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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
10
Ago22

QUÍMICA(S) - Reedição

Maria João Brito de Sousa

alchemy.jpg

QUÍMICA(S)
*


Eu canto os sons que andarem por aí,

Que o mundo for deixando ao Deus dará

Em forma dos fonemas que, por cá,

Vão compondo canções que nunca ouvi
*

 

Mil olhos devo ter, pois não perdi

Um átomo sequer de quantos há

E a química, depois, combinará

Nos versos que vos teço por aqui
*

 

Há versos a pulsar por toda a parte

À espera de um olhar que os possa ver

E que entenda juntá-los, dar-lhes vida
*

 

Numa combinação de engenho e arte,

Que há sempre mil razões pra se viver

Mesmo que ande a razão meio perdida.
*

 


Maria João Brito de Sousa

12.02.2008
***

09
Ago22

MANTO DE VIDA - Reedição

Maria João Brito de Sousa

28056835_1855632984461307_4217901914521913698_n (2).jpg

MANTO DE VIDA
*


Conheço-me de cor e salteada:

Na amarga lucidez dos meus sentidos

Sei-me da humana cor dos meus vestidos

Sobre a lonjura incerta de uma estrada
*

 

Nasci assim que vida me foi dada:

Do acender da chama em tempos idos

Ao manto imaculado dos tecidos

Em que me fiz adulta e fui amada
*

 

Teve, o Tempo, a destreza destas mãos

Que vão compondo o manto da vontade

Aqui tecido em malhas de carbono
*

 

E uma Vida, qual pacto de artesãos

Urdido entre a mentira e a verdade,

Tem sempre uma incerteza por patrono.
*

 


Maria João Brito de Sousa

08.05.2008 - 11.08h
***
Soneto Reformulado

06
Ago22

ÉS O SOL - Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa

Maria João Brito de Sousa

Amantes - Pablo Picasso.jpg

Tela de Pablo Picasso (1881/1973)

 

 

ÉS O SOL
*

Coroa de Sonetos
*

Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa
*

1.
*

És o sol que me aquece dia a dia

Na caverna que arrefece o meu viver

Sem ti o que seria do meu ser

Sem o amor que me dá tanta alegria
*


Amar-te até ao fim é uma fatia

Do que mereces tu para te ter

E muito mais farei até morrer

Ao colo do frescor dessa magia
*


À volta do teu seio e remanso

Reclino a cabeça e descanso

Estarei sempre alegre ao teu redor
*


Que é meu esse ambiente essa frescura

Que me leva ao céu e à loucura

De ter no teu regaço o meu amor
*

Custódio Montes

5.8.2022

***

2.
*

"De ter no teu regaço o meu amor",

Lembro-me bem de em tempos tê-lo dito,

Mas essa é frase que não mais repito

Porque perdeu há muito o seu fulgor
*


E esse meu sol deixou de dar calor,

Tornou-se, para mim, astro proscrito

Que se perdeu, talvez, no infinito

Que é, das grandes lonjuras, a maior...
*


Mas pudesse eu no tempo recuar

E porque me conheço vou jurar

Que o mesmo sol de então me atrairia
*


Sorrio e nem sequer penso em tentar

Andar pra trás, voltando a orbitar

Um astro que entender-me não sabia.
*


Mª João Brito de Sousa

05.08.2022 - 14.50h
***

3.
*

“Um astro que entender-me não sabia”

Mas voou pelo estro do meu ser

E me fez prisioneiro e renascer

Dum grande amor que eu já não conhecia
*


E a cada hora mais ele se abria

A ponto de por ele me perder

Não pôde o coração se defender

E seguir outro rumo ou outra via
*


Agora já nem sei se me conheço

Que tudo o que eu tenho lhe ofereço

O que tenho cá dentro e fora a pele
*


Mas vivo tão contente e satisfeito

Que esse amor que lhe tenho tão perfeito

Me confunde: sou eu ou serei ele ?
*

Custódio Montes

5.8.2022
***

4.
*

"Me confunde: sou eu ou serei ele?"

