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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
22
Nov21

"VEREDAS"

Maria João Brito de Sousa

Eu trepando a uma árvore.jpeg

VEREDAS

 


I
*

Lembro as veredas das matas

Que explorei nos tempos idos;

Nessas florestas pacatas

Sem ribeiras, nem cascatas,

Vi crescer os meus sentidos
*
II
*

Trepei e andei de gatas,

Rasguei calções e vestidos

Em imitações baratas

Dos heróis, nas casamatas,

E nas v`redas, dos bandidos...
*


Mª João Brito de Sousa

20.11.2021 - 20.20h

 

*

Poema em duas quintilhas criado para um rubrica do Horizontes da Poesia.

20
Nov21

FAZ FRIO

Maria João Brito de Sousa

clima-polar-406443997.jpg

FAZ FRIO
*

"Mas noto que este frio continua"

Embora os cravos vão brotando ainda

À luz do sol, no chão de cada rua

E à luz da lua, num mar que não finda.
*


Qualquer rio sente frio quando se estua

E qualquer foz aqui será bem vinda.

Faz frio. Um fio de prata, como a lua,

Conduz a luz com que essa foz nos brinda
*


Há outro frio cortante, cru, palpável,

Um frio que é realmente insuportável

E nos congela a carne e a morada
*


Quando o Inverno bate às nossas portas

Mal o Outono, o tal das folhas mortas,

Retira e deixa a porta escancarada.
*

 

Mª João Brito de Sousa

20.11.2021 - 10.15h
*

*
Soneto criado a partir do último verso do soneto ESTE FRIO de Joaquim Sustelo

 

 

 

19
Nov21

NÓS

Maria João Brito de Sousa

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NÓ(S)
*

 

Fascina-me este sol... e não sou planta,

Seduz-me o mar imenso, e não sou peixe...

Do sol, colho o calor de cada feixe,

Do mar, a força, quando se agiganta
*

 

Facilmente me rendo ao que me espanta

E não há desamor de que me queixe

Ainda que este enleio doa e deixe

Um nó que se me enreda na garganta...
*


Tantos enredos já desenredei

Quantos os nós dos quais fui desistindo...

Muitos foram os nós que confrontei
*

 

Mas um houve que sempre foi bem-vindo,

Que me enleou por dentro e que aceitei;

Um que é tão meu, tão eu, que o não deslindo.
*


Mª João Brito de Sousa

19.11.2021 - 13.15

18
Nov21

SERÁ QUE POSSO?

Maria João Brito de Sousa

MENINA EM MONOCROMIA VERDE - MJBS.jpg

SERÁ QUE POSSO?
*


"Onde apenas coubesse amor sem dor"

Também eu, se pudesse, engendraria

Um mundo tão gentil quanto uma flor

Depois de erradicada a tirania
*


Um mundo que exalasse o suave odor

Da corola na qual floresceria,

Se ninguém o esmagasse e, sem temor,

Na flor vissem bem mais que uma utopia...
*


Ah, pudesse eu criar um mundo assim,

Onde o meu eu coubesse além de mim;

Todos dif`rentes e todos iguais...
*

 

Será que posso e que apesar de tudo

É dizendo que não que a mim me iludo

E que é crendo que sim que eu posso mais?
*

 

Mª João Brito de Sousa

17.11.2021 - 15.10h
*

Nota - Soneto criado a partir do verso inicial do soneto SE EU PUDESSE I , de MEA (Maria Encarnação Alexandre)

16
Nov21

COISAS QUE NÃO SEI SE OS OUTROS SABEM- Mª João Brito de Sousa e Custódio Montes

Maria João Brito de Sousa

L`IMPORTANT C´EST LA ROSE.jpeg

COISAS

QUE NÃO SEI

SE OS OUTROS SABEM

*
Coroa de Sonetos
*

Mª João Brito de Sousa e Custódio Montes
*

1.
*

Com pedras, pedra a pedra (re)construo

O que à pedrada fora destroçado

E mantenho um passeio calcetado

Que posso utilizar, de que usufruo
*


Quando falta uma pedra, então recuo

E preencho o vazio que foi deixado

Ou dou pelo buraco e passo ao lado;

