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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
19
Set23

SONETO À "CHEF" - Mª João Brito de Sousa e Laurinda Rodrigues - Reedição

Maria João Brito de Sousa

SONETO À CHEF.jpeg

SONETO À "CHEF"
*

(Sem jaleca, nem estrelinhas)
*

Coroa de Sonetos
*

Mª João Brito de Sousa e Laurinda Rodrigues
*

1.
*

Sim, já usei palas, uma em cada olho,

Mas uma jaleca com direito a estrela,

Nunca usei nenhuma, nunca pude tê-la

Por não saber como... bringir um repolho!
*


Não tendo jaleca, estrelinhas não colho

Nem mesmo as que observo da minha janela;

Sou tão só poeta, escrevo à luz da vela,

Mal vou distinguindo espargos de restolho...
*

 

Quem me faz um prato com este soneto

Sem peixe, sem carne, nem sabor concreto?

E acabo eu de ouvir que de um bom cozinhado
*

 

Um "Chef" estrelado faria um poema...*

Que o faça, que eu provo! Salgou-lhe um fonema?

Faltou-lhe a mestria de um vate inspirado!
*

 

Mª João Brito de Sousa

27.02.2022 - 12.00h=

*


* Chef Óscar Geadas na finalíssima do programa MasterChef Portugal
***
2.
*

"Falta-lhe a mestria de um vate inspirado"

que tenha no corpo a grande lição

que o cheiro e o gosto, depois de provado

não gosta de expor sua rendição.
*


O "chefe" ou a "chefe" das coisas visíveis

esconde para nós a ponta do véu:

somos atraídos por ecos plausíveis

que brotam perfumes que a terra nos deu.
*

Mas nada é verdade. Verdade que importa?

Todos pretendemos não ser "cepa torta"

traduzindo o eco de gritos potentes...
*


Talvez esteja longe! Mas cá, entre nós,

espero que haja gente que, ao usar a voz,

traduza razões que sejam diferentes.
*

Laurinda Rodrigues

27.02.2022
***

3.
*

"Traduza razões que sejam diferentes"

Bringidas, seladas ou talvez cozidas

Já que pouco entendo de águas "reduzidas"

E algas polvilhadas de ocres reluzentes...
*


Mas que são bonitas e muito atraentes

As tais obras-primas por lá concebidas,

Disso não duvido porque as vi servidas

Quer estivessem frias, quer estivessem quentes!
*


Eu que mal cozinho, vou fazê-lo agora,

Mas "Chefa" não sou, sou só "comedora"

E um arroz me basta se uma costeleta
*


Bem ou mal passada puder pôr no prato,

Que a barriga sinto roída por rato,

No que toca a pratos, pouco ou nada esteta...
*


Mª João Brito de Sousa

27.02.2022 - 14.00h

***
4.
*

"No que toca a pratos, pouco ou nada esteta"

mas será artista na decoração

da mesa e da louça que são sua meta

trazida do tempo de infância e paixão.
*


Lembranças colhidas de sabores eternos

sentados à volta, com cheiro a lareira.

Não existem guerras nem esses infernos

de quem não tem pão, nem eira nem beira.
*


Histórias mal contadas. Doces reprimendas

que, agora, esquecidas, sabem a merendas

de doces com gestos apaziguadores...
*


Nem sequer importa quem foi cozinheira

porque, na alegria, tu foste a primeira

devorando, ansiosa, todos os odores.
*

Laurinda Rodrigues
***
5.
*

"Devorando, ansiosa, todos os odores"

Vêm-me à memória belas rabanadas,

Açordinhas d`alho, filhós, encharcadas...

