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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
31
Mar22

WALK A MILE IN MY SHOES

Maria João Brito de Sousa

 

"WALK A MILE IN MY SHOES" *
*

 

"Que ainda tardavam pela minha rua"

De rostos mortiços, com passos incertos,

Os bons marinheiros da velha falua

Que andara perdida lá pelos desertos
*


Não da nossa Terra mas da sua Lua,

Sorrindo enleados nos seus desconcertos

Duma forma estranha que era muito sua

E dessa poalha ainda cobertos...
*


Fica ainda um pouco que quero mostrar-te

A Barca que a tantos leva a toda a parte,

Ainda que imóvel por cá se mantenha
*


Vem fazer comigo essa louca viagem:

Quem sabe não seja ilusória miragem

A Barca que afirmo ser de ferro e lenha?
*

 

Mª João Brito de Sousa

30.03.2022 - 21.00h
***


Poema criado a partir do último verso (entre aspas) do soneto FICA MAIS UM POUCO! de MEA - Mª Encarnação Alexandre
*

*Walk a mile in my shoes - Calça os meus sapatos e caminha com eles

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30
Mar22

NA RUA ONDE EU MORO

Maria João Brito de Sousa

pianista.jpg


NA RUA ONDE EU MORO
*


"Na rua onde eu moro um piano a tocar"

Sem nunca abrandar o seu amargo choro,

Faz, se me enamoro, meus olhos chorar

Quando a soluçar com ele faço coro
*


E desponta um esporo sob a luz lunar

Pronto a enraizar no que é do meu foro

Sem qualquer decoro, sem sequer cuidar

De o remodular noutro espectro sonoro
*


Na rua onde eu moro, num piano inventado

Sem som, sem teclado, sem cauda nem banco,

Só ao sonho arranco notas de algum fado
*


Gemido e magoado ou álacre e franco

Mas sem dar-me o flanco se desafinado

O tiver deixado quando o alavanco...
*

 

Mª João Brito de Sousa

29.03.2022 - 23.30h
***


Soneto criado a partir do verso inicial (entre aspas) do poema homónimo de Márcia Aparecida Mancebo

in Horizontes da Poesia

29
Mar22

VISLUMBRES DE UMA DISTOPIA

Maria João Brito de Sousa

 


VISLUMBRES DE UMA DISTOPIA

*


Silenciosos nos seus corpos de aço,

Dormindo estranhos sonos vigilantes

E usufruindo, ou não, de um espanto escasso,

Estão os que já não são o que eram dantes
*

 


Guardam os torreões do novo Paço

E, escolhidos a dedo, são gigantes

Que avançam dez mil milhas num só passo

E abatem de um só sopro astros errantes
*

 


As montanhas, rolando sobre esferas,

Desviam-se dos rios e das ribeiras

Que agora desaguam nas crateras
*

 


Cavadas pelas balas não certeiras;

Não há noites nem dias, só há esperas,

Débeis aspirações, pulsões grosseiras...
*

 

 

Mª João Brito de Sousa

28.03.2022 - 14.00h
***

Tela de Hieroymus Bosch

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27
Mar22

LUCIDEZ - Mª João Brito de Sousa e Custódio Montes

Maria João Brito de Sousa

 

LUCIDEZ
*

Pela Paz Entre os Povos
*

Coroa de Sonetos
*

Mª João Brito de Sousa e Custódio Montes

*
1.
*

Se a alguns mataste, a outros deste vida

E a mim já me salvaste tanta vez,

Que se me abandonasses, lucidez,

De mim própria estaria já perdida
*

 

Sem um rumo, uma porta de saída,

Saltando de talvez para talvez,

Desconhecendo todos os porquês

Desta vontade de me ver cumprida
*


Ainda que, por vezes, de revés,

E noutras tantas vezes de fugida

Ao sabor da nortada e das marés,
*


Mas sempre, Lucidez, comprometida

Com aquilo que sou - porque tu és! -

O meu cais de chegada e de partida.
*


Mª João Brito de Sousa

21.03.2022 - 10.50h
***

2.
*

“O meu cais de chegada e de partida”