Se não reponho, também não destruo...
*


De pedras aqui falo... ou talvez não,

Que como as pedras muitas coisas são

Capazes de caber onde elas cabem
*

Porque se em vez de pedra usar ideias

Mais lacunas preencho... e ficam cheias

De coisas que eu não sei se os outros sabem.
*


Mª João Brito de Sousa

14.11.2021 - 08.40h
***

2.
*

“De coisas que eu não sei se os outros sabem”

Que a ideia passeia sem se ver

Quem a tem vê então onde a meter

Em espaço onde outras também cabem
*


Ideias que prosseguem sem que acabem

E sem alguém ao lado perceber

Aquilo que a mente anda a tecer

E sempre a prosseguir sem que a travem
*

Por fim pode surgir um resultado

Ou se se não quiser ser ocultado

Enquanto o fim da obra se planeia
*

Um compasso de espera, um novo lance

Para que o edifício avance

Enquanto o construtor molda a ideia
*

Custódio Montes

15.11.2021
***

3.
*

"Enquanto o construtor molda a ideia"

Pode uma Musa ser inoculada

E ficar tão dorida, tão magoada

Que não acerte nem uma colcheia...
*


Assim está minha Musa; febril, feia,

A tiritar de frio, toda engelhada,

Com os braços inchados da picada

E surda da batida que a norteia...
*


São coisas que bem sei que não sabia

E a pobre Musa nunca o glosaria

Se eu não teimasse tanto ou mais do que ela
*


Só lhe peço que vá bem devagar,

De forma a que eu consiga acompanhar

Os passos que deviam ser só dela...
*


Mª João Brito de Sousa

15.11.2021 - 11.15h
***

4.
*

“Os passos que deviam ser só dela”

Mas a musa não anda assim sozinha

Abre a janela e acena à vizinha

E depois fala e entende-se com ela
*


Puxa uma palavra e outra mais bela

Então abre o poema que acarinha

E uma e outra seguem a mesma linha

E pintam em conjunto a mesma tela
*


Beleza não tem pressa, devagar

Devagar e sem pressa de chegar

Desde o nascer do sol ao sol poente
*

Com sombras e paisagens deslumbrantes

A musa reconforta os dois amantes

E ao vate dá fulgor mesmo doente
*

Custódio Montes

15.11.2021
*

5.
*

"E ao vate dá fulgor mesmo doente"

A menos que ao senti-lo menos bem,

Se farte das doenças que ele tem

E se retire, irada e prepotente...
*


Tenho uma Musa louca, incoerente,

Que só faz o que a ela lhe convém,

Que num momento vai, no outro vem,

E tudo cala quando o não consente...
*


Por vezes, de candeias às avessas,

Andamos nós as duas quanto às pressas

Em que ambas nos lançamos, quando eu posso
*


Ma se me encontra um pouco enferrujada,

Vai-se de mim, não quer fazer mais nada;

Talvez queira que eu seja algum colosso...
*


Mª João Brito de Sousa

15.11.2021 - 13.50h
***
6.
*

“Talvez queira que eu seja algum colosso….”

Não, o que ela quer é brincar consigo

É nisso que se vê um bom amigo

Que quer e diz à gente: eu já não posso
*


E cada vez nos pede mais esforço

Para ver uma flor por entre o trigo

E só nos dá vantagem, não castigo

E o nosso poetar ganha reforço
*


Consigo ela é maravilhosa

Cada poema seu é como a rosa

Que enfeita o seu jardim com poesia
*


Não diga mal da musa que é tão bela

Que o poderio seu junto ao dela

Só nos trará vantagem e alegria !
*

Custódio Montes

15.11.2021
***

7.
*

"Só nos trará vantagem e alegria"

E eu bem o sei que ainda refile

Estou sempre à espera do que ela me instile

De inspiração e até de rebeldia :)
*


Somos inseparáveis. Noite e dia,

Partilhamos, num corpo, um só perfil;