E a essas memórias juntam-se os sabores
*


De antigas compotas, de velhos licores,

Das mil iguarias bem confeccionadas

Pela avó Maria ou pelas empregadas

Das casas maternas, meus grandes amores...
*


Três foram as casas em que fui crescendo;

Todas me prenderam, todas fui prendendo

E sou hoje um bairro de três casas só
*


Porque a quarta casa é a que hoje abriga

O corpo que envergo e o da minha amiga,

A Musa incansável, coberta de pó...
*


Mª João Brito de Sousa

27.02.2022 - 19.40h

***

6.
*

"A musa incansável, coberta de pó"

não tem a mania das arrumações

e a cama onde deita para fazer "óó"

é feita de sonhos, crenças, ilusões.
*


Não pede que a dona faça concessões

p'ra que chegue urgente sentada em trenó

como o Pai Natal ou como Papões

que na noite gemem como o som da mó.
*


Ah que sinfonia de gostos infindos

quebrados, esgotados, mas ainda lindos

que, atrás de uma porta, poetas aguardam...
*


E, sempre com medo das reais maldades,

compõem os versos que trazem saudades

de um tempo vivido que mágoas não guardam.
*

Laurinda Rodrigues
***

7.
*

"De um tempo vivido que mágoas não guardam"

Apuram-se as sopas de espinafre ou grão;

Para essas guardo a vara de condão

Cujos bons efeitos decerto não tardam...
*


Sobre o leite creme sempre convém que ardam,

Que flamejem chamas como se um dragão

Lançasse o seu sopro com mais devoção

Do que os mais que o comem, do que os mais que enfardam
*


E, agora, as memórias voltam prá panela

Com açúcar, leite e um pau de canela

A que junto lima para obter frescura
*


As gemas batidas e homogeneizadas

Serão, na mistura, bem incorporadas

Mal este soneto levante fervura...
*


Mª João Brito de Sousa

27.02.2022 - 21.30h
***

8.
*

"Mal este soneto levante fervura"

entornando o caldo tão açucarado

vais lamber a espuma, curando a secura

da espera de um beijo que saiba a pecado.
*


Não é cozinhado que o desejo cura

por muito que seja bem condimentado:

a fome de amor, que a ânsia tortura,

em nada se mata se não for saciado.
*


Transmuta-se a carne. O instinto sobra.

Comendo a maçã que te deu a cobra

ficarás p'ra sempre envolta em pecado.
*

E mesmo que escrevas ao tal cozinheiro

os teus belos versos num estilo certeiro

não vai ser a ele que entregas teu fado.
*

Laurinda Rodrigues
***

9.
*
" Não vai ser a ele que entregas teu fado"

E eu logo respondo que tudo o que entrego

É esta amizade que sinto e não nego

Por negar saber o que é o tal... "pecado"
*


E a menos que esteja muito perturbado

Ou surdo dos olhos, ou de ouvido cego,

A ti te o devolvo e em ti o delego;

Errou na morada, chegou atrasado!
*


Julgas que eu poeto para um cozinheiro

Só porque um soneto me nasceu matreiro

De uma frase ouvida? Devo-te dizer
*


Que estás enganada, nada disso eu quis,

Por pura ironia fiz o que aqui fiz;

Escrevo até pra cactos, se tal me aprouver...
*


Mª João Brito de Sousa

27.02.2022- 23.13h

*

10.
*

"Escrevo até para cactos, se tal me aprouver!"

Mas toma cuidado porque catos picam

e sendo, como és, a Grande Mulher

não gosto de ver que dores te salpicam.
*


Assim, é melhor os versos escrever

ao tal cozinheiro (que os petiscos bicam!)

e esperar que ele os venha comer

com sal e pimenta, que tão belos ficam!
*


Mas fico espantada que sejas capaz

de compor sonetos que nos tragam paz

depois de teres sido vítima da gula...
*

Presumo que a Musa já dorme contigo

debaixo da cama, sentada ao postigo,

enquanto teus versos sua boca oscula.
*

Laurinda Rodrigues
***
11.
*

"Enquanto teus versos sua boca oscula"

Ou beija os tais cactos que nunca a picaram;

Ambos têm espinhos que picam, mas saram,

Que a mãe natureza tudo isso regula
*


Enquanto o planeta circula e circula,

Meus olhos há horas que se descerraram

E o Sol já vai alto nos céus que azularam

Sem seguirem ordens, nem lerem a bula
*


Na paz dos meus versos dormi, com efeito;

