"O VERÃO VEM A CAMINHO"
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A MINHA DOR
*
Esta minha dor física é real,
Tanto quanto o cenário de combate
No qual este meu corpo se debate,
Para meu mal maior, sem qu`rer-me mal...
*
Por mais cruel que seja e mais brutal,
Condená-la seria um disparate:
Vá, sofre a tua dor, pequena vate,
Que à dor maior, sofreu-a uma imortal!
*
A minha dor é uma cabana velha
A que o vento arrancou, telha por telha,
A cobertura, o abrigo e o conforto...
*
É nela que o meu corpo inteiro mora
E é no dossel do musgo que a decora
Que se espelha e renova assim que morto.
*
Mª João Brito de Sousa
27.04.2022 - 21.00h
***
Memorando o soneto homónimo de Florbela Espanca
SONETO AOS SAUDOSISTAS
DA "MAIORIA SILENCIOSA"
*
Gentes da "silenciosa maioria"
Que ainda por aí vos arrastais
- sempre à direita e viva a burguesia! -,
Estais velhos como eu tantos mais
*
Mas tresandais a mofo e cobardia
E nós temos a garra que invejais
Em tudo! Até na nossa poesia,
Já que fraqueja a vossa... e tropeçais
*
Na rigidez do verso e na harmonia:
Por muito que poetas vos creiais,
Falta-vos chama, garra e ousadia,
*
Pecais pelo que a nós nos criticais
Pois Convicção de classe e Rebeldia
São musas que descreis, que nunca honrais!
*
Mª João Brito de Sousa
26.04.2022 - 14.30h
***
SONETO DO PRODUTOR EXPLORADO
*
Eu, que injectei nas veias das cidades
Sentinelas de pedra e de aço puro,
Que conquistei a pulso as liberdades,
Que asfaltei com suor cada futuro,
*
Eu, que paguei com sangue as veleidades
Que registei na pedra, em cada muro,
E sigo em frente e moldo eternidades
A partir do que engendro e não descuro
*
Não mais hei-de evocar forças ausentes!
Liberto o grito preso entre os meus dentes
Que irrompe deste barro em que me sou
*
E arrancarei de mim quantas correntes
Me prendam à mentira, ó prepotentes
Donos do que julgais que vos não dou!
*
Maria João Brito de Sousa
30.07.2013 – 18.58h
***
(Reedição)
*
IMAGEM- "Força" , José Viana, óleo sobre tela
25 DE ABRIL, SEMPRE!
*
Chegou enchendo as ruas da cidade
E pintou cada casa de vermelho
Deixando que um do outro fosse o espelho
Que em cada um espelhava a liberdade
*
Semeou as sementes de igualdade
Nas já cansadas mãos de cada velho
E do jovem também, sem um conselho,
Que tempo nunca teve, ou mesmo idade...
*
A todos pertencia e, por igual,
De todos foi repasto e comensal
Na grande mesa da libertação
*
Fomos nós, Povo, quem o conquistou
E cabe-nos lembrar que, se murchou,
Reavivá-lo está na nossa mão!
*
Maria João Brito de Sousa
24.04.2020 - 10.30h
***
(Reedição)
Vai uma voltinha?
Leia aqui por favor
INGENUIDADE
*
Cegais, UE, de estulta ingenuidade?
E é a mim que acusais de nada ver
Do que no mundo está a acontecer?
Ah, que estranha cegueira vos invade!
*
É neste imenso logro que a Verdade
Sucumbe àqueles que a tentam converter
E que, refém do tal quarto poder,
Toda se exalta em falsa urbanidade...
*
UE, que ingénua sois... ou que ardilosa!
Fazendo-vos passar por caridosa,
Tudo inverteis... até o rumo ao vento!,
*
E eu que por ingénua às vezes passo
Por tantos acolher no meu regaço,
Desvendo um logro que não mais sustento!
*
Mª João Brito de Sousa
21.04.2022 - 22.00h
*
Gravura de Manuel Ribeiro de Pavia
In Livro de Bordo, António de Sousa, 1957
TALENTO
*
Pensar é recriar em pensamento
Na voz da Terra, o pulsar de uma estrela,
E na do Mar, entre espanto e cautela,
Um canto que nos soa a chamamento
*
E cresce o que é pensado qual fermento
Acrescentando o pão que a fome sela:
Só quem pensa se eleva e se rebela
Contra uma dor ou contra um desalento
*
Se em excruciante dor te consumias,
Porque é que ao pensamento permitias
Que alimentasse a dor e o sofrimento?
*
Bem sei, nem tu o sabes... se o soubesses
Não serias aquilo que pareces,
Nem em ti caberia um tal talento.
*
Mª João Brito de Sousa
21.04.2022 - 10.30h
***
Memorando o soneto ANGÚSTIA de Florbela Espanca
VERSOS DO DESENGANO
*
Coroa de Sonetos
*
Mª João Brito de Sousa e Custódio Montes
1.
