Maria João Brito de Sousa
Fotografia de António Pedro Brito de Sousa
*
CREIO NO PÃO *
Pode o diabo ter-me até estendido
O pão amanhecido que mordeu
Mas, quanto ao resto, ter-vos-á mentido
Pois quem o amassou fui eu, só eu!
*
Se o diabo ficar aborrecido
Por ver-se despojado de um troféu,
Viro-lhe as costas, vou noutro sentido
E amasso um pão que seja mesmo meu.
*
A massa deste pão, quão mais cozia
Mais dourava, crescia e rescendia
Às ervas bravas da planura mansa *
E demo algum tal pão cobiçaria
Porque leveda nele a poesia
De quem é velho mas já foi criança. *
Maria João Brito de Sousa
25.06.2020 - 21.00h
***
publicado às 12:19
Maria João Brito de Sousa
Tela de Hieronymus Bosch
*
VISLUMBRES DE UMA DISTOPIA *
Silenciosos nos seus corpos de aço,
Dormindo estranhos sonos vigilantes
E usufruindo, ou não, de um espanto escasso,
Estão os que já não são o que eram dantes *
Guardam os torreões do novo Paço
E, escolhidos a dedo, são gigantes
Que correm dez mil milhas sem cansaço
E abatem de um só sopro astros errantes *
As montanhas, rolando sobre esferas,
Desviam-se dos rios e das ribeiras
Que agora desaguam nas crateras *
Cavadas pelas balas não certeiras:
Não há dias nem noites, só há esperas,
Frágeis conspirações, pulsões grosseiras... *
Mª João Brito de Sousa
28.03.2022 - 14.00h ***
publicado às 22:02
Maria João Brito de Sousa
Imagem retirada da Wikipédia
*
NOJO *
Enquanto os vermes sobem ao poder
E a podridão se infiltra nas ranhuras,
Os grandes são tão só caricaturas
Da grandeza ideal que dizem ter! *
O nojo aumenta e há náusea a renascer
Em todas as humanas criaturas
Que honraram outro Abril com partituras
Que só quem queria a paz podia ver *
Bem mais forte que o medo é esta injúria,
Esta infâmia de ver a coisa espúria
Que a vermina transporta enquanto o nojo *
Em nós sobe de tom, passa a agonia
E dói-nos tanto que a democracia
Não mais é sonho e cai como um despojo! *
Mª João Brito de Sousa
28.03.2024 - 15.00h ***
publicado às 21:34
Maria João Brito de Sousa
Imagem Pinterest
*
DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXIII *
COMO QUANDO DO MAR TEMPESTUOSO
*
Como quando do mar tempestuoso
O marinheiro todo trabalhado,
De hum naufragio cruel sahindo a nado,
Só de ouvir fallar nelle está medroso: *
Firme jura que o vê-lo bonançoso
Do seu lar o não tire socegado;
Mas esquecido ja do horror passado,
Delle a fiar se torna cobiçoso: *
Assi, Senhora, eu que da tormenta
De vossa vista fujo, por salvar-me,
Jurando de não mais em outra ver-me; *
Com a alma que de vós nunca se ausenta,
Me tórno, por cobiça de ganhar-me,
Onde estive tão perto de perder-me. *
Luíz de Camões
***
Se vos haveis ganhado onde perdido
Estivestes quase, quase, em fúria tanta,
Cuidai de vos cuidar que se alevanta
Tormenta bem maior que a que heis sentido *
Imensa em força, doble em arruído
E capaz de vergar mesmo Atalanta,
Esta a todas as outras as suplanta
Pois mais de mil borrascas há vencido *
Fugi então de ouvir novas de mim:
Se da fúria primeira vos salvastes,
Quiçá duma segunda o não possais... *
Fugi com vosso frágil bergantim
Da extrema indignação que provocastes
Conquanto de inocência vos cubrais! *
Mª João Brito de Sousa
28.03.2024 -11.00h ***
O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita
publicado às 11:10
Maria João Brito de Sousa
Litografia de Manuel Ribeiro de Pavia
in LIVRO DE BORDO de António de Sousa
*
COROA DE SONETOS
*
AMAR-TE, POESIA *
Amar-te em cada ano em dia certo
E ter que estar à espera todo o ano
Dizer uma só vez: eu não te engano Apenas venho aqui hoje liberto *
Eu ando no trabalho aqui por perto
Mas meu patrão é velho e tão insano Que só me deixa vir, por inumano, Um dia sem saber ao quê decerto *
Pois, se soubesse, amor, que eu aqui vinha
Não me deixava vir. Se ele adivinha
Ou se alguém lhe contar que nesse dia *
Venho comemorar e dar-te um beijo
Proíbe-me de vir, não mais te vejo
Mesmo uma vez por ano, poesia! *
Custódio Montes
22.3.2024 (e só no dia seguinte….) ***
"Mesmo uma vez por ano, poesia",
Que pra ti corra e enlace fascinada
Sabe-me sempre a pouco, ou quase nada,
Quanto em ti por segundos me extasia *
Pudera eu ter mais tempo e ficaria
A ver-te espanto a espanto acrescentada
Até adormecer sobre a almofada
Onde, por fim, Morfeu te renderia *
É atrasada que te rendo preito...