Vestido o pijama fiquei a preceito

Pra mais uma noite de sono profundo
*


Não fosse o alarme tocar tantas vezes,

Teria dormido talvez uns bons meses

Alheia às desgraças que grassam no mundo...
*


Mª João Brito de Sousa

28.02.2022 - 10.20h

***

12.
*

"Alheia às desgraças que grassam no mundo"

mas nunca indiferente no fundo do Ser

que só a aparência de um medo profundo

rasgou as entranhas p'ra nunca morrer.
*


Se tocam os sinos p'la paz neste mundo

que estranha soada vai acontecer?

Talvez seja o grito desse ódio imundo

perdido no espaço... Iremos viver?
*


Entre cozinhados, com Chefes ou não

Poetas temperados com sonho a carvão

chegamos à meta, quase esmorecidas...
*


Tu cantas vitória e eu não canto, não!

porque esta memória cravou-me no chão

das várias memórias já acontecidas.
*


Laurinda Rodrigues
***

13.
*

" Das várias memórias já acontecidas"

Quem te diz que eu rio e que canto vitória,

Se nunca me esqueço das chagas que a História

Nos mostra - se a lermos - que são cometidas?
*


Minha Luta é outra! Estas, fratricidas,

Funestas, horrendas, trazem-me à memória

Prenúncios de morte; nem honra, nem glória,

Que essas são "fachadas", que essas são fingidas!
*


Deixo os cozinhados de requinte extremo

E evoco o Nautilus do Capitão Nemo

Transmutado, agora, num` arma nuclear...
*


Perco o apetite só de imaginá-lo!

Não cozo as batas, nem grelho o robalo,

Tenho é de esforçar-me pra não vomitar!
*


Mª João Brito de Sousa

28.02.2022 - 11.55h
***
14.
*

"Tenho é de esforçar-me para não vomitar"

quando olho e ouço notícias atrozes

onde o inconsciente está a governar

fazendo verter impulsos ferozes.
*


Já não acredito que apenas são vozes

a espalhar o medo sem o praticar...

Começamos bem com Chefes e nozes

que isto de comer prefiro a matar.
*


Afinal sabias que a poesia serve

para divertir, mas que também ferve

p´ra temperar a vida como fosse molho...
*


E armadas em Chefe, jaleca despida,

perguntas se um dia já fui corrompida:

"Sim, já usei palas, uma em cada olho."
*

Laurinda Rodrigues
***

Reservados os direitos de autor

18
Set23

GLOSANDO LUIZ VAZ DE CAMÕES III- Reedição

Maria João Brito de Sousa

glosando camões III (2).jpg

JURANDO DE NÃO MAIS EM OUTRA VER-ME
*

 

Como quando do mar tempestuoso

O marinheiro todo trabalhado,

De um naufrágio cruel saindo a nado,

Só de ouvir falar nele está medroso;
*


Firme, jura que o vê-lo bonançoso

Do seu lar o não tire sossegado;

Mas esquecido já do horror passado,

Dele a fiar se torna cobiçoso;
*

Assi, Senhora, eu que da tormenta

De vossa vista fujo, por salvar-me,

Jurando de não mais em outra ver-me;
*

 

Com alma que de vós nunca se ausenta,

Me torno, por cobiça de ganhar-me,

Onde estive tão perto de perder-me.
*

Luiz Vaz de Camões

In "Sonetos"
***

BRAVATA(S)
*


"Como quando do mar tempestuoso"

Que engole inteiro o velho galeão,

Emerge o grande vate e traz na mão

Quanto lhe fora em vida mais precioso,
*

 

"Firme, jura que vê-lo bonançoso"

Chegar às mãos de D. Sebastião,

Lhe justificará toda a aflição

Da luta contra um mar fero e rochoso
*


"Assi, Senhora, eu que da tormenta"

Medo não tendo, vibro de ousadia,

O mesmo irado mar enfrentaria
*


"Com alma que de vós nunca se ausenta";