É paz e ter amigos entre os povos

Sermos todos, os velhos e os novos

A raça entre todos protegida
*


Em cada canto termos guarida

E duns e doutro nunca ser estorvos

Nem aves de rapina ou uns vis corvos

Num mundo que preserve sempre a vida
*


As guerras são tormentos escusados

De crianças e jovens condenados

A um mundo sem luz nem condição
*


Ergamos nossos braços na alegria

Para acabar de vez esta sangria

Que nos destrói a alma e o coração
*

Custodio Montes
***

3.
*

"Que nos destrói a alma e o coração"

E nos sonega a esp`rança num futuro

Bem mais igualitário, enfim seguro,

Livre da sordidez da exploração...
*


Eu que à guerra entre os povos digo não,

Que sempre direi não a todo o muro,

Que acendo uma fogueira se faz s`curo

No verso em que tropeça o meu irmão
*

 

Eu que abomino o grande deus-dinheiro

Que domina e corrompe o mundo inteiro

Para melhor passar a ser servido,
*


Alguma lucidez hei-de guardar,

Já que a julgo espalhar e semear

Ao longo do caminho percorrido
*


Mª João Brito de Sousa

25.03.2022 - 15.30h

***

4.
*

“Ao longo do caminho percorrido”

Temos que ser capazes de escolher

Entre o bem que o dinheiro deve ter

E o mal que faz ao povo corrompido
*


Ter firme lucidez é o devido

Mas muitas vezes esse dever-ser

Fica-se num querer e não querer

E erra-se a lucidez no escolhido
*


Mas mesmo assim nós temos que tentar

E termos na consciência um pensar

Que afaste o que é mal e traga o bem
*


Andarmos de mãos dadas como amigos

Enfrentarmos em conjunto os perigos

Sem molestar os outros nem ninguém
*


Custodio Montes

25.3.2022
***
5.
*

"Sem molestar os outros nem ninguém"...

E, aqui, a lucidez faz-me parar

Para melhor pensar e perguntar:

"A ninguém molestar, a quem convém?"
*

 

E diz-me a lucidez que há sempre alguém

A quem devemos mesmo molestar

No grande impr`ialismo secular

De que a razão dos povos jaz refém
*


Por isso racional mas não grosseira

Vou molestá-los de qualquer maneira

Quando, lúcida, aponto o dedo à f`rida,
*


Ou ergo o véu que esconde a sujidade...

Preferem, os "grandões" que essa verdade

Seja ignorada e fique bem escondida.
*

 

Mª João Brito de Sousa

25.03.2022 - 17.25h

***
6.
*

“Seja ignorada e fique bem escondida”

Mas nós devemos sempre pô-la à vista

Para não se esconder a sua pista

E ser escancarada e conhecida
*


E com toda a verdade esclarecida

Pomos esses mandões no rol, na lista

E com a lucidez vai-se à conquista

E a mentira então vai de vencida
*


O que quero dizer “sem molestar”

É para termos armas e lutar

Fazendo sempre o bem, dando o sinal
*


Mas quando ofendidos por rapace

Nunca se lhe oferece a outra face

Lutamos contra ele e contra o mal
*

Custodio Montes

25.3.2022
***
7.
*

"Lutamos contra ele e contra o mal"

Que o mesmo espalha sobre o mundo inteiro...

Mas quem derrubará o deus-dinheiro

Quando o bom-senso pouco ou nada vale?
*


Todavia, que o justo se não cale,

Que não abrande o passo o caminheiro,

Nem naufrague a barcaça do barqueiro

Até que o homem novo em nós se instale
*


E (re)formule as multinacionais

Até que todos não tenhamos mais

Do que quanto nos baste pra vivermos
*


Distribuindo equitativamente

O que mais falta faça a toda a gente:

Que um dia a todos caiba o que colhermos!
*

 

Mª João Brito de Sousa

25.03.2022 - 21.40h
***

8.
*

“Que um dia a todos caiba o que colhermos”

E que quem nada tenha possa ter

Amparo, amor e pão para comer

E a todos força dê para vencermos
*


Mas para todos nós assim o sermos

A guerra e a podridão deviam ser

Extintas para sempre e só vencer

A paz e o amor e assim todos vivermos
*


Seria o ideal … a lucidez

Nos trava essa conquista cada vez

Que a mão pega na pluma da razão:
*


É tanta a avidez e aleivosia

Que o ser humano não se distancia

Da guerra, da miséria e podridão
*

Custódio Montes

26.3.2922
***

9.
*

"Da guerra, da miséria e podridão",

E à clivagem crescente e tão brutal

Que existe entre trabalho e capital

Há-de impor-se, bem lúcida, a razão
*

 

Do operário que estando "em construção"

Não pôde inda exigir ao seu igual...

