalo de fogo a percorrer
Um novo espaço que eu tão só aceito *
Da razão não me aparto e estou sujeito
À tentação de nela me perder
Se acaso o fogo não parar de arder
E eu me consumir nesse ígneo leito *
Mas Amor e Razão vivem em paz,
Jamais os vi, sequer, fazer alarde
E qualquer um dos dois é bem capaz *
De ao parceiro pedir que se resguarde
Enquanto indaga a chama mais voraz:
- Que mais pretendes tu, se tudo arde? *
Mª João Brito de Sousa
03.01.2025 - 22.00h ***
publicado às 23:34
Maria João Brito de Sousa
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Uma conversa com Francisco Sá de Miranda? É por aqui, se faz favor
publicado às 12:43
Maria João Brito de Sousa
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DIVAGAÇÕES DE UM VELHO CÃO
NUMA TARDE DE OUTONO *
Agora que digo se todo eu sou sono?
Ah, não me abandono na leira de trigo
esperando o castigo do mestre ou do dono
que a tanto me abono se mal está comigo... *
Por aqui me abrigo me enrolo e ressono
que é este o meu trono, se um trono consigo,
ainda que antigo, ainda que um mono,
qual velho patrono, um cantinho amigo... *
Nas tardes de Outono sem Sol mas com vento
quanto me contento se às folhas douradas
que encontro espalhadas no chão, ao relento, *
Miro muito atento e as vejo levadas
por anjos ou fadas com arte e talento:
Todas movimento, bailam tresloucadas. *
Mª João Brito de Sousa
02.01.2025 - 12.30h ***
Soneto em verso hendecassilábico com rima entrançada
publicado às 12:40
Maria João Brito de Sousa
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GUERRA II *
Há tantos meses divididos entre
O afecto, a revolta e a mistura
Da dor co`a lucidez remanescente
Vamos entre ventura e desventura *
Com o que a sanidade nos consente
E assim, entre a temp`rança e a loucura,
Vive o seu dia a dia muita gente
Que está quase no ponto de ruptura *
Porquanto dividida vai vivendo
E em dois segundos passa do sorriso
À tristeza e ao medo. Assim vai sendo *
Porque nos é imposta uma razia
Que a todos traz horror e prejuízo
E que nos rói por dentro noite e dia. *
Mª João Brito de Sousa
Oeiras, 01.01.2025 - 13.30h ***
publicado às 14:15