Maria João Brito de Sousa
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*
O SILÊNCIO DAS MUSAS *
Anda o demónio à solta em terras lusas:
Nunca tanto indeciso (in)decidiu
E alguns vão já temendo o que se viu
Nos anos do silêncio, até pra musas *
Que muitas vi ao lado das reclusas
Do velho Aljube. A treva as consumiu,
Mas nunca delataram que as uniu
A mesma garra que as tornara intrusas... *
Voaram quando Abril floriu em cravos
E só então choraram de alegria:
De novo o mel da vida abria em favos *
E era o mesmo mel que eu recolhia
Pr`amenizar a dor dos desagravos
Que sobre elas choveram noite e dia. *
Mª João Brito de Sousa
29.02.2024 - 21.00h ***
publicado às 22:13
Maria João Brito de Sousa
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*
CONVERSANDO COM CAMÕES XIII *
Doces lembranças da passada glória,
Que me tirou fortuna roubadora,
Deixai-me descansar em paz uma hora,
Que comigo ganhais pouca vitória. *
Impressa tenho na alma larga história
Deste passado bem, que nunca fora;
Ou fora, e não passara: mas já agora
Em mim não pode haver mais que a memória. *
Vivo em lembranças, morro de esquecido
De quem sempre devera ser lembrado,
Se lhe lembrara estado tão contente. *
Oh quem tornar pudera a ser nascido!
Soubera-me lograr do bem passado,
Se conhecer soubera o mal presente. *
Luíz de Camões ***
Se conhecer pudésseis o presente
Enquanto no passado o desdenháveis,
Vossos versos bem menos memoráveis
Seriam para mim... pra toda a gente *
Que quem na glória vive ingloriamente
Memórias não terá porque improváveis,
Desnecessárias, loucas, impensáveis
Cousas que o vencedor sequer pressente... *
Se hoje essa glória é cousa do passado,
Memorá-la cantando é bem maior
Do que ansiar condená-la a repetir-se *
Lembrai-a pois! Um dia será Fado,
Cantado à noite quando o sol se for,
A renascer das águas, como Dirce. *
Mª João Brito de Sousa
29.02.2024 - 11.00h ***
O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita
publicado às 11:22
Maria João Brito de Sousa
Imagem fotografada de um velho calendário meu
*
CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XII *
Pois meus olhos não cansam de chorar
Tristezas não cansadas de cansar-me;
Pois não se abranda o fogo em que abrasar-me
Pôde quem eu jamais pude abrandar; *
Não canse o cego Amor de me guiar
Donde nunca de lá possa tornar-me;
Nem deixe o mundo todo de escutar-me,
Enquanto a fraca voz me não deixar. *
E se em montes, em prados, e em vales
Piedade ainda mora e vive Amor
Em feras, plantas, aves, pedras, águas; *
Ouçam a longa história de meus males,
E curem sua dor com minha dor;
Que grandes mágoas podem curar mágoas. *
Luiz de Camões ***
E credes, meu Senhor, que a dor imensa
Curada possa ser por dor igual,
Ou que juntando um mal a outro mal
Possa sanar-se a dor? Que recompensa *
Poderá receber quem assim pensa?
