Maria João Brito de Sousa
"WALK A MILE IN MY SHOES" * *
"Que ainda tardavam pela minha rua"
De rostos mortiços, com passos incertos,
Os bons marinheiros da velha falua
Que andara perdida lá pelos desertos *
Não da nossa Terra mas da sua Lua,
Sorrindo enleados nos seus desconcertos
Duma forma estranha que era muito sua
E dessa poalha ainda cobertos... *
Fica ainda um pouco que quero mostrar-te
A Barca que a tantos leva a toda a parte,
Ainda que imóvel por cá se mantenha *
Vem fazer comigo essa louca viagem:
Quem sabe não seja ilusória miragem
A Barca que afirmo ser de ferro e lenha? *
Mª João Brito de Sousa
30.03.2022 - 21.00h ***
Poema criado a partir do último verso (entre aspas) do soneto FICA MAIS UM POUCO! de MEA - Mª Encarnação Alexandre *
*Walk a mile in my shoes - Calça os meus sapatos e caminha com eles
publicado às 09:36
Maria João Brito de Sousa
NA RUA ONDE EU MORO *
"Na rua onde eu moro um piano a tocar"
Sem nunca abrandar o seu amargo choro,
Faz, se me enamoro, meus olhos chorar
Quando a soluçar com ele faço coro *
E desponta um esporo sob a luz lunar
Pronto a enraizar no que é do meu foro
Sem qualquer decoro, sem sequer cuidar
De o remodular noutro espectro sonoro *
Na rua onde eu moro, num piano inventado
Sem som, sem teclado, sem cauda nem banco,
Só ao sonho arranco notas de algum fado *
Gemido e magoado ou álacre e franco
Mas sem dar-me o flanco se desafinado
O tiver deixado quando o alavanco... *
Mª João Brito de Sousa
29.03.2022 - 23.30h ***
Soneto criado a partir do verso inicial (entre aspas) do poema homónimo de Márcia Aparecida Mancebo
in Horizontes da Poesia
publicado às 10:23
Maria João Brito de Sousa
VISLUMBRES DE UMA DISTOPIA
*
Silenciosos nos seus corpos de aço,
Dormindo estranhos sonos vigilantes
E usufruindo, ou não, de um espanto escasso,
Estão os que já não são o que eram dantes *
Guardam os torreões do novo Paço
E, escolhidos a dedo, são gigantes
Que avançam dez mil milhas num só passo
E abatem de um só sopro astros errantes *
As montanhas, rolando sobre esferas,
Desviam-se dos rios e das ribeiras
Que agora desaguam nas crateras *
Cavadas pelas balas não certeiras;
Não há noites nem dias, só há esperas,
Débeis aspirações, pulsões grosseiras... *
Mª João Brito de Sousa
28.03.2022 - 14.00h ***
Tela de Hieroymus Bosch
publicado às 09:39
Maria João Brito de Sousa
Vislumbre aqui a minha linha de horizonte
publicado às 09:46
Maria João Brito de Sousa
LUCIDEZ *
Pela Paz Entre os Povos *
Coroa de Sonetos *
Mª João Brito de Sousa e Custódio Montes
* 1. *
Se a alguns mataste, a outros deste vida
E a mim já me salvaste tanta vez,
Que se me abandonasses, lucidez,
De mim própria estaria já perdida *
Sem um rumo, uma porta de saída,
Saltando de talvez para talvez,
Desconhecendo todos os porquês
Desta vontade de me ver cumprida *
Ainda que, por vezes, de revés,
E noutras tantas vezes de fugida
Ao sabor da nortada e das marés, *
Mas sempre, Lucidez, comprometida
Com aquilo que sou - porque tu és! -
O meu cais de chegada e de partida. *
Mª João Brito de Sousa
21.03.2022 - 10.50h ***
2. *
“O meu cais de chegada e de partida”
É paz e ter amigos entre os povos
Sermos todos, os velhos e os novos
A raça entre todos protegida *
Em cada canto termos guarida
E duns e doutro nunca ser estorvos
Nem aves de rapina ou uns vis corvos
Num mundo que preserve sempre a vida *
As guerras são tormentos escusados
De crianças e jovens condenados
A um mundo sem luz nem condição *
Ergamos nossos braços na alegria
Para acabar de vez esta sangria
