Maria João Brito de Sousa
ROTINA ANTI-ROTINA
À Mesa do Café da Esquina *
À mesa do café surgem projectos
De construção. "Voilá" outra esplanada
Ainda às três pancadas, mal esboçada;
Duas amigas, feitas arquitectos, *
Lançaram fundações, ergueram tectos
E dão a construção por terminada
Enquanto eu fico a rir-me à gargalhada
Dos planos que são hoje os seus diletos... *
São vinte em ponto. Os últimos gracejos
Estuam-se em gestos que simulam beijos
Sulcando a noite que já se cerrou *
Sobre a esplanada do café da esquina
Onde se fez rotina anti-rotina
E a pró-contra-rotina se instaurou. *
Mª João Brito de Sousa
09.11.2021 - 10.30h
***
publicado às 11:09
Maria João Brito de Sousa
SONETO
DE
CORAÇÃO REMENDADO *
Caiu-me o coração das mãos abertas
Sobre o marmóreo chão que me sustinha;
Já não pulsava, o pobre, a horas certas
E o que lhe aconteceu já se adivinha... *
Quem se faria ao mar das descobertas
Num barco preso ao cais por uma linha?
Coragem, coração, que outros alertas
Há nos punhais que a dor desembainha! *
E sobrevive ainda enquanto o vento
Emula a voz longínqua de um lamento
Que não sabe onde acaba nem começa... *
Não sei se vos importa, mas registo
Que o Amor não tem nada a ver com isto,
Nem sabe por que o cito assim, à pressa. *
Mª João Brito de Sousa
30.10.2021 - 15.50h
publicado às 10:03
Maria João Brito de Sousa
INTEMPORALIDADE * Coroa de Sonetos *
Mª João Brito de Sousa e Lourdes Mourinho Henriques
* 1. *
Aqui não há passado nem futuro;
O presente é fieira que não finda
E não tem de passar por nenhum furo
Embora a agulha disso não prescinda *
E disto estou seguro, tão seguro
Quanto de não haver ninguém que cinda
A ponta que se afasta e que conjuro
Como se o tarde cedo fosse ainda... *
Onde não há princípio nem há fim
Sou tudo e não sou nada. Este ínterim
É somente ilusão. Paradoxal? *
Talvez sim, talvez não, talvez talvez,
Já não quero saber de outros porquês;
Quem mede esta meada intemporal? *
Mª João Brito de Sousa
01.11.2021 - 10.30h ***
2. * “Quem mede esta meada intemporal?”
Alguém cujo engenho e muita arte
Pintando numa tela sem igual,
Expõe a sua alma em toda a parte. *
Alguém que seus poemas nos of’rece
Cada dia que passa, que beleza,
Qual deles o melhor, e com certeza
Que sua inspiração jamais falece! *
A Musa está presente a toda a hora,
Mas insistindo sempre, vai lutando
Contrariando a falta da visão! *
Eis Morfeu a chegar, e a João
Pára a poesia e lá vai andando
P’rós braços dos lençóis, dormir agora! *
Lourdes Mourinho Henriques
02.11.2021 ***
3. * "Prós braços dos lençóis dormir agora (!)"
Como se lá por fora a noite escura
Tentasse convencer-me de que a hora
Se tornou, de repente, mais madura... *
Irei, sim, quando a Lua tentadora
Vier falar-me da sua loucura
E, aproveitando o Sol ter-se ido embora,
Cerrar-me os olhos com toda a candura... *
Mas na verdade, minha boa amiga,
Quando esta minha Musa me castiga
E se recusa à nossa interacção *
Fico de mãos atadas. Pouco crio
Quando, não vendo a Musa, olho o vazio
Criado pela sua rebelião ***
Mª João Brito de Sousa
02.11.2021 - 15.40h
4. *
“Criado pela sua rebelião”
A todos os que escrevem, acontece,
Quantas vezes de nós ela se esquece
E nos deixa grande desilusão!
E é enorme então a frustração
Se ao pegar na caneta p’ra ‘screver
A Musa isso não deixa acontecer
Ficando assim inerte a nossa mão!
