Maria João Brito de Sousa
VEREDAS
I *
Lembro as veredas das matas
Que explorei nos tempos idos;
Nessas florestas pacatas
Sem ribeiras, nem cascatas,
Vi crescer os meus sentidos * II *
Trepei e andei de gatas,
Rasguei calções e vestidos
Em imitações baratas
Dos heróis, nas casamatas,
E nas v`redas, dos bandidos... *
Mª João Brito de Sousa
20.11.2021 - 20.20h
*
Poema em duas quintilhas criado para um rubrica do Horizontes da Poesia.
publicado às 09:00
Maria João Brito de Sousa
Ouça-o também
publicado às 08:42
Maria João Brito de Sousa
FAZ FRIO *
"Mas noto que este frio continua"
Embora os cravos vão brotando ainda
À luz do sol, no chão de cada rua
E à luz da lua, num mar que não finda. *
Qualquer rio sente frio quando se estua
E qualquer foz aqui será bem vinda.
Faz frio. Um fio de prata, como a lua,
Conduz a luz com que essa foz nos brinda *
Há outro frio cortante, cru, palpável,
Um frio que é realmente insuportável
E nos congela a carne e a morada *
Quando o Inverno bate às nossas portas
Mal o Outono, o tal das folhas mortas,
Retira e deixa a porta escancarada. *
Mª João Brito de Sousa
20.11.2021 - 10.15h *
* Soneto criado a partir do último verso do soneto ESTE FRIO de Joaquim Sustelo
publicado às 10:30
Maria João Brito de Sousa
NÓ(S) *
Fascina-me este sol... e não sou planta,
Seduz-me o mar imenso, e não sou peixe...
Do sol, colho o calor de cada feixe,
Do mar, a força, quando se agiganta *
Facilmente me rendo ao que me espanta
E não há desamor de que me queixe
Ainda que este enleio doa e deixe
Um nó que se me enreda na garganta... *
Tantos enredos já desenredei
Quantos os nós dos quais fui desistindo...
Muitos foram os nós que confrontei *
Mas um houve que sempre foi bem-vindo,
Que me enleou por dentro e que aceitei;
Um que é tão meu, tão eu, que o não deslindo. *
Mª João Brito de Sousa
19.11.2021 - 13.15
publicado às 13:20
Maria João Brito de Sousa
SERÁ QUE POSSO? *
"Onde apenas coubesse amor sem dor"
Também eu, se pudesse, engendraria
Um mundo tão gentil quanto uma flor
Depois de erradicada a tirania *
Um mundo que exalasse o suave odor
Da corola na qual floresceria,
Se ninguém o esmagasse e, sem temor,
Na flor vissem bem mais que uma utopia... *
Ah, pudesse eu criar um mundo assim,
Onde o meu eu coubesse além de mim;
Todos dif`rentes e todos iguais... *
Será que posso e que apesar de tudo
É dizendo que não que a mim me iludo
E que é crendo que sim que eu posso mais? *
Mª João Brito de Sousa
17.11.2021 - 15.10h *
Nota - Soneto criado a partir do verso inicial do soneto SE EU PUDESSE I , de MEA (Maria Encarnação Alexandre)
publicado às 11:15
Maria João Brito de Sousa
.... fugiram todas por ali!