Que nos destrói a alma e o coração *
Custodio Montes ***
3. *
"Que nos destrói a alma e o coração"
E nos sonega a esp`rança num futuro
Bem mais igualitário, enfim seguro,
Livre da sordidez da exploração... *
Eu que à guerra entre os povos digo não,
Que sempre direi não a todo o muro,
Que acendo uma fogueira se faz s`curo
No verso em que tropeça o meu irmão *
Eu que abomino o grande deus-dinheiro
Que domina e corrompe o mundo inteiro
Para melhor passar a ser servido, *
Alguma lucidez hei-de guardar,
Já que a julgo espalhar e semear
Ao longo do caminho percorrido *
Mª João Brito de Sousa
25.03.2022 - 15.30h
***
4. *
“Ao longo do caminho percorrido”
Temos que ser capazes de escolher
Entre o bem que o dinheiro deve ter
E o mal que faz ao povo corrompido *
Ter firme lucidez é o devido
Mas muitas vezes esse dever-ser
Fica-se num querer e não querer
E erra-se a lucidez no escolhido *
Mas mesmo assim nós temos que tentar
E termos na consciência um pensar
Que afaste o que é mal e traga o bem *
Andarmos de mãos dadas como amigos
Enfrentarmos em conjunto os perigos
Sem molestar os outros nem ninguém *
Custodio Montes
25.3.2022 *** 5. *
"Sem molestar os outros nem ninguém"...
E, aqui, a lucidez faz-me parar
Para melhor pensar e perguntar:
"A ninguém molestar, a quem convém?" *
E diz-me a lucidez que há sempre alguém
A quem devemos mesmo molestar
No grande impr`ialismo secular
De que a razão dos povos jaz refém *
Por isso racional mas não grosseira
Vou molestá-los de qualquer maneira
Quando, lúcida, aponto o dedo à f`rida, *
Ou ergo o véu que esconde a sujidade...
Preferem, os "grandões" que essa verdade
Seja ignorada e fique bem escondida. *
Mª João Brito de Sousa
25.03.2022 - 17.25h
*** 6. *
“Seja ignorada e fique bem escondida”
Mas nós devemos sempre pô-la à vista
Para não se esconder a sua pista
E ser escancarada e conhecida *
E com toda a verdade esclarecida
Pomos esses mandões no rol, na lista
E com a lucidez vai-se à conquista
E a mentira então vai de vencida *
O que quero dizer “sem molestar”
É para termos armas e lutar
Fazendo sempre o bem, dando o sinal *
Mas quando ofendidos por rapace
Nunca se lhe oferece a outra face
Lutamos contra ele e contra o mal *
Custodio Montes
25.3.2022 *** 7. *
"Lutamos contra ele e contra o mal"
Que o mesmo espalha sobre o mundo inteiro...
Mas quem derrubará o deus-dinheiro
Quando o bom-senso pouco ou nada vale? *
Todavia, que o justo se não cale,
Que não abrande o passo o caminheiro,
Nem naufrague a barcaça do barqueiro
Até que o homem novo em nós se instale *
E (re)formule as multinacionais
Até que todos não tenhamos mais
Do que quanto nos baste pra vivermos *
Distribuindo equitativamente
O que mais falta faça a toda a gente:
Que um dia a todos caiba o que colhermos! *
Mª João Brito de Sousa
25.03.2022 - 21.40h ***
8. *
“Que um dia a todos caiba o que colhermos”
E que quem nada tenha possa ter
Amparo, amor e pão para comer
E a todos força dê para vencermos *
Mas para todos nós assim o sermos
A guerra e a podridão deviam ser
Extintas para sempre e só vencer
A paz e o amor e assim todos vivermos *
Seria o ideal … a lucidez
Nos trava essa conquista cada vez
Que a mão pega na pluma da razão: *
É tanta a avidez e aleivosia
Que o ser humano não se distancia
Da guerra, da miséria e podridão *
Custódio Montes
26.3.2922 ***
9. *
"Da guerra, da miséria e podridão",
E à clivagem crescente e tão brutal
Que existe entre trabalho e capital
Há-de impor-se, bem lúcida, a razão *
Do operário que estando "em construção"
Não pôde inda exigir ao seu igual...