Mas eis que, de repente, ela aparece
P’ra não pensarmos que de nós se esquece
E vai-nos conduzindo p’la poesia…
Diz-nos o que ‘screver em cada verso
E o nosso pensamento, então imerso,
Vai criando poemas… que alegria! *
Lourdes Mourinho Henriques 02.11.2021 ***
5. *
"Vai criando poemas... que alegria(!)"
E que bela razão pra se estar vivo
É transformar-se o verbo em sinfonia
Sem da monotonia estar cativo! *
Começa a despontar a melodia;
Se o soneto tem tempo(s) que eu cultivo
Eu sinto-me em completa sinergia
Com estas pautas das quais me não privo. *
Mais pulsam as palavras apressadas,
Mais correm minhas mãos (dantes aladas...)
Em direcção ao fecho, à conclusão *
E este meu remendado e velho peito,
Não sabendo correr fica sem jeito
A ver se lhe não escapa o coração... *
Mª João Brito de Sousa
02.11.2021 - 23.10h ***
6. *
“A ver se lhe não escapa o coração”
Que a mente está bem viva e criadora
E vai escrevendo pelo dia fora
O que na alma vai, com emoção. *
Lembranças de quando era criança,
Memórias do tempo da ilusão,
Guardadas na gaveta da esperança
Que hoje são alento do coração! *
Mas vai sempre insistindo, não desiste,
Lindos poemas vai escrevendo… e insiste
Em manter a mente sempre ocupada. *
Por mais que isso lhe custe, persistente,
Os versos vão surgindo de repente
Deixando a nossa mente extasiada! *
Lourdes Mourinho Henriques
03.11.2021 ***
7. *
"Deixando a nossa mente extasiada",
Tão extasiada quanto o Tempo fica
Quando anda com a Musa de mão dada,
Sem saber bem o que isso significa *
Pois toda a musa é criatura alada
Que tanto o tempo pára quanto estica,
Que tudo pode sem esforçar-se nada,
Que ninguém mede e ninguém quantifica... *
Toma cuidado, ó Tempo intemporal;
Não te quer bem, a Musa, nem quer mal,
Mas é mais livre do que jamais foste *
E se não tens cuidado e te distrais
Ela puxa por ti, pede-te mais;
Tempo, não há quem uma Musa arroste! *
Maria João Brito de Sousa - 04.11.2021 - 08.30h *** 8. *
“Tempo, não há quem uma Musa arroste”
Pois ela sem esperarmos aparece
E nem que a encostemos a um poste
Ela só vem quando lhe apetece. *
Mas se a ti se aliar, a ti se encoste
Vê se lhe concedes mais um tempinho,
Não deixes que se perca, se desgoste,
Mesmo que nos visite de mansinho. *
Ah! Tempo, que nos limitas a vida
Que às vezes, é tão curta na partida
E a Musa nem nos chega a visitar… *
Não queiras ser carrasco dessa Musa
Que sempre nos visita e sem recusa
Por vezes nos ajuda a inspirar! *
Lourdes Mourinho Henriques 04.11.2021 ***
9. *
"Por vezes nos ajuda a inspirar"
E também a sorrir ela auxilia
Tal como nos ajuda a superar
As rasteiras da vida, dia a dia. *
E musas há que gostam de sonhar,
Enquanto outras preferem a magia
De construírem castelos no ar
Ou de acenderem estrelas pr`Harmonia.1) *
São tantas essas musas feiticeiras,
Quantas serão as nossas mãos obreiras
Das coisas que os seus dedos vão criando *
E quando chega a hora da partida
Parte a Musa também, que assim a vida
Por igual Musa e Gente vai tratando. *
Mª João Brito de Sousa
05.11.2021 - 08.30h
1)Harmonia- Deusa da Paz e da Concórdia na Mitologia Grega ***
10. *
“Por igual, Musa e Gente vai tratando”
P’ra ele, ambas trata por igual,
E traiçoeiro, o tempo vai passando…
Tantas vezes as leva em vendaval! *
Leva a Musa, tira-lhe a inspiração
Que trazia p’rá Gente… Foi ficando
Cativa... e a matou sem compaixão
Até que a Gente também vai levando! *
Oh! Tempo, que tanto nos magoas,
Nos roubas nossas Musas e Pessoas
Que tanto gostariam de viver! *
Não sejas tão cruel, tem compaixão,
Deixa ambas viver, dá-lhes a mão,
Só querem continuar a escrever! *
Lourdes Mourinho Henriques
05.11.2021 ***
11. *
"Só querem continuar a escrever"
Estes poetas com sonhos nas veias
Que talvez não consigas entender
Porque te afrontam com suas ideias *
Ó Tempo, nenhum mal te irão fazer!