Estará cumprida a "construção" final,

Quando a nenhum de nós faltar o pão
*


Mas esta luta é outra e bem dif`rente

Do xadrez fratricida e prepotente

Dos tabuleiros dos grandes senhores
*


Por isso eu escrevo LUTA, apago GUERRA

E tanto anseio pela PAZ na Terra

Quanto desejo um fim prás nossas dores.
*


Mª João Brito de Sousa

26.03.2022 - 09.50h
***

10.
*

“Quanto desejo um fim prás nossas dores”

Mas títeres há muitos e são tais

Que rasgam terra e mar como animais

Cidades e outeiros e arredores
*


Semeiam ao redor só vis horrores

Verdugos sem princípios, anormais,

Corruptos sem vergonha e imorais

Lúciferes na morte, sem pudor
*


Na luta, lutaremos sem descanso

E lúcidos faremos o balanço

Para termos vitória cá na terra
*


Abaixo os sanguinários ditadores

Que só lhes sobra raiva e, rancorosos,

Atormentam os povos com a guerra
*

Custodio Montes

26.3.2022
***

11.
*

"Atormentam os povos com a guerra"

Que sempre encerra int`resses inconfessos

E os inocentes são quem paga os preços

Do alto preço de cair por terra...
*


E sempre que uma guerra em nós desferra

A mais brutal das fúrias dos possessos,

Somos nós os garantes dos progressos

Dessa besta que aponta e que não erra...
*


Que a luz da lucidez nos ilumine

Num`outra luta que tão só domine

Quem nos imponha guerra e exploração
*


E que um futuro justo e solidário

Sorria um dia a todo o proletário

Num mundo rico em Paz e farto em Pão!
*


Mª João Brito de Sousa

26.03.2022 - 14.00h
***

12.
*

“Num mundo rico em paz e farto pão”

Esse mundo com pernas para andar

Havendo gente boa e a mandar

E que tivesse amor no coração
*


Mas há em todo o lado o figurão

Que quando lá se apanha a governar

Passa a vida a mentir e a enganar

Dizendo tudo ser pela nação
*


Que o povo ao votar repare bem

Se vota na pessoa que convém

Para gerir os bens da sociedade
*


Sê fino, português, dá o teu voto

A quem seja honesto, não escroto

Sê lúcido e escolhe a probidade
*


Custodio Montes

26.3.2022
***

13.
*

"Sê lúcido e escolhe a probidade"

Que por enquanto, amigo, o rumo é esse;

Neste mundo nem sempre o que parece

Corresponde, afinal, à realidade...
*


Mas enquanto a dulcíssima Igualdade

Lá no topo da Luta amadurece,

Dá o teu voto a esse que o merece,

Esquece o que mente em nome da verdade
*


E se, indeciso, tens dificuldade

Na escolha, pensa bem, pensa à vontade

Quem melhor representa o teu interesse
*


De classe, sempre que há dificuldade

E o poder de compra se te evade

Antes que finde um mês e outro comece.
*


Mª João Brito de Sousa

26.03.2022 - 17.30h
***

14.
*

“Antes que finde um mês e outro comece”

Nunca se perca o rumo da viagem

Para que em cada dia sem miragem

Se atinja tudo aquilo que apetece
*

 

Mas um apetecer que se merece

E não o que pretende a vilanagem

Com tortuosidade e vassalagem

E ao lado o semelhante que empobrece
*

 

Por isso, lucidez, a ti te peço

Que me guies a mim como mereço

E me dês, nos tormentos, guarida
*

 