*
O Mundo não me vê. Sou invisível
Como as teimosas ervas dos caminhos
E estes meus versos frágeis, comezinhos,
Não passam de um rumor quase inaudível...
*
Não fosse eu tão humana, perecível
E eterna escrava dos meus desalinhos...
Mas os astros também morrem sozinhos
E nem esse teu deus foi infalível!
*
O que é o Mundo, amor que um dia amei,
Se não a rocha astral em que me sei
Até que um dia deixe de saber-me
*
E se os infindos beijos que deixei
Nos versos dos poemas que engendrei,
Não me tornam maior que um simples verme?
*
Mª João Brito de Sousa
16.04.2022 - 11.45h
***
Memorando o soneto VERSOS DE ORGULHO de Florbela Espanca
***
2.
*
“Não me tornam maior que um simples verme”
Mas isso é quem pensa sem noção
Daquilo que é a humana gestação
O tempo do começo no seu germe
*
Eu nasci são, sem nada que me enferme,
Seguindo meu caminho em construção
Bem preso à charrua e ao timão
Revejo-me orgulhoso logo ao ver-me
*
A terra esconde o verme que a perfura
E longe vá o agoiro que perdura
Desse vesgo plebeu cego e imundo
*
Meus versos são de amor e de desejos
Só isso é que me apraz e os teus beijos
E nada mais eu quero neste mundo
*
Custódio Montes
18.4.2022
***
3.
*
"E nada mais eu quero neste mundo"
Que a grandes faustos nunca ambicionei:
Ah, entendesses tu quanto eu te amei,
Sentisses o sentir de que eu me inundo...
*
Disseste "sim" e havia um "não" rotundo
Por detrás desse "sim" que então escutei:
Se a incompreensão te perdoei,
Não pude perdoar-te aquele segundo
*
Ah, sei que exigi muito. Exigi tudo!
Exigi-te o cantar quando eras mudo
E até surdo às cantigas que eu cantava...
*
Só então despertei porque antes disso,
Pra proteger-te deste estro insubmisso,
Fui vulcão que digere a própria lava.
*
Mª João Brito de Sousa
19.04.2022 - 15.45h
***
4.
*
“Fui vulcão que digere a própria lava”
Mas sonhei-te uma flor de primavera
E lá se foi o sonho, a quimera
Que tão louco por ti eu me encontrava
*
Bem sabes, não te amava como escrava
Que escravo era eu, que o amor gera
A ânsia de te ter à minha espera
Como à espera de ti eu me encantava
*
Querer tão só amor eu não queria
Mas ter-te plenamente, dia a dia…
A tua boca, os olhos, muito mais
*
Sentia o teu pulsar cada momento
Mas fugiste de mim tal como o vento
Que vibra e foge e não volta jamais
*
Custódio Montes
19.4.2022
***
5.
*
"Que vibra e foge e não volta jamais",
Sim, assim fiz depois do desengano,
Mas não te culpo, eras tão só humano
E eu quis-te mais que humano. Amei demais.
*
Levei-te às profundezas viscerais
De um amor que aos comuns só causa dano:
Disseste-mo e eu puni-me, ano após ano,
Por excessos que, afinal, eram normais...
*
Por enquanto só isto entendo e sei
Que não erraste tu, nem eu errei:
Aquele caminho a dois findara ali
*
E nunca uma ribeira, de repente,
Pode correr pra trás, para a nascente,
Quando a voz de uma foz chama por si...
*
Mª João Brito de Sousa
19.04.2022 - 18.45h
***
6.
*
“Quando a voz de uma foz chama por si…”
A água segue então o seu caminho
Às vezes segue até devagarinho
Que muitas vezes eu assim a vi
*
Torneia um obstáculo aqui
E outras vezes salta em corridinho
Reflete as suas margens com carinho
Como também às vezes eu senti
*
Passado é passado mas a gente
Volta atrás quando ele de repente
Nos lembra essas chamas, o calor
*
Que sobe e nos inunda o coração
E nesse sentimento e visão
Para-se a contemplar o nosso amor
*
Custódio Montes
19.42022
***
7.
*
"Para-se a contemplar o nosso amor"
Mas, neste caso, estou no meu passado,
Este "hoje" nem sequer foi vislumbrado
E há, em mim, uma chaga aberta em flor
*
Só por instinto ignoro ou venço a dor,
Desconheço este mundo debochado,
Arrisco a cada passo um passo errado
E há mais lodo que lótus em redor...
*
É deste filme antigo - e dentro dele -
Que hoje te falo enquanto visto a pele
Firme e sem rugas que então me cobria:
*
Não faço ideia do que irei fazer,
Nem sei sequer se irei sobreviver,
Mas sei que fiz aquilo que devia.
*
Mª João Brito de Sousa
19.04.2022 - 20.36h
***
8.