Amparo-a sempre que caia ou vacile,

E ela afugenta a minha cobardia...
*


Mas discutimos muito e não é raro

Que ela censure um verso menos claro,

Ou me mude uma rima menos boa.
*


Fico possessa, mas revendo tudo,

Vejo que tem razão e eu própria os mudo;

Xô, verso "caro", vai-te ó rima à toa!
*


Mª João Brito de Sousa

15.11.2021 - 15.40h
***

8.
*

“Xô, verso “caro”, vai-te ó rima à toa”

Mas bem lhe vai, amiga, bem lhe vai

Que dessa forma em erro nunca cai

Que tem consigo a musa e alto voa
*


E cantos bem sublimes nos entoa

Com a egrégia voz que nunca a trai

Na linda melopeia que lhe sai

E que aos nossos ouvidos tão bem soa !
*

Deixe a musa falar, não seja má

Que pelos vistos é tu cá tu lá

E ela também tem as suas luas
*

Ouça-a bem e escute-a por favor

Que eu bem sei que lhe tem um grande amor

E luas cada um lá tem as suas
*


Custódio Montes

15.11.2021
***

9.
*

"E luas cada um tem lá as suas",

E tem toda a razão, poeta amigo,

Embora a Musa se zangue comigo

E às vezes me insulte e lance puas
*


Porque num corpo só cabemos duas...

Posso zangar-me, mas nunca a castigo

E ela chega a pôr-me o corpo em p`rigo

Quando enfrenta mostrengos de mãos nuas...
*


Eu, que sempre a escutei atentamente,

Já não sei qual é Musa e qual é gente,

Nem consigo aceitar que ela me ralhe
*


Se me falham os olhos, se no peito

Meu pobre coração não pulsa ao jeito

Que "sua alteza" ordena que não falhe...
*

 

Mª João Brito de Sousa

15.11.2021 - 17.30h

***

10.
*

“Que “sua alteza” ordena que não falhe”

Mas diga-lhe “oh musa tem juízo”

Porque desse conselho não preciso

E não gosto também de quem me ralhe
*

E se insistir impante nela malhe

Dizendo que lhe causa prejuízo

E faça-lhe mais um ou outro aviso

Para que ela não a atrapalhe
*

 

Já sei vai desculpá-la, gosta dela

Está à sua beira sempre à vela

E não a quer por certo magoar
*

Faça orelhas moucas, vá em frente

E seja mais um pouco paciente

Este conselho dou: deixe-a falar

*
Custódio Montes

15.11.2021
***

11.
*

"Este conselho dou: deixe-a falar",

E é isso exactamente o que farei;

Se longe dela, pouco ou nada sei,

E ela longe de mim não pode estar,
*


Por isso, assim que a Musa refilar

Porquanto em qualquer coisa lhe falhei,

Em vez de me calar, como calei,

Serei eu quem a manda, então, calar
*


Reconheço, contudo, o seu valor,

Sei que ela me vai dando o seu melhor,

Tal como o meu melhor sempre lhe dou...
*


Um pouco de paciência, Musa minha;

Esta "embalagem" pode estar velhinha,

Mas nunca, em caso algum, te abandonou.
*


Mª João Brito de Sousa

15.11.2021 - 21.00h
***

12.
*

 

“Mas nunca, em caso algum, te abandonou”

E sou junto de ti a grande amiga

Que depressa nos passa qualquer briga

Que por nós algum dia se passou
*


Nunca estive zangada nem estou

Sorri lá para mim, oh rapariga

Senão jamais ó musa alguém me liga

E dizem que o poema em mim parou
*


Convença-a de maneira que ela entenda

E que aos seus argumentos se lhe renda

Porque sem musa o vate passa mal
*

Falta-lhe o jeito, falta a inspiração

E também não lhe afoita o coração

Para se ser poeta especial
*

Custódio Montes

15.11.2021
***

13.
*

"Para se ser poeta especial"

É necessário um pouco de loucura,

Alguma irreverência e, de ternura,

Uma imensa montanha. Essencial!
*

Fazer do verso o prato principal,

Não nos trará riquezas, nem fartura,

Tão só nos traz a consciência pura,

Do que em nós é profundo e visceral...
*


Das coisas que não sei, mas que procuro,

Ergo agora uma ponte em vez de um muro

Com pedras que sobraram da calçada...
*


Vamos cruzando a ponte. Mais uns passos

E os seus versos terminam dando abraços

Aos meus, que vão na sua peugada.
*


Mª João Brito de Sousa

15.11.2021 - 22.40h
***

14.
*

“Aos meus, que vão na sua peugada”

