Maria João Brito de Sousa
SONETO TERCEIRO *
Jovem não sou, nem Saudade é meu nome...
Tão pouco sou saudável ou formosa
Mas não resisto a uma boa glosa
E, ao meu poema, não há quem o dome *
Que esse me alenta a vida e ma consome
Numa contradição que me é preciosa
Embora mais pareça impiedosa
A algum olhar fugaz que aqui se assome... *
Quão mais cortante o fio desta navalha,
Mais destemida fico, a mais me atrevo;
Pode algum verso ter defeito ou falha, *
Posso ir muito mais longe do que devo
Mas, se tombar, que tombe na batalha
Deste meu temerário e louco enlevo! *
Maria João Brito de Sousa - 29.09.2021 -15.40h
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Poema inspirado em dois sonetos à SAUDADE da autoria de Custódio Montes.
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Imagem - Pormenor de uma cena do Musical "Cats"
publicado às 09:09
Maria João Brito de Sousa
BREVE ESBOÇO DE UM INCANSÁVEL LUTADOR *
Ainda que esboçado a traço fino,
Vejo nitidamente, ó lutador
Duma causa maior, muito maior
Do que a causa esbanjada ao desatino, *
O teu sorriso de velho menino
Isento de malícia e de rancor
E a tua resistência ao dissabor,
Que nem sempre foi manso o teu destino... *
A fino verso te desenho agora,
Realçando a coragem que em ti mora,
Se a tanto conseguir chegar meu gesto... *
Perdõem-me, tua Alma e teu Contrário,
Um esboço tão inábil quão sumário
De alguém tão produtivo, humano, honesto! *
Maria João Brito de Sousa - 29.09.2021 - 13.00h
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Para ti, camarada Rogério Pereira.
publicado às 14:08
Maria João Brito de Sousa
A DURAÇÃO DE UMA VIDA *
Alguns julgam-se doces como figos,
Outros crêem-se de aço ou de granito
E se um se exalta, se ergue e solta um grito,
Teme outro as represálias e castigos... *
Pra uns, os mais são portas sem postigos,
Fazedores de obras com segundo fito,
Inventores de venenos que nem cito
Pra servir de bandeja aos inimigos *
E todos somos, nesta ou noutra pele,
Nós sendo nós até que a morte sele
Esta nossa existência passageira *
Todos humanos, todos nós passando
Pla vida enquanto a vida for durando,
Que sempre dura a vida a vida inteira! *
Maria João Brito de Sousa - 28.09.2021 - 14.15h
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Tela de Paula Rego. Imagem retirada daqui
publicado às 14:50
Maria João Brito de Sousa
Confirme aqui , por favor.
publicado às 16:55
Maria João Brito de Sousa
SONETO ISENTO DE ANTI-DEPRESSIVOS *
Que bem "vendem" as "rimas chá-de-tília"...
Sou má comerciante, reconheço,
Porque os versos, pra mim, não têm preço
E não fazem "pendant" com a mobília, *
Nem me enlaçam nas noites de vigília
E sim nos dias claros... se os mereço...
Se exprimem quanto sinto, mais não peço;
Nunca a giesta aspirou a buganvília *
E os cactos não são menos imponentes
Do que as orquídeas frágeis, dependentes
Dos mil cuidados pagos por quem pode. *
Admiro as plantas bravas e espontâneas
Cujas raízes longas, subterrâneas,
Vão (de)compondo o húmus numa ode. *
Maria João Brito de Sousa - 24.09.2021 - 14.00h
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Imagem retirada daqui
publicado às 13:19
Maria João Brito de Sousa
PROCURA-SE *
Procura-se uma velha musa usada,
Rebelde, solitária, um pouco rude
Que vive de ilusões mas não se ilude
E se me evade sempre que agastada. *
Sem ela nada sou, não escrevo nada,
Não existe alma viva que me ajude
E não sei de pecado nem virtude
Que reacenda a chama ora apagada. *
Procuro a minha musa, essa evadida
Que se encontra escondida em parte incerta
Sabendo que sem ela estou perdida *
Por ela, fica a minha porta aberta
Enquanto se não fecha a minha vida
Sobre a aridez que agora a desconcerta. *
Maria João Brito de Sousa - 22.09.21 - 10.30h
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Imagem retirada daqui
publicado às 10:41
Maria João Brito de Sousa
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publicado às 10:59
Maria João Brito de Sousa
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publicado às 11:52
Maria João Brito de Sousa
RETORNO *
Nesta mesa de pinho onde o tampo encerado
É mapa remendado, esgaçado e já velhinho,
Quem encontra o caminho outrora caminhado
Ou o rasto deixado, assim, asinho, asinho? *
Reencontra-se o ninho ou passa-se-lhe ao lado?
Se o nó foi desatado ou arrancado um espinho,
Onde o espanto? O carinho? O suor derramado?
Onde o chão que é pisado e se abre em flor sozinho? *
Mas muito de mansinho, antes de o sol se pôr,
Vendo-lhe a nova a cor, renasce o espanto em mim!
Afinal é assim, tal qual se faz amor, *
Que o verbo redentor retorna ao seu jardim
Como a flor de alecrim que a qualquer outro odor
Excede em graça e vigor sempre que adia o fim. *
Maria João Brito de Sousa - 15.09.2021 *
(Soneto em verso alexandrino com rima interna/encadeada)
publicado às 12:28