Se sofre o sofredor, de que lhe vale
Multiplicar-lhe a dor juntando sal
A gangrena que a si lhe não pertença? *
Mas se, como dizeis, vos ouve o mundo,
Se há realmente amor em planta e besta
Ou nas águas do poço mais profundo *
Segui-me! Amordaçai a voz funesta
Que vos condena à dor cada segundo,
E contemplai a Fantasia em festa! *
Mª João Brito de Sousa
28.02.2024 - 11.15h ***
O soneto de Camões foi retirado do blog Sociedade Perfeita
publicado às 11:35
Maria João Brito de Sousa
A FLORESTA *
Pintei, numa floresta, cogumelos
E árvores azuis, como Gauguin,
Preenchendo as neblinas da manhã
De violetas e de ocres muito belos *
Fui colorindo o fundo de amarelos,
Sentei-me com Diana, abracei Pã,
Comi o verde polme da maçã
E entrancei folhas de hera nos cabelos... *
Não houve nenhum sol, nenhuma lua
Que ousasse reclamar-me a sua posse,
Ou me reivindicasse o seu destino *
Porque ela, omnipresente, agreste e nua,
De aspecto inacabado e sabor doce,
Foi fruto de um soneto em desatino *
Maria João Brito de Sousa
25.09.2009 ***
(Poema escrito para a Fábrica de Histórias e reformulado a 20.05.2015 -13.22h)
publicado às 08:53
Maria João Brito de Sousa
António de Sousa fotografado por António Pedro Bito de Sousa
*
FILHO DAS TEMPESTADES *
Andou perdido por remotas plagas
Sem bússola nem vela. Era a Paixão
Quem o mantinha à tona sobre as vagas
Do mar da sua imensa solidão *
Cerrava as mãos. Fechadas como garras
As levava do leme ao coração
Quando da barca soltava as amarras
Aos primeiros sinais de um furacão *
E assim se fazia à tempestade
Como à bonança os outros se faziam
Mal o vento amainava o seu furor *
Pra si, porém, o vento é liberdade
E os raios são pendões que o desafiam
A vencê-los em espanto e garra e cor. *
Mª João Brito de Sousa 21.02.2023 - 10.00h ***
Ao meu avô poeta
publicado às 10:29
Maria João Brito de Sousa
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*
CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XI *
Quando cuido no tempo que, contente,
vi as pérolas, neve, rosa e ouro,
como quem vê por sonhos um tesouro,
parece tenho tudo aqui presente. *
Mas tanto que se passa este acidente,
e vejo o quão distante de vós mouro,
temo quanto imagino por agouro,
porque d’imaginar também me ausente. *
Já foram dias em que por ventura
vos vi, Senhora (se, assi dizendo, posso
co coração seguro estar sem medo); *
Agora, em tanto mal não mo assegura
a própria fantasia e nojo vosso:
eu não posso entender este segredo! *
Luíz de Camões ***
Não cuideis tanto de tudo entender
que, às vezes, pode mais quem não sabendo
intui apenas sem ficar sofrendo
aquilo que dizeis estar a sofrer... *
Porém... que digo eu, sendo mulher,
de nojo recoberta e, não vos vendo,
às lágrimas me entrego e só atendo
a quem, de vós, notícias me trouxer? *
Haveis podido agora perceber-me?
Isto que sofro nunca foi segredo
muito embora teimeis em desdizer-me *
E, sim, de vos perder me perde o medo:
Enquanto não voltardes, só render-me
me vai restando face a tal degredo! *
Mª João Brito de Sousa
25.02.2024 - 11.50h ***
O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita
publicado às 12:05
Maria João Brito de Sousa
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*
CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO X *
Se de vosso fermoso e lindo gesto
nasceram lindas flores para os olhos,
que para o peito são duros abrolhos,
em mim se vê mui claro e manifesto: *
pois vossa fermosura e vulto honesto
em os ver, de boninas vi mil molhos;
mas se meu coração tivera antolhos,
não vira em vós seu dano o mal funesto. *
Um mal visto por bem, um bem tristonho,
que me traz elevado o pensamento
em mil, porém diversas, fantasias, *
nas quais eu sempre ando, e sempre sonho;
e vós não cuidais mais que em meu tormento,
em que fundais as vossas alegrias. *
Luíz de Camões ***
Cuidais que de tormentos cuido apenas?
Bem enganado estais! Cuidai então
De não voltar a dar-me um tal sermão
Ou muito aumentarão as vossas penas *
As que afirmais não serem tão pequenas
Que às fantasias não derrubem, não...
E chamais-me funesta? Maldição!
Mais mentiroso sois do que as hienas! *
Ide com vossas loucas fantasias
E vossos elevados pensamentos,
Mas deixai-me sozinha! Ide veloz *
Que não me cabe a mim achar as vias
Pr`ó mal de que sofreis: vossos tormentos
São tudo o que engendrais se estais a sós! *
Mª João Brito de Sousa
24.2.2024 - 15.00h ***
O Soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita
publicado às 16:16
Maria João Brito de Sousa
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*
MEUS CAMINHOS *
Coroa de Sonetos *
Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa *
1. *
Um túnel, uma estrada, um caminho
Que vão dar ao destino que me apraz
Outrora fui menino, fui rapaz
Andava noutras sendas de adivinho *
Agora vou direito sem espinho
Em frente sem voltar de novo atrás
Outrora ia aonde era capaz
Sem medo pelos montes e sozinho *
Na busca dos meus sonhos à deriva
Bem cheia a alma que era criativa
Sem raias no amor, na inspiração *
Agora meus caminhos espaçados
São largos para mim mas apertados
Nas sendas que percorre o coração *
Custódio Montes (Sonetos) *
2. *
"Nas sendas que percorre o coração"
Quando a maturidade o auge atinge
Não ficamos parados como a esfinge,
Mas não corremos por qualquer razão *
E serenamos em compensação
Porque evitamos tudo o que restringe
O verso manso que em chegando cinge
Nossa cintura, como se uma mão... *
Devagar vamos, mas debalde não,
Que cada passo dado em comunhão
Com algum companheiro de poemas *
Nunca poderá ser um passo vão...
Ah, que me importa ser idosa, então,
Se assim puder voar como os fonemas? *
Mª João Brito de Sousa
22.02.2024 - 16.42h ***
3. * “Se assim puder voar como os fonemas”
Bem juntos uns aos outros conjugados
Andando no poema irmanados
Em ordem como firmes teoremas *
Parte-se dum princípio e vários temas
Agrupam-se um a um organizados
Ficamos, quando os vemos ordenados,
Contentes e felizes, sem problemas *
Encontram-se veredas ou caminhos
Que nos trazem lembranças e carinhos
Que tivemos na nossa mocidade *
Seguimos passo a passo sempre a andar
E pomo-nos assim a recordar
Lembrando, passo a passo, a nossa idade *
Custódio Montes 22.2.2024 ***
4. * "Lembrando, passo a passo, a nossa idade"
Que tem também momentos de beleza
Pois chegar-se à velhice é já proeza,
Nem todos têm essa f`licidade... *
Alguns aspiram à eternidade
Mas eu confesso com toda a franqueza
Não aspirar sentá-la à minha mesa
Por lhe não ter sequer grande amizade *
Seja suave ou espinhoso este caminho
Nenhum de nós o vai fazer sozinho
Que é sempre bom escutar ao nosso lado *
Os passos compassados de um amigo
Que te saúda e segue a par contigo,
Talvez ambos cantando um velho fado... *
Mª João Brito de Sousa
22.02.2024 - 21.10h ***
5. * “Talvez ambos cantado um velho fado…”
Mas temos que arranjar uma guitarra
Da letra e da canção não basta a garra
O fado tem que ser acompanhado *
Mas que este assunto fique bem ao lado
Que na coroa isso não se agarra
Prefiro ser formiga e não cigarra
Trabalho no poema atarefado *
Sigo esse meu roteiro com mestria
Introduzo palavras de alegria
E mando esse tal fado passear *
Trabalho na coroa em andamento
E tudo o mais se vai voando ao vento
Incluindo o dito fado e o seu cantar *
Custódio Montes 22.2.20024 ***
6. *
"Incluindo o dito fado e o seu cantar",
Tudo hoje lança ao vento e vou temendo
Que a mim também me afaste... e me arrependo
De em fado ter falado sem pensar... *
Sei que perdi a voz. Desafinar
Em fado que se cante é tão tremendo
Que logo me calei, a voz doendo,
E as pernas também, de tanto andar... *
Pouco me importa agora a afinação
Que não volto a cantar. Não volto, não,
A menos que um remédio milagroso *
Me cure desta imensa rouquidão
E eu possa enfim cantar uma canção
Às verdejantes terras de Barroso. *
Mª João Brito de Sousa
22.02.2024 - 23.10h ***
7. * “Às verdejantes terras de Barroso”
Também as canto agora se puder
Mas é noite e não basta eu querer
Se pudesse ficava bem famoso *
Levava até Oeiras orgulhoso
O meu rincão alegre para ver
A grande poetisa, essa mulher
Que tem um canto belo e valoroso *
Ficaria encantado este meu monte
Ao ver aí o belo horizonte
Que cerca e rodeia esse lugar *
Se a afinação das vozes fosse boa
Passávamos por cima de Lisboa
Para depois à porta lhe cantar *
Custódio Montes 23.2.2024 (alvorada) ***
8. *
"Para depois à porta lhe cantar"
Mas só o meu amigo... eu calaria
Porque a minha voz rouca assustaria
Lisboa e o Tejo inteiro até ao mar... *
Fugiria a gaivota a esvoaçar,
O velho cacilheiro afundaria
E o Cais das Colunas julgaria
Que algum monstro o estaria a ameaçar... *
Caminharia, sim, mas caladinha
Que voz que agora trago não é minha,
É a de um elefante a barritar *
E eu que quando cantava era soprano,
Mal abro a boca, agora, causo dano,
Por isso é que não vou nem exp`rimentar! *
Mª João Brito de Sousa
23.02.2024 - 09.50h ***
9. * “Por isso é que não vou nem exp’rimentar”
Mas nessa altura apenas ia ouvir
Eu e mais o meu monte a confluir
Na dita serenata e a cantar *
Tem muito que fazer: acompanhar
As dores da Mistral e o seu carpir
O que há à sua volta e a ouvir
As ondas do seu mar a altear *
Deitada a descansar no seu sofá
Talvez fosse melhor ou menos má
Ouvir a serenata - o nosso canto *
Que o canto do meu monte é de tenor
E juntando-se ao meu fica melhor
E sentiria, então, algum encanto *
Custódio Montes 23.2.2024 ***
10. *
"E sentiria então algum encanto"
Que o canto do seu monte é fascinante
Enquanto o meu, de tão tonitruante,
Esgotaria a paciência a qualquer santo *
Caminho e já vislumbro o verde manto
Desse seu nobre monte inda distante...
Lá chegarei, que sigo sempre avante
E mesmo fraca ainda posso tanto... *
A Mistral dorme agora sossegada,
Não vai fazer comigo a caminhada
Pois tem de descansar pra ficar bem *
Quanto me falta ainda pra chegar
Ao monte que tão bem sabe (en)cantar
E que vou vislumbrando ao longe... além!? *
Mª João Brito de Sousa
23.02.2024 - 11.10h ***
11. * “E que vou vislumbrando ao longe….além!”
Olha, vejo andorinhas a voar
E um verde deslumbrante a emoldurar
Um cantinho que fica ali tão bem! *
Um monte como este ninguém tem:
A urze e a giesta a ondular
A água cristalina a borbulhar
Da fonte luminosa donde vem *
É lindo o mar de Oeiras espalhado
Nos dias de verão mais descansado
Que canta alto agora, no inverno *
Mas este monte aqui que agora alcanço
É todo o ano lindo e traz descanso
Que jóia de beleza e quão terno! *
Custódio Montes 23.2.2024 ***
12. *
"Que jóia de beleza e quão terno"
É o altivo monte que alcançou!
Tento correr mas meu pé tropeçou
Num lenho que não foi nada fraterno *
E quase me fez crer ver o inferno
Na excruciante dor que me causou...
Ergo-me já que a dor quase passou,
Mas esse belo monte é sempre eterno *
Tal como eterno é o mar de Oeiras,
Inda que alvoroçado e sem maneiras
Se mostre neste Inverno algo incomum... *
Mas agora é pra Norte que caminho
Embora a coxear, devagarinho,
Pra não haver mais tropeção nenhum! *
Mª João Brito de Sousa
23.02.2024 - 12.30 h ***
13. *
“Pra não haver mais tropeção nenhum!”
Mas ande, não se esqueça do caminho
Ande mais devagar, devagarinho
Não corra muito, os passos um a um *
Assim, no seu andar que é comum
A quem procura um ovo no seu ninho
Vai andar de certeza com jeitinho
Para que o seu prazer seja algum *
Que os caminhos seguidos sejam belos
E os passos que vá dar sejam singelos
Para lhe darem muita animação *
Lembrando todo o tempo lá detrás
Como era a juventude dum rapaz
Sem contrariedade ao coração *
Custódio Montes 23.2.2024 ***
14. *
"Sem contrariedade ao coração"
E com a dor sanada, continuo
Que a cada passo da beleza fruo
Deste caminho que não sigo em vão *
Até aonde alcança esta visão
Parece que levito ou que flutuo
E sigo em frente e sei que não recuo
Porque caminho em sua direcção *
E vejo agora o jovem de que fala
Estranhando um pouco ver-me de bengala
E a caminhar assim, devagarinho *
Para alcançá-lo faltam nem cem metros
Sem pedras nem ravinas, que são rectos,
"Um túnel, uma estrada, um caminho"... *
Mª João Brito de Sousa
24.02.2024 - 14.40 ***
publicado às 20:38
Maria João Brito de Sousa
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*
CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO IX *
Nunca em amor danou o atrevimento;
Favorece a Fortuna a ousadia;
Porque sempre a encolhida cobardia
De pedra serve ao livre pensamento. *
Quem se eleva ao sublime Firmamento,
A Estrela nele encontra que lhe é guia;
Que o bem que encerra em si a fantasia,
São umas ilusões que leva o vento. *
Abrir-se devem passos à ventura;
Sem si próprio ninguém será ditoso;
Os princípios somente a Sorte os move *.
