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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
31
Mar24

CREIO NO PÃO - Reedição

Maria João Brito de Sousa

EU, 5 ANOS (1).jpg

Fotografia de António Pedro Brito de Sousa

*

CREIO NO PÃO
*


Pode o diabo ter-me até estendido

O pão amanhecido que mordeu

Mas, quanto ao resto, ter-vos-á mentido

Pois quem o amassou fui eu, só eu!

*

Se o diabo ficar aborrecido

Por ver-se despojado de um troféu,

Viro-lhe as costas, vou noutro sentido

E amasso um pão que seja mesmo meu.

*

 

A massa deste pão, quão mais cozia

Mais dourava, crescia e rescendia

Às ervas bravas da planura mansa
*

 

E demo algum tal pão cobiçaria

Porque leveda nele a poesia

De quem é velho mas já foi criança.
*

 

 

Maria João Brito de Sousa 

25.06.2020 - 21.00h

***

29
Mar24

VISLUMBRES DE UMA DISTOPIA - Reedição

Maria João Brito de Sousa

Inferno - Hieronymus Bosch (1).jpg

Tela de Hieronymus Bosch

*

VISLUMBRES DE UMA DISTOPIA
*


Silenciosos nos seus corpos de aço,

Dormindo estranhos sonos vigilantes

E usufruindo, ou não, de um espanto escasso,

Estão os que já não são o que eram dantes
*


Guardam os torreões do novo Paço

E, escolhidos a dedo, são gigantes

Que correm dez mil milhas sem cansaço

E abatem de um só sopro astros errantes
*


As montanhas, rolando sobre esferas,

Desviam-se dos rios e das ribeiras

Que agora desaguam nas crateras
*


Cavadas pelas balas não certeiras:

Não há dias nem noites, só há esperas,

Frágeis conspirações, pulsões grosseiras...
*

 

Mª João Brito de Sousa

28.03.2022 - 14.00h
***

 

28
Mar24

O NOJO

Maria João Brito de Sousa

vermes wikipédia (1).jpg

Imagem retirada da Wikipédia

*

 NOJO
*


Enquanto os vermes sobem ao poder

E a podridão se infiltra nas ranhuras,

Os grandes são tão só caricaturas

Da grandeza ideal que dizem ter!
*


O nojo aumenta e há náusea a renascer

Em todas as humanas criaturas

Que honraram outro Abril com partituras

Que só quem queria a paz podia ver
*


Bem mais forte que o medo é esta injúria,

Esta infâmia de ver a coisa espúria

Que a vermina transporta enquanto o nojo
*


Em nós sobe de tom, passa a agonia

E dói-nos tanto que a democracia

Não mais é sonho e cai como um despojo!
*

 

Mª João Brito de Sousa

28.03.2024 - 15.00h
***

 

28
Mar24

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXIII

Maria João Brito de Sousa

estranho par pinterest.jpg

Imagem Pinterest

*

 

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXIII
*

 

COMO QUANDO DO MAR TEMPESTUOSO

*


Como quando do mar tempestuoso

O marinheiro todo trabalhado,

De hum naufragio cruel sahindo a nado,

Só de ouvir fallar nelle está medroso:
*

Firme jura que o vê-lo bonançoso

Do seu lar o não tire socegado;

Mas esquecido ja do horror passado,

Delle a fiar se torna cobiçoso:
*


Assi, Senhora, eu que da tormenta

De vossa vista fujo, por salvar-me,

Jurando de não mais em outra ver-me;
*


Com a alma que de vós nunca se ausenta,

Me tórno, por cobiça de ganhar-me,

Onde estive tão perto de perder-me.
*

Luíz de Camões

***

 

Se vos haveis ganhado onde perdido

Estivestes quase, quase, em fúria tanta,

Cuidai de vos cuidar que se alevanta

Tormenta bem maior que a que heis sentido
*


Imensa em força, doble em arruído

E capaz de vergar mesmo Atalanta,

Esta a todas as outras as suplanta

Pois mais de mil borrascas há vencido
*


Fugi então de ouvir novas de mim:

Se da fúria primeira vos salvastes,

Quiçá duma segunda o não possais...
*


Fugi com vosso frágil bergantim

Da extrema indignação que provocastes

Conquanto de inocência vos cubrais!
*


Mª João Brito de Sousa

28.03.2024 -11.00h
***

 

O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita

27
Mar24

AMAR-TE, POESIA - Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa

Maria João Brito de Sousa

Litografia de Pavia in Livro de Bordo.jpg

Litografia de Manuel Ribeiro de Pavia

in LIVRO DE BORDO de António de Sousa

*

 

