Maria João Brito de Sousa
"Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinhos. Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!"
Machado de Assis *
ATÉ QUE O SANGUE ESCORRA, VERMELHINHO
*
Gosto de cactos verdes e espinhosos,
E até de rosas vaidosas e nobres...
Nos mundos ideais - sonhos de pobres! -
Finto sem medo maciços rochosos, *
Mostrengos gigantescos, tenebrosos,
Que nunca vergarão por mais que os dobres,
E a todos vou metendo em meus alfobres
Transmutados em nada, vaporosos. *
Aqui termino o breve devaneio
E assumo que há mostrengos que receio
Ou que as rosas me ferem se algum espinho, *
Dos muitos que por vezes manuseio,
Na carne se me crava, mesmo em cheio,
Até que o sangue escorra, vermelhinho. *
Mª João Brito de Sousa
15.05.2022 - 15.50h ***
Soneto concebido para um desafio de temas no Horizontes da Poesia
publicado às 08:43
Maria João Brito de Sousa
"INTERMEZZO" *
Minto se vos disser que sou feliz
E minto se afirmar que não o sou:
Desdigo-me a mim mesma, de raiz,
Se houver raiz no que de mim sobrou... *
Relevo quanto sobre mim se diz
E tanto se me dá se o que restou
Dos poemas que fiz e que desfiz
Bastou para ser obra... ou não bastou. *
Quando voltar a mim, se a mim voltar,
Talvez a Musa me volte a acenar
Com versos musicados, como outrora *
Mas, desta vez, talvez eu lhe resista
Conquanto saiba bem que enquanto exista
Se me recusa, a Musa, a ir-se embora. *
Mª João Brito de Sousa
18.06.2022 - 20.15h ***
publicado às 08:52
Maria João Brito de Sousa
Querid@s amig@s e companheir@s de versos,
mais uma vez os problemas de saúde me levaram a ter de andar a correr de laboratório em laboratório e de consulta hospitalar em consulta hospitalar, induzindo-me um estado de exaustão que me tem mantido afastada tanto das leituras e da escrita quanto do vosso convívio diário.
Este especifíco problema está ainda longe de estar resolvido, mas intensa a dor física que acompanhava os dois simultâneos quadros infecciosos encontra-se, de momento, bastante controlada.
Não posso prometer um trabalho interactivo diário e constante, mas posso tentar recomeçar. Devagarinho, muito devagarinho, que a minha força física e anímica ainda não regressou aos mínimos exigíveis a quem pretenda poder concentrar-se tanto na leitura quanto na escrita.
Muito obrigada a tod@s @s que me telefonaram ou comentaram durante este período em que as dificuldades, a dor e a indisposição física conseguiram superar a minha vontade.
Um forte abraço para tod@s vós. * Mª João *
18.06.2022
publicado às 10:47
Maria João Brito de Sousa
GENETICAMENTE INSPIRADO
*
Vou pincelando, a ocres e vermelhos,
Este soneto oval que me fascina
E engano os meus anseios de menina
Numa ressurreição de cacos velhos
*
Desminto a evidência dos espelhos!
Deste enlevo renasço, pequenina,
Crescem-me asinhas de feição divina
E fico invulnerável a conselhos
*
Pois moldo, pinto, engendro a "obra-prima"
Que vou solicitando aos meus sentidos
Sem que me sinta, nunca, arrependida
*
E, a cada segundo, o que me anima
É toda a profusão de coloridos
Que há nesta sensação de criar vida!
*
Maria João Brito de Sousa
31.01.2008 - 10.15h
***
In Poeta Porque Deus Quer, Autores Editora, 2009
publicado às 06:30
Maria João Brito de Sousa
UM CASTELO
DE
AÇUCENAS *
Na paz de Deus embalo os meus poemas
E desse não sei quê que vive em mim
Vem-me uma lucidez que não tem fim
E é, no fundo, a razão das minhas penas *
Na paz que delas vem, ergo as empenas
Do castelo em que abrigo o meu jardim
De versos cujas rimas de cetim
Bordei letra por letra. E são centenas! *
No pátio dos poemas que eu herdei,
Na paz que o verso em mim quis delegar,
Vi florescer nas tardes mais serenas *
O pomar dos poemas que criei...