Já salvaste muita gente sobre a terra

Perdoamos-te agora, acaba a guerra

“Se a alguns mataste, a outros deste vida”
*

Custódio Montes

26.3.2022
***

A TECEDEIRA DE BARCAS, 1999.jpg

 

 

25
Mar22

LUCIDEZ

Maria João Brito de Sousa

 

LUCIDEZ
*

Pela Paz Entre os Povos
*


Se a alguns mataste, a outros deste vida

E a mim já me salvaste tanta vez,

Que se me abandonasses, lucidez,

De mim própria estaria já perdida
*

 

Sem um rumo, uma porta de saída,

Saltando de talvez para talvez,

Desconhecendo todos os porquês

Desta vontade de me ver cumprida
*


Ainda que, por vezes, de revés,

E noutras tantas vezes de fugida

Ao sabor da nortada e das marés,
*


Mas sempre, Lucidez, comprometida

Com aquilo que sou - porque tu és! -

O meu cais de chegada e de partida.
*


Mª João Brito de Sousa

21.03.2022 - 10.50h
***

Fotografia de António Pedro Brito dee Sousa

Dafundo, Pai.jpg

24
Mar22

RADIANTE ROSA VIRULENTA

Maria João Brito de Sousa

ROSA VIRULENTA
*

 

À f`rida que não sangra mas supura

Do homem que agoniza e que impotente

Percebe que essa f`rida não tem cura,

Que a morte o espera (im)pacientemente,
*


Ao outro que essa f´rida em vão sutura

E ao (pres)sentir a dor que o f`rido sente,

Com sua própria fé entra em ruptura

Por vê-lo agonizando à sua frente,
*


Aos que se vão de morte violenta

E aos que lentamente definhando

Já suportaram quanto não se aguenta,
*


Aqui lembro pra que outros vão lembrando

A radiante Rosa virulenta

Que aos céus subia enquanto ia matando.
*

 

Mª João Brito de Sousa

24.03.2022 - 10.15h
***

rosa virulenta.jpg

22
Mar22

HOLODOMOR(ES)

Maria João Brito de Sousa

HOLOMODORES.jpg

Tela de Cândido Portinari

HOLODOMOR(ES)
*


Tremi quando tomei conhecimento

Da dor insana, do tremendo horror,

Da fome e do intenso sofrimento

Que alguns dizem ter sido o Holodomor
*


Mas não se me nublou o pensamento

E, pensando, encontrei algo pior,

Em maior escala, a persistir no tempo,

Submetendo o explorado ao explorador...
*


Sem causar mágoas ou constrangimento

E sem nos "media" levantar rumor,

Por maus tratos e falta de sustento
*


Sucumbe o fraco e o trabalhador

Por esse mundo afora. O seu tormento

Porventura será mais... indolor?
*

 


Mª João Brito de Sousa

20.03.2022 - 19.00h
***

20
Mar22

AOS POETAS - Laurinda Rodrigues e Mª João Brito de Sousa

Maria João Brito de Sousa

no baloiço, com a mãe.jpg

AOS POETAS - Laurinda Rodrigues e Mª João Brito de Sousa
*

Coroa de Sonetos
*

 

1.
*

Estás parado porquê? A vida chama.

Ainda podes ser aquilo que és.

Nos teus dedos, a escrita te reclama

e a doce inspiração está aos teus pés.
*

O poeta é um esteta quando ama

expandindo o coração de lés-a-lés...

E, se embarca nesse barco em chama,

ainda tem palavras no convés.
*

Criar poemas é como criar seres

feitos de corpo e alma, se puderes

reconhecer nos versos tua pista.
*

Não se impõe alcançar protagonismo:

reinventa-te apenas e, no abismo,

dá um salto mortal de trapezista.
*

Laurinda Rodrigues
*


2.
*
"Dá um salto mortal de trapezista"

Faz ecoar, no ar, a tua voz,

Transforma o nada em verso que persista,

Desembaraça, enfim, todos os nós
*


Pra que não haja "contra" que resista

Aos teus infindos, decididos "prós",

Desenrola o novelo e faz-te à pista,

Que nem sempre os solistas cantam sós...
*


E mesmo que as alturas te amedrontem,

Serão dif`rentes das que enfrentaste ontem,

Cada dia é, pra ti, uma surpresa
*


Que irás compor conforme a melodia...