Estará cumprida a "construção" final,
Quando a nenhum de nós faltar o pão *
Mas esta luta é outra e bem dif`rente
Do xadrez fratricida e prepotente
Dos tabuleiros dos grandes senhores *
Por isso eu escrevo LUTA, apago GUERRA
E tanto anseio pela PAZ na Terra
Quanto desejo um fim prás nossas dores. *
Mª João Brito de Sousa
26.03.2022 - 09.50h ***
10. *
“Quanto desejo um fim prás nossas dores”
Mas títeres há muitos e são tais
Que rasgam terra e mar como animais
Cidades e outeiros e arredores *
Semeiam ao redor só vis horrores
Verdugos sem princípios, anormais,
Corruptos sem vergonha e imorais
Lúciferes na morte, sem pudor *
Na luta, lutaremos sem descanso
E lúcidos faremos o balanço
Para termos vitória cá na terra *
Abaixo os sanguinários ditadores
Que só lhes sobra raiva e, rancorosos,
Atormentam os povos com a guerra *
Custodio Montes
26.3.2022 ***
11. *
"Atormentam os povos com a guerra"
Que sempre encerra int`resses inconfessos
E os inocentes são quem paga os preços
Do alto preço de cair por terra... *
E sempre que uma guerra em nós desferra
A mais brutal das fúrias dos possessos,
Somos nós os garantes dos progressos
Dessa besta que aponta e que não erra... *
Que a luz da lucidez nos ilumine
Num`outra luta que tão só domine
Quem nos imponha guerra e exploração *
E que um futuro justo e solidário
Sorria um dia a todo o proletário
Num mundo rico em Paz e farto em Pão! *
Mª João Brito de Sousa
26.03.2022 - 14.00h ***
12. *
“Num mundo rico em paz e farto pão”
Esse mundo com pernas para andar
Havendo gente boa e a mandar
E que tivesse amor no coração *
Mas há em todo o lado o figurão
Que quando lá se apanha a governar
Passa a vida a mentir e a enganar
Dizendo tudo ser pela nação *
Que o povo ao votar repare bem
Se vota na pessoa que convém
Para gerir os bens da sociedade *
Sê fino, português, dá o teu voto
A quem seja honesto, não escroto
Sê lúcido e escolhe a probidade *
Custodio Montes
26.3.2022 ***
13. *
"Sê lúcido e escolhe a probidade"
Que por enquanto, amigo, o rumo é esse;
Neste mundo nem sempre o que parece
Corresponde, afinal, à realidade... *
Mas enquanto a dulcíssima Igualdade
Lá no topo da Luta amadurece,
Dá o teu voto a esse que o merece,
Esquece o que mente em nome da verdade *
E se, indeciso, tens dificuldade
Na escolha, pensa bem, pensa à vontade
Quem melhor representa o teu interesse *
De classe, sempre que há dificuldade
E o poder de compra se te evade
Antes que finde um mês e outro comece. *
Mª João Brito de Sousa
26.03.2022 - 17.30h ***
14. *
“Antes que finde um mês e outro comece”
Nunca se perca o rumo da viagem
Para que em cada dia sem miragem
Se atinja tudo aquilo que apetece *
Mas um apetecer que se merece
E não o que pretende a vilanagem
Com tortuosidade e vassalagem
E ao lado o semelhante que empobrece *
Por isso, lucidez, a ti te peço
Que me guies a mim como mereço
E me dês, nos tormentos, guarida *
Já salvaste muita gente sobre a terra
Perdoamos-te agora, acaba a guerra
“Se a alguns mataste, a outros deste vida” *
Custódio Montes
26.3.2022 ***
publicado às 12:22
Maria João Brito de Sousa
Leia aqui , por favor
publicado às 14:28
