MODINHA DOS VENDILHÕES
Gosta de modinhas em quadra popular? É por aqui se faz favor.
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Gosta de modinhas em quadra popular? É por aqui se faz favor.
ALMA DE MONTANHA E ALMA DE MAR
*
Coroa de Sonetos
*
1.
*
Vivo na montanha, no interior
Vejo o sol nascente ao vir a madrugada
Acordo contigo, em teus braços, amada,
Sentindo na alma o teu fogo e calor
*
Se o mar lá ao longe se espraia maior
Olhando do alto, a vista espalhada,
A partir daqui, é bem mais encantada
Expande-se a alma, perdida de amor
*
A brisa marinha ao beijar a montanha
Fica mais amena e com graça tamanha
Que as ondas sossegam e batem com calma
*
Na serra verdejam a urze e a carqueja
Vislumbra-se ao longe o mar que a beija
Assim rodeada é daqui a minha alma
*
Custódio Montes
27.9.2022
***
2.
*
"Assim rodeada, é daqui a minha alma"
Que pra ver a sua escala uma ravina
E de lá lhe acena como se menina
Porquanto às meninas ninguém leva a palma...
*
Voejam gaivotas nessa tarde calma
Sobre as ondas mansas de um mar que se anima
Na eterna constância da sua rotina...
Na praia deserta não se vê vivalma
*
Só essa menina que procura ainda
Vislumbrar ao longe com paciência infinda
Um`outra alma amiga que tal como a dela
*
Subiu à montanha pra poder saudá-la
(um aceno basta se nos falha a fala),
E de pé no cume também tenta vê-la.
*
Mª João Brito de Sousa
27.09.2022 - 15.30h
***
3.
*
“E de pé no cume também tenta vê-la”
Senão em pessoa, encontra magia
Num élan crescente rumo à poesia
A sentir-lhe a alma, alma que é tão bela
*
Da montanha ao mar fui ter com uma estrela
Que com a sua alma tanto refulgia
O seu mar cantando com muita alegria
E ver se na serra eu podia tê-la
*
E assim voando fui até ao mar
E a brisa ondulando fez-me então cantar
Ao sabor do vento e da ondulação
*
E agora olho e vejo lá ao longe
Essa bela estrela que descobri hoje
E por todo a parte vejo o seu clarão
*
Custódio Montes
27.9.2022
***
4.
*
"E por toda a parte vejo o seu clarão"
Que muito me alegra e de pronto me aquece
Gerando esse encanto que nunca se esquece
Que guardo gravado na palma da mão
*
Recordo-lhe o brilho, a forma, o padrão
E logo revê-la e saudá-la apetece...
Será que vou vê-la? Será que aparece
De novo acenando de longe essa mão?
*
Na praia uma onda maior que as demais,
Rebenta em estilhaços de espuma no cais:
Voam as gaivotas e há uma, uma apenas,
*
Que vem ter comigo, que me sobrevoa,
E ao largo, à bolina, uma frágil canoa
Ruma agora ao Norte do qual tu me acenas.
*
Mª João Brito de Sousa
27.09.2022 - 17.47h
***
5.
*
“Ruma agora ao Norte do qual tu me acenas”
Então fico à espera e quando chegar
Vou pôr um sorriso, quero-lhe agradar
Mas com compostura e sem muitas cenas
*
Vou gabar-lhe o voo, afagar-lhe as penas
Espero que goste quando me olhar
Que pedir lhe quero para me levar
O toque singelo que dão as avenas
*
A canção que mando se chegar ao cais
Que lhe agrade à alma, ao corpo e muito mais
Fazendo uma ponte tão longa e tamanha
*
Com fácil transporte sendo fresca a aragem
E ser agradável a sua viagem
Do lugar de Oeiras até à montanha
*
Custódio Montes
27.9.2022
***
6.
*
"Do lugar de Oeiras até à montanha"
Em alegre bando voarão meus versos
Que não quero vê-los soltos ou dispersos
E daí, do alto, nenhum se despenha...
*
Versos, quando alados, serão coisa estranha
Nos tempos que correm difíceis, adversos,
Mas estes meus olhos irão nel`s imersos
E pouco me importa se alguém del`s desdenha!
*
Assim construímos essa ponte imensa
Que dos nossos versos fica então suspensa
E é bem mais segura que as de aço forjadas
*
Do mar à montanha, da montanha ao mar,
Qualquer um de nós a pode atravessar
E tendo esta ponte, esquecem-se as estradas.
*
Mª João Brito de Sousa
27.09.2022 - 20.45h
7.
