Maria João Brito de Sousa
O CRAVO *
Coroa de Sonetos *
Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa *
O cravo vai andar sempre comigo Bem posto, bem erguido a encantar
De dia com a luz a despertar
Sinal de liberdade, paz e abrigo *
Que o cravo nos liberte do perigo
De novas trevas virem apagar Os sons que trouxe abril no seu cantar
Mostrando em cada canto um amigo *
Cravo vermelho é essa a sua cor
Que o rubro cravo não seja esquecido
Ouvindo ao alto o rufo do tambor *
No cano da espingarda ao alto erguido Pleno de liberdade ao seu redor
Para que o povo não seja vencido *
Custódio Montes 30.4.2024 ***
2. *
"Para que o povo não seja vencido"
Neste claro atentado contra Abril
Há que arrancar a besta do covil
E que acordar quem ande distraído *
Não vá este país ser engolido
Depois de ter caído noutro ardil,
Reacendamos a chama viril
De um povo a que chamámos Povo Unido *
E se são nossos esses ideiais
De tecto, educação, saúde e Paz
Façamos por torná-los bem reais *
Que dizes, Portugal? Inda és capaz
De cumprir este Abril como esses tais
Que a lei da vida já deixou pra trás? *
Mª João Brito de Sousa
30.04.2024 - 14.00h ***
3. *
“Que a lei da vida já deixou pra trás”
Mas que são importantes para nós
Um povo unido, sim, e não a sós
Que só o povo unido é capaz *
Andemos com a força de rapaz
Com o ensinamento dos avós
Trazendo o nosso barco até à foz
E tudo o que em conjunto satisfaz *
Fascistas não…que vão para o covil
A pátria é nossa, a pátria é do povo
Assim o disse o cravo e o mês de abril *
Ao alto e a cantar todos de novo
Que a liberdade viva anos mil
Em poemas a canto e assim a trovo! *
Custódio Montes 30.4.2024 ***
4. *
"Em poemas a canto e assim a trovo!"
Estuando a liberdade conquistada,
Chorando e rindo quando a madrugada
Nasceu iluminando o nosso povo *
De frente para o mundo, o Homem Novo,
Que enchia cada rua e cada estrada
Nunca mais bateria em retirada
Que o que louvava então ainda eu louvo *
Posso hoje estar doente, enfraquecida,
Mas a vontade e a garra permanecem:
Acorda, ó Liberdade adormecida *
Que os venenos que agora te entorpecem
"O dia inteiro e limpo", a própria vida,
Hão-de morrer sem ti: Não te merecem! *
Mª João Brito de Sousa
30.04.2024 - 16.00h ***
.
5. *
“Hão-de morrer sem ti. Não te merecem”
Que é vaga a ideia deles na verdade
Por não terem lá dentro liberdade
E teias de maldade apenas tecem *
São horrendos vampiros que entristecem
Enganam toda a gente e a cidade
Recebe deles só ferocidade
E para governar se oferecem *
A nós não nos enganam que sabemos
Que a sua ditadura traz agravo
Como a do ditador que cá tivemos *
Mas acabou há muito….o povo bravo
Unido aos capitães que engrandecemos
Em vez da escravatura ergueu o cravo *
Custódio Montes 30.4.2024 ***
6. * "Em vez da escravatura ergueu o cravo"
Com o qual enfeitou as carabinas:
Basta de ditaduras assassinas,
Basta de humilhação e desagravo! *
Este, que mourejava como um escravo,
Olhando o que exibia roupas finas
Soube que lhe era igual. Dif`rentes sinas:
Tudo tem um, o outro, nem um chavo... *
Urgia eliminar estes abismos,
Urgia abrir as portas das prisões
E urgia erradicar os eufemismos *
Que designavam chibos e vilões:
Às ferramentas vivas dos fascismos
Não devemos chamar senão capões! *
Mª João Brito de Sousa
30.04.2024 - 21.00 ***
7. * “Não devemos chamar senão capões”
Capados, é o termo, mal cheirosos
Diferentes dos cravos tão formosos
Só querem o alheio os ladrões *
Andam sempre à procura de tostões
Atrás do que é dos outros, vergonhosos
Falam no bem do povo, mentirosos
Traidores, impostores, mandriões *
Mas não falemos deles que é só dor
O que causam ao povo por maldade
De elites se propagam com fervor *
Mas são gente maldosa na verdade
E a todos causam raiva e rancor
Por serem poço imundo de maldade *
Custodio Montes 30.4.2024 ***
8. *
"Por serem poço imundo de maldade"
Não nos merecem mais do que desdém:
Estrebucham mas jamais serão alguém
Nem terão corações dos de verdade... *
Pululam nos esgotos da cidade
Não sabendo o vigor que o cravo tem
Nas mãos do povo que lhe quer tão bem
Que o usa pr`adornar a Liberdade *
Celebra-se amanhã mais uma vez
O primeiro de Maio, outra conquista
Daquela brava gente que Abril fez *
E de vermelho cravo bem à vista
Afirmará o povo português
Que, disto, nunca esperem que desista! *
Mª João Brito de Sousa
30.04.2024 - 23.00h ***
9. *
“Que, disto, nunca esperem que desista”
Do primeiro de Maio nem pensar
É o trabalhador a assinalar
Mais um dia famoso em revista *
É um dia que aumenta essa lista
De comemoração a festejar
O cravo fica bem a enfeitar
Canos de espingarda bem à vista *
Andemos com o cravo na lapela
Que, além de ser bonito, também cheira
E torna a rua linda e tão bela *
Que junta muito povo à sua beira
Toalhas brancas presas à janela
E todo o amor e graça que se queira *
Custódio Montes 30.4.3024 ***
10. *
"E todo o amor e graça que se queira"
Encontrareis no cravo que ali está...