Espero que me perdoes tê-lo feito
Passados já três dias. Reconheço *
Que me perco no tempo que há no espaço
Sem nem sequer saber porque é que o faço
Se te dedico um tão infindo apreço... *
Mª João Brito de Sousa
24.03.2024 - 16.00h *** . *
3. * “Se te dedico um tão infindo apreço”
Não é porque não queira, é que não posso
Se o tempo fosse meu como é vosso
Verias que de ti nunca me esqueço *
O meu patrão conhece-me o endereço
E logo me ameaça em tom bem grosso
Obriga-me ao trabalho e com esforço
Fico muito cansado e esmoreço *
Se alguém lhe diz que faço poesia
Refere logo: perde essa mania
Senão perdes o pão, diz o tirano *
Como eu preciso mesmo do trabalho
Não posso dar razão a tal bandalho
E só consigo amar-te de ano a ano *
Custódio Montes 25.3.2024 ***
4. * "E só consigo amar-te de ano a ano"
Qual andorinha poisando em beiral
Pra nel`depor o amor primordial
Que com ela cruzou o oceano *
Tivesse eu um patrão assim tirano,
Logo o confrontaria a bem ou mal
Que mais pode o Amor do que um real,
Uma libra ou um euro... e, caso o insano, *
Me ameaçasse com o desemprego
Fá-lo-ia, de pronto, ver-se grego
Pois entraria em greve nesse instante! *
Não cavaria o chão, nem plantaria
E el`que nunca o fez entenderia
Que um só dia pr`amar nunca é bastante! *
Mª João Brito de Sousa
25.03.2024 - 15.30h *** ´
5. * “Que um só dia pr’amar nunca é bastante”
Isso é pura verdade, bem se sabe
Mas o patrão é mau e põe entrave
A um amor diário e constante *
Vou burilar de forma apaixonante
Para o convencer que não agrave
O meu afastamento nem me trave
A vontade de ver a minha amante *
Que eu amo a poesia bem o vê
Quem olha a minha escrita, quem me lê
Que sentirá em si igual paixão *
Vou-lhe pedir a si este favor:
Empreste ao seu poema tal fervor
Que possamos vencer o meu patrão *
Custódio Montes 25.3.2024 ***
6. * "Que possamos vencer o seu patrão"
É o que mais desejo de momento
Por isso evoco a Musa que em talento
É maior e mais forte que um leão *
Ela lhe fará ver que essa paixão
Que em si vai fervilhando em fogo lento
Importa tanto ou mais que o seu sustento
E que não vive um homem só de pão *
Mesmo sendo casmurro e prepotente
À minha Musa nunca fará frente
Porque ela é tão frontal quão destemida *
E não tendo argumentos vergará:
A Primavera inteira lhe dará
Pra que a dedique à sua prometida! *
Mª João Brito de Sousa
25.03.2024 - 2030 ***
7. * “Pra que a dedique à sua prometida!”