*
“E tendo esta ponte, esquecem-se as estradas”
Também acidentes nas ultrapassagens
E do alto vemos mais belas imagens
Ficando na escrita todas estampadas
*
E na poesia bem mais espelhadas
Com sua beleza, com outras roupagens
Ficando mais belas todas as passagens
Pontes, pradarias, flores enfeitadas
*
A correr a água, a giesta a crescer
Meninos na escola a correr e a aprender
Um barco ao longe vogando no mar
*
E cá na montanha a subir a encosta
E ao chegar ao alto ver o que se gosta
Como andar aos ninhos, correr e saltar
*
Custódio Montes
27.9.2022
***
8.
*
"Como andar aos ninhos, correr e saltar"
Que é bela a montanha, tão casta e tão viva
Que já não me aparto, torno-me nativa
E também cativa, tal qual do meu mar
*
Que, por lá, são algas o meu doce lar
E, na penha, a torga resistente, altiva,
Depois de encantar-me, já comigo priva...
Quererá prender-me para em mim morar?
*
Fico dividida, já não sei se volto,
Vou de rocha em rocha de cabelo solto,
Descobrir tesouros atrás de tesouros:
*
Líquenes e osgas e aves dif`rentes,
Que não comem peixe, debicam sementes,
E, dentre os insectos, zunem os besouros!
*
Mª João Brito de Sousa
22.09.2022 - 23.30h
***
9.
*
“E dentre os insectos, zunem os besouros!”
Pela encosta abaixo e ao longo do rio
Com muito barulho do seu assobio
Picam tudo a eito quer moscas quer touros
*
Mas há avozinhas e há pardais louros
Que voam ao alto tão cheios de brio
Tão harmoniosos de pio em pio
Que são da montanha seus grandes tesouros
*
Mas rio abaixo vou até ao mar
Visitar Oeiras e lá passear
Deixo-vos besouros e a vossa cantiga
*
Fica-te montanha, fica à minha espera
Que eu volto depressa, palavra sincera,
Só vou abraçar e ver a minha amiga
*
Custódio Montes
28.9.2022
***
10.
*
"Só vou abraçar e ver a minha amiga",
Diz o meu amigo do verso e da c`roa
Que vem pela ponte direito a Lisboa
Visitar Oeiras que então já lobriga...
*
Lá longe, do mar onde ela se abriga,
Vai crescendo um canto que prende e que ecoa
Pela praia inteira que em nada destoa
Com toda a beleza que há nessa cantiga...
*
Já pisando a areia é no mar que a vislumbra
Vestida de espuma, rasgando a penumbra
Da tarde, que à tarde chegara, sem pressas
*
Quando enfim se abraçam parece ser dia!
Ah, quantos sorrisos! Ah, quanta alegria
No primeiro encontro depois das promessas!
*
Mª João Brito de Sousa
28.09.2022 - 14.55h
***
11.
*
“No primeiro encontro depois das promessas!”
Ambos no poema sempre imiscuídos
A lançar aos ventos temas escolhidos
Muito bem pensados e sem muitas pressas
*
Do mar vêm ondas muito bem expressas
De cá da montanha garbos merecidos
Em tons bem suaves e agradecidos
Que só se remetem a nobres condessas
*
E a ir e vir neste percurso imenso
O discurso voa contente e bem denso
Sempre evoluindo na forte amizade
*
Que fazem-se amigos mesmo sem se ver
Ambos numa ideia depois de nascer
E amigos ficam para a eternidade
*
Custódio Montes
28.9.2022
***
12.
*
"E amigos ficam para a eternidade"!
Já tecemos c`roas e erguemos a ponte
Que nos leva além deste nosso horizonte,
Já tanto fizemos sem dificuldade
*
Que estou bem segura que a nossa amizade
Jorrará pra sempre como água da fonte:
Não há força humana que quebre ou desmonte
Quem nos versos ponha tal sinceridade!
*
Que importa a distância quando a poesia
Nos concede a graça desta sintonia
Mais do que perfeita quando partilhada?
*
Pouco ou nada importa que nunca cruzemos
A ponte encantada que juntos erguemos:
Eu tenho a certeza que já foi cruzada!
*
Mª João Brito de Sousa
28.09.2022 - 17.25h
***
13.
*
“Eu tenho a certeza que já foi cruzada!”
Que não há distância entre aqui e além
Que essa distância a encurta alguém
Que alarga o poema a uma outra amurada
*
Nessa vastidão ode a ode espalhada
Percorre a montanha e por lá se detém
De lá vê o mar e percorre-o também
E entre esses lugares corre atarefada
*
E a que sai de Oeiras com graça tamanha
Vai alegrar logo a minha montanha
Os rios, os vales e toda a encosta
*
Encurta o espaço entre a serra e o mar
Porque donde moro segue outro cantar
Inexiste ponte com essa resposta
*
Custódio Montes
28.9.2022
***
14.
*
"Inexiste ponte com essa resposta"
E quanto inexista será fantasia...
Quão forte, contudo, essa ponte seria
Se a fraga trouxesse a banhar-se na costa?
