Maria João Brito de Sousa
"Euterpe" por Fernando Rubio Monroy
REBELDIA * Ao Soneto *
Desperta, a Rebeldia, e rumoreja
Trôpega ainda, ainda indecisão,
Mas é vê-la fincar os pés no chão
E erguer a voz à nuvem que troveja! *
Traz, o Soneto, garra que sobeja
Pr`afugentar más línguas e traição
Contra a paixão que o move. E tem razão,
Porquanto, não a tendo, mal gagueja... *
Ah, se a fragilidade o torna forte,
Que haste/ponteiro irá mostrar-lhe o Norte
No insustentável mapa do futuro? *
E quão audaz será no seu suporte
Se, solfejando, desafia a sorte
De, em quatro estrofes, derrubar um muro? *
Maria João Brito de Sousa - 11.10.2021 - 09.30h
publicado às 09:53
Maria João Brito de Sousa
RÉPLICA *
Replico-te. Há razões repercutindo,
Raízes a rumar em derredor,
Rituais que ressurgem... são um ror
Rompendo as telas de onde vão surgindo. *
Rói-me o bichinho do verso assumindo
Risos e choros, dando o seu melhor...
Rebento se calar que o sei de cor,
Renasço se gritar qu`ele é bem-vindo. *
Rio-me de ameaças e promessas,
Rejo-me por princípio(s), meio e fim,
Reciclo-me em poemas que são peças, *
Reinvento-me em remendos. Sou assim;
Retribuo, se posso, o que começas,
Reincido se entender não ser pra mim... *
Maria João Brito de Sousa - 10.19.2021 - 11.00h *
Soneto inspirado no poema "Poema em R" de Joaquim Sustelo.
publicado às 11:37
Maria João Brito de Sousa
Verifique aqui , por favor.
publicado às 17:33
Maria João Brito de Sousa
Imagem retirada daqui
AS VELHAS DE AGORA *
Moldamos os sonhos que vamos sonhando,
Sopramos as brasas que vão esmorecendo
Na lareira morna, quase arrefecendo,
Do que antes foi fogo crescendo, queimando... *
Falamos das nuvens que passam voando
E do que alcançámos, remendo a remendo;
Memórias que a traça dos anos, roendo,
Pra nós foi aos poucos tecendo e bordando. *
As velhas de agora não morrem sentadas
Em salas sombrias. Talvez em esplanadas
Consigam que o Tempo se entenda com elas *
E que, por instantes, bebendo um café,
Esquecido de ser o tirano que é,
Se atreva a sorrir e a soltar-lhes as trelas... *
Maria João Brito de Sousa - 07.10.2021 - 19.00h
publicado às 19:28
Maria João Brito de Sousa
Imagem retirada daqui
*
GENES & MEMES *
Estão os memes prá cultura
(e prá comunicação...)
Como os genes pr`aventura
Da Vida em evolução. *
Como o gene, o meme é pura
Ânsia de replicação;
Um replica a criatura
E outro a sua criação... *
Qual deles o mais persistente,
Quem os pára ou lhes desmente
A escalada inevitável? *
Sendo agora conhecidos
Foram, desde tempos idos,
Os reis do Monte Improvável. *
Maria João Brito de Sousa - 06.10.2021 - 10.00h
*
publicado às 10:16
Maria João Brito de Sousa
ATÉ O SOL NASCER *
Avança, avança, ó barca dos embalos,
que já vislumbro ao longe o longo mastro
dum`outra barca imensa como um castro...
Aos longes, barca, jurei eu explorá-los! *
Coragem, barca, faz como os cavalos
que escapam dos seus corpos de alabastro;
Estátuas e sonhos nunca deixam rasto,
nem mesmo a rocha pode aprisioná-los! *
Éolo, vem torná-la mais veloz!
Tal como Leto se afastou de Kos,
assim a barca deverá romper *
As amarras que ao cais a têm presa!
(apaguei, a seguir, a Lua acesa
e adormeci até o Sol nascer) *
Maria João Brito de Sousa - 03.10.2021 - 16.30h
publicado às 10:04
Maria João Brito de Sousa
Leia aqui , por favor.
publicado às 10:19
Maria João Brito de Sousa
SONETO EM TRANSGRESSÃO RODOVIÁRIA *
Nunca fui condutora. Só conduzo
Palavras, quase sempre em contra-mão,
Nas apertadas curvas da paixão
Que não quero evitar, que não recuso. *
Não tendo "carta", cometo um abuso
Passível de uma coima ou detenção,
Mas não resisto a esta tentação
De meter "verbo-a-fundo" e de dar-lhe uso... *
Se o seu radar, contudo, registou
A minha assumidíssima imprudência,
Dir-lhe-ei como a coisa se passou; *
"Releve, senhor guarda, esta ocorrência!
Eu distraí-me, a Musa acelerou
E os pneus andavam falhos de aderência..." *
Maria João Brito de Sousa - 30.09.2021 - 15.37h
*
Ainda em diálogo com o poeta Custódio Montes.
publicado às 11:25
Maria João Brito de Sousa
SONETO QUINTO *
Canto sem voz, mas canto e cantarei
Enquanto o coração me for pulsando
Aos arrancos, embora, que vai estando
Cansado de ser louco... ou servo e rei? *
Não sabe que, afinal, eu nada sei
E que anda agora em pleno descomando,
Ora em louca corrida, ora parando
Pra contestar-me as ordens que não dei... *
Não fossem a vontade e a razão
Correrem a ampará-lo a toda a hora,
Teria desistido, o coração, *
De ir-me irrigando o corpo em que me mora;
Embriagou-se, o tonto, de paixão
Num corpo que rebenta... mas não chora! *
Maria João Brito de Sousa - 30.09.2021 - 11.00h *
Ainda na sequência de um outro soneto do poeta Custódio Montes.
publicado às 10:57
Maria João Brito de Sousa
O REPICAR DOS SINOS *
Às vezes, ao longe, nos dias mais claros,
Oiço esses teus sinos celebrando a vida,
Noutros, o silêncio dos dias avaros
Impõe-se à toada quase emudecida. *
Se um corpo atingido por estranhos disparos
Se curva dorido e lambe a sua f`rida,
Geme castigado, teme os desamparos,
Já nem escuta os sinos, procura é guarida... *
Assim acontece com musas, também;
Quando estão magoadas não ouvem ninguém,
Fecham-se em si próprias até, sei lá quando, *
Com harpas, com flautas ou com violinos,
Correrem pra nós. Repicam os sinos
Que abafam as mágoas que nos vão sobrando! *
Maria João Brito de Sousa - 20.09.2021 - 17.00h
*
Trabalho inspirado no soneto, também em verso hendecassilábico, "Tocarei os Sinos" da autoria de MEA
*
Imagem - Tela de Pablo Picasso
publicado às 09:24