E lhe faça poemas dedicados
Mas isto são trabalhos delicados
E a minha musa anda aborrecida *
Não me ajuda por tê-la esquecida
E só a ir lembrando aos bocados
Nem lhe fazer poemas afamados
Lamentando não ser por mim querida *
Mas ela é ingrata que senão
Deitava as culpas todas ao patrão
E assim devia pôr-se a meu favor *
Que gosto muito dela, não engano
E embora só lhe escreva de ano a ano
Bem sabe que eu sou o seu amor *
Custódio Montes 25.3.2024 ***
8. *
"Bem sabe que sou eu o seu amor"
E na verdade o sabe a sua Musa
Que se lhe of`rece e nada lhe recusa
Em excelência, harmonia e espanto e cor... *
Tudo a Musa lhe dá sem se lhe opor
Nem dar a entender que dela abusa...
Não vejo, meu amigo, porque a acusa
De não lhe estar a dar o seu melhor... *
Eu bem a vi vergar o seu patrão
Com tanta força e tal erudição
Que ele acedeu a dar-lhe a Primavera! *
Mas se insistir, se ainda mais quiser,
Talvez conquiste o V`rão pra lhe of`recer
E fique então feliz à sua espera... *
Mª João Brito de Sousa
25.03.2024 - 23.20h ***
9. * “E fique então feliz à sua espera…”
Assim sou eu que não ‘stou a ver bem
Já sei…foi o patrão e mais ninguém
Que me tramou …aquela bruta fera *
Com a chuva a cair na Primavera
Fez crer que era o inverno que se tem
E nós: a Primavera jamais vem
E assim, quem tanto espera desespera *
Também se foi a vista e quase cego
Já não distingo bem e o meu ego
Não me deixa alcançar a claridade *
E tendo a musa aqui ao meu redor
Devia ter sentido o seu amor
Desculpa, musa, peço piedade! *
Custódio Montes 26.3.2924 ***
10. *
"Desculpa, musa, peço piedade!"
Mas isso é coisa que se peça a quem
Tudo a que almeja é a fazer-lhe bem
E por amor, que não por caridade? *
Chove lá fora... O campo e a cidade
Curvam-se ao vento que sopra também
E pelas ruas não se vê ninguém,
Só a água escorrendo em quantidade... *
Sob um telheiro, a própria Primavera,
Se esconde e espreita em precavida espera
Que a chuva pare e que a nortada abrande *
Mas é questão de dias porque em breve,
Perdido o medo de que o vento a leve,
Brilhará no poema que hoje escande. *
Mª João Brito de Sousa
20.03.2024 - 09.45h ***
11. *
“Brilhará no poema que hoje escande”
Saltando sobre a chuva que o molha
É mesmo hoje já, para quem olha,
Que a primavera o vê e assim o expande *
É pena que a Mistral tão doente ande
E esteja sempre em casa em recolha
Que ao ver o ar teria muita escolha
Veria o mundo à volta lindo e grande *
Talvez até virasse como a dona
Em poetisa mestra e patrona
Ensinando aos seus pares a magia *
De andar à chuva, ao vento e ao luar
Passando a vida então a poetar
E vir a ganhar fama em poesia *
Custódio Montes 26.3.2024 ***
12. *
"E vir a ganhar fama em poesia"
É coisa que à Mistral bem pouco int`ressa
Que em graça é já poema escrito à pressa
Fluente, grácil, rico em harmonia *
Nasce um poema sempre que ela mia,
Se dorme é, da beleza, pura peça,
Quando ronrona, encanta... há quem lhe teça
Encómios por ser toda melodia *
Até no hospital em que é tratada
A vet`rinária diz ficar espantada
Com a serenidade da Mistral *
Mas andar pelas ruas, na cidade,
Isso é que não. Nem pode, que em verdade,
Quase morreu na rua, este animal. *
Mª João Brito de Sousa
26.03.2024 - 14.25h ***
13. *
“Quase morreu na rua este animal”
Mas valeu-lhe o amor da sua dona
Que, sempre ao seu redor, não a abandona
E é sua companheira principal *
Ao lado da mestra essa Mistral
Sentada junto a ela na poltrona
Comunga a poesia que anda à tona
E vai ganhando o gosto em espiral *
Falando-se em amar a poesia
Ela merece um canto de alegria
Porque também é fonte de poema *
Termino o meu soneto mesmo agora
A mestra que a gatinha tanto adora
Baseie o seu soneto neste tema *
Custódio Montes 26.3.2024 ***
14. *
"Baseie o seu soneto neste tema"
Leio agora, acabada de chegar
Ainda atordoada e a desejar
Que não tivesse a gata este problema *
Esta consulta não foi nada amena:
Três de nós não bastaram pr`agarrar
Mistral que como um tigre ousou lutar
Em vez de ronronar como um poema... *
Mas não posso esquecer os seus anseios,
Nem trazer à ribalta os meus receios
Quando o final da C`roa está tão perto *
Ao tiranete irei repreender
Até que o desobrigue de dizer:
"Amar-te em cada ano em dia certo". *
Mª João Brito de Sousa
26.03.2024 - 19.40h ***
publicado às 09:28
Maria João Brito de Sousa
SONETO DO MAL MENOR *
Dá-me o ramo das rosas perdulárias
comprado na florista já esquecida
armado no “bouquet” morto e sem vida
das condenadas almas solitárias... *
Dá-me uma – mais serão desnecessárias...-
na haste em que a chorei, porque, à partida,
lhe condeno a razão de ser colhida,
deixando, na raiz, funções tão várias *
Juro que não protesto... e mais não digo!