E exactamente o mesmo se passou

Comigo, quando o sol me deslumbrou

E me cegou até tornar-me dele...
*


Porém, astro não há que não revele

O lado obscuro que antes não mostrou

E até eu fui aquilo que não sou

Enquanto ao sol queimava a minha pele
*


Agora, enquanto leio o que me diz,

Lembro-me que dizia ser feliz,

Embora cada vez mais me anulasse
*


E lá no fundo, muito lá no fundo,

Uma voz sussurrasse - a voz do mundo? -

Que era pura loucura, aquele impasse.
*

Mª João Brito de Sousa

05.08.2022 - 16.00h
***

5.
*

“Que era pura loucura, aquele impasse”

Mesmo assim prosseguiu o seu intento

Lançando o coração de asas ao vento

Pensando que ele ao céu fosse e o levasse
*


Que a gente quando ama segue a face

Do belo imaginado e o pensamento

Sente tanta alegria a seu contento

Que segue irresistível esse enlace
*


E nunca se arrepende o coração

Sem saber o motivo ou a razão

De seguir esse rumo e caminhar
*


Nunca sente a tortura que o aflige

E todo o amor que tem ele o dirige

A quem quis para sempre ter e amar
*

Custódio Montes

5.8.2022
***


6.
*

"A quem quis para sempre ter e amar"

Tive e amei enquanto foi possível,

Mas quando a tempestade mais temível

Rebentou sobre nós a ribombar
*


Nenhum de nós sequer ousou brilhar

Que o espanto, também ele, é perecível

E o sol deixa de ser apetecível

Para quem nel`se acaba de queimar...
*


O que passou, passou. Se houve saudade,

Pouco durou que a criatividade

Depressa se lhe veio sobrepor
*


E nem sei se valeu, ou não, a pena...

Só sei que a peça já saiu de cena

E que foi escrita não sei por que autor.
*

 

Mª João Brito de Sousa

05.08.2022 - 17.25 h
***

7.
*

“E que foi escrita não sei por que autor…”

Que teve assim motivo de romance

Analisando à volta a performance

Do êxito e do auge desse amor
*


Em coisas bem pequenas há valor

Que visto só depois e de relance

Dá tema ao autor para que avance

E faça boa obra ao seu redor
*


Nem tudo o que se passa é problema

Mas de repente temos um dilema

Que não se pode mais ultrapassar
*


No romance haverá uma maneira

De abrir então os olhos à cegueira

Terminando o casal feliz a amar
*

Custódio Montes

5.8.2022
*

8.
*

"Terminando o casal feliz a amar"

Ou em separação, se não houver

Melhor forma de tudo resolver

Até a tempestade se acalmar
*


Que é, por vezes, melhor tudo acabar

Do que tentar fazer prevalecer

Amor que esteja à beira de morrer

E já sem esp`rança de ressuscitar...
*


- Já tive um sol, mas todo o sol se esconde

Na linha de horizonte, ou sei lá onde

Queira um sol refazer o seu caminho...
*


Possa este meu caminho solitário

Ser, por opção, o sol do meu solário

No ôco aconchegante do meu ninho!
*


Mª João Brito de Sousa

05.08.2022 - 21.00h

***

9.
*

“No ôco aconchegante do meu ninho”

Existe a esperança a reentrar

Com os netos e filhos a alegrar

A minha casa antiga, um meu cantinho
*


A casa agora cheia de carinho

Com todos a correr e a nadar

A jogarem à bola e a saltar

E termos mesmo ao lado um bom vizinho
*


O sol que nos aquece e acalenta

Clareia tudo à volta e a gente inventa

A forma de o gozar e resistir
*


A sua intensidade e o seu calor

Deixamos-lo na sua hora pior

Para melhor em casa nos sentir
*

Custódio Montes

5.8.2022
***

10.
*

"Para melhor em casa nos/me sentir"

Depois dessoutro sol ter ido embora,

Voltei a ser aquela que antes fora

E comecei, enfim, a produzir
*


Todas as coisas que ousara trair

Sem que soubesse estar a ser traidora:

Acorda a Musa que comigo mora

Depois de estar vinte anos a dormir
*


E volto a ser quem fui em tempos idos,

Dona e senhora destes meus sentidos,

Operária de versos e de telas
*


Os outros que respondam, se o souberem,

Pelo que já fizeram - ou fizerem... -,

Que eu só sei compor versos, não novelas.
*

 

Mª João Brito de Sousa

05.08.2022 - 23.00h
***
11.
*

“Que eu só sei compor versos, não novelas”

Que estas apenas têm sentimento

Que é de aparato, ou menos, no momento

Em que forem passando pelas telas
*


Não temos qualquer dor depois de vê-las

Nem nos causam tristeza ou lamento.

Num verso quando eivado de tormento

As dores ficam lá ao escrevê-las
*


Escrita uma paixão que a gente teve

Ao tornar a lembrá-la não é leve

E nunca mais nos deixa e vai embora
*


Deve-se, antes, pensar, sendo capaz,

Na alegria que chega e vem de trás

E não nessa paixão, de novo, agora.