COROA DE SONETOS

*

AMAR-TE, POESIA
*


Amar-te em cada ano em dia certo

E ter que estar à espera todo o ano

Dizer uma só vez: eu não te engano

Apenas venho aqui hoje liberto
*

Eu ando no trabalho aqui por perto

Mas meu patrão é velho e tão insano

Que só me deixa vir, por inumano,

Um dia sem saber ao quê decerto
*


Pois, se soubesse, amor, que eu aqui vinha

Não me deixava vir. Se ele adivinha

Ou se alguém lhe contar que nesse dia
*


Venho comemorar e dar-te um beijo

Proíbe-me de vir, não mais te vejo

Mesmo uma vez por ano, poesia!
*


Custódio Montes

22.3.2024 (e só no dia seguinte….)
***


"Mesmo uma vez por ano, poesia",

Que pra ti corra e enlace fascinada

Sabe-me sempre a pouco, ou quase nada,

Quanto em ti por segundos me extasia
*


Pudera eu ter mais tempo e ficaria

A ver-te espanto a espanto acrescentada

Até adormecer sobre a almofada

Onde, por fim, Morfeu te renderia
*


É atrasada que te rendo preito...

Espero que me perdoes tê-lo feito

Passados já três dias. Reconheço
*


Que me perco no tempo que há no espaço

Sem nem sequer saber porque é que o faço

Se te dedico um tão infindo apreço...
*


Mª João Brito de Sousa

24.03.2024 - 16.00h
***
.
*

3.
*
“Se te dedico um tão infindo apreço”

Não é porque não queira, é que não posso

Se o tempo fosse meu como é vosso

Verias que de ti nunca me esqueço
*


O meu patrão conhece-me o endereço

E logo me ameaça em tom bem grosso

Obriga-me ao trabalho e com esforço

Fico muito cansado e esmoreço
*


Se alguém lhe diz que faço poesia

Refere logo: perde essa mania

Senão perdes o pão, diz o tirano
*

Como eu preciso mesmo do trabalho

Não posso dar razão a tal bandalho

E só consigo amar-te de ano a ano
*

Custódio Montes
25.3.2024
***

4.
*
"E só consigo amar-te de ano a ano"

Qual andorinha poisando em beiral

Pra nel`depor o amor primordial

Que com ela cruzou o oceano
*


Tivesse eu um patrão assim tirano,

Logo o confrontaria a bem ou mal

Que mais pode o Amor do que um real,

Uma libra ou um euro... e, caso o insano,
*


Me ameaçasse com o desemprego

Fá-lo-ia, de pronto, ver-se grego

Pois entraria em greve nesse instante!
*


Não cavaria o chão, nem plantaria

E el`que nunca o fez entenderia

Que um só dia pr`amar nunca é bastante!
*


Mª João Brito de Sousa

25.03.2024 - 15.30h
*** ´

5.
*
“Que um só dia pr’amar nunca é bastante”

Isso é pura verdade, bem se sabe

Mas o patrão é mau e põe entrave

A um amor diário e constante
*


Vou burilar de forma apaixonante

Para o convencer que não agrave

O meu afastamento nem me trave

A vontade de ver a minha amante
*


Que eu amo a poesia bem o vê

Quem olha a minha escrita, quem me lê

Que sentirá em si igual paixão
*


Vou-lhe pedir a si este favor:

Empreste ao seu poema tal fervor

Que possamos vencer o meu patrão
*


Custódio Montes
25.3.2024
***

6.
*
"Que possamos vencer o seu patrão"

É o que mais desejo de momento

Por isso evoco a Musa que em talento

É maior e mais forte que um leão
*


Ela lhe fará ver que essa paixão

Que em si vai fervilhando em fogo lento

Importa tanto ou mais que o seu sustento

E que não vive um homem só de pão
*


Mesmo sendo casmurro e prepotente

À minha Musa nunca fará frente

Porque ela é tão frontal quão destemida
*


E não tendo argumentos vergará:

A Primavera inteira lhe dará

Pra que a dedique à sua prometida!
*


Mª João Brito de Sousa

25.03.2024 - 2030
***

7.
*
“Pra que a dedique à sua prometida!”