publicado às 10:51
Maria João Brito de Sousa
COISAS
QUE NÃO SEI
SE OS OUTROS SABEM
* Coroa de Sonetos *
Mª João Brito de Sousa e Custódio Montes *
1. *
Com pedras, pedra a pedra (re)construo
O que à pedrada fora destroçado
E mantenho um passeio calcetado
Que posso utilizar, de que usufruo *
Quando falta uma pedra, então recuo
E preencho o vazio que foi deixado
Ou dou pelo buraco e passo ao lado;
Se não reponho, também não destruo... *
De pedras aqui falo... ou talvez não,
Que como as pedras muitas coisas são
Capazes de caber onde elas cabem *
Porque se em vez de pedra usar ideias
Mais lacunas preencho... e ficam cheias
De coisas que eu não sei se os outros sabem. *
Mª João Brito de Sousa
14.11.2021 - 08.40h ***
2. *
“De coisas que eu não sei se os outros sabem”
Que a ideia passeia sem se ver
Quem a tem vê então onde a meter
Em espaço onde outras também cabem *
Ideias que prosseguem sem que acabem
E sem alguém ao lado perceber
Aquilo que a mente anda a tecer
E sempre a prosseguir sem que a travem *
Por fim pode surgir um resultado
Ou se se não quiser ser ocultado
Enquanto o fim da obra se planeia *
Um compasso de espera, um novo lance
Para que o edifício avance
Enquanto o construtor molda a ideia *
Custódio Montes
15.11.2021 ***
3. *
"Enquanto o construtor molda a ideia"
Pode uma Musa ser inoculada
E ficar tão dorida, tão magoada
Que não acerte nem uma colcheia... *
Assim está minha Musa; febril, feia,
A tiritar de frio, toda engelhada,
Com os braços inchados da picada
E surda da batida que a norteia... *
São coisas que bem sei que não sabia
E a pobre Musa nunca o glosaria
Se eu não teimasse tanto ou mais do que ela *
Só lhe peço que vá bem devagar,
De forma a que eu consiga acompanhar
Os passos que deviam ser só dela... *
Mª João Brito de Sousa
15.11.2021 - 11.15h ***
4. *
“Os passos que deviam ser só dela”
Mas a musa não anda assim sozinha
Abre a janela e acena à vizinha
E depois fala e entende-se com ela *
Puxa uma palavra e outra mais bela
Então abre o poema que acarinha
E uma e outra seguem a mesma linha
E pintam em conjunto a mesma tela *
Beleza não tem pressa, devagar
Devagar e sem pressa de chegar
Desde o nascer do sol ao sol poente *
Com sombras e paisagens deslumbrantes
A musa reconforta os dois amantes
E ao vate dá fulgor mesmo doente *
Custódio Montes
15.11.2021 *
5. *
"E ao vate dá fulgor mesmo doente"
A menos que ao senti-lo menos bem,
Se farte das doenças que ele tem
E se retire, irada e prepotente... *
Tenho uma Musa louca, incoerente,
Que só faz o que a ela lhe convém,
Que num momento vai, no outro vem,
E tudo cala quando o não consente... *
Por vezes, de candeias às avessas,
Andamos nós as duas quanto às pressas
Em que ambas nos lançamos, quando eu posso *
Ma se me encontra um pouco enferrujada,
Vai-se de mim, não quer fazer mais nada;
Talvez queira que eu seja algum colosso... *
Mª João Brito de Sousa
15.11.2021 - 13.50h *** 6. *
“Talvez queira que eu seja algum colosso….”
Não, o que ela quer é brincar consigo
É nisso que se vê um bom amigo
Que quer e diz à gente: eu já não posso *
E cada vez nos pede mais esforço
Para ver uma flor por entre o trigo
E só nos dá vantagem, não castigo
E o nosso poetar ganha reforço *
Consigo ela é maravilhosa
Cada poema seu é como a rosa
Que enfeita o seu jardim com poesia *
Não diga mal da musa que é tão bela
Que o poderio seu junto ao dela
Só nos trará vantagem e alegria ! *
Custódio Montes
15.11.2021 ***
7. *
"Só nos trará vantagem e alegria"
E eu bem o sei que ainda refile
Estou sempre à espera do que ela me instile
De inspiração e até de rebeldia :) *
Somos inseparáveis. Noite e dia,
Partilhamos, num corpo, um só perfil;
Amparo-a sempre que caia ou vacile,
E ela afugenta a minha cobardia... *
Mas discutimos muito e não é raro
Que ela censure um verso menos claro,
Ou me mude uma rima menos boa. *
Fico possessa, mas revendo tudo,
Vejo que tem razão e eu própria os mudo;
Xô, verso "caro", vai-te ó rima à toa! *
Mª João Brito de Sousa
15.11.2021 - 15.40h ***
8. *
“Xô, verso “caro”, vai-te ó rima à toa”
Mas bem lhe vai, amiga, bem lhe vai
Que dessa forma em erro nunca cai
Que tem consigo a musa e alto voa *
E cantos bem sublimes nos entoa
Com a egrégia voz que nunca a trai
Na linda melopeia que lhe sai
E que aos nossos ouvidos tão bem soa ! *
Deixe a musa falar, não seja má
Que pelos vistos é tu cá tu lá
E ela também tem as suas luas *
Ouça-a bem e escute-a por favor
Que eu bem sei que lhe tem um grande amor
E luas cada um lá tem as suas *
Custódio Montes
15.11.2021 ***
9. *
"E luas cada um tem lá as suas",
E tem toda a razão, poeta amigo,
Embora a Musa se zangue comigo
E às vezes me insulte e lance puas *
Porque num corpo só cabemos duas...