Andando com cuidado devagar

Pelo caminho em frente e a pensar

Na forma de tecer sua meada
*


Pela rua a pensar na minha amada

Que passo a passo dei para a amar

E lembro cada pedra, ao andar

Que de amor afaguei nessa jornada
*


Pedras aqui são rosas ao redor

Da rua onde andei com meu amor

Que agora ao passar vejo e recuo
*


Na muralha do tempo que revi

Lembro cada degrau que construí

“Com pedras, pedra a pedra (re)construo”
*


Custódio Montes

16.11.2021

 

 

 

 

 

 

 

14
Nov21

COISAS QUE NÃO SEI SE OS OUTROS SABEM

Maria João Brito de Sousa

SINFONIA SOL LUA COM REMENDO VERDE.jpeg

COISAS

QUE NÃO SEI

SE OS OUTROS SABEM
*


Com pedras, pedra a pedra (re)construo

O que à pedrada fora destroçado

E mantenho um passeio calcetado

Que posso utilizar, de que usufruo
*


Quando falta uma pedra, então recuo

E preencho o vazio que foi deixado

Ou dou pelo buraco e passo ao lado;

Se não reponho, também não destruo...
*


De pedras aqui falo... ou talvez não,

Que como as pedras muitas coisas são

Capazes de caber onde elas cabem
*

 

Porque se em vez de pedra usar ideias

Mais lacunas preencho... e ficam cheias

De coisas que eu não sei se os outros sabem.
*


Mª João Brito de Sousa

14.11.2021 - 08.40h

 

 

12
Nov21

DE VIGIA - Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa

Maria João Brito de Sousa

de vigia.jpeg

Imagem retirada daqui

 

DE VIGIA
*
Coroa de Sonetos
*
Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa
***

1.
*

Naquele fim de tarde olhei teu rosto

As mãos nas tuas mãos o peito a arfar

Pulava o coração e teu olhar

Brilhava como brilha o sol de agosto
*


Enorme o nosso amor, origem mosto

De uvas que pisadas no lagar

Deitavam uma seiva que ao brotar

Que bem sabia ! Lembro ainda o gosto
*

Ao longe vai o barco que te leva

E para que essa seiva ainda beba

Eu tento apanhá-lo onda a onda
*


E vai-se pondo o sol e acaba o dia

Que venha a noite, fico de vigia

Enquanto ali à volta o barco ronda
*

Custódio Montes
10.11.2021

***
2.
*


"Enquanto ali à volta o barco ronda"

A ilusão de um rasto de sereia,

Sobe o gajeiro ao mastro e avista areia

Por trás da branca espuma além da onda
*


Grita então: Terra à vista!, enquanto sonda

O ansiado horizonte de uma ideia,

Porque areia não há, nem terra alheia,

Tão só vira a sereia em sua monda
*


Colhendo o vivo visco dos sargaços

Que sorrindo aconchega nos seus braços

Como se filhos dela e do seu mar...
*


E na gávea, de pé, fica o gajeiro,

Hora após hora, o dia todo inteiro,

Vigiando o que julga vislumbrar...
*


Mª João Brito de Sousa

11.11.2021

***

3.
*

“Vigiando o que julga vislumbrar”

Sem olhar para a praia onde estou

Meu grito de amor alto soou

E ele distraído sem olhar
*


Eu vou fazer sinal para avisar

Da minha ansiedade. Espera vou

Por aqui esperar….ah já olhou

E vê-me claramente a acenar
*

Mas não sabe o motivo, a razão

Da mágoa que me invade o coração

E vai e torna a vir sempre ao redor
*

Gajeiro, olha ao longe, olha outra vez

Sou eu, apaixonado, não me vês ?