E lhe faça poemas dedicados

Mas isto são trabalhos delicados

E a minha musa anda aborrecida
*

Não me ajuda por tê-la esquecida

E só a ir lembrando aos bocados

Nem lhe fazer poemas afamados

Lamentando não ser por mim querida
*


Mas ela é ingrata que senão

Deitava as culpas todas ao patrão

E assim devia pôr-se a meu favor
*


Que gosto muito dela, não engano

E embora só lhe escreva de ano a ano

Bem sabe que eu sou o seu amor
*

Custódio Montes
25.3.2024
***

8.
*

"Bem sabe que sou eu o seu amor"

E na verdade o sabe a sua Musa

Que se lhe of`rece e nada lhe recusa

Em excelência, harmonia e espanto e cor...
*


Tudo a Musa lhe dá sem se lhe opor

Nem dar a entender que dela abusa...

Não vejo, meu amigo, porque a acusa

De não lhe estar a dar o seu melhor...
*


Eu bem a vi vergar o seu patrão

Com tanta força e tal erudição

Que ele acedeu a dar-lhe a Primavera!
*


Mas se insistir, se ainda mais quiser,

Talvez conquiste o V`rão pra lhe of`recer

E fique então feliz à sua espera...
*


Mª João Brito de Sousa

25.03.2024 - 23.20h
***

9.
*
“E fique então feliz à sua espera…”

Assim sou eu que não ‘stou a ver bem

Já sei…foi o patrão e mais ninguém

Que me tramou …aquela bruta fera
*


Com a chuva a cair na Primavera

Fez crer que era o inverno que se tem

E nós: a Primavera jamais vem

E assim, quem tanto espera desespera
*


Também se foi a vista e quase cego

Já não distingo bem e o meu ego

Não me deixa alcançar a claridade
*


E tendo a musa aqui ao meu redor

Devia ter sentido o seu amor

Desculpa, musa, peço piedade!
*


Custódio Montes
26.3.2924
***

10.
*

"Desculpa, musa, peço piedade!"

Mas isso é coisa que se peça a quem

Tudo a que almeja é a fazer-lhe bem

E por amor, que não por caridade?
*


Chove lá fora... O campo e a cidade

Curvam-se ao vento que sopra também

E pelas ruas não se vê ninguém,

Só a água escorrendo em quantidade...
*


Sob um telheiro, a própria Primavera,

Se esconde e espreita em precavida espera

Que a chuva pare e que a nortada abrande
*


Mas é questão de dias porque em breve,

Perdido o medo de que o vento a leve,

Brilhará no poema que hoje escande.
*


Mª João Brito de Sousa

20.03.2024 - 09.45h
***

11.
*

“Brilhará no poema que hoje escande”

Saltando sobre a chuva que o molha

É mesmo hoje já, para quem olha,

Que a primavera o vê e assim o expande
*

É pena que a Mistral tão doente ande

E esteja sempre em casa em recolha

Que ao ver o ar teria muita escolha

Veria o mundo à volta lindo e grande
*

Talvez até virasse como a dona

Em poetisa mestra e patrona

Ensinando aos seus pares a magia
*


De andar à chuva, ao vento e ao luar

Passando a vida então a poetar

E vir a ganhar fama em poesia
*


Custódio Montes
26.3.2024
***

12.
*

"E vir a ganhar fama em poesia"

É coisa que à Mistral bem pouco int`ressa

Que em graça é já poema escrito à pressa

Fluente, grácil, rico em harmonia
*


Nasce um poema sempre que ela mia,

Se dorme é, da beleza, pura peça,

Quando ronrona, encanta... há quem lhe teça

Encómios por ser toda melodia
*


Até no hospital em que é tratada

A vet`rinária diz ficar espantada

Com a serenidade da Mistral
*


Mas andar pelas ruas, na cidade,

Isso é que não. Nem pode, que em verdade,

Quase morreu na rua, este animal.
*


Mª João Brito de Sousa

26.03.2024 - 14.25h
***

13.
*

“Quase morreu na rua este animal”

Mas valeu-lhe o amor da sua dona

Que, sempre ao seu redor, não a abandona

E é sua companheira principal
*


Ao lado da mestra essa Mistral

Sentada junto a ela na poltrona

Comunga a poesia que anda à tona

E vai ganhando o gosto em espiral
*


Falando-se em amar a poesia

Ela merece um canto de alegria

Porque também é fonte de poema
*


Termino o meu soneto mesmo agora

A mestra que a gatinha tanto adora

Baseie o seu soneto neste tema
*

Custódio Montes
26.3.2024
***

14.
*

"Baseie o seu soneto neste tema"

Leio agora, acabada de chegar

Ainda atordoada e a desejar

Que não tivesse a gata este problema
*


Esta consulta não foi nada amena:

