Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores.
...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
A minha publicação de hoje vem do blog de um amigo, o Rogério Pereira que foi o autor do vídeo que aqui vos deixo e no qual poderão assistir aos melhores momentos do espectáculo de TEATRO DE RUA que, na manhã do passado Sábado, inundou de beleza as ruas do meu bairro... e os meus olhos de incontidas lágrimas de alegria.
Aqui fica, também, a minha imensa gratidão ao Rogério, à Associação de Moradores da Quinta das Palmeiras, à Associação "Desenhando Sonhos", à Associação de Reformados Pensionistas e Idosos da Freguesia de Oeiras e São Julião da Barra, ao Bairro da Medrosa e à Companhia de Teatro "Nova Morada";
A manhã do dia 26 do corrente mês de Junho foi, para mim e para muitos moradores deste bairro, uma manhã inolvidável!
Helena Fragoso, Maria João Brito de Sousa, Helena Teresa Ruas Reis e Lourdes Mourinho Henriques. ***
1. *
Sinto dentro de mim sempre latente
Tudo o que fui vivendo nesta estrada
Foram altos e baixos e silente
Foi toda essa minha caminhada... *
Fui rocha, fui pilar, também carente,
Fui a rosa bravia desprezada…
Fui o apoio real de muita gente…
Que nunca o viu assim...nunca viu nada… *
Serei talvez vulcão,serei semente,
Serei água que escorre lentamente,
Seguindo para a foz já bem cansada… *
Serei poesia viva que se sente
Desenhada na dor sempre presente…
De me sentir assim...Rosa enjeitada!!! *
Helena Fragoso ***
2. *
"De me sentir assim... Rosa enjeitada(!!!)"
Já estive também eu, em tempos idos,
Tão farta que mudei o rumo à estrada
E rumei por atalhos não escolhidos. *
Da vida pouco quis... um quase nada
Que garantisse à mente e aos sentidos
Alguma dignidade; a conquistada
Por trabalhos a custo conseguidos. *
Ou tenho muito azar... ou muita sorte;
Quatro vezes tentou levar-me a morte
E as mesmas quatro vezes lhe escapei. *
"Vaso ruim não quebra facilmente"...
Talvez eu seja vaso em vez de gente
Porque, até ao momento, não quebrei! *
Maria João Brito de Sousa - 19.06.2021 - 19.56h *
3. *
“Porque, até ao momento, não quebrei!"
Inda que ruim vaso possa ser,
Onde uma velha planta me tornei
Em vez de bela rosa e sem o qu’rer.
*
Também não desejei ser ‘special
Ter “fundos” ou ter “mundos” não almejo
E parecer, sem ser, é-me banal.
Apenas ir vivendo é meu desejo.
*
Na infância, desterrada de meus pais
Regresso ao lar… com ânsias demais,
Sarei longe de irmãos que sempre amei.
*
Adolescente fui. Depois, sem mãe,
Quis Deus me apaixonasse por alguém
E… mais vezes sozinha me encontrei.
*
Helena Teresa Ruas Reis - 19/06/2021 ***
4. *
“E… mais vezes sozinha me encontrei”,
Após longo caminho percorrido
Ao lado do amor que sempre amei
Quando a morte o levou: o meu marido. *
Sozinha, continuei o meu trilho
Sem nunca me sentir “Rosa Enjeitada”,
Mas eis que a vida me roubou um filho…
Fiquei então de vez amargurada. *
Sinto a vida virada do avesso
E às vezes, nem eu própria me conheço…
Eu, que sempre vivi intensamente. *
Sinto que sou uma sombra do passado,
Vivo de coração amargurado
Mas continuo p’la ‘strada… olhando em frente! *
Lourdes Mourinho Henriques *** 5.
*
"Mas continuo p’la ‘strada… olhando em frente(!)"
sem ter algum carinho, algum alento?
pensei até um dia de repente
que não teria fim esse tormento...
*
Um dia em que tudo isso se consente...
E foi exatamente no momento
em que a poesia em mim se tornou gente
fez-me ganhar um novo sentimento...
*
Com ela, consegui, mudei a mente,
e a ternura minha é a nascente
que deu à minha alma um novo alento...
*
Serei rosa enjeitada, aqui presente...
Mas no meu peito vive bem latente
O amor que tenho e espalho pelo vento....
*
Helena Fragoso ***
6. *
"O amor que tenho e espalho pelo vento"
É tão intenso quão peculiar;
Pode abarcar milénios num momento,
Ou pode num só sopro terminar... *
Por vezes manso, noutras turbulento
E sem qualquer tendência pr`abrandar,
Faz o que quer sem ter consentimento
E nem eu mesma o posso comandar. *
É rebelde, mas lúcido e clemente,
Pode às vezes calar-se, mas não mente
E sabe-se imperfeito, porque humano. *
Rosa selvagem, sou, mas... enjeitada?
Fosse eu burguesa, fútil e enfeitada...
Mas fútil nunca fui, não vos engano! *
Maria João Brito de Sousa - 20.06.2021 - 20.26h *
7. *
“Mas fútil nunca fui, não vos engano!”
Tudo o que faço, creio, é necessário,
Aceito paciente, “mano a mano”,
O qu’ outros acharão ser perdulário.
*
Assim, que sou levada à exaustão
De achar que faço mais do que prometo,
Mas se me encontro assim em negação
É por não medir bem no que me meto…
*
Receio que eu me torne uma enjeitada,
Já muito gasta, triste, amargurada,
E só a mim dever tais conclusões.
