COM UMA COLHER DE PAU II
Vai uma pitada de humor anti-bélico? É aqui.
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Vai uma pitada de humor anti-bélico? É aqui.
Leia aqui a ficha técnica...
SONETO DO DESAMOR POSSÍVEL II
*
Galguei altas vagas, sondei-te as entranhas,
E entrei no teu templo. Não me ajoelhei.
Se não mais me queres, se assim me desdenhas,
Também eu te juro que te esquecerei
*
Cavaste os abismos e criaste as montanhas
Para que eu subisse. Nunca eu subirei
Tão altas encostas de escarpadas penhas,
Nem aos teus abismos jamais descerei!
*
Se sou tão só sombra de ruínas e escombros,
Não sentes o peso que trago nos ombros
E julgas ser pouco o que ergui para ti,
*
Verás que também tu estarás, pouco a pouco,
A desvanecer-te até que sobre o oco
Daquilo que foste... Ou daquilo em que eu cri?
*
Mª João Brito de Sousa
04.03.2023 - 12.40h
***
(IN)EQUAÇÃO - Reedição
*
Sou a soma de todos os momentos
Que passaram por mim sem me matar
Elevada à vontade de encontrar
Um perfeito equilíbrio entre argumentos
*
Recuso submeter-me aos fingimentos
Que são, no dia a dia, o mais vulgar
E faço a divisão do que restar
Pelas parcelas dos meus sentimentos
*
E círculo (im)perfeito, insubmissão,
Ou cisão da palavra aleatória
Em átomos que arranco ao que é comum
*
Serei sempre uma estranha (in)equação
Cuja resolução é provisória
Até que o verso e eu sejamos um.
*
Maria João Brito de Sousa
Abril 2010
***
(Poema reformulado)
Poema composto com versos extraídos dos poemas abaixo indicados de autoria de Maria João Brito de Sousa uma poetisa de excelência!
São poemas antigos da Maria João que vos aconselho ler
A ILHA/DICOTOMIA/CANTO DE AMOR/ESCOLHAS/AOS OLHOS DE DEUS/ASPIRAÇÕES/O CULTIVO DAS ROSAS/ÁGUAS PROFUNDAS/EPOPEIAZINHA/PUZZLE/NEM SÓ DE MIM/A PRÓXIMA PARAGEM/HOJE/MOSTRA-ME AS TUAS MÃOS/A PARTILHA/A CEIA DO POETA III/NESSES DIAS, TÃO MAIS LUMINOSOS/MISTÉRIOS DE TODAS AS POÉTICAS/TER, NÃO TENDO/SE EU PUDESSE/DISSECAÇÃO/PORQUE UM VERSO TEM ALMA E TU NEM VÊS/PRETÉRITO MAIS DO QUE PERFEITO/TALVEZ SEJA APENAS POESIA/SEGUE-SE UM POEMA/O MAR DENTRO DE NÓS/DA INEXPLICABILIDADE DO POEMA/PARA ALÉM DA DOR/HUMANA CONDIÇÃO II/A BEM DA VERDADE
*
Sou filha-de-ninguém, mas sou poeta!
*
Há mãos que criam coisas que se instalam
Por dentro das pessoas, como ideias,
E outras que nos tocam, nos embalam,
Ou que acenam do mar, como as sereias
*
Talvez não haja um mar dentro de mim
E a tempestade venha - se vier… -
De cada vez que um dia chega ao fim
Nesse universo que é cada mulher
*
Por dentro de mim corre um longo rio
De seiva, ao por do sol de um campo arado,
E a ceifeira, que ceifa ao desafio,
Esquecida de o ceifar, passou-lhe ao lado
*
Venho dos tais pretéritos perfeitos
Que nunca conheceste, nem provaste,
Á luz da transparência e do contraste
Com que farei valer os meus direitos
*
Aquilo que aprendi não tem fronteiras,
Vem da nascente onde começa o Ser,
Não acaba depois de se morrer
E não conhece atrasos nem canseiras...
*
Este conhecimento é tão profundo
E tão concretamente em mim nasceu
que aí ganhou raíz, depois cresceu
E tornou-se o meu EU, lá bem no fundo.
*
Aprendi a sonhar e sei, portanto,
Mais do que hão-de alcançar os olhos meus
Que, sendo apenas olhos, são ateus
E, cegos de paixão, derramam pranto
*
Ah! Não fora tão forte esta certeza
De ter ainda tanto por fazer,
Das coisas por sonhar, por aprender,
Talvez tivesse tempo pr`à tristeza...
*
Assim transformo a prosa em poesia
E transmuto a palavra em verso e rima
Devolvendo aos meus sonhos de menina
A sedução profunda da alquimia.
*
Sou filha-de-ninguém no dia a dia
Mas trago o "sangue bom" dos meus avós
E mesmo nada tendo, eu tenho voz!
(desculpem-me a vaidade, a ousadia...)
*
Eu sou o espaço vivo dos meus dias
Nos tropeços do mundo aos trambolhões
E desprezo o conforto dos travões
Nesta estranha corrida de ousadias...