Três de nós não bastaram pr`agarrar

Mistral que como um tigre ousou lutar

Em vez de ronronar como um poema...
*


Mas não posso esquecer os seus anseios,

Nem trazer à ribalta os meus receios

Quando o final da C`roa está tão perto
*

 

Ao tiranete irei repreender

Até que o desobrigue de dizer:

"Amar-te em cada ano em dia certo".
*

 

Mª João Brito de Sousa

26.03.2024 - 19.40h
***

 

26
Mar24

SONETO DO MAL MENOR - Reedição

Maria João Brito de Sousa

9925-cesto-de-rosas-vermelhas.jpg

SONETO DO MAL MENOR
*


Dá-me o ramo das rosas perdulárias

comprado na florista já esquecida

armado no “bouquet” morto e sem vida

das condenadas almas solitárias...
*


Dá-me uma – mais serão desnecessárias...-

na haste em que a chorei, porque, à partida,

lhe condeno a razão de ser colhida,

deixando, na raiz, funções tão várias
*


Juro que não protesto... e mais não digo!

Hoje perco a raiz, enfrento o p`rigo

e estou pronta a render-me sem chorar
*


Se o derradeiro golpe, esse castigo

que me arranca do mundo em que me abrigo,

me degolar, de vez, sem me magoar
*.

 

Maria João Brito de Sousa

26.03.2015- 15.08h

25
Mar24

GLOSANDO O ÚLTIMO VERSO DE UM SONETO DE CUSTÓDIO MONTES

Maria João Brito de Sousa

relógio marinho pinterest (2).jpg

Imagem Pinterest

*

AMAR-TE, POESIA
*


Amar-te em cada ano em dia certo

E ter que estar à espera todo o ano

Dizer uma só vez: eu não te engano

Apenas venho aqui hoje liberto
*

Eu ando no trabalho aqui por perto

Mas meu patrão é velho e tão insano

Que só me deixa vir, por inumano,

Um dia sem saber ao quê decerto
*


Pois, se soubesse, amor, que eu aqui vinha

Não me deixava vir. Se ele adivinha

Ou se alguém lhe contar que nesse dia
*


Venho comemorar e dar-te um beijo

Proíbe-me de vir, não mais te vejo

Mesmo uma vez por ano, poesia!
*


Custódio Montes

22.3.2024 (e só no dia seguinte….)
***


"Mesmo uma vez por ano, poesia",

Que pra ti corra e enlace fascinada

Sabe-me sempre a pouco, ou quase nada,

Quanto em ti por segundos me extasia
*


Pudera eu ter mais tempo e ficaria

A ver-te espanto a espanto acrescentada

Até adormecer sobre a almofada

Onde, por fim, Morfeu te renderia
*


É atrasada que te rendo preito...

Espero que me perdoes tê-lo feito

Passados já três dias. Reconheço
*


Que me perco no tempo que há no espaço

Sem sequer entender porque é que o faço

Se te dedico um tão infindo apreço.
*


Mª João Brito de Sousa

24.03.2024 - 16.00h
***

24
Mar24

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXII

Maria João Brito de Sousa

terra longinqua pinterest (1).jpg

Imagem Pinterest

*

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXII
*

 

CANTANDO ESTAVA UM DIA BEM SEGURO

*

 

Cantando estava um dia bem seguro,

Quando passava Silvio, e me dizia:

(Silvio, pastor antiguo que sabia

Por o canto das aves o futuro)
*


"Méries, quando quizer o Fado escuro,

A oprimir-te virão em um só dia

Dois lobos; logo a voz e a melodia

Te fugirão, e o som suave e puro."
*


Bem foi assi; porque hum me degolou

Quanto gado vacum pastava e tinha,

De que grandes soldadas esperava.
*

E, por mais dano, o outro me matou

A cordeira gentil, que eu tanto amava,

Perpétua saudade da alma minha!
*

Luíz de Camões
***


Se dura foi de Sílvio a profecia,

Imaginai quão mais dura será

A isenta narrativa de quem está

Hoje a quinhentos anos desse dia...
*


Plo nome que escolheis vos chamaria

E assim vos chamarei se tal vos dá

Prazer... Ah, que prazer inda haverá

Pra quem, morto, não chore nem se ria?
*


Sílvio não sou. Tampouco sou profeta,

Mas sei que na miséria haveis morrido,

De pouco vos valeu serdes poeta
*


Que, enquanto vivo, tudo haveis perdido!