Maria João Brito de Sousa
LUCIDEZ *
Pela Paz Entre os Povos *
Se a alguns mataste, a outros deste vida
E a mim já me salvaste tanta vez,
Que se me abandonasses, lucidez,
De mim própria estaria já perdida *
Sem um rumo, uma porta de saída,
Saltando de talvez para talvez,
Desconhecendo todos os porquês
Desta vontade de me ver cumprida *
Ainda que, por vezes, de revés,
E noutras tantas vezes de fugida
Ao sabor da nortada e das marés, *
Mas sempre, Lucidez, comprometida
Com aquilo que sou - porque tu és! -
O meu cais de chegada e de partida. *
Mª João Brito de Sousa
21.03.2022 - 10.50h ***
Fotografia de António Pedro Brito dee Sousa
publicado às 10:42
Maria João Brito de Sousa
ROSA VIRULENTA *
À f`rida que não sangra mas supura
Do homem que agoniza e que impotente
Percebe que essa f`rida não tem cura,
Que a morte o espera (im)pacientemente, *
Ao outro que essa f´rida em vão sutura
E ao (pres)sentir a dor que o f`rido sente,
Com sua própria fé entra em ruptura
Por vê-lo agonizando à sua frente, *
Aos que se vão de morte violenta
E aos que lentamente definhando
Já suportaram quanto não se aguenta, *
Aqui lembro pra que outros vão lembrando
A radiante Rosa virulenta
Que aos céus subia enquanto ia matando. *
Mª João Brito de Sousa
24.03.2022 - 10.15h ***
publicado às 10:36
Maria João Brito de Sousa
Confirme aqui , por favor
publicado às 09:26
Maria João Brito de Sousa
Tela de Cândido Portinari
HOLODOMOR(ES) *
Tremi quando tomei conhecimento
Da dor insana, do tremendo horror,
Da fome e do intenso sofrimento
Que alguns dizem ter sido o Holodomor *
Mas não se me nublou o pensamento
E, pensando, encontrei algo pior,
Em maior escala, a persistir no tempo,
Submetendo o explorado ao explorador... *
Sem causar mágoas ou constrangimento
E sem nos "media" levantar rumor,
Por maus tratos e falta de sustento *
Sucumbe o fraco e o trabalhador
Por esse mundo afora. O seu tormento
Porventura será mais... indolor? *
Mª João Brito de Sousa
20.03.2022 - 19.00h ***
publicado às 06:57
Maria João Brito de Sousa
Celebre aqui, também!
publicado às 10:27
Maria João Brito de Sousa
AOS POETAS - Laurinda Rodrigues e Mª João Brito de Sousa *
Coroa de Sonetos *
1. *
Estás parado porquê? A vida chama.
Ainda podes ser aquilo que és.
Nos teus dedos, a escrita te reclama
e a doce inspiração está aos teus pés. *
O poeta é um esteta quando ama
expandindo o coração de lés-a-lés...
E, se embarca nesse barco em chama,
ainda tem palavras no convés. *
Criar poemas é como criar seres
feitos de corpo e alma, se puderes
reconhecer nos versos tua pista. *
Não se impõe alcançar protagonismo:
reinventa-te apenas e, no abismo,
dá um salto mortal de trapezista. *
Laurinda Rodrigues *
2. * "Dá um salto mortal de trapezista"
Faz ecoar, no ar, a tua voz,
Transforma o nada em verso que persista,
Desembaraça, enfim, todos os nós *
Pra que não haja "contra" que resista
Aos teus infindos, decididos "prós",
Desenrola o novelo e faz-te à pista,
Que nem sempre os solistas cantam sós... *
E mesmo que as alturas te amedrontem,
Serão dif`rentes das que enfrentaste ontem,
Cada dia é, pra ti, uma surpresa *
Que irás compor conforme a melodia...