Não sei, Tempo, não sei por que os odeias
Quando, afinal, te irão enaltecer
Ainda que o não saibas ou descreias... *
Aqui irei cessar de interceder
Por poetas e musas, que morrer
Cabe a todos os vivos, afinal. *
Só tu, ó Tempo, irás permanecer
Sempre a fluir e às vezes a correr,
Porque só tu nasceste intemporal. *
Mª João Brito de Sousa
05.11.2021 - 15.00h ***
12. *
“Porque só tu nasceste intemporal”
Só tu nos vês chegar, também partir,
Só tu nos vês lutar e bem ou mal
Nos vais acompanhando… vês-nos ir… *
Muitas vezes seguindo por caminhos
Nunca por nós sonhados, quando em quando…
Às vezes vais-nos dando uns miminhos
Mas noutras, vais-nos deixando chorando! *
A vida inteira tu nos acompanhas
Ao lado do Destino e suas manhas
Pregando quando em vez suas partidas. *
A ti, ó Tempo, que és intemporal,
Ninguém te vence e não existe mal
Que te atinja, como nas nossas vidas. *
Lourdes Mourinho Henriques
05.11.2021 ***
13. *
"Que te atinja, como nas nossas vidas",
As breves vidas que tu nos concedes,
Nem sempre alegres e bem sucedidas
E tão curtinhas face ao que tu medes *
Que se as ambicionamos mais compridas,
Compreensíveis são as nossas sedes
De ti, Tempo, que ditas as partidas,
De ti, que não as vês nem as impedes... *
Assim vamos vivendo enquanto passas
Sem dar conta das vidas que ameaças,
Nem das vidas que aqui viste nascer *
Por isso, se em verdade és Tempo/Espaço,
Seremos nós quem passa, passo a passo,
Por ti, sem te sabermos entender... *
Mª João Brito de Sousa
06.11.2021 - 10.15h ***
14. *
“Por ti, sem te sabermos entender”
Somos nós que passamos algum tempo
Numa curta viagem, sem saber
Se ela será normal… ou a destempo! *
Uns vivem longa vida, quantas vezes
Pedindo que se aproxime o seu fim,
Mas outros vão passando por revezes
E partem sem querer, sina ruim… *
Ó Tempo, tu que és intemporal
E por vezes vês por nós passar o mal
Podias poupar-nos tempo tão duro. *
Chegamos e partimos deste mundo
Que dominas, é um mistério profundo,
“Aqui não há passado nem futuro”! *
Lourdes Mourinho Henriques
06.11.2021 ***
publicado às 09:19
Maria João Brito de Sousa
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publicado às 10:44
Maria João Brito de Sousa
SENTO-ME À JANELA *
Coroa de Sonetos *
Custódio Montes, Lourdes Mourinho Henriques e Mª João Brito de Sousa *
1. *
Sento-me à janela e olho para a porta
Atento escuto o bater do ferrolho
Abro as tuas cartas delas uma escolho
O amor nelas leio só isso me importa *
Vejo linha a linha que tudo me exorta
Voa o pensamento, lágrima no olho
Do tempo passado a imagem recolho
Espero, espero e nada me aporta *
Mas daqui não saio e o teu olhar terno
Aqui o espero por tempo eterno
Por noites e dias, o tempo que for *
De volta te sinto numa caravela
Daqui eu não saio da minha janela
Que se abra o ferrolho, vem oh meu amor *
Custódio Montes
2.11.2021 * 2. *
“Que se abra o ferrolho, vem oh meu amor”!
Com mágoa e saudade o amigo Custódio
Vertendo uma lágrima recorda, com dor,
Ao ler uma carta de amor e não ódio.
Mas eis que o passado ficou lá p’ra trás
E as cartas apenas são recordações…
Momentos vividos cheios de emoções
Que o tempo sem tempo nunca mais desfaz!