Faz a vénia no fim, que a cortesia

Serve-se fria, como a sobremesa
*


Mª João Brito de Sousa

18.03.2022 - 10.15h
***

3.
*

"Serve-se fria, como a sobremesa",

mas a doçura dá-lhe o seu aroma

que, para incautos surge com surpresa

a adicionar açucares ao que coma.
*


Acautela-te, pois, se fores obesa

ao devorares poesia nesse idioma

porque a doçura pode ficar presa

a alguma outra rima, que te doma.
*


Aceita o trocadilho, por favor,

mesmo que ele te incomode no odor

que tombou ao meu lado sem prever...
*


Perdi, a pouco e pouco, o meu rancor

e, estando lado a lado, com o amor,

não sei se dar abraços ou bater.
*

Laurinda Rodrigues
***


4.
*

"Não sei se dar abraços ou bater"

Em retirada deste palco imenso

Ficando este soneto por escrever,

Deixando por dizer tudo o que penso...
*


Mas vou ficar, nada tenho a perder

Senão umas ideias sem consenso

E antes quero abraçar-te sem ceder,

Do que ceder perdendo o meu bom-senso
*


Aceito trocadilhos, brincadeiras,

Saltos mortais... até aceito asneiras

Que podem ser pequenos palavrões,
*


Mas se um abraço for, melhor aceito!

Não há poeta que seja perfeito

E eu nunca sei quando meter travões...
*


Mª João Brito de Sousa

18.03.2022 - 15.30h
***

5.
*

E eu nunca sei quando meter travões

na louca correria onde me arrisco

a ter comedimento e não paixões

que aceito que me ofereças em petisco.
*


Porque isto de alimento às emoções

seja em que escala for esse teu isco

só entendo como provocações

pois nem te mordo, bato, nem belisco.
*


O jogo é entre corpo são e mente

feitas de uma audácia, de repente,

em gestos já fatais de tal sequência...
*


Passas-me a bola? Muito lentamente?

Porque, ao jogar tal jogo, a gente sente

que é melhor acordadas que em dormência.
*


Laurinda Rodrigues
***

6.
*

"Que é melhor acordadas que em dormência"

Jogar-se à bola, ao "mata" ou ao peão

E até xadrez que é jogo de paciência

Posso jogar, se não disseres que não...
*


Porém, se um verso faz interferência,

Esquece o xadrez; não há concentração

Que, em mim, resista ao verso e, numa urgência,

É pró verso que corro e estendo a mão
*


Mas, sim, passo-te a bola lentamente

E a bola passará mesmo à tangente

De um verso solto, perdido no ar
*


Depois? Depois será a tua vez...

Só não te esqueças do velho - UM, DOIS TRÊS,

A brincadeira vai recomeçar!
*


Mª João Brito de Sousa

18.03.2022 - 17.15h
***

7.
*

"A brincadeira vai recomeçar"

"Um, dois , três", ouviste ou não?

Andas teimosamente a versejar

num jogo que só é contradição.
*


Paras um pouco? Não queres descansar?

Se for preciso, dou-te um empurrão

até que a cama possas alcançar
*

mesmo que seja fora do colchão.

Isto é maldade pura, não te zangues

porque em mim os poemas estão exangues

e apostei em dizer só disparates.
*


Mas estranho! As letras saem langues

voando como peças, bumerangues

e os laços, que as ataram, não desates.
*

Laurinda Rodrigues
***

8.
*
"E os laços que as ataram não desates"

Para que continue a brincadeira

E embora eu seja pródiga em dislates,

Tentarei não fazer nenhuma asneira
*


Em todo o caso, nunca me maltrates,

Nem me tentes pregar uma rasteira...