Atraca o barco e traz-me o meu amor
*

Custódio Montes

11.11.2021


***

4.
*

"Atraca o barco e traz-me o meu amor",

Pede a sereia com voz sedutora

E logo o bom gajeiro se enamora

Duma canção que o mar lhe quis compor
*


Desce da gávea e ao leme se vai pôr

Pra, depois, dar aos remos que a demora

Muda cada segundo numa hora,

E a cada hora cresce o tal clamor
*


Vindo do grande atol onde a sereia,

Serena e branca à luz da lua cheia,

Canta para o sargaço adormecido...
*


Vai, humano gajeiro, ter com ela,

Mas tem muito cuidado, que ela é bela,

Mas se te lança às ondas `stás perdido!
*


Mª João Brito de Sousa

11.11.2021 - 16.25h

***

5.
*

“Mas se te lança às ondas `stás perdido”

Que importa se eu andar nos braços dela

Apenas um segundo …é tão bela

Que sinto logo o amor correspondido
*

E eu não sou gajeiro já vencido

E sei bem manobrar a caravela

Afago a sereia e junto a ela

Navego rumo à praia dirigido
*

Então bem vejo ao longe aquela ânsia

Do pobre apaixonado que à distância

Anseia por rever sua paixão
*

Em frente caravela a navegar

Sereia não me venhas afundar

Para salvar aquele coração!
*

Custódio Montes

10.11.2021
***

6.
*

"Para salvar aquele coração"

Que me importa arriscar a própria vida?

- Naufragarás!, responde decidida

A voz que antes cantava uma canção.
*


Mas o gajeiro, surdo de paixão,

Não escuta essa ameaça mal contida

E ouve ainda a canção que fora ouvida

Antes de ser lançada a maldição...
*


Já se aproxima a barca do atol,

Já o dia rompeu, já brilha o sol

Sobre o vulto da ninfa dos sargaços
*


E o pobre do gajeiro enfeitiçado

Saltando borda fora faz a nado

Os metros que o separam dos seus braços.
*


Mª João Brito de Sousa

10.11.2021 - 20.00h
***

7.
*

“Os metros que o separam dos seus braços”

Gajeiro não vás, pára, volta atrás

Tu podes, anda lá, tu és capaz

Se fores vais passar por embaraços
*


E também vais quebrar os fortes laços

Que me interligam já desde rapaz

Ao grande amor que o barco dentro traz

E para o ter passei grandes cansaços
*


Não deixes esse barco à deriva

Deixa lá a sereia apelativa

E foge dela foge ao seu enredo
*


E regressa ao comando do navio

Vira-te para trás em rodopio

Protege o meu amor tão belo e ledo
*

Custódio Montes

10.11.2021

*
8.
*

"Protege o meu amor tão belo e ledo"

Da Barca lhe suplica a sua amada

Que chora e se debruça da amurada

Por seu gajeiro perdida de medo...
*


Ouve-a o gajeiro e trepa a um rochedo

Para vê-la melhor, mas não vê nada;

Ao longe, a voz da ninfa ecoa irada

Que o pobre é para ela outro brinquedo
*


E não o quer perder para a mortal

Que assim derrama um sal que é do seu sal

E tanto implora a volta do gajeiro...
*


Vem ter comigo - diz- serás um rei!

- Que sei eu, bela ninfa? Eu nada sei

Se não que amo a mulher que amei primeiro!
*


Mª João Brito de Sousa

10.11.2021 - 22.00h

***
9.
*

“Se não que amo a mulher que amei primeiro”
Tu que queres de mim, algum traidor ?
Que vai abandonar o seu amor
Para deixar de ser um timoneiro?
*

Conduzo a barca, levo-a ao roteiro
Fui eu o escolhido, o condutor
Por ter tanto empenho no labor
E queres tu que eu seja traiçoeiro?
*

Não deixo a minha barca noite e dia
Sou o seu timoneiro, o seu guia
E tenho que a levar direita ao cais
*

Vai dentro dela a prenda, a rosa, a flor
Que tem à sua espera um grande amor
E eu conduzo a barca sou arrais
*

Custódio Montes

11.11.2021
***

10.
*

"E eu conduzo a barca sou arrais",

Verás que te resisto, ó feiticeira,

E volto para a minha companheira;