Ainda que seja ao ler uma carta
Lembrando um amor que nunca mais se aparta
Do seu coração, é assim a vida!
Recordar é viver, sentir o carinho,
Trilhando por vezes o mesmo caminho…
Ao ler uma carta que não foi esquecida! *
Lourdes Mourinho Henrirques *
3. * "Ao ler uma carta que não foi esquecida"
O passado ganha a dimensão presente
E o que era saudade passou, de repente,
A ser coisa viva, palpável, sentida... *
A leitura é chama que, reacendida,
Ilumina a vida e a alma da gente;
Sabe-o quem o escreve e sabe-o quem o sente
No corpo inocente e na alma rendida. *
O tempo não pára mas essa janela
Não vive no tempo, vive só pra ela
E para o momento em que ela há-de voltar *
Está escuro lá fora, mas brilham-lhe os olhos;
Vê estrelas brilhando em vez de ver escolhos
No papel da carta que abrira a chorar... *
Mª João Brito de Sousa
02.11.2021 - 18.30h
*** 4. *
“No papel da carta que abrira a chorar..”
Relembrou uns olhos duma claridade
Que ainda os recorda com tanta saudade
Que ao entrar na porta os quer de novo olhar *
Mas andam tão longe que tardam voltar
E eram tão lindos: era a mocidade
A força, a alegria, o carinho, a vontade
De lhe querer tanto, de tanto os amar *
Sento-me à janela fico à sua espera
Que quem muito ama nunca desespera
Mesmo que a espera se torne ilusão *
Mas relendo as cartas lembra-se o calor
Dos beijos ardentes e plenos de amor
E fica-se preso, freme o coração *
Custódio Montes
2.11.2021 *
5 . *
“E fica-se preso, freme o coração”
Como se o passado voltasse outra vez…
E serão as cartas, quem sabe, talvez
Alvo de alguns beijos cheios de emoção! *
São o testemunho de um amor feliz
Que um dia partiu e nunca mais voltou,
As boas lembranças foi o que deixou,
Também a tristeza, a vida assim quis. *
Mas ficar à espera é pura ilusão,
Enquanto se espera, sofre o coração
A mágoa contida sem remédio ter. *
E as cartas velhinhas aqui recordadas
São tudo o que resta, ficarão guardadas
Com muito carinho p’ra não as perder. *
Lourdes Mourinho Henriques
02.11.2021 ***
6. *
"Com muito carinho pra não as perder"
Guarda-as na gaveta do seu coração
Junto das saudades e do medalhão
Contendo o retrato dela, da mulher... *
Sentado à janela, já nem quer esquecer,
Já só disso vive, da recordação
Do que recebera de amor, de paixão,
Desse tanto querê-la que foi mais que qu`rer... *
E agora relendo, mais próximo está
Dessa que em palavras toda se lhe dá
Como se lhe dera nos tempos distantes *
Não fecha a janela muito embora o vento
Sopre através dela louco e turbulento
Como fora em tempos, como ele era dantes... *
Mª João Brito de Sousa
02.11.2021 - 21.30h
***
7. *
“Como noutros tempos, como ele era dantes”
Mas forte que fosse eu ia junto dela
Não havia rosa que fosse mais bela
E bastava vê-la por poucos instantes *
E ao ler a carta há imagens distantes
De caminho andado por rua ou viela
É essa lembrança que por mim apela
A paixão sentida que une os amantes *
Ponho-me à janela quero relembrar
Voltando ao passado, voltamos a amar
Estendem-se os braços e lançam-se ao vento *
Voamos no espaço, estendemos as asas
A paixão regressa pisamos as brasas
E sobre elas voa nosso pensamento *
Custódio Montes
2.11.2021 *** 8. *
“E sobre elas voa nosso pensamento”…
E tal como outrora o amor acontece,
Momentos vividos que nunca se esquece
Que são recordados, momento a momento! *
E a vida ao passar é por vezes tormento,
Mas deixa alegrias para recordar,
Momentos de vida do tempo de amar
Que ‘oje são saudade, da alma alimento! *
E nessa janela que tanto lhe diz
O amigo Custódio vai sendo feliz,
Saudoso recorda todo o seu passado. *
Que assim continue, com boa lembrança
Mesmo que a sonhar, não perca a esperança
E guarde a cartinha com muito cuidado. *
Lourdes Mourinho Henriques
03.11.2021 *** 9. *
"E guarde a cartinha com muito cuidado",
No bolso do peito onde pode ir buscá-la
A qualquer momento. Se a carta lhe fala
Ganhou-lhe o presente, vencendo o passado *
No instante preciso, à janela sentado,
No quarto de cama, na copa ou na sala,
Falará a carta, que amor não se cala