Posso zangar-me, mas nunca a castigo
E ela chega a pôr-me o corpo em p`rigo
Quando enfrenta mostrengos de mãos nuas... *
Eu, que sempre a escutei atentamente,
Já não sei qual é Musa e qual é gente,
Nem consigo aceitar que ela me ralhe *
Se me falham os olhos, se no peito
Meu pobre coração não pulsa ao jeito
Que "sua alteza" ordena que não falhe... *
Mª João Brito de Sousa
15.11.2021 - 17.30h
***
10. *
“Que “sua alteza” ordena que não falhe”
Mas diga-lhe “oh musa tem juízo”
Porque desse conselho não preciso
E não gosto também de quem me ralhe *
E se insistir impante nela malhe
Dizendo que lhe causa prejuízo
E faça-lhe mais um ou outro aviso
Para que ela não a atrapalhe *
Já sei vai desculpá-la, gosta dela
Está à sua beira sempre à vela
E não a quer por certo magoar *
Faça orelhas moucas, vá em frente
E seja mais um pouco paciente
Este conselho dou: deixe-a falar
* Custódio Montes
15.11.2021 ***
11. *
"Este conselho dou: deixe-a falar",
E é isso exactamente o que farei;
Se longe dela, pouco ou nada sei,
E ela longe de mim não pode estar, *
Por isso, assim que a Musa refilar
Porquanto em qualquer coisa lhe falhei,
Em vez de me calar, como calei,
Serei eu quem a manda, então, calar *
Reconheço, contudo, o seu valor,
Sei que ela me vai dando o seu melhor,
Tal como o meu melhor sempre lhe dou... *
Um pouco de paciência, Musa minha;
Esta "embalagem" pode estar velhinha,
Mas nunca, em caso algum, te abandonou. *
Mª João Brito de Sousa
15.11.2021 - 21.00h ***
12. *
“Mas nunca, em caso algum, te abandonou”
E sou junto de ti a grande amiga
Que depressa nos passa qualquer briga
Que por nós algum dia se passou *
Nunca estive zangada nem estou
Sorri lá para mim, oh rapariga
Senão jamais ó musa alguém me liga
E dizem que o poema em mim parou *
Convença-a de maneira que ela entenda
E que aos seus argumentos se lhe renda
Porque sem musa o vate passa mal *
Falta-lhe o jeito, falta a inspiração
E também não lhe afoita o coração
Para se ser poeta especial *
Custódio Montes
15.11.2021 ***
13. *
"Para se ser poeta especial"
É necessário um pouco de loucura,
Alguma irreverência e, de ternura,
Uma imensa montanha. Essencial! *
Fazer do verso o prato principal,
Não nos trará riquezas, nem fartura,
Tão só nos traz a consciência pura,
Do que em nós é profundo e visceral... *
Das coisas que não sei, mas que procuro,
Ergo agora uma ponte em vez de um muro
Com pedras que sobraram da calçada... *
Vamos cruzando a ponte. Mais uns passos
E os seus versos terminam dando abraços
Aos meus, que vão na sua peugada. *
Mª João Brito de Sousa
15.11.2021 - 22.40h ***
14. *
“Aos meus, que vão na sua peugada”
Andando com cuidado devagar
Pelo caminho em frente e a pensar
Na forma de tecer sua meada *