Custódio Montes

6.8.2022
***

12.
*

"E não nessa paixão, de novo, agora"

Porque, nisso, eu e Musa de igual forma

Não sabemos mentir... Fugindo à norma,

Lançamos a verdade, verso afora...
*


Nenhuma de nós duas "fingidora",

Nenhuma de nós chora ou se conforma

Com a mentira que tão bem contorna

O que a verdade grita a toda a hora...
*


Mas deu-me o sol momentos de beleza

E a alguns recordo ainda com clareza,

Por isso em coro disse: És o meu sol!
*


Deveria, talvez, ter-me calado,

Mas esta Musa, de ouvido apurado,

Tentou-me até morder isco e anzol...
*

 

Mª João Brito de Sousa

06.08.2022 - 10.30h
***
13.
*

“Tentou-me até morder isco e anzol….”

Mas valeu-me eu estar desconfiado

Senão ela ter-me-ia enganado

No seu canto orquestrado em dó bemol
*


Fechou-me tudo à volta com lençol

Para que eu a não visse. Apaixonado

Resisti e depois de a ter deixado

Voltei para cantar à rouxinol
*


E a minha amada então ficou contente

Passou de novo a ser meu sol nascente

E ser o meu destino, o meu desejo
*


Ao vê-la logo aceno e digo adeus

Apresso-me a fazer seus olhos meus

E ficamos um só ao dar um beijo
*

Custódio Montes

6.8.2022
***

14.
*

"E ficamos um só ao dar um beijo"...

Faça-se o seu presente o meu passado

Remoto, é certo, mas vivenciado

E belo como as águas do meu Tejo
*


Pois sendo hoje mais amplo o que cotejo,

Parece o resto ter-se aligeirado,

Tomando a dimensão de um velho fado

No qual não cabe já qualquer desejo
*


Também sou um produto do vivido,

Nisso me espelho e não há desmentido

Que me faça negar que houve alegria
*


E uma absurda ilusão de ser feliz

Quando dizia, tal como aqui diz:

"És o sol que me aquece dia a dia"!
*


Mª João Brito de Sousa

06.08.2022 - 12.30h
***

05
Ago22

NÃO TE DAREI OUVIDOS, ZARATUSTRA!

Maria João Brito de Sousa

O ÚLTIMO ANJO DE MARIA 1999 (1).jpeg

NÃO TE DAREI OUVIDOS,

ZARATUSTRA!
*

 

Não, não irei contigo de mãos dadas

Espelhar-me no titã que mais convenha!

Não me ilude o teu estro. A minha sanha

Soma-se a muitas lutas defraudadas,
*

 

Cruza oceanos, calcorreia estradas,

Ama esse humano que em ti se despenha

E eu, sendo estranha, não serei tão estranha

Que aspire a brilhar mais que as alvoradas...
*

 

Não te darei ouvidos, Zaratustra:

A razão que me guia não me frustra,

Não é tão rebuscada, nem tão crua
*


E estou quase no fim. Que não estivesse!,

Ainda assim diria o que entendesse

Dizer de quanto do teu génio estua.
*

 

Mª João Brito de Sousa

05.08.2022 - 09.45h
***

04
Ago22

MATÉRIA-PRIMA - Reedição

Maria João Brito de Sousa

Gestação Floral - 1999 (fotografado por Vítor Martinez) (1).jpg

MATÉRIA-PRIMA
*

 

Não são de prata fina, ouro-de-lei,

De jade, madre-pérola ou diamante,

Mas da lava insurrecta, inquietante,

Do verbo em que te deste, em que me dei,
*

 

Os versos, tantos quantos semeei

No torrão duma urgência, a cada instante

Da premência tão mais desconcertante,

Quão mais distante o tempo em que os plantei
*

 

Não colho o verbo frágil, rendilhado,

Trágico, maneirista ou delicado:

Quero o verbo que assuma o travo puro
*

 

Do fruto firme e doce ao ser trincado,

Da terra ao ser rasgada por arado

Ou do trigo dourado e já maduro.
*

 

 


Maria João Brito de Sousa

21.04.3017 -16.35h
***

 

(Reformulado)

02
Ago22

VESTIDO DE MENINA - Reedição

Maria João Brito de Sousa

 

3 anos, na varanda da casa da rua Luís de Camões, Algés (2).jpg

VESTIDO DE MENINA
*


Da seda, da fazenda ou do tobralco

Do poema nascido de outro alguém,

Surge-me uma lembrança, aqui e além

De panos recoberta, como um palco
*

 

Envolve-me um cheirinho a pó-de-talco,

À cânfora, que usava minha mãe,

E à arca de pau-preto que ninguém

Sabe que guarda os sonhos que recalco...
*

 

Gravam-se-me, indeléveis, na memória

Palavras de cetim ou de algodão

De uma textura suave e feminina
*

Que projectam de forma aleatória,

Num toque de varinha-de-condão,

A imagem de um vestido de menina...
*

 

Maria João Brito de Sousa

05.05.2008 - 12.58h
***

Reformulado

 

Pág. 2/2

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