Se, em tempos vivido, ora for recordado. *
Que a velha cadeira em que agora se senta
Seja a testemunha que os versos sustenta
No pinho ou nogueira em que alguém a talhou. *
Que todos os dias a todas as horas
Lhe fale essa carta de amor e de amoras,
Dos beijos e abraços com que o cativou! *
Mª João Brito de Sousa
03.11.2021 - 14.25h ***
10. *
“Dos beijos e abraços com que o cativou”
Mas não têm cartas como eu recebidas
De amores de outrora, pessoas queridas
Ou de amores perdidos apenas eu sou ? *
Ao que tenho ouvido e alguém me informou
Também as amigas andaram perdidas
E foram amadas em tochas ardidas
Por muito amor que de certo as queimou *
Contemos a história que não a negamos
Recordamos tempos, todos nós amamos
Todos nós tivemos o nosso desejo *
Quem não teve cartas que agora não lê
Teve bem mais sorte, teve o amor ao pé
E pôde de certo enchê-lo de beijos *
Custódio Montes
3.11.2021 ***
11. *
“E pôde de certo enchê-lo de beijos”
Mas ficou mais pobre de recordações,
Nem todas as cartas são desilusões,
São troca de amor confessando os desejos.
E são essas cartas que há quem não as tenha,
Que dão o conforto, que dão a ilusão
De sentir agora a mesma paixão
Um dia sentida e que hoje a retenha.
Os altos e baixos que nos dá a vida
São provas de fogo que logo à partida
Nos vão ensinando a escolher o caminho.
Bem cedo encontrei o meu no passado
Guardei-o com ‘sprança, até que ao meu lado
Surgiu o amor que esperei, com carinho. *
Lourdes Mourinho Henriques
03.11.2021 ***
12. *
"Surgiu o amor que esperei com carinho"
Bem cedo, tão cedo que ainda que aponte
Os dias e as noites, não há quem os conte
Entre as muitas gentes que achar no caminho *
E eu que escrevia sobre pergaminho,
Que pintava as linhas de um novo horizonte
Por dentro de um rio ou atrás de uma fonte,
De amor nunca tive nem um postalzinho. *
De amor estive perto e de amores me perdi
Num tempo em que a sorte de amar descobri...
Para quê escrevê-lo se assim tão de perto *
Podia vivê-lo? Passaram-se os dias,
Os meses, os anos... surgiram magias;
Perdi-me das cartas neste desconcerto... *
Mª João Brito de Sousa
03.11.2021 - 19.00h
*** 13. *
“Perdi-me das cartas neste desconcerto”
Mas encontrei uma entre todas elas
Abri-a e li-a era das mais belas
Devagar olhei-a cada vez mais perto *
E fiquei contente de a ter aberto
Havia passagens lindas e singelas
Que me deslumbraram como luz de estrelas
Ao ler linha a linha um e outro excerto *
E tinha nos olhos a mesma esperança
Dos dias passados, agora lembrança,
Que tanto queria tornar a rever *
Recordei seus olhos e os seus cabelos
Momentos vividos tão lindos tão belos
Recuei no tempo, parei para os ter *
Custódio Montes
3.11.2021 ***
14. *
“Recuei no tempo, parei para os ter”
E tal como outrora vivi os momentos
Como se hoje fosse, tantos sentimentos,
Paixão e carinho que nos fez viver. *
Vivemos um amor que não é p’ra esquecer
Ambos percorremos um longo caminho,
Com altos e baixos, mas muito carinho
E que hoje num sonho voltei a rever. *
E junto à janela eu vejo, sem fim,
Uma longa ‘strada onde esperas por mim
Quando um dia partir, quando? Pouco importa! *
Só sei que acordei desta minha apatia
Que a ti me juntou… mas já vai longe o dia…
“Sento-me à janela e olho para a porta”. *
Lourdes Mourinho Henriques
03.11.2021
***
Reservados os direitos de autor
publicado às 08:36
Maria João Brito de Sousa
ENTREI NO CAFÉ... *
"Entrei no café com um rio na algibeira",
Pedi uma bica que nunca paguei
E sentada nas águas do rio que engendrei
Soltei as palavras numa cachoeira *
Nessa "pororoca" acendi a braseira
Do verso espontâneo que não convoquei;
Fluindo e queimando, assim me encontrei
Suando o floema da antiga palmeira. *
Nem nuvens, nem estrelas puderam mover-me;
Tudo me jorrava da mente e da derme
De dentro pra fora e de fora pra dentro *
Um pássaro, enfim, quem sabe o não fizesse
Se no rio pousasse e no bico trouxesse
O suave trinado de um canto mais lento. *
Mª João Brito de Sousa
03.11.2021 - 12.30h *
*Conversando com um verso do poema homónimo de José Gomes Ferreira .