Hoje perco a raiz, enfrento o p`rigo
e estou pronta a render-me sem chorar *
Se o derradeiro golpe, esse castigo
que me arranca do mundo em que me abrigo,
me degolar, de vez, sem me magoar *.
Maria João Brito de Sousa
26.03.2015- 15.08h
publicado às 13:22
Maria João Brito de Sousa
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*
AMAR-TE, POESIA *
Amar-te em cada ano em dia certo
E ter que estar à espera todo o ano
Dizer uma só vez: eu não te engano Apenas venho aqui hoje liberto *
Eu ando no trabalho aqui por perto
Mas meu patrão é velho e tão insano Que só me deixa vir, por inumano, Um dia sem saber ao quê decerto *
Pois, se soubesse, amor, que eu aqui vinha
Não me deixava vir. Se ele adivinha
Ou se alguém lhe contar que nesse dia *
Venho comemorar e dar-te um beijo
Proíbe-me de vir, não mais te vejo
Mesmo uma vez por ano, poesia! *
Custódio Montes
22.3.2024 (e só no dia seguinte….) ***
"Mesmo uma vez por ano, poesia",
Que pra ti corra e enlace fascinada
Sabe-me sempre a pouco, ou quase nada,
Quanto em ti por segundos me extasia *
Pudera eu ter mais tempo e ficaria
A ver-te espanto a espanto acrescentada
Até adormecer sobre a almofada
Onde, por fim, Morfeu te renderia *
É atrasada que te rendo preito...
Espero que me perdoes tê-lo feito
Passados já três dias. Reconheço *
Que me perco no tempo que há no espaço
Sem sequer entender porque é que o faço
Se te dedico um tão infindo apreço. *
Mª João Brito de Sousa
24.03.2024 - 16.00h ***
publicado às 09:03
Maria João Brito de Sousa
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*
DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXII *
CANTANDO ESTAVA UM DIA BEM SEGURO
*
Cantando estava um dia bem seguro,
Quando passava Silvio, e me dizia:
(Silvio, pastor antiguo que sabia
Por o canto das aves o futuro) *
"Méries, quando quizer o Fado escuro,
A oprimir-te virão em um só dia
Dois lobos; logo a voz e a melodia
Te fugirão, e o som suave e puro." *
Bem foi assi; porque hum me degolou
Quanto gado vacum pastava e tinha,
De que grandes soldadas esperava. *
E, por mais dano, o outro me matou
A cordeira gentil, que eu tanto amava,
Perpétua saudade da alma minha! *
Luíz de Camões ***
Se dura foi de Sílvio a profecia,
Imaginai quão mais dura será
A isenta narrativa de quem está
Hoje a quinhentos anos desse dia... *
Plo nome que escolheis vos chamaria
E assim vos chamarei se tal vos dá
Prazer... Ah, que prazer inda haverá
Pra quem, morto, não chore nem se ria? *
Sílvio não sou. Tampouco sou profeta,
Mas sei que na miséria haveis morrido,
De pouco vos valeu serdes poeta *
Que, enquanto vivo, tudo haveis perdido!