Pela rua a pensar na minha amada
Que passo a passo dei para a amar
E lembro cada pedra, ao andar
Que de amor afaguei nessa jornada *
Pedras aqui são rosas ao redor
Da rua onde andei com meu amor
Que agora ao passar vejo e recuo *
Na muralha do tempo que revi
Lembro cada degrau que construí
“Com pedras, pedra a pedra (re)construo” *
Custódio Montes
16.11.2021
publicado às 08:05
Maria João Brito de Sousa
COISAS
QUE NÃO SEI
SE OS OUTROS SABEM *
Com pedras, pedra a pedra (re)construo
O que à pedrada fora destroçado
E mantenho um passeio calcetado
Que posso utilizar, de que usufruo *
Quando falta uma pedra, então recuo
E preencho o vazio que foi deixado
Ou dou pelo buraco e passo ao lado;
Se não reponho, também não destruo... *
De pedras aqui falo... ou talvez não,
Que como as pedras muitas coisas são
Capazes de caber onde elas cabem *
Porque se em vez de pedra usar ideias
Mais lacunas preencho... e ficam cheias
De coisas que eu não sei se os outros sabem. *
Mª João Brito de Sousa
14.11.2021 - 08.40h
publicado às 08:44
Maria João Brito de Sousa
Por aqui , sff
publicado às 11:22
Maria João Brito de Sousa
Imagem retirada daqui
DE VIGIA * Coroa de Sonetos * Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa ***
1. *
Naquele fim de tarde olhei teu rosto
As mãos nas tuas mãos o peito a arfar
Pulava o coração e teu olhar
Brilhava como brilha o sol de agosto *
Enorme o nosso amor, origem mosto
De uvas que pisadas no lagar
Deitavam uma seiva que ao brotar
Que bem sabia ! Lembro ainda o gosto *
Ao longe vai o barco que te leva
E para que essa seiva ainda beba
Eu tento apanhá-lo onda a onda *
E vai-se pondo o sol e acaba o dia
Que venha a noite, fico de vigia
Enquanto ali à volta o barco ronda *
Custódio Montes 10.11.2021
*** 2. *
"Enquanto ali à volta o barco ronda"
A ilusão de um rasto de sereia,
Sobe o gajeiro ao mastro e avista areia
Por trás da branca espuma além da onda *
Grita então: Terra à vista!, enquanto sonda
O ansiado horizonte de uma ideia,
Porque areia não há, nem terra alheia,
Tão só vira a sereia em sua monda *
Colhendo o vivo visco dos sargaços
Que sorrindo aconchega nos seus braços
Como se filhos dela e do seu mar... *
E na gávea, de pé, fica o gajeiro,
Hora após hora, o dia todo inteiro,
Vigiando o que julga vislumbrar... *
Mª João Brito de Sousa
11.11.2021
***
3. *
“Vigiando o que julga vislumbrar”
Sem olhar para a praia onde estou
Meu grito de amor alto soou
E ele distraído sem olhar *
Eu vou fazer sinal para avisar
Da minha ansiedade. Espera vou
Por aqui esperar….ah já olhou
E vê-me claramente a acenar *
Mas não sabe o motivo, a razão
Da mágoa que me invade o coração
E vai e torna a vir sempre ao redor *
Gajeiro, olha ao longe, olha outra vez
Sou eu, apaixonado, não me vês ?