publicado às 07:48
Maria João Brito de Sousa
Tela de minha autoria
A VISTA - Coroa de Sonetos * Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa
1. *
A vista contempla de olhos abertos
Prossegue o caminho sem se deslocar
Ao ver bem ao longe e tudo divisar
Até adivinha amores encobertos *
Os voos das aves pelo céu libertos
A vista os alcança e ao vê-las voar
Sente a liberdade e passeia no ar
E fica contente com sonhos despertos *
Mas não vê o cego, adivinha o caminho
Sem vista indaga, sente-se sozinho
Não se vê sem ela, sem vista há cegueira *
Olhando em frente vê-se a paisagem
O amor, a beleza e tanta imagem…
Que bom ter-se vista, tê-la a vida inteira *
Custódio Montes
31.10.2021
***
2 *
"Que bom ter-se vista, tê-la a vida inteira"
Pois nem a canseira que surja ou que exista
Lhe dirá, - Desista destoutra carreira!
Já não há maneira de o parar. Se a vista *
Permite que invista, siga à dianteira,
Vá de feira em feira, resista, resista,
Que eu sigo-lhe a pista, fico à sua beira,
Não passo rasteira, só peço que assista, *
Sou quase uma artista do tempo que avança
E alcança, se alcança, uma meta qualquer
Nas coisas do ser e nas voltas da dança *
Veja à confiança pois, haja o que houver,
Filho de mulher nunca nega uma esp`rança
E eu pago-lhe a fiança se a esp`rança perder! *
Maria João Brito de Sousa
31.10.2021 - 12.00h *** 3. *
“E eu pago-lhe a fiança se a esp`rança perder!”
Eu vejo aqui poema encadeado
Mas nisso lhe digo não sou afamado
Tal como o primeiro lhe vou responder *
Tenho a esperança de a não ofender
Não pague fiança que estou descansado
Não me deve nada meu muito obrigado
E dê a resposta como lhe aprouver *
No soneto é livre, a João é que sabe
Eu mantenho a forma que a mim não me cabe
Mandar-lhe palpites como o moldar *
Também desse modo se vê a grandeza
A forma e a graça e à volta a beleza
Ficando a coroa com outro brilhar *
Custódio Montes *
31.10.2021 ***
4. *
"Ficando a coroa com outro brilhar"
Capaz de encantar e ficando tão boa
Que quase atordoa quem venha a passar
Se acaso a olhar e ouvir como soa *
E ao vê-la a pessoa terá de parar
Pois é singular e nada em si destoa;
Do Minho a Lisboa, num vaivém sem par,
Vamos conversar até que a voz nos doa! *
Se o verso ressoa e nos corre nas veias
Em suaves colcheias mas sempre a correr,
Quem o vai deter? Estas vagas vão cheias, *
Moldem-se as areias como se entender!