Depois de ouvi-la, não me tentas mais!
*


Que seja a minha Barca eterno cais

E seja a minha amada eterna obreira

De um cais que me preencha a vida inteira

Não de beijos fictícios, mas reais...
*


Portanto, bela ninfa dos sargaços,

Renegarei teus beijos, teus abraços

E até o teu castigo ignorarei!
*


Volto prá minha humilde e velha Barca,

Prà minha amada de amor`s nada parca;

Teu brinquedo, sereia, não serei!
*


Mª João Brito de Sousa

11.11.2021 - 10.00h
***

11.
*

“Teu brinquedo, sereia, não serei”

Que o que queres, bem sei, é enganar

Simulas um amor de muito amar

Que quem tu és, sereia, bem eu sei
*


Por este mar já muito naveguei

E tenho visto coisas de pasmar

É gente nos teus braços a gritar

Que todos sabem disso, toda a grei
*


Por isso vai ao largo, onde cantas

Que vou seguir viagem, não me encantas

Bem sei o que me queres vai embora
*


Bem vejo junto à praia quem espera

Por este amor há muito e desespera

Adeus que vou levar-lho mesmo agora
*


Custódio Montes

11.11.2021
***

 

12.
*

"Adeus que vou levar-lho mesmo agora",

Te juro que jamais me impedirás

De renegar-te e de voltar pra trás,

Prós braços da mortal que por mim chora!
*


Amor assim fruído, hora após hora,

É um amor que já ninguém desfaz...

De resistir-te julgas-me incapaz,

Mas sei que nunca amaste, ó impostora!
*


Podes tentar-me tanto quanto entendas,

Podes cobrir-te de jóias e rendas

E prometer-me impérios que não quero!
*


Prá Barca em que me aguarda a minha amada,

Vou nadando, braçada após braçada,

Que um Amor verdadeiro é quanto espero!
*


Mª João Brito de Sousa

11.11.2021 - 13.35h

***

 

13.
*

“Um verdadeiro amor é quanto espero”

E vou já refrescar na fresca aragem

Ao leme que oriento na viagem

Sou eu que escolho o rumo que bem quero
*


Não sigo já, vou ser muito sincero,

Ainda vou levar ali à margem

O doce amor que espera aquele pagem

Que acena com vigor e desespero
*


Está sempre a olhar e de vigia

De noite, sem dormir dia após dia

À chuva, ao vento, ao frio, ao calor
*


O barco já lá vem em direcção

À praia e traz lá dentro o coração,

Que tive e volto a ter, do meu amor
*

Custódio Montes

11.11.2021
***

14.
*

"Que tive e volto a ter, do meu amor"

Carinhos tantos e tão verdadeiros

Que nunca esses teus olhos feiticeiros

Poderão igualar em seu fulgor
*


Rói-te de inveja, engasga-te em furor,

Invoca os teus trovões e aguaceiros,

Recorre aos grandes deuses, teus parceiros,

Que, de mim, não terás qualquer favor!
*


Adeus, ó criadora de ilusões

Que de vigia ao mar das aflições

Tão poderosa és nesse alto posto,
*


Não ficarei jamais sob o comando

Da beleza ilusória que vi quando

"Naquele fim de tarde olhei teu rosto"!
*

 


Mª João Brito de Sousa

11.11.2021 - 16.45h

***

 

 

10
Nov21

SORTE DE BARCA

Maria João Brito de Sousa

ESCORÇO -2007.jpeg

 

SORTE DE BARCA
*

Um Naufrágio

Com

Princípio, Meio e Fim
*


São teus mastros arvoredos

E teus tripulantes são

A negação dos seus medos

E dos meus, embarcação.
*


Os mistérios e segredos

Que guardas no teu porão

Escondem temíveis rochedos,

Só no fim se mostrarão...
*


Quando as vagas, à traição,

Se agigantam de paixão

Ou de fúria, seus degredos
*


São a tua maldição...

Naufragarás, Barca, então,

No mar que trago nos dedos?
*


Mª João Brito de Sousa

31.10.2021 -12.30h

 

 

 

 

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