Haveis cantado a Pátria como um esteta
Mas só depois de morto fostes lido. *
Mª João Brito de Sousa
24.03.2024 - 14.00h
***
O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita
publicado às 14:20
Maria João Brito de Sousa
SEM MÃO QUE A CONDUZA E SEM MUSA QUE A HABITE *
"Do luar grisalho que há nos meus cabelos"
Fiz uma bandeira que elevei aos céus
Qual imensa pomba de traços singelos
Mas prenhe de anseios tão meus quanto seus *
Um vento mais forte levou tais anelos
Pra longe, tão longe que estes olhos meus
Não mais a reviram... Que sonhos tão belos
Partiram sem rumo e sem dizer adeus... *
Do Sol que hoje queima os meus olhos cansados
Colho agora um raio que os mais são escusados
E aponto ás alturas a luz que ele emite *
Mas sinais não vejo da pomba/bandeira
Que o vento de um sopro levou toda inteira
Sem mão que a conduza e sem musa que a habite. *
Mª João Brito de Sousa
23.03.2024 - 12.39h ***
Soneto criado a parir do verso final do soneto "Sol e Vida" da autoria de MEA
publicado às 13:23
Maria João Brito de Sousa
Imagem retirada do blog "As Palavras São Armas"
de Cid Simões
*
CÁ NESTA BABILÓNIA DONDE MANA
*
Cá nesta Babilónia donde mana
Matéria a quanto mal o mundo cria;
Cá donde o puro Amor não tem valia;
Que a Mãe, que manda mais, tudo profana; *
Cá donde o mal se afina, o bem se dana,
E pode mais que a honra a tirania;
Cá donde a errada e cega Monarquia
Cuida que um nome vão a Deus engana; *
Cá neste labirintho onde a Nobreza,
O Valor e o Saber pedindo vão
Ás portas da Cobiça e da Vileza; *
Cá neste escuro caos de confusão
Cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião! *
Luíz de Camões ***
Novas, Senhor, vos trago de Sião
Onde quem pode mais mais vai matando
E de onde os mísseis manam sibilando
Para cumprirem - diz-se - uma missão *
Mas desta minha humana auscultação,
Dif`rentes novas vos quisera ir dando
E, em vez mísseis, ver por lá sobrando
Medicamentos, plasma e água e pão... *
Ah, "donde o puro amor não tem valia"
"Às portas da cobiça e da vileza"
Só gritos se ouvem. Gritos de agonia. *
Novas só estas: morte, horror, tristeza...
Eis a missão na qual Sião porfia
Que assim se orgulha desta guerra acesa. *
Mª João Brito de Sousa
22.03.2024 - 15.00h ***
publicado às 16:29
Maria João Brito de Sousa
A Persistência da Memória - Salvador Dali
*
SEM TÍTULO V *
Persiste uma memória de futuro
A erguer-se sobre a purga dos mais fracos
Dos vulneráveis já feitos em cacos
E dos qu`inda agonizam no chão duro... *
Certeza ou intuição? Não sei, nem juro
Que este futuro se encha de buracos
Dos quais as horas pendam como sacos
A derramar um visco em "chiaroscuro"... *
Há porém quem desista e quem se esforce,
Quem algoritmos troque pelo Morse
E quem coma do chão quanto o chão der *
Somos (ainda) bichos imperfeitos
E racistas, também, que aos preconceitos
Até o mais racista os nega ter. *
Mª João Brito de Sousa
21.03.2024 - 20.50h ***
publicado às 20:56
Maria João Brito de Sousa
Imagem Pinterest
*
DESOLAÇÃO *
Choro quem parte e temo por quem fica:
Se a vida tem remédio, a morte não
E o mundo vai caindo em depressão,
Sem que se saiba tudo o que isso implica *
Já que ao que tudo ou quase tudo indica,
Pouco nos deixa, esta devastação
Pr`além do rasto de desolação
Que diante de nós se multiplica *
Como vírus que, entrando em mutação,
Corrói um mundo do qual não abdica
E lhe devora a carne feita pão. *
Lá longe, ouve-se um sino que repica,
Uma voz que suplica a salvação
E outra que nega o que isso significa. *
Maria João Brito de Sousa
03.03.2021 - 11.07h ***
publicado às 10:21