Já consegui VER as antigas sereias
E então convoquei-as pra virem cá ter *
Mª João Brito de Sousa
31.10.2021 - 14.00h *** 5. *
“E então convoquei-as pra virem cá ter”
Sereias poetas? Nunca tinha visto
Mas vejo agora e então não resisto
De vir ao poema para as poder ver *
A vista de facto está a prometer
Ter esta visão é bonito, insisto
Outro patamar a olhar eu conquisto
Que ao redor a vista já dança a correr *
Somos dançarinos num belo salão
Menina uma dança ? Vai ver que verão
Um par campeão com todos a olhar *
A prega da saia e os cabelos ao vento
E nós dançarinos com todo o alento
Todos com inveja deste lindo par *
Custódio Montes
31.10.2021 ***
6. *
"Todos com inveja deste lindo par"
Tentam melhorar um nadinha que seja
Que se assim se almeja, tudo irá mudar;
Dança-se a voar no canto que nos reja! *
Roda e rumoreja quem queria dançar
E fica a olhar aquele que se proteja
Da dança vareja que zumbe no ar...
Depois de acabar, chega o que a corteja; *
Chegou tarde, veja, mas não chore, não,
Que outras mais virão e, se não for embora,
Pode entrar agora que não entra em vão! *
Não tem dimensão e nasce a qualquer hora
A dança/cantora. Eis a sedução
Que desta canção se fez compositora... *
Mª João Brito de Sousa -
31.10.2021 - 16.00h ***
7. *
“Que desta canção se fez compositora…”
Compôs muito bem cada vez com mais brilho
Mas eu não componho que arranjo sarilho
Mas vou aprumar a minha voz cantora *
Treino um minuto depois meia hora
E volto à mesma sigo o mesmo trilho
Eu cantar adoro cantar é rastilho
Engrandece a alma fá-la sedutora *
Formamos um grupo, grupo de primeira
Compõe a João e eu à sua beira
Afino a voz e dou tom à canção *
Corremos as feiras e os campos em flor
Com muita alegria e cheios de amor
Que faz bem à alma e gosta o coração *
Custódio Montes
31.10.2021 *
8. *
"Que faz bem à alma e gosta o coração"
De quanta paixão possa levar-lhe a palma
Enquanto o acalma e equilibra a tensão,
Como a actuação sobre um palco de Talma *
Não me falta a alma, mas tenho a impressão
De faltar-me o chão se não rimo com calma
E aqui se me espalma o talento. A razão
É a reacção à palavra que acalma, *
E volta-se à alma que já desgatada
Pouco dança ou nada pois não se conforma
Com a fuga à norma. Retoma agastada *
A roda e... coitada, pensa na reforma...
Mas a dança amorna e já mais consolada
Esquece a falta dada, não mais se transtorna. *
Mª João Brito de Sousa
31.10.2021 - 17.15h ***
9. *
“Esquece a falta dada, não mais se transtorna”
Corre sempre em frente, corre rodopia
A dançar esbelta com muita alegria
Quer no passo dado quer como se adorna *
Anda pela pista de volta a contorna
E cresce em grandeza, cresce em fantasia
O povo a olhar toda aquela magia
Num passo de dança com que ela retorna *
Se a vista parasse não podia olhar
Este rodopio dum doce bailar
Quem vê não é cego vê bem e não mal *
Vê as maravilhas duma bela dança
Olha sempre em frente, olha e não se cansa
Vê a dançarina vai ao arraial *
Custódio Montes
31.10.2021 ***
10. *
"Vê a dançarina vai ao arraial"
E nem leva a mal quando ela desafina;
Se ela desatina, porém, é normal
Tornar-se formal e esquivar-se à ladina. *
Dança ou não, menina? Quem dança afinal,
Neste virtual? A sentir não se ensina,
Mas a bailarina surge tão real
No palco ideal que esta dança domina... *
Já desce a cortina mas é cedo ainda
E a dança não finda enquanto um de nós
Tiver garra ou voz e se a voz for bem vinda *
Estamos na berlinda mas não estamos sós;
Seremos avós da canção que se alinda
Ao tornar-se infinda, suave e tão veloz? *
Mª João Brito de Sousa
31.10.2021 - 19.20h ***
11. *
“Ao tornar-se infinda e suave e tão veloz?”
