Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

poetaporkedeusker

poetaporkedeusker

UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
30
Abr21

CRIVO(S) & SENTIDO(S)

Maria João Brito de Sousa

crivos e sentidos.jpg

CRIVO(S) & SENTIDO(S)
*

Não me apontem sentidos quando vejo
Que sigo um rumo próprio e produtivo
E que vou mais além, se tenho ensejo
De enchê-lo das razões de que me privo
*

Quando, num verso, encontro o tal solfejo
E, num soