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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
31
Dez23

SONETO CRIADO A PARTIR DO ÚLTIMO VERSO DO SONETO "NO POEMA" DE CUSTÓDIO MONTES

Maria João Brito de Sousa

Tela Roberto Ferri enviada por pinterest (1).jpg

Pormenor de Tela de Roberto Ferri, enviada para o meu endereço electrónico por 

Pinterest

*

NO POEMA
*


No poema as palavras é que mandam

Nas vias que percorrem a cantar

Às vezes fogem, voam para o mar

Correndo pela areia e por lá andam
*


Como aves voejam e cirandam

Baixinho, sobre as ondas, pelo ar

Entoam melodias de encantar

E nessas belas árias nos demandam
*


Palavras entoadas, sol poente

Teu regaço, maresia envolvente,

E os teus olhos amados em redor
*


Cantigas lá ao longe, melopeia

Enredo a surfar como sereia

Palavras só palavras só de amor
*


Custódio Montes

(Do seu livro "Em Maio")
***

PALAVRAS
*


"Palavras só palavras só de amor"

Mas tantas formas há de amor sublime

Que às vezes esse amor em dor se exprime

Se o mundo grita e sangra em seu redor
*


E pode lá haver amor maior

Do que o que nos perdoa e nos redime

Pois nem uma palavra nos suprime

Quando nos rebelamos contra a dor?
*


Palavras revoltadas que explodindo

Fazem por acordar quem está dormindo

E dar ouvido ao surdo e vista ao cego,
*


Que fazem eco sem mostrarem medo

De exporem a crueza e o degredo...

Palavras? Mesmo amargas, nunca as nego!
*

 

Mª João Brito de Sousa

30.12.2023 - 20.00h
***

 

30
Dez23

VIRTUALMENTE ALICE...- Reedição

Maria João Brito de Sousa

Eu Distorcida por Carlos Ricardo (1).jpeg

Fotografia de Carlos Ricardo

*

 

VIRTUALMENTE ALICE
*

Há aspas, há arrobas, asteriscos

E signos ou sinais que desafiam

Os anjos ideados que os recriam

E que já me fizeram correr riscos...
*

 

Há coisas de estranheza desmedida

Como a "condicional das verticais",

Ou outras que parecem ser reais

Mas que não são sequer formas de vida...
*


Há sons que me parecem ser ideias

Com/fusas, semi-fusas e colcheias

A saltitar na pauta semi-breve
*

 

Da Alice no País-dos-Pesadelos

Que trinca, alegremente, os cogumelos

E vai mexendo em tudo o que não deve.
*

 


Mª João Brito de Sousa

Setembro, 2008
***

29
Dez23

FOME(S) II - Reedição

Maria João Brito de Sousa

Mural de Diego Rivera.jpg

Pormenor de mural de Diego Rivera

*

FOME(S) II
*


Se tens fome do pão que ao rico sobra,

A força da razão está do teu lado

Quando acusas traído o resultado

De tudo o que é produto de mão de obra
*


E se, do que criaste, outrem te cobra

O fruto inteiro ou o maior bocado

E a ti te deixa pobre e esfomeado

Certo de que te cala e que te dobra
*


Mal sabe que te entrega a força toda,

Que essa força em ti cresce e se denoda

Para acender-se em chama renovada
*


Porquanto se agiganta, alastra em roda,

Incendeia-se toda e mais te açoda

Quando do que estuou lhe sobra um nada.
*


Mª João Brito de Sousa

In A CEIA DO POETA

Inédito

***

26
Dez23

"LE MIROIR"

Maria João Brito de Sousa

le miroir - georges rouault.jpg

Tela de Georges Rouault

1871/1958
*

"LE MIROIR"
*


O Tempo pintou-me o cabelo de branco,

No meu rosto franco, ravinas cavou

E, por onde vou, o meu passo vai manco,

Cada solavanco vos diz quem eu sou...
*


Sentei-me. Bastou uma tábua de banco

Que alanca o que alanco pois não se quebrou

E tudo mudou ao mirar-me de flanco:

Quase tive um tranco, o meu Ego murchou,
*


Tremeu, gaguejou e... num pulo sumiu,

Pisgou-se, fugiu! Para onde, não sei,

Mas considerei o pavor que sentiu
*


Ao ver o que viu quando pra ele olhei...

A mim me culpei porque, cheia de frio,

Em vez de no rio... num "miroir" me mirei!
*

 


Mª João Brito de Sousa

25.12.2023 - 15.00h
***

25
Dez23

O NATAL DAS COISAS QUE AINDA NÃO MUDARAM

Maria João Brito de Sousa

Mão- Carlos Ricardo.jpg

Fotografia de Carlos Ricardo

*

O NATAL

DAS COISAS

QUE AINDA NÃO MUDARAM
*

 

Parece-me impensável não escutar

O eterno pinheirinho que nos diz

Que não é de bom tom não estar feliz

Apesar do pesar que nos pesar...
*


Assim se vai sorrindo pr`agradar,

Se come o bolo-rei, se pede bis,

E se celebra o dia de um petiz

Que veio ao mundo para nos salvar...
*


Isto, de tão humano, em nós se entranha

E, temporariamente, inunda as mentes:

Abraçam-se o amigo e a gente estranha
*


Mas quem está na miséria e mal se amanha,

Quem já perdeu o tecto, a cama, os dentes...,

Esse inda estende a mão ao que o desdenha.
*

 


Mª João Brito de Sousa

25.12.2023 - 18.00h
***

 

24
Dez23

PRESÉPIO

Maria João Brito de Sousa

O FILHO DO HOMEM (1).jpg

PRESÉPIO
*
 
É por dentro de mim que chego a Deus,
É por dentro de mim, eu sei-o bem,
Que todos os natais vou pelos céus
Visitar o Menino de Belém
*
 