Faz a vénia no fim, que a cortesia
Serve-se fria, como a sobremesa *
Mª João Brito de Sousa
18.03.2022 - 10.15h ***
3. *
"Serve-se fria, como a sobremesa",
mas a doçura dá-lhe o seu aroma
que, para incautos surge com surpresa
a adicionar açucares ao que coma. *
Acautela-te, pois, se fores obesa
ao devorares poesia nesse idioma
porque a doçura pode ficar presa
a alguma outra rima, que te doma. *
Aceita o trocadilho, por favor,
mesmo que ele te incomode no odor
que tombou ao meu lado sem prever... *
Perdi, a pouco e pouco, o meu rancor
e, estando lado a lado, com o amor,
não sei se dar abraços ou bater. *
Laurinda Rodrigues ***
4. *
"Não sei se dar abraços ou bater"
Em retirada deste palco imenso
Ficando este soneto por escrever,
Deixando por dizer tudo o que penso... *
Mas vou ficar, nada tenho a perder
Senão umas ideias sem consenso
E antes quero abraçar-te sem ceder,
Do que ceder perdendo o meu bom-senso *
Aceito trocadilhos, brincadeiras,
Saltos mortais... até aceito asneiras
Que podem ser pequenos palavrões, *
Mas se um abraço for, melhor aceito!
Não há poeta que seja perfeito
E eu nunca sei quando meter travões... *
Mª João Brito de Sousa
18.03.2022 - 15.30h ***
5. *
E eu nunca sei quando meter travões
na louca correria onde me arrisco
a ter comedimento e não paixões
que aceito que me ofereças em petisco. *
Porque isto de alimento às emoções
seja em que escala for esse teu isco
só entendo como provocações
pois nem te mordo, bato, nem belisco. *
O jogo é entre corpo são e mente
feitas de uma audácia, de repente,
em gestos já fatais de tal sequência... *
Passas-me a bola? Muito lentamente?
Porque, ao jogar tal jogo, a gente sente
que é melhor acordadas que em dormência. *
Laurinda Rodrigues ***
6. *
"Que é melhor acordadas que em dormência"
Jogar-se à bola, ao "mata" ou ao peão
E até xadrez que é jogo de paciência
Posso jogar, se não disseres que não... *
Porém, se um verso faz interferência,
Esquece o xadrez; não há concentração
Que, em mim, resista ao verso e, numa urgência,
É pró verso que corro e estendo a mão *
Mas, sim, passo-te a bola lentamente
E a bola passará mesmo à tangente
De um verso solto, perdido no ar *
Depois? Depois será a tua vez...
Só não te esqueças do velho - UM, DOIS TRÊS,
A brincadeira vai recomeçar! *
Mª João Brito de Sousa
18.03.2022 - 17.15h ***
7. *
"A brincadeira vai recomeçar"
"Um, dois , três", ouviste ou não?
Andas teimosamente a versejar
num jogo que só é contradição. *
Paras um pouco? Não queres descansar?
Se for preciso, dou-te um empurrão
até que a cama possas alcançar *
mesmo que seja fora do colchão.
Isto é maldade pura, não te zangues
porque em mim os poemas estão exangues
e apostei em dizer só disparates. *
Mas estranho! As letras saem langues
voando como peças, bumerangues
e os laços, que as ataram, não desates. *
Laurinda Rodrigues ***
8. * "E os laços que as ataram não desates"
Para que continue a brincadeira
E embora eu seja pródiga em dislates,
Tentarei não fazer nenhuma asneira *
Em todo o caso, nunca me maltrates,
Nem me tentes pregar uma rasteira...