Eu, que mendigo um pão pra mastigar
Do alto de um Castelo de Açucenas.
*
Maria João Brito de Sousa - 17.02.2008 *
In Poeta Porque Deus Quer - Autores Editora, 2009
(ligeiramente reformulado)
publicado às 01:57
Maria João Brito de Sousa
UMA BARCA
A VARAR
A TEMPESTADE *
"Numa chuva de dor tocada a vento"
Vai vendo aproximar-se a tempestade,
Essa a que um ser humano não se evade
Por mais que à sua rota esteja atento *
E esse bom capitão cujo talento
Não gera um verso - um só! - que desagrade,
Vê turvar-se-lhe a vista: como há-de
Fazer frente a um mar tão turbulento? *
Não sabe o que ninguém pode saber
E nem o sabe a Musa proteger
De uma tal tempestade interior, *
Sabe, porém, que a força que lhe resta
Reside no alento que lhe empresta
A Barca cuja proa enfrenta a dor! *
Mª João Brito de Sousa
04.06.2022 - 14.00 ***
Soneto criado a partir do último verso do soneto CÉU CINZENTO de José Manuel Cabrita Neves
publicado às 08:59
Maria João Brito de Sousa
TANTAS CARAVELAS... *
Ergue-se o pano e surge outro cenário
Vindo de uma matriz que mal denota
O virtual do qual emerge a frota
De sonhos com aromas de incensário *
A multidão, em sentido contrário,
Retoma, paulatina, a sua rota
E os que não trouxerem espada e cota
Farão boicote ao vosso imaginário… *
Não será de estranhar que, no futuro,
Se (re)erga uma ponte sobre um muro
E um outro entendimento sobrevenha, *
Nem será de esperá-lo. O que vos juro,
É que a tela que pinto e que emolduro
Se vai esfumando ao longe. E ninguém estranha. *
Maria João Brito de Sousa
02.03.2009 - 22.30h ***
publicado às 09:26
Maria João Brito de Sousa
EPOPEIAZINHA *
Percorro o espaço vivo dos meus dias
Nos tropeços do mundo aos trambolhões
E desprezo a prudência dos travões
Numa estranha corrida de ousadias *
Acelerando, encontro novas vias
Prás minhas mais remotas compulsões
E o meu combustível de ilusões
Garante protecção contra avarias *
Cometo as mais temíveis infracções!
Na meta do evento está Golias
Desafiando as minhas convicções *
Com demos, tentações, feitiçarias,
Gigantes - ou moinhos... - e dragões
Gerados na matriz das fantasias. *
Maria João Brito de Sousa - 2008 *
In Poeta Porque Deus Quer - Autores Editora, 2009
(ligeiramente reformulado)
publicado às 09:22
Maria João Brito de Sousa
A PERFEITA OCUPAÇÃO DAS HORAS *
No corpo inacessível de um poema
Mora o ritmo, sereno ou agitado,
Que fala da virtude e do pecado
E faz com que escrevê-lo valha a pena *
A pauta musical que assim me acena
A seduzir-me o corpo já cansado,
Virá trazer-me o verbo inesperado
Que me preenche a alma enfim serena *
E vai-se-me o vazio que então crescia
Mudado em fruição do que se faz
Nas noites renovadas como auroras *
Em que me torno amante da Poesia
E apenas o soneto me compraz
Nesta perfeita ocupação das horas. *
Maria João Brito de Sousa
30.01.2009 - 23.58h
***
Nota - Soneto ligeiramente reformulado
publicado às 09:47
Maria João Brito de Sousa
Leia aqui , por favor
publicado às 09:14