Diz um: Mas que bonita, Festa, pá!
Diz outro: Vem também prá nossa beira! *
Assim se junta o povo. Uma bandeira
Agita-se no ar, pra cá, pra lá...
E cravos são aquilo que mais há
Naquela inesquecível quarta-feira *
Eu, que sei ter um cravo enraizado
Dentro do peito e junto ao coração
Que pulsa ainda que descompassado, *
Estou e não estou na manifestação:
Fica-me o corpo inteiro aqui sentado,
Voa-me o cravo em sua direcção. *
Mª João Brito de Sousa
01.05.2024 - 12.00 ***
11. *
“Voa-me o cravo em sua direcção”
Voar voa o espírito e a cabeça
E nada há no mundo que me impeça
De o levar e mostrar na minha mão *
Para haver a presença, o coração
Sente mesmo que longe nos pareça
O consolo e a dor não têm meça
Conforme o lugar onde eles estão *
O cravo canta abril à desgarrada
Mas do cantar do cravo me distraio
Quando sigo de alma irmanada *
Não penso, sigo em frente, vou, não saio
Sou abril, liberdade, camarada
E assim faço também no mês de maio *
Custódio Montes 1.5.2024 ***
12. *
"E assim faço também no mês de Maio"
De coração em festa em casa fico
E a cantar este dia me dedico
Porque sair não posso, então não saio... *
Voa-me o pensamento como um raio
E num instante irá levar-me ao pico
Do verso que pretendo forte e rico:
Estou gasta mas o verso inda é catraio! *
De qualquer forma, esteja como esteja,
O cravo que reside no meu peito
Tem sempre a cor vermelha da cereja *
Sabe que será sempre o meu eleito,
Chama por mim tão só pra que eu o veja
E chega ao fim julgando estar perfeito... *
Mª João Brito de Sousa
01.05.2024 - 22.00h ***
13. *
“E chega ao fim julgando estar perfeito”
E bem bonitos cravo e portadora
Ambos juntos imagem criadora
Ele vermelho e ela sem defeito *
Vermelho é cor que fica bem ao peito
E com o cravo à mostra uma senhora
Fica mais linda mais encantadora
E o conjunto assim é o meu eleito *
Vermelho também é a rubra cor
Que nos alegra a vista e a claridade
Irrompe à nossa volta bem melhor *
Abril chega com maio, com vontade,
De dizer a cantar com mais calor
E com muito amor: viva a liberdade *
Custódio Montes 1.5.2024 ***
14. *
"E com muito amor: viva a liberdade"
Dizemos quantos nesse cravo vemos
O fim da repressão em que sofremos
Mais de quarenta anos de impiedade *
Foi em Abril que as ruas da cidade
Floresceram nos cravos que hoje erguemos
Pra celebrar o Maio em que acendemos
A inapagável chama da Verdade *
Por isso é que nos dias mais cinzentos,
Em vez de procurarmos um abrigo,
Não arredamos pé e muito atentos *
Aos primeiros sinais do mal antigo
Dizemos: Não mais dor, não mais tormentos,
"O cravo vai andar sempre comigo!" *
Mª João Brito de Sousa
02.05.2024 - 11.45 ***
publicado às 12:10