Se caio, choro mais que o próprio Eufrates
E acabas afogada em choradeira *
Mas, na verdade, não te ouvi chegar
E nem um mail chegou pra me avisar
Da existência de uma outra mensagem... *
Alguém aqui meteu o pé na poça,
Ou, vendo-nos brincar, quis fazer troça
Da nossa estranha - mas feliz! - imagem... *
Mª João Brito de Sousa
18.03.2022 - 19.10h
***
9. *
"Da nossa estranha - mas feliz! - imagem"
nasceram as pégadas sorrateiras
que fizeram um esboço de paisagem
onde eramos as grandes forasteiras. *
Tenho medo! Socorro! É a linguagem
que fingimos sentir, bem companheiras,
gozando loucamente a vadiagem
das horas sem retorno mas certeiras. *
Aqui me vês agora? escutas? sentes?
Parecemos ser p'ros outros as dementes
que, a cantar, enganam multidões? *
A hora já é tarde e nunca mentes
quando dizes que são os meus repentes
que transformam em verso os corações. *
Laurinda Rodrigues
***
10. *
"Que transformam em verso os corações"
E vice-versa pois, frequentemente,
Tomam os corações as dimensões
De um poema que criamos irmãmente *
E correm-nos nas veias furacões
Quando o verso nos nasce, assim, a quente,
Tão quente como a lava dos vulcões
Se como a lava brota, incandescente... *
Também sinto que a hora é já tardia,
Que já esmorece a minha rebeldia
E que o vulcão, aos poucos, já se extingue *
O ciclo circadiano impõe cumprir-se,
As letras deste ecrã estão a sumir-se
E a minha vista já mal te distingue... *
Mª João Brito de Sousa
18.03.2022 - 20.30h
***
11. * "E a minha vista já mal te distingue"
por tanto olhar o meu famoso ecran.
Mas não faz mal porque não se extingue
a criação dos versos e o elan. *
Quem não entende desejo que se mingue
porque - posso dizer - não é meu fã
e fazer Coroas é como andar no ringue
ao som maravilhoso do tantan. *
Brincar, desafiar, próprio da gente
que ousa na desgraça estar contente
sem ficar atascado em frustração... *
Mas se, mesmo assim, não é diferente
e, dando tanto, ainda estás carente
já não tenho maior consolação. *
Laurinda Rodrigues
***
12. *
"Já não tenho maior consolação"
Nem penso de outra forma vir a tê-la
A menos que me falte inspiração
E vá olhar o Sahara da janela *
Ou veja, no ecrã da tel`visão,
A guerra na versão "telenovela"
(e disto não te falo sem razão,
nem brinco com tensões que surjam dela!) *
"Bora" brincar às c`roas companheira?!
Correrão musas para a nossa beira
E, sendo duas, passamos a quatro; *
Se quisermos brincar às escondidas,
Sempre acharemos almas convertidas
Ao verso "coroado" ao desbarato... *
Mª joão Brito de Sousa
19.03.2022 - 10.15h
***
13. *
"Ao verso "coroado" ao desbarato"
mas sempre caro na sua prontidão
fazemos elegia, sem estar farto
esse mágico empenho da razão. *
Mas não se entenda a razão sem tato
porque tatear faz bem à emoção.
Até, se for preciso, tiro o fato
e mostro como é o meu cordão *
umbilical, cordão do nascimento,
mesmo que não nasça de um portento
que é reconhecido pelo nome. *
É preferível esconder-me no cimento
de uma casa onde não entra o vento
e onde não há medo nem há fome. *
Laurinda Rodrigues ***
14. *
"E onde não há medo nem há fome",
Há sempre espaço prá Felicidade,
Prá Poesia - que também se come -
E para tudo quanto nos agrade *
Só não haverá espaço pra quem some
Milhões à custa da fatalidade,
Nem pra quem a Razão nos aprisione
Em nome duma imensa falsidade *
Sigamos pois a rota dos sem-medo,
Mesmo que embata a Barca num rochedo
Ou se perca no crude da derrama *
Nada nos chegará de mão-beijada!
Pergunta a quem, olhando, não vir nada;
"Estás parado porquê? A Vida chama"! ***
Mª João Brito de Sousa
10.03.2022 - 12.00h ***
publicado às 10:02