*
“Mas sei que fiz aquilo que devia”
Fiel à minha luta sem quartel
E sempre muito preso ao meu papel
De te ter junto a mim em companhia
*
Mas quando se passava mais um dia
Sentia as minhas queixas em tropel
A mágoa por me seres infiel
Que aguentar a dor não mais podia
*
E ando desenvolto sem parar
Sentado a ver o sol a ver o mar
E olho ao redor a ver a imagem
*
Dum voo de andorinha ao sol poente
Também voo e penso em tom dolente
Nos sonhos que me chegam dessa imagem
*
Custódio Montes
19.4.2022
***
9.
*
"Nos sonhos que me chegam dessa imagem"
Que às vezes vem poisar nos sonhos meus,
Há poemas pagãos, versos ateus
Que se olham e, por vezes, interagem
*
Não sei se são reais, se são miragem,
Se são suaves e frágeis como os véus
Que os cirros vão espalhando pelos céus
Enquanto o vento os leva na romagem...
*
E sou jovem de novo, quem diria,
Que àquilo que vivi retornaria
Plo tempo que me fosse necessário
*
Pra compor uma C`roa de sonetos?
Serão estes meus versos obsoletos
E terei feito em vão este calvário?
*
Mª João Brito de Sousa
19.04.2022 - 23.00h
***
10.
*
“E terei feito em vão este calvário?”
Calvário também há para se amar?
Sofrer sofre-se sempre que sonhar
Tem custo, esse custo necessário
*
Para o suor do rosto há um sudário
Que levamos connosco ao se andar
E a alegria sucede-se ao penar
Nas veredas do nosso itinerário
*
Na vida há tristezas e alegrias
Que surgem cada hora pelos dia
Não se vive sem esse condimento
*
E quando recordamos o passado
Revive-se o segundo apaixonado
E vai-se todo o nosso sofrimento
*
Custódio Montes
20.4.2022
***
11.
*
"E vai-se todo o nosso sofrimento"
Se houve um passado que sofrer nos fez...
Responderia que "talvez, talvez...",
Mas nesta C`roa o tempo passa lento
*
E eu revivo ainda esse momento
Enquanto vou revendo o que nem vês:
Se nunca me entendeste como crês
Que eu possa celebrar o que lamento?
*
Aqui, no meu presente, o teu futuro
Desfasou-se do meu. Se algo procuro
É o que sempre a ti te ultrapassou
*
Nenhum de nós o soube, no passado,
Por isso caminhámos lado a lado
Sem que sequer sonhasses quem eu sou
*
Mª João Brito de Sousa
20.04.2022 - 11.00h
***
12.
*
“Sem que sequer sonhasses quem eu sou”
Que o sonho anda ao longe e a realidade
A cada um se ajusta na vontade
De só amar aquilo que se amou
*
E sem correspondência aqui estou
Neste triste lamento que a saudade
Me faz voltar atrás àquela idade
Onde todo o amor se me esfumou
*
Mas é assim a vida que o viver
Anda sempre em vaivém a acontecer
E a vida é sofrer além de amar
*
Por isso, não me importa o sofrimento
Nem eu continuar neste lamento
Que alegre é bem melhor a gente andar
*
Custódio Montes
20.4.2022
***
13.
*
"Que alegre é bem melhor a gente andar"
E se amor`s há profundos qual vertigem,
Outros há que rasinhos desde origem
Nem sequer vale a pena aprofundar...
*
Tentar como eu tentei vai redundar
Nos duros desenganos que me afligem:
Desfeito o nó, não doem, não me atingem,
Deixam de ter o dom de me enganar...
*
Caminho agora no tempo presente
E embora imóvel bem mais livremente
Do que na juventude aqui trazida
*
Treze sonetos. Décadas passaram
Entre o primeiro e os mais que se somaram
Aos desenganos desta minha vida.
*
Mª João Brito de Sousa
20.04.2022 - 13.00h
***
14.
*
“Aos desenganos desta minha vida”
Juntam-se outros que agora recordei
São vivências de outrora em que andei
Com a alma encantada mas perdida
*
Eu via tudo à volta da ermida
Que no monte mais alto edifiquei
Que depois de a erguer desmoronei
Sem que ninguém a visse destruída
*
O rumo dessa história pereceu
Que um manto invisível escondeu
Num amor que então era perecível
*
Embora mostre ao mundo a minha dor
E a triste e longa mágoa desse amor
“O mundo não me vê. Sou invisível”
*
Custódio Montes
20.4.2022
***
Espreite mas, por favor, não colha...
VERSOS DO DESENGANO
*
O Mundo não me vê. Sou invisível
Como as teimosas ervas dos caminhos
E estes meus versos frágeis, comezinhos,
Não passam de um rumor quase inaudível...
*
Não fosse eu tão humana, perecível
E eterna escrava dos meus desalinhos...
Mas os astros também morrem sozinhos
E nem esse teu deus foi infalível!
*
O que é o Mundo, amor que um dia amei,
Se não a rocha astral em que me sei
Até que um dia deixe de saber-me
*
E se os infindos beijos que deixei
Nos versos dos poemas que engendrei,
Não me tornam maior que um simples verme?
*
Mª João Brito de Sousa
16.04.2022 - 11.45h
***
Memorando o soneto VERSOS DE ORGULHO de Florbela Espanca
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