Que tempestade, a mim, me afogaria,

Se em vós respiro, etérea, a Poesia?
*


Maria João Brito de Sousa

17.09.2016 - 21.11h
***

17
Set23

GLOSANDO JOAQUIM SUSTELO V - Reedição

Maria João Brito de Sousa

Esteva.jpg


A CHUVA
*
A chuva quando cai tem a beleza

Das lágrimas que correm por amor;

É choro, é emoção da Natureza,

Das nuvens, suas taças de licor
*

 

Há sonhos que nos traz quando se ouve

Seu som lá no telhado ou na vidraça;

Beleza há na toada que se louve

Qual música que toca e nos enlaça
*

 

Não há nenhum poema que descreva

As gotas numa pétala de flor;

E cada, é uma lágrima que leva

À terra, quando cai, o seu amor
*


A alma se embebeda, se extasia

Ao ver chover nos campos... no caminho...

Embriaguês que chega por magia

Como se em vez de água fosse vinho
*


A chuva... obra do Céu, da Natureza,

Tem música nas gotas, uma a uma...

Balada que nos dá nessa beleza

Dum dia que nos surge em tons de bruma.
*

Joaquim Sustelo
*
In CAMINHOS DA VIDA
***

A CHUVA, SEGUNDO UMA ESTEVA-DAS-AREIAS
*

"A chuva quando cai tem a beleza"

Da bênção que sacia e mata a sede

À terra sequiosa e sem certeza

Que em verdes refloresce, se a recebe
*

"Há sonhos que nos traz quando se ouve"

Ressoar pelos pastos e quintais

Onde rebenta a flor, nasce uma couve

E despontam sorrindo os cereais
*


"Não há nenhum poema que descreva"

A alegria da terra ao ser beijada

Por essas gotas de água e a própria esteva

Melhor vo-lo diria. Eu, não sei nada...
*


"A alma se embebeda, se extasia",

E eu, que nada sei senão supor,

Pressuponho o que a esteva vos diria,

Se soubesse escrever mais e melhor;
*


- "A chuva... obra do céu, da natureza",

é também minha mãe pois deu-me a Vida..."

Tão só por estar saciada a esteva reza

E eu fico a contemplá-la embevecida.
*


Maria João Brito de Sousa


16.09.2016 - 17.55h
***

16
Set23

GLOSANDO MARIA DA ENCARNAÇÃO ALEXANDRE III - Reedição

Maria João Brito de Sousa

GLOSANDO MEA III.jpeg


PALAVRAS AO LUAR
*


Vim! E trouxe comigo mar bravio

Que destrói esta praia que me deste

Ao ver-te, alga, arrastada por navio

Num trajecto sem rumo e tão agreste
*

 

Há ondas que me afundam num vazio

Quando sinto, que nada, já fizeste

Que te afaste do mal negro e sombrio

Que assombra o teu caminho como peste
*

 

Acalmo este meu mar, de ondas gigantes

Teço-me de faróis, só vigilantes

Porque pra nada mais sou soberana
*

 

Perfumo as tuas noites, de luar

Pra que quando em teus braços se deitar

Leve a minha saudade, da semana
*


Maria da Encarnação Alexandre

05/09/2016

(Ainda à minha mãe)
***

 

CONFISSÃO DE UMA ONDA
*


"Vim! E trouxe comigo o mar bravio"

Desde o primeiro instante em que cheguei...