Nunca o disse a ninguém, pois há segredos
Que devemos guardar dentro de nós
E há sempre quem duvide, ou tenha medo,
De uma mulher com asas de albatroz,
*
 
Mas da estranha viagem, que só faço
Se a estrela de Belém me dá boleia,
Fica o registo do divino traço:
*
 
Nascem raios de luz no meu regaço
E há anjos a cantar a noite inteira
Ao menino que dorme nos meus braços.
*
 
Maria João Brito de Sousa
2008
***
 
Ao meu menino que partiu à nascença.
A todas as mães dos meninos palestinianos dedico, neste Natal sangrento de 2023, este último terceto, modificado de forma a reflectir a presente realidade:
*
 
Voam balas e mísseis pelo espaço
E oiço mães a chorar a noite inteira
Os seus filhos desfeitos em pedaços.
*
 
Mª João Brito de Sousa
24.12.2023
***
24
Dez23

O FILHO DO HOMEM

Maria João Brito de Sousa

O FILHO DO HOMEM.jpeg

 

 

 

110x85cm

 

 PRESÉPIO

 

 

É por dentro de mim que chego a Deus,

É por dentro de mim, eu sei-o bem,

Que todos os natais vou pelos céus

Visitar o Menino de Belém.

 

 

Nunca o disse a ninguém, pois há segredos

Que devemos guardar dentro de nós

E há sempre quem duvide, ou tenha medo,

De uma mulher com asas de albatroz,

 

 

Mas da estranha viagem, que só faço

Se a estrela de Belém me der boleia,

Fica o registo, do divino traço:

 

 

Nascem raios de luz no meu regaço

E há anjos a cantar a noite inteira

Ao menino que dorme nos meus braços.

 *

 

 

Maria João Brito de Sousa - 20.01.2008

 

 

23
Dez23

FELIZ NATAL E PRÓSPERO ANO NOVO!

Maria João Brito de Sousa

feliz natal a (1).jpg

FELIZ NATAL E PRÓSPERO ANO NOVO

*

 

Feliz Natal seja para quem for

Conquanto haja trabalho e tecto e pão,

Que sempre a nossa humana condição

Pediu trabalho e pão, pr`além de amor
*

 

E, já agora, que não haja dor

No corpo em que nos pulsa o coração,

Nem medo que nos tolha, nem nevão

Que nos prive de um pouco de calor
*

 

Sejam felizes, que, apesar de tudo,

O mundo ainda gira e não está mudo

Por muito que confuso ande este povo
*

 

E ainda que de forma desigual

Se distribuam pão e capital,

Feliz Natal e Próspero Ano Novo!
*

 

Maria João Brito de Sousa

***

22
Dez23

UM DIA DESTES

Maria João Brito de Sousa

A ILHA DE S. NUNCA (3).jpeg

Fotografia (de minha autoria) da capa do livro que Natália Correia

escreveu sobre a vida e a obra do meu avô poeta 

*

UM DIA DESTES
*


Um dia destes hei-de ir ter contigo

- Não sei pra onde foste mas... que importa? -

E hei-de perguntar-te "meu amigo,

És tu ou serei eu que já estou morta?"
*


Ficar sem ti foi para mim castigo,

Foi golpe de punhal que fere e corta

Esta tenacidade em que me abrigo

Como se em cela sem janela ou porta...
*


Um dia destes - disso estou segura! -

Também eu deixarei de andar por cá

E cessará, pra mim, esta procura
*


Não mais versejarei ao deus-dará

Como quem lambe a chaga que é sem cura

Sabendo que jamais a curará...
*

 

Mª João Brito de Sousa

22.12.2023 - 00.50h
***

21
Dez23

ARQUEIRO

Maria João Brito de Sousa

Foto (fracção) de Bartolomeu Rodrigues no blog Brancas Nuvens Negras.jpg

Fotografia (fracção) de Bartolomeu Rodrigues

cedida por Luís R. Rodrigues

*

ARQUEIRO
*


Quem versos semeia e sonetos colhe

Porque assim o escolhe... nada mais receia!

Nunca se refreia, nenhum medo o tolhe,

Nem que a chuva o molhe, nem que venha a cheia
*


E, nela, a sereia que este Tejo acolhe,

Pra que se desfolhe toda em grãos de areia...

Se é bela ou se é feia, di-lo-á quem olhe,

Que o Mar que a recolhe já por ela anseia
*


E o que é mera ideia de humano poeta

Passa a ser a meta de um poema inteiro

No mar de um tinteiro sob a pena erecta
*


Que vai, letra a letra, dar cor, corpo e cheiro

Ao que é corriqueiro se ele o não completa:

Faz do verbo a seta e, a si, faz-se arqueiro!
*

 

Mª João Brito de Sousa

21.12.2023 - 15.00h
***

 

 

 

20
Dez23

ESPANTO II - Reedição

Maria João Brito de Sousa

POTRO RADICULADO - 1999 (1).jpeg

*

ESPANTO


*

 

Meu espanto, como bicho degolado,

É este quase-nada, este destroço,

Que embora reduzido a pele e osso

Faz frente a quem o tenha encurralado
*

 

É este não temer ser confrontado

Com força natural, fera ou colosso,

Que nega a frustração do “mais não posso!”

E muda, à dura sorte, o resultado
*

 

O espanto mora em mim, comigo vive,

Mas pode exacerbar-se onde eu não estive

Se as asas dum poema o transportarem
*

 

Porque traz quanta força eu jamais tive

Se enfrenta humilhação que o esgote ou prive

Da voz que os sonhos meus lhe não negarem.
*

 

 


Maria João Brito de Sousa


30.10.2013
***

Pág. 1/2

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