Atrever-se é valor e não loucura;
Perderá por cobarde o venturoso
Que vos vê, se os temores não remove. *
Luiz de Camões
***
Removei, pois, Senhor, vosso temor:
Se me atrevo a convosco conversar
Não posso ao vosso tempo recuar
Mas sempre terei dado o meu melhor *
Atrevida serei, mas... por favor,
Vede bem que tentei não macular
O verso heroico puro e exemplar,
Em que vos expressais, Mestre e Senhor. *
Não sei se a vossa estrela alcançarei
Nem se ouvireis aquilo que vos digo,
Mas posso-vos jurar que o tentarei *
E ainda que tentá-lo seja um p`rigo,
A esse p`rigo nunca o temerei
Se em vós, Senhor, achar um bom amigo *
Mª João Brito de Sousa
23.02.2024 - 11.50h ***
O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita
publicado às 12:02
Maria João Brito de Sousa
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*
CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÀRIO VIII *
Pensamentos, que agora novamente
cuidados vãos em mim ressuscitais,
dizei me: ainda não vos contentais
de terdes, quem vos tem, tão descontente? *
Que fantasia é esta, que presente
cad’ hora ante meus olhos me mostrais?
Com sonhos e com sombras atentais
quem nem por sonhos pode ser contente? *
Vejo vos, pensamentos, alterados
e não quereis, d’esquivos, declarar me
que é isto que vos traz tão enleados? *
Não me negueis, se andais para negar me;
que, se contra mim estais alevantados,
eu vos ajudarei mesmo a matar me. *
Luíz de Camões ***
Pra preservar-vos, pensamentos meus
que sois dos meus sonetos a matriz,
far-me-ei mais liberta e mais feliz
do que as aves que cruzam estes céus *
Mas s`inda assim teimais em ser incréus,
moldar-vos-ei dos ramos à raiz
pois se bem o pensei, melhor o fiz:
Serei juiz e vós sereis os réus! *
Ah, não me negareis o que não nego
ao meu direito de permanecer
enquanto não for surdo e mudo e cego *
De vós farei aquilo que entender:
se vos não confiar talento e Ego
serei eterna... enquanto não morrer! *
Mª João Brito de Sousa
22.02.2024 - 13.00h ***
O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita
publicado às 15:25
Maria João Brito de Sousa
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*
CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÀRIO VII *
Fiou se o coração, de muito isento,
de si cuidando mal, que tomaria
tão ilícito amor tal ousadia,
tal modo nunca visto de tormento. *
Mas os olhos pintaram tão a tento
outros que visto tem na fantasia,
que a razão, temerosa do que via,
fugiu, deixando o campo ao pensamento. *
Ó Hipólito casto, que, de jeito,
de Fedra, tua madrasta, foste amado,
que não sabia ter nenhum respeito: *
em mim vingou o amor teu casto peito;
mas está desse agravo tão vingado,
que se arrepende já do que tem feito. *
Luís de Camões ***
Fedra não sou e Hipólito tão pouco,
Mas tanto me tocou vosso cantar,
Que Fedra tentei ser e fui buscar
À ida juventude o anseio louco... *
Inábil na vingança, não dei troco
Ao que Teseu pudesse imaginar
E em vez de por vingança me matar,
Ao desejo matei, de um golpe, "in loco"... *
A Hipólito menti. Para o salvar,
Jurei que nunca, nunca o tinha amado,
Que nem desejo tinha de o beijar *
E a venenosa carta, o vil pecado,
Não a escrevi, não fosse a mão negar
O que o bom senso havia perdoado... *
Mª João Brito de Sousa
21.02.2024- 17.00h ***
O soneto de Camões foi transcrito daqui
publicado às 21:15
Maria João Brito de Sousa
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*
"WHERE THE WILD ROSES BLOOM" *
Nesta minh`alma, presa por um fio,
Tremeluz uma lágrima que insiste
Em desmentir a dor a que resiste
Em vez de, solta, transformar-se em rio. *
A sua teima, mais que um desvario,
É luta de que a alma não desiste,
E se é certo que a dor em mim persiste,
Mais certo é que eu lhe ganhe o desafio *
Pois do mar que chorei em tempos idos
Por mágoas que nem dei a conhecer,
Nasceram-me cá dentro rios traídos *
Que desaguaram antes de irromper
Criando um mar de versos (in)contidos
Ao qual sempre que sofra irei beber. *
Maria João Brito de Sousa
18.02.2021 - 17.35h ***
publicado às 09:19