E a fugir tanto parece uma ave
A voar os céus ao longe sem entrave
Os sons se ouvindo em canto de alta voz *
E nessa orquestra cantando só nós
Destoando o canto como é suave
Baixamos o tom e mudamos a clave
E ninguém nos ouve cantamos a sós *
Estamos malucos com esta vaidade
Mas o sonho avança por qualquer idade
Que poeta e louco qualquer pode ser *
Tendo disso um pouco vamos avançar
Cada dança nova deve-se dançar
Andemos na roda sem nos esconder *
Custódio Montes
31.10.2921 ***
12. *
"Andemos na roda sem nos esconder"
Da chuva a bater e do vento e da poda
Que é cáustica soda que nos faz arder...
Andemos a ver, pois, se esta festa toda *
Deixa de ser moda pra quem entender
Que um` outra qualquer bem melhor se acomoda
Pra dar azo à boda sem surpreender
Quem nela estiver e quem ainda a açoda. *
Se alguém se incomoda porque as notas soam
Altas que atordoam, paciência! Amanhã
Volta o nosso afã das canções que atroam *
E estas notas voam numa dança sã
Como uma romã. E se hoje se me escoam,
Sei que me perdoam; não sou um titã... *
Mª João Brito de Sousa
31.10.2021 - 21.00h ***
13. *
“Sei que me perdoam; não sou um titã...”
Nem tenho que o ser, dançarei ao meu jeito
Na rua em casa ou quando me deito
Vou dormir agora mas volta amanhã *
Vejo a dançarina como uma irmã
Discuto com ela muito me deleito
Porque é minha amiga, amiga do peito
E dança comigo com todo o afã *
Com olhos a vejo e assim me regalo
Vou calar me agora e amanhã lhe falo
Também fecho os olhos mas quero-a ver *
A dançar no baile toda enfeitada
É bom que a veja que é engraçada
Melhor tê-la à vista que ela se esconder
*
Custódio Montes
31.10.2921
***
14. *
"Melhor tê-la à vista que ela se esconder"
Sem deixar-se ver e por muito que insista,
Perdê-la na pista pra me não perder...
- Eu pude escolher. Que uma Musa me assista *
Na rota imprevista em que lanço o meu ser
De olhos inda a arder. Sendo a protagonista,
Sinto-me optimista, não me vou render;
Se Morfeu me quer, que espere ou que desista! *
Cantemos a vista qu`inda bem despertos
Estão meus olhos certos de irem num repente
Até mais à frente fazer uns acertos *
E vão, entre apertos, até onde a mente
Concede ou consente; bosques ou desertos
"A vista contempla de olhos abertos". *
Mª João Brito de Sousa
31.10.2021 -23.00h ***
publicado às 09:07
Maria João Brito de Sousa
"Sem Título" - Tela de minha autoria
SONETO
DA
INTEMPORALIDADE *
Aqui não há passado nem futuro;
O presente é fieira que não finda
E não tem de passar por nenhum furo
Embora a agulha disso não prescinda *
E disto estou seguro, tão seguro
Quanto de não haver ninguém que cinda
A ponta que se afasta e que conjuro
Como se o tarde cedo fosse ainda... *
Onde não há princípio nem há fim
Sou tudo e não sou nada. Este ínterim
É somente ilusão. Paradoxal? *
Talvez sim, talvez não, talvez talvez,
Já não quero saber de outros porquês;
Quem mede esta meada intemporal? *
Mª João Brito de Sousa
01.11.2021 - 10.30h ***
Sonetos da Matrix
publicado às 10:12
Maria João Brito de Sousa
SONETO FANTASMA *
Da memória do signo renascido
Venho agora por trilhas de mistério
Espalhar este meu sal de deus perdido
Que em tempos sonhou ser um deus a sério. *
Se te fizer sentido, faz sentido,
Se te não faz sentido eu ser etéreo
Serei um deus em cacos destruído,
Caído, como cai qualquer império. *
Não sei bem se estou morto ou se estou vivo,
Se sou, ou não, impulso criativo
Que recusou a morte e que prossegue. *
Vigio-vos ainda, inda vos prendo
A tudo o que analiso e compreendo;
Vivo de ir assombrando o que me negue! *
Mª João Brito de Sousa - 01.11.2021 -09.30h
***
Sonetos da Matrix
publicado às 09:30