Atraca o barco e traz-me o meu amor *
Custódio Montes
11.11.2021
***
4. *
"Atraca o barco e traz-me o meu amor",
Pede a sereia com voz sedutora
E logo o bom gajeiro se enamora
Duma canção que o mar lhe quis compor *
Desce da gávea e ao leme se vai pôr
Pra, depois, dar aos remos que a demora
Muda cada segundo numa hora,
E a cada hora cresce o tal clamor *
Vindo do grande atol onde a sereia,
Serena e branca à luz da lua cheia,
Canta para o sargaço adormecido... *
Vai, humano gajeiro, ter com ela,
Mas tem muito cuidado, que ela é bela,
Mas se te lança às ondas `stás perdido! *
Mª João Brito de Sousa
11.11.2021 - 16.25h
***
5. *
“Mas se te lança às ondas `stás perdido”
Que importa se eu andar nos braços dela
Apenas um segundo …é tão bela
Que sinto logo o amor correspondido *
E eu não sou gajeiro já vencido
E sei bem manobrar a caravela
Afago a sereia e junto a ela
Navego rumo à praia dirigido *
Então bem vejo ao longe aquela ânsia
Do pobre apaixonado que à distância
Anseia por rever sua paixão *
Em frente caravela a navegar
Sereia não me venhas afundar
Para salvar aquele coração! *
Custódio Montes
10.11.2021 ***
6. *
"Para salvar aquele coração"
Que me importa arriscar a própria vida?
- Naufragarás!, responde decidida
A voz que antes cantava uma canção. *
Mas o gajeiro, surdo de paixão,
Não escuta essa ameaça mal contida
E ouve ainda a canção que fora ouvida
Antes de ser lançada a maldição... *
Já se aproxima a barca do atol,
Já o dia rompeu, já brilha o sol
Sobre o vulto da ninfa dos sargaços *
E o pobre do gajeiro enfeitiçado
Saltando borda fora faz a nado
Os metros que o separam dos seus braços. *
Mª João Brito de Sousa
10.11.2021 - 20.00h ***
7. *
“Os metros que o separam dos seus braços”
Gajeiro não vás, pára, volta atrás
Tu podes, anda lá, tu és capaz
Se fores vais passar por embaraços *
E também vais quebrar os fortes laços
Que me interligam já desde rapaz
Ao grande amor que o barco dentro traz
E para o ter passei grandes cansaços *
Não deixes esse barco à deriva
Deixa lá a sereia apelativa
E foge dela foge ao seu enredo *
E regressa ao comando do navio
Vira-te para trás em rodopio
Protege o meu amor tão belo e ledo *
Custódio Montes
10.11.2021
* 8. *
"Protege o meu amor tão belo e ledo"
Da Barca lhe suplica a sua amada
Que chora e se debruça da amurada
Por seu gajeiro perdida de medo... *
Ouve-a o gajeiro e trepa a um rochedo
Para vê-la melhor, mas não vê nada;
Ao longe, a voz da ninfa ecoa irada
Que o pobre é para ela outro brinquedo *
E não o quer perder para a mortal
Que assim derrama um sal que é do seu sal
E tanto implora a volta do gajeiro... *
Vem ter comigo - diz- serás um rei!