*
Não penso sequer em fazer uma aposta
Porque reconheço que prá poesia
Não há impossíveis que alguma magia
Não mat`rialize, se está bem disposta...
*
MJ
Sou poeta velha e sem truques na manga,
Uso camisolas e calças de ganga
E moro num mar que me sabe de cor...
*
CM
Também sou poeta, cantor e juiz,
Gosto do que entenda fazer-me feliz,
"Vivo na montanha, no interior"!
*
Mª João Brito de Sousa
28.09.2022 - 21.05h
***
O som dos meus passos
sobre as folhas secas
lembra-me que estou a caminhar
sobre o Outono
como se fosse a primeira vez.
E nada me alegra tanto
como encontrar-vos de novo.
ALMA DE MAR
*
Eu quero esta minh`alma como o mar,
Profunda, imensa, líquida, abissal,
Mas nunca tão salgada porque o sal
É muito mais pesado do que o ar...
*
Quero a alma que anseio vislumbrar
De uma leveza extrema e tão total
Que viaje no espaço sideral
Como se fosse um raio de luar
*
Quero ver a minh`alma feita em espuma,
Como as ondas do mar a dar na areia!
Eu, náufraga-perfeita de quem sou,
*
Quero a minh`alma esparsa como bruma,
Abstracta, intraduzível como ideia
Que no mar quis perder-se e se encontrou.
*
Maria João Brito de Sousa
22.02.08 - 12.00h
***
In Poeta Porque Deus Quer
Autores Editora, 2009
***
CORRE, CORRE, CORAÇÃO!
*
Corre, corre, cordato coração,
Conserva a calma, conserva a candura,
Cumpre, a compasso, exacta a curvatura,
Concebe um claustro a cada contracção
*
Concede, concordante, a compulsão,
Cede, casto, aos compostos da cordura
Como se eu concorresse em canto à cura
E conduzisse, a cura, à conclusão.
*
Cordial coração, como és constante
Na corrida que cumpres consoante
A cor que te completa. E, corajoso,
*
Continuas correndo concordante
Comigo... Ou clamarás (a)char chocante
Cada canção que eu cale, ó caprichoso!?
*
Mª João Brito de Sousa
26.09.2022 - 13.15h
***
Saiba o que tanto me cativa.
Saiba quanto faz quem tem vontade.
Porque o dia do evento se aproxima a passos largos, renovo o meu convite para o lançamento da obra RECLUSÃO.
Será um prazer poder abraçar-vos!
À AMIZADE EM TEMPOS DE LOUCURA
*
Eu não comungo, não, dessa vontade
(há nervos de papel no meu sentir...)
E não sei que remédio ou que elixir
Possa vir a curar-te essa ansiedade,
*
Mas nasce-me uma ponta de saudade
Dos tempos do café, desse ir e vir
Que urdia a nossa forma de existir
Pr`além além da costumeira intimidade
*
Das cartas que jogámos, altas horas,
Das confissões totais, que nunca temo,
Dos psicoterapeutas, da ternura,
*
Das noites acordadas, das demoras,
Desse sentir-demais levado ao extremo
Duma amizade em tempos de loucura.
*
Maria João Brito de Sousa
Outubro, 2009
*
(Soneto espístolográfico em decassílabo heróico)
*
Tela de F. Botero
Sucesso? Sei que não é fácil, mas eu vou-o desejando.
PARA QUEM O ESCREVI?
*
Para quem o escrevi, nem eu o sei,
Que esta minha memória é selectiva
E só se lembra dos que em mim guardei
Quando, acaso, de alguém fiquei cativa
*
Dentre o mais, esqueceria até a lei
Que nem sempre é cumprida porque, esquiva,
Tende a surgir quando eu a não chamei
E usa a mesma táctica evasiva...
*
Fiquemos por aqui no que respeita
Ao que memória aceita, ao que rejeita
E ao que guarda ou descarta por sistema,
*
Que não só da memória será fruto
Este cantante e harmónico produto
A que se dá o nome de poema.
*
Mª João Brito de Sousa
19.09.2022 - 09.30h
***
Soneto prometido à Sandra do https://cronicassilabasasolta.blogs.sapo.pt/
TENHO SONO
*
Gostava tanto de ter
Um pouco, um nada que fosse,
Do teu imenso saber,
Dessa ironia agridoce...
*
Fico sentada a tecer
Uns fios que o vento me trouxe
Com nós que irei desfazer
Mal um poema se esboce
*
E enquanto lembro o que lembro
Vai-se passando um Setembro
Que traz consigo outro Outono...
*
Ó fios que enrolo nos dedos,
Cuidai vós dos meus enredos
Que eu vou dormir. Tenho sono.
*
Mª João Brito de Sousa
17.09.2022 - 23.00h
*
Ao meu avô poeta, António de Sousa.
***
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