*
“Mas hei-de virar flor, rosa serei,
E com zelo e vigor me cuidarei!”
Estou pensando já “com meus botões”. *
Helena Teresa Ruas Reis - 20/06/2021 - 23:49h ***
8. *
“Estou pensando já “com meus botões”
Que a vida nunca é como sonhamos,
Há que agarrar bem as ocasiões,
Os momentos que às vezes desprezamos. *
Viver é um vendaval de emoções,
Nem sempre sabemos como lidar,
Por vezes renegamos sensações
E fechamos a porta ao verbo Amar. *
Hoje, resiliente, vou lutando,
Mesmo que às vezes triste e chorando
Continuo a seguir p’la minha estrada. *
Sou uma rosa selvagem, com espinho,
Quando um dia picar o meu destino
Aí… serei então “Rosa Enjeitada”. *
Lourdes Mourinho Henriques *** 9. *
Aí… serei então “Rosa Enjeitada”. mas mesmo assim irei saber quem sou aquela que sofreu e que magoada, na vida não vergou, sempre lutou... *
Andei, sim, com a tristeza de mão dada, e nesta solidão a que me dou... ainda sigo a vida, sigo a estrada. sabendo de onde vim e onde vou... *
e nesta vida minha desenhada apesar de já estar muito cansada ainda sou eu mesma, sei quem sou... *
Sou a que terá sido mal amada a que hoje talvez já não tenha nada, a quem só a saudade lhe restou... *
Helena Fragoso ***
10. * "A quem só a saudade lhe restou(...)"
Irei pedir que, em si, procure bem
Já que garanto que bem mais ficou;
Esqueceu, talvez, o tanto qu`inda tem, *
Mas repare na força que a sustém
E nos mais belos versos que criou,
Tão suaves que os não cria mais ninguém,
Mais doces do que o mel que alguém sonhou... *
Muitos serão plo mundo mal amados,
Os sedentos de amor, os desprezados
E os que vão maldizendo a própria vida, *
Mas muito poucos são abençoados
Com os talentos que trazes guardados
Dentro do peito, companheira querida! *
Maria João Brito de Sousa -21.06.2021 - 22.19h
*** 11. *
“Dentro do peito, companheira querida,”
Mal sabe o coração como resiste
A tanta pouca sorte nessa vida
Que teima em te deixar ainda triste.
*
Não sonhes poder ter vida mais bela,
Não penses outra forma de lutar.
Nem há realidade mais singela
Que seres sempre o que és e te aceitar,
*
Conforta-me a poesia que em ti leio,
Aquela com que arrancas do teu seio
Palavras de doçura dolorosa.
*
Ah, vem querida amiga, a este pasto
E lança-me a esperança por arrasto,
Pois não és “enjeitada” mas só rosa! *
Helena Teresa Ruas Reis - 21/06/2021 - 23,25h ***
12.
* “Pois não és “enjeitada”, mas só Rosa”
Que espalhas p‘lo jardim o teu perfume,
Deixando tua poesia mimosa
Seja em versos de amor ou de ciúme. *
Jamais serás assim “Rosa enjeitada”
Teus versos ficarão p’ra te lembrar,
E um dia, ao partires, deixas legada
Poesia, que outros irão desfrutar. *
Não te sintas assim, amiga querida,
És uma “Rosa Linda”, não vencida,
Continua teu caminho olhando em frente! *
Este é o nosso caminho da verdade…
Não podemos fugir, e uma saudade
Invade a minha alma eternamente. *
Lourdes Mourinho Henriques ***
13. *
"Invade a minha alma eternamente..." Invade este meu ser, mas com magia... A força de escrever e ser presente A força que me vem da poesia *
Serei Rosa Enjeitada, mas valente, nas lutas que ainda travo dia a dia... Mesmo quando o amor se faz ausente.. Mesmo quando eu vivo o que não queria... *
E tudo o que vivi está tão latente Embora em tom menor, e bem silente... Às vezes nem sei bem o que faria... *
Se a Poesia em mim estivesse ausente, se não brotasse assim esta nascente que vibra na minh' alma, esta alquimia... *
Helena Fragoso ***
14. *
"Que vibra na minh`alma, esta alquimia (...)",
Este sereno e afável desespero
Que se transforma em bússola e me guia,
Hoje e sempre inda além de quanto quero *
E este "eu" que de avaria em avaria
Se ergue do nada quando chega ao zero...
Que absurda Morte a si se contraria
Ou se arrepende de algum gesto fero? *
Foi nesse dia que ousei confrontá-la
E ao vê-la olhar-me dum canto da sala,
Chamei-lhe tola, louca... incoerente! *
Numa voz perfurante como bala,
Fez soar uma estranha e curta fala:
"- Sinto dentro de mim sempre latente"... *
Maria João Brito de Sousa - 22.06.2021 - 21.13h ***
Mãos que escavam, que moldam, que constroem, Mãos que não pendem quando derrotadas, Mãos concretas, humanas mãos gretadas Mãos que resistem mesmo quando doem. *
Juntem-se-lhes mãos frágeis, que destoem Dessoutras fortes, acima citadas, E outras mãos, pequeninas, levantadas À espera de que as grandes lhes perdoem. *
Mãos de tantas idades e tamanhos Que tudo vão criando e dando a estranhos Pra receberem pouco ou quase nada. *
Mãos com vontade própria, não rebanhos, Mãos sensíveis, bem mais que simples lenhos Dobrados sobre si pela nortada. *