*
Terei, enfim, traçado a minha imagem
E não haverá mundo que me dome
Pois serei, de quem fui, simples miragem
Diluindo-se na luz em que se some
*
Porque nem só de mim te irei falar…
Nem só do que senti, do que pensei,
Te apontarei os rumos de luar
Das rimas dos poemas que farei
*
Sou filha-de-ninguém, mas sou poeta!
Canto o passar das horas neste mundo
E enquanto cantar não vou ao fundo!
É esta a minha glória mais secreta...
*
Pois sempre alcancei quanto desejava
E soube que jamais me afastaria
Daquelas – tantas... - coisas que encontrava
Nesse longínquo mundo que antevia.
*
Se sou a mais pequena entre os pequenos
(ainda mais pequena que o comum...),
Se vivo neste absurdo desjejum
Das palavras que escrevo em mil cadernos
*
Serei sempre uma ilha de paixões
Rodeada de mundo a toda a volta,
Deserta por decreto da revolta
Que me encheu de lagoas e vulcões...
*
Se pudesse mudar-me, eu mudaria
Esta parte de mim, feita de lodo,
Para remar em frente, com denodo,
Na contra-foz da minha teimosia
*
Se eu pudesse, depois, renasceria
(hei-de morrer no fim, de qualquer modo…)
Sublime, na alegria com que apodo
A mesmíssima luz que então veria…
*
Atribuo o que tenho ao que não tenho…
Se tudo tem um preço, este é o meu!
Por mais que vos pareça injusto ou estranho,
Aceitei-o da mão que mo estendeu
*
Às vezes, já esquecida de quem sou,
Quero voar também, mas logo abranda,
Esta minha ilusão, esta demanda,
De chegar onde alguém jamais chegou...
*
Depois retorno ao mundo... que ironia,
Este ser tão vivida e pequenina,
A descobrir em tudo o que me anima
Uma nova, incessante melodia...
*
A próxima paragem será minha,
Não quero partilhá-la com ninguém…
Devolvo à terra o que da terra vem
E voo em negras asas de andorinha
*
Quando canto o Amor, eu canto a Vida
Sobrevivendo à dor de cada dia
E é meu canto a simples despedida
Deste lado da Vida em que eu vivia
*
Hoje é um dia mudo e não há tema,
Nem motivo, nem verbo ou convicção,
Uma só alegria, um só problema
Que possam merecer-me uma atenção.
*
Hoje não será dia de poema
E, se os anjos falarem, vos dirão
Que eu, hoje, ostentarei o velho emblema
Da minha inenarrável solidão
*
Porque talvez – quem sabe? – eu vá rimar
Sobre as mil e uma coisas que nem sei
E chegue até, um dia, a dissertar
Sobre ecos filosóficos que herdei…
*
Mas, se pressinto as rimas que ressoam
E se acaso as alcanço onde me atrevo,
Prendo-as nas duas mãos que logo elevo
Em estandartes, como aves quando voam!
*
Porque um verso tem mãos que tu nem vês,
Tem lábios que te beijam, sem beijar,
E será quem te pode apaziguar
Depois de incendiar-te em mil porquês!
*
Há gotas de suor, nos meus sonetos,
Jorrando de outros poros, porque os meus
Não podem entender tantos dialectos
E portam-se, por vezes, como ateus
*
Enquanto, por aqui, for poetando,
Disseco, isto que sou, em mil pedaços
E, assim, serei feliz pois, dissecando,
Terei sempre ocupados os meus braços
*
Como se eles me nascessem quando quero,
Como se eu carregasse num botão
E se materializasse a inspiração,
A tal que só me vem quando a não espero…
*
Segue-se este poema que não chora
Mas faz, do mesmo sal que tens nas veias,
Um hino à sensação que se demora
Por dentro do tecido das ideias
*
Não escreverei até que as mãos me doam
Pois muito além da dor, ainda escrevo
E, às vezes, digo tudo o que não devo,
Que nem Deus, nem os homens me perdoam
*
É, portanto, das letras que desenho
E que estendo pr`a vós, qual Prometeu,
Que retiro o Maná que agora obtenho
(quem não colhe da Terra, ordenha o Céu)
*
Há dias em que a luz é tão brilhante,
Que as coisas tomam tons muito dif`rentes
E nada pode ser mais importante
Do que essas mutações quase aparentes
*
Ao vislumbrar-me, assim, entre os eternos,
Senti-me, por segundos, ser mais um
E, louca de alegria, bebi rum
Por copos inventados nos infernos
*
Versos da autoria de Maria João Brito de Sousa
*
Compilação de Abgalvão
*
A "SOIRÉE"
*
Reedição
*
Não tenho tempo para não ter tempo
Que enquanto escrevo o tempo cristaliza
E o ponteiro das horas mal desliza
No eterno mostrador do pensamento
*
Desse não-tempo retiro o sustento
E dessa ausência estática, concisa,
Ressurge a velha Musa que imprecisa
Me visita em rajadas, como o vento
*
Outro cenário emerge. O novo palco,
Que afinal é o mesmo... ou já não é?,
Retoma a forma de algo que decalco
*
Do sargaço ao sabor de uma maré:
Talvez seja uma vaga o que recalco
Enquanto o mar encena esta "soirée"...
*
Maria João Brito de Sousa
09.10.2020 - 18.24h
***
Soneto inspirado numa crónica/poética de MEA (Maria da Encarnação Alexandre) - Reformulado
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