Depois, provei a fome e tive frio,

Mas não desdisse o mar, quando o provei!
*


"Há ondas que me afundam num vazio"

E outras que me juram que voei,

Que fiz, de cada vácuo, um desafio,

Que, por perder-me, muito mais ganhei...
*


"Acalmo este meu mar de ondas gigantes"

Na plenitude destes meus instantes

De breves, semi-breves e colcheias
*


"Perfumo as tuas noites de luar",

Mas sou, mais do que tudo, onda de um mar

Que aspira a circular nas tuas veias!
*


Maria João Brito de Sousa

06.09.2016 - 13.56h
***

14
Set23

GLOSANDO FERNANDO PESSOA - Reedição

Maria João Brito de Sousa

glosando pessoa (1).jpeg

ADAGAS CUJAS JÓIAS VELHAS GALAS...
*


Adagas cujas jóias velhas galas

Opalesci amar-me entre mãos raras,

E fluido a febres entre um lembrar de aras,

O convés sem ninguém cheio de malas...
*


O íntimo silêncio das opalas

Conduz orientes até jóias caras,

E o meu anseio vai nas rotas claras

De um grande sonho cheio de ócio e salas...
*


Passa o cortejo imperial, e ao longe

O povo só pelo cessar das lanças

Sabe que passa o seu tirano, e estruge
*

Sua ovação, e erguem as crianças

Mas no teclado as tuas mãos pararam

E indefinidamente repousaram...
*

Fernando Pessoa
*


(Soneto retirado do site Pensador.uol.com.br)
*


DESGASTES
*


"Adagas cujas jóias velhas galas"

De um tempo requentado e bolorento,

Encastrando o metálico cinzento,

Dando-me a sensação de ver bengalas
*


"O íntimo silêncio das opalas"

E alguma estranha graça a que acrescento

Tudo quanto me ocorra, enquanto tento,

Uma a uma, (re)tê-las, observá-las...
*


"Passa o cortejo imperial, ao longe",

Evocando invasões, louros, matanças...

Toca, pra mim, com placidez de monge
*


"Sua ovação, e erguem as crianças" ...

Já nada vejo além de adagas gastas;

Nem Édipos me turbam, nem Jocastas!
*

 

Maria João Brito de Sousa

03.12.2016 - 12.57h
***

13
Set23

GLOSANDO NATÁLIA CORREIA - Reedição

Maria João Brito de Sousa

Natália a lápis de Cor (1).jpeg

SOBE O PANO
*

 

Onde se solta o estrangulado grito,

Humaniza-se a vida e sobe o pano.

Chegam aparições dóceis ao rito

Vindas do fosso mais fundo do humano.
*

 

Ilumina-se a cena e é soberano,

No palco, o real oculto no conflito.

É tragédia? É comédia? É, por engano,

O sequestro de um deus num barro aflito?
*

 

É o teatro: a magia que descobre

O rosto que a cara do homem cobre

E reflectidos no teu espelho - o actor -
*

 

Os teus fantasmas levam-te pr`a onde

O tempo puro que te corresponde

Entre as horas ardidas está em flor.
*

 

Natália Correia.
***

DESCE O PANO
*

 

"Onde se solta o estrangulado grito"

Das algemadas mãos do desengano,

Redobra em esforço insano o ser convicto

Que actua, invicto, até que caia o pano.
*

 

"Ilumina-se a cena e é soberano"

O esforço (des)humano. Eu acredito

Porquanto a fundo o fito, em"mano a mano",

Qual de nós mais tirano... ou mais constrito?
*

 

"É o teatro: a magia que descobre"

O primeiro a esvair-se, o que se dobre,

Sobre esse seu reflexo - outro, afinal... -
*

 

"Os teus fantasmas levam-te pra onde"

Nem mesmo o teu reflexo te responde...

Desce o pano. O fantasma era o real.
*

 