- Que sei eu, bela ninfa? Eu nada sei
Se não que amo a mulher que amei primeiro! *
Mª João Brito de Sousa
10.11.2021 - 22.00h
*** 9. *
“Se não que amo a mulher que amei primeiro” Tu que queres de mim, algum traidor ? Que vai abandonar o seu amor Para deixar de ser um timoneiro? *
Conduzo a barca, levo-a ao roteiro Fui eu o escolhido, o condutor Por ter tanto empenho no labor E queres tu que eu seja traiçoeiro? *
Não deixo a minha barca noite e dia Sou o seu timoneiro, o seu guia E tenho que a levar direita ao cais *
Vai dentro dela a prenda, a rosa, a flor Que tem à sua espera um grande amor E eu conduzo a barca sou arrais *
Custódio Montes
11.11.2021 ***
10. *
"E eu conduzo a barca sou arrais",
Verás que te resisto, ó feiticeira,
E volto para a minha companheira;
Depois de ouvi-la, não me tentas mais! *
Que seja a minha Barca eterno cais
E seja a minha amada eterna obreira
De um cais que me preencha a vida inteira
Não de beijos fictícios, mas reais... *
Portanto, bela ninfa dos sargaços,
Renegarei teus beijos, teus abraços
E até o teu castigo ignorarei! *
Volto prá minha humilde e velha Barca,
Prà minha amada de amor`s nada parca;
Teu brinquedo, sereia, não serei! *
Mª João Brito de Sousa
11.11.2021 - 10.00h ***
11. *
“Teu brinquedo, sereia, não serei”
Que o que queres, bem sei, é enganar
Simulas um amor de muito amar
Que quem tu és, sereia, bem eu sei *
Por este mar já muito naveguei
E tenho visto coisas de pasmar
É gente nos teus braços a gritar
Que todos sabem disso, toda a grei *
Por isso vai ao largo, onde cantas
Que vou seguir viagem, não me encantas
Bem sei o que me queres vai embora *
Bem vejo junto à praia quem espera
Por este amor há muito e desespera
Adeus que vou levar-lho mesmo agora *
Custódio Montes
11.11.2021 ***
12. *
"Adeus que vou levar-lho mesmo agora",
Te juro que jamais me impedirás
De renegar-te e de voltar pra trás,
Prós braços da mortal que por mim chora! *
Amor assim fruído, hora após hora,
É um amor que já ninguém desfaz...
De resistir-te julgas-me incapaz,
Mas sei que nunca amaste, ó impostora! *
Podes tentar-me tanto quanto entendas,
Podes cobrir-te de jóias e rendas
E prometer-me impérios que não quero! *
Prá Barca em que me aguarda a minha amada,
Vou nadando, braçada após braçada,
Que um Amor verdadeiro é quanto espero! *
Mª João Brito de Sousa
11.11.2021 - 13.35h
***
13. *
“Um verdadeiro amor é quanto espero”
E vou já refrescar na fresca aragem
Ao leme que oriento na viagem
Sou eu que escolho o rumo que bem quero *
Não sigo já, vou ser muito sincero,
Ainda vou levar ali à margem
O doce amor que espera aquele pagem
Que acena com vigor e desespero *
Está sempre a olhar e de vigia
De noite, sem dormir dia após dia
À chuva, ao vento, ao frio, ao calor *
O barco já lá vem em direcção
À praia e traz lá dentro o coração,
Que tive e volto a ter, do meu amor *
Custódio Montes
11.11.2021 ***
14. *
"Que tive e volto a ter, do meu amor"
Carinhos tantos e tão verdadeiros
Que nunca esses teus olhos feiticeiros
Poderão igualar em seu fulgor *
Rói-te de inveja, engasga-te em furor,
Invoca os teus trovões e aguaceiros,
Recorre aos grandes deuses, teus parceiros,
Que, de mim, não terás qualquer favor! *
Adeus, ó criadora de ilusões
Que de vigia ao mar das aflições
Tão poderosa és nesse alto posto, *
Não ficarei jamais sob o comando
Da beleza ilusória que vi quando
"Naquele fim de tarde olhei teu rosto"! *
Mª João Brito de Sousa
11.11.2021 - 16.45h
***
publicado às 09:17
Maria João Brito de Sousa
Queira ter a bondade de carregar no interruptor
publicado às 10:19
Maria João Brito de Sousa
SORTE DE BARCA *
Um Naufrágio
Com
Princípio, Meio e Fim *
São teus mastros arvoredos
E teus tripulantes são
A negação dos seus medos
E dos meus, embarcação. *
Os mistérios e segredos
Que guardas no teu porão
Escondem temíveis rochedos,
Só no fim se mostrarão... *
Quando as vagas, à traição,
Se agigantam de paixão
Ou de fúria, seus degredos *
São a tua maldição...
Naufragarás, Barca, então,
No mar que trago nos dedos? *
Mª João Brito de Sousa
31.10.2021 -12.30h
publicado às 09:54