Haveis cantado a Pátria como um esteta

Mas só depois de morto fostes lido.
*


Mª João Brito de Sousa

24.03.2024 - 14.00h

***

 

O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita

23
Mar24

SEM MÃO QUE A CONDUZA E SEM MUSA QUE A HABITE

Maria João Brito de Sousa

PAZ III (1).jpg

 

SEM MÃO QUE A CONDUZA E SEM MUSA QUE A HABITE
*

 

"Do luar grisalho que há nos meus cabelos"

Fiz uma bandeira que elevei aos céus

Qual imensa pomba de traços singelos

Mas prenhe de anseios tão meus quanto seus
*

 

Um vento mais forte levou tais anelos

Pra longe, tão longe que estes olhos meus

Não mais a reviram... Que sonhos tão belos

Partiram sem rumo e sem dizer adeus...
*

 

Do Sol que hoje queima os meus olhos cansados

Colho agora um raio que os mais são escusados

E aponto ás alturas a luz que ele emite
*


Mas sinais não vejo da pomba/bandeira

Que o vento de um sopro levou toda inteira

Sem mão que a conduza e sem musa que a habite.
*


Mª João Brito de Sousa

23.03.2024 - 12.39h
***

Soneto criado a parir do verso final do soneto "Sol e Vida" da autoria de MEA

 

22
Mar24

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXI

Maria João Brito de Sousa

cid simões - as palavras são armas (2).png

Imagem retirada do blog "As Palavras São Armas"

de Cid Simões

*

 

CÁ NESTA BABILÓNIA DONDE MANA

*

Cá nesta Babilónia donde mana

Matéria a quanto mal o mundo cria;

Cá donde o puro Amor não tem valia;

Que a Mãe, que manda mais, tudo profana;
*


Cá donde o mal se afina, o bem se dana,

E pode mais que a honra a tirania;

Cá donde a errada e cega Monarquia

Cuida que um nome vão a Deus engana;
*


Cá neste labirintho onde a Nobreza,

O Valor e o Saber pedindo vão

Ás portas da Cobiça e da Vileza;
*

Cá neste escuro caos de confusão

Cumprindo o curso estou da natureza.

Vê se me esquecerei de ti, Sião!
*


Luíz de Camões
***


Novas, Senhor, vos trago de Sião

Onde quem pode mais mais vai matando

E de onde os mísseis manam sibilando

Para cumprirem - diz-se - uma missão
*


Mas desta minha humana auscultação,

Dif`rentes novas vos quisera ir dando

E, em vez mísseis, ver por lá sobrando

Medicamentos, plasma e água e pão...
*


Ah, "donde o puro amor não tem valia"

"Às portas da cobiça e da vileza"

Só gritos se ouvem. Gritos de agonia.
*


Novas só estas: morte, horror, tristeza...

Eis a missão na qual Sião porfia

Que assim se orgulha desta guerra acesa.
*

 

Mª João Brito de Sousa

22.03.2024 - 15.00h
***

21
Mar24

SEM TÍTULO V

Maria João Brito de Sousa

A persistncia da Memória (1).jpg

A Persistência da Memória - Salvador Dali

*

 

SEM TÍTULO V
*


Persiste uma memória de futuro

A erguer-se sobre a purga dos mais fracos

Dos vulneráveis já feitos em cacos

E dos qu`inda agonizam no chão duro...
*


Certeza ou intuição? Não sei, nem juro

Que este futuro se encha de buracos

Dos quais as horas pendam como sacos

A derramar um visco em "chiaroscuro"...
*


Há porém quem desista e quem se esforce,

Quem algoritmos troque pelo Morse

E quem coma do chão quanto o chão der
*


Somos (ainda) bichos imperfeitos

E racistas, também, que aos preconceitos

Até o mais racista os nega ter.
*

 

Mª João Brito de Sousa

21.03.2024 - 20.50h
***

12
Mar24

DESOLAÇÃO - Reedição

Maria João Brito de Sousa

floresta de livros pint (3).jpg

Imagem Pinterest

*

DESOLAÇÃO
*


Choro quem parte e temo por quem fica:

Se a vida tem remédio, a morte não

E o mundo vai caindo em depressão,

Sem que se saiba tudo o que isso implica
*


Já que ao que tudo ou quase tudo indica,

Pouco nos deixa, esta devastação

Pr`além do rasto de desolação

Que diante de nós se multiplica
*


Como vírus que, entrando em mutação,

Corrói um mundo do qual não abdica

E lhe devora a carne feita pão.
*


Lá longe, ouve-se um sino que repica,

Uma voz que suplica a salvação

E outra que nega o que isso significa.
*


Maria João Brito de Sousa

03.03.2021 - 11.07h
***

Pág. 1/2

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