Maria João Brito de Sousa

13.11.2016 -19.18h
***

12
Set23

SONETO PARA TODA A GENTE E NINGUÉM - Reedição

Maria João Brito de Sousa

Soneto para todos e ninguém.jpg

SONETO PARA TODA A GENTE E NINGUÉM
*


Quando eu me for, irmão que irás ficar

No mundo em que um abraço te engendrou,

Lembra-te desta que este mundo amou

Bem mais do que pudeste imaginar...
*


Que te não faltem sonhos pra sonhar,

Nem dúvidas, que a dúvida bastou

Pra conduzir-me ao verso... e não parou

Se não para, entre versos, respirar.
*


Que se te some a dúvida em procuras

Ainda que por estradas não seguras

Te conduzam as buscas que encetares
*


E que nunca te travem amarguras

Pra que em chamas te acendas se às escuras

Perdido nessa busca te encontrares.
*


Maria João Brito de Sousa

12.09.2020 - 12.24h
***

12
Set23

QUINZE VERSOS DE PÉ SOBRE A ARENA

Maria João Brito de Sousa

Os Retirantes - Cândido Portinari.jpg

QUINZE VERSOS

DE PÉ SOBRE A ARENA
*


Talvez tua assumida f`licidade

Dependa só de ti... mas tenho pena

Que uma felicidade tão pequena

Te baste enquanto houver desigualdade
*


E a tantos for faltando a saciedade,

Ou tecto que lhes torne a vida amena...

Mas oiço ainda a tua voz serena,

Convicta de que diz toda a verdade,
*


Até que paro o filme e se me evade

Um soneto magoado que me acena

Pedindo voz, clamando identidade...
*


Se destes versos, nenhum te condena,

Aqui te deixo estoutra (ir)realidade;

Há quinze versos, de pé, sobre a arena
*


Dos que não perdem, nunca, a dignidade!
*


Mª João Brito de Sousa

11.09.2023 - 21.40h
***

(Soneto de Coda ou Estrambote)

Tela de Cândido Portinari

11
Set23

"M" de MULHER - Reedição

Maria João Brito de Sousa

m de mulher (1).jpg

“M” de MULHER
*

 

Mordaz, mordisco o M de mulher,

Magnânimo, magnético (i)mortal...

Mágico ou mitológico morder,

Mistério que (e)moldura o meu mural.
*


Menos maltrato o M de morrer,

Magoado mártir (i)memorial:

Manto. Monotonia. Maldizer.

Menarca. Maldição. Medieval.
*


Mostra a mácula morna da manhã,

Monda a matéria mórbida, malsã,

Mísera miscelânea (i)memorável
*


Ministra o ministério, molda mais,

Mantém modestas mãos materiais

Medindo, maternais, o (i)mensurável!
*


Maria João Brito de Sousa

06.09.2018 – 17.22h
*

Tela de Pablo Picasso

10
Set23

ESSE DUBIUM- Reedição

Maria João Brito de Sousa

Michelangelo- capela sistina.jpg

Pormenor do tecto da Capela Sistina - Michelangelo

*

"ESSE DUBIUM"
*


Das palavras fazemos caravelas,

Navegamos no espaço das ideias,

Somos o germinar de panaceias,

Pedras filosofais, chamas de velas
*


Cruzamo-nos em vidas paralelas,

Inventamos, no mar, mito e sereias,

Acendemos o sol noutras candeias,

Pintamos de outra cor as nossas telas
*


Mas se somos os donos do futuro,

Se abrimos a janela ao amanhã

E se nada nos trava, nem nos prende,
*


Por que razão será qu`inda procuro

Medir os prós e contras da maçã

Que a mesmíssima cobra hoje me estende?
*


Maria João Brito de Sousa

27.02.2008 - 16.00h
***

 

In "Poeta Porque Deus Quer", Autores Editora, 2009
*

09
Set23

GATO DE TELHADO - Reedição

Maria João Brito de Sousa

gato de telhado.jpg

GATO DE TELHADO
*


O Sol brilha em teus olhos doirados

Se, incontido, um rosnido acontece

Na conquista de urbanos telhados

Onde, à noite, o teu corpo adormece
*


De veludo, em teu dorso eriçados,

Revelando a tensão que o estremece,

Há milhões de pequenos soldados

Preparando o que em garras se tece…
*

 

Não há fome nem frio, não há sede

Que detenha essas garras brandidas

Na defesa de um espaço que é teu
*
 

Mas se o estranho invasor to concede

E se afasta das telhas perdidas

Conquistaste na Terra o teu céu!
*
 

Maria João Brito de Sousa

30.12.2012 – 18.09h
***

(Soneto em verso eneassilábico)

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