Se caio, choro mais que o próprio Eufrates

E acabas afogada em choradeira
*


Mas, na verdade, não te ouvi chegar

E nem um mail chegou pra me avisar

Da existência de uma outra mensagem...
*


Alguém aqui meteu o pé na poça,

Ou, vendo-nos brincar, quis fazer troça

Da nossa estranha - mas feliz! - imagem...
*

 

Mª João Brito de Sousa

18.03.2022 - 19.10h

***

9.
*

"Da nossa estranha - mas feliz! - imagem"

nasceram as pégadas sorrateiras

que fizeram um esboço de paisagem

onde eramos as grandes forasteiras.
*


Tenho medo! Socorro! É a linguagem

que fingimos sentir, bem companheiras,

gozando loucamente a vadiagem

das horas sem retorno mas certeiras.
*


Aqui me vês agora? escutas? sentes?

Parecemos ser p'ros outros as dementes

que, a cantar, enganam multidões?
*


A hora já é tarde e nunca mentes

quando dizes que são os meus repentes

que transformam em verso os corações.
*

Laurinda Rodrigues

***

10.
*

"Que transformam em verso os corações"

E vice-versa pois, frequentemente,

Tomam os corações as dimensões

De um poema que criamos irmãmente
*


E correm-nos nas veias furacões

Quando o verso nos nasce, assim, a quente,

Tão quente como a lava dos vulcões

Se como a lava brota, incandescente...
*

 

Também sinto que a hora é já tardia,

Que já esmorece a minha rebeldia

E que o vulcão, aos poucos, já se extingue
*

 

O ciclo circadiano impõe cumprir-se,

As letras deste ecrã estão a sumir-se

E a minha vista já mal te distingue...
*


Mª João Brito de Sousa

18.03.2022 - 20.30h

***

11.
*
"E a minha vista já mal te distingue"

por tanto olhar o meu famoso ecran.

Mas não faz mal porque não se extingue

a criação dos versos e o elan.
*


Quem não entende desejo que se mingue

porque - posso dizer - não é meu fã

e fazer Coroas é como andar no ringue

ao som maravilhoso do tantan.
*


Brincar, desafiar, próprio da gente

que ousa na desgraça estar contente

sem ficar atascado em frustração...
*


Mas se, mesmo assim, não é diferente

e, dando tanto, ainda estás carente

já não tenho maior consolação.
*

Laurinda Rodrigues

***

12.
*

"Já não tenho maior consolação"

Nem penso de outra forma vir a tê-la

A menos que me falte inspiração

E vá olhar o Sahara da janela
*


Ou veja, no ecrã da tel`visão,

A guerra na versão "telenovela"

(e disto não te falo sem razão,

nem brinco com tensões que surjam dela!)
*


"Bora" brincar às c`roas companheira?!

Correrão musas para a nossa beira

E, sendo duas, passamos a quatro;
*


Se quisermos brincar às escondidas,

Sempre acharemos almas convertidas

Ao verso "coroado" ao desbarato...
*


Mª joão Brito de Sousa

19.03.2022 - 10.15h

***

13.
*

"Ao verso "coroado" ao desbarato"

mas sempre caro na sua prontidão

fazemos elegia, sem estar farto

esse mágico empenho da razão.
*


Mas não se entenda a razão sem tato

porque tatear faz bem à emoção.

Até, se for preciso, tiro o fato

e mostro como é o meu cordão
*


umbilical, cordão do nascimento,

mesmo que não nasça de um portento

que é reconhecido pelo nome.
*


É preferível esconder-me no cimento

de uma casa onde não entra o vento

e onde não há medo nem há fome.
*

Laurinda Rodrigues
***

14.
*

"E onde não há medo nem há fome",

Há sempre espaço prá Felicidade,

Prá Poesia - que também se come -

E para tudo quanto nos agrade
*


Só não haverá espaço pra quem some

Milhões à custa da fatalidade,

Nem pra quem a Razão nos aprisione

Em nome duma imensa falsidade
*


Sigamos pois a rota dos sem-medo,

Mesmo que embata a Barca num rochedo

Ou se perca no crude da derrama
*


Nada nos chegará de mão-beijada!

Pergunta a quem, olhando, não vir nada;

"Estás parado porquê? A Vida chama"!
***

Mª João Brito de Sousa

10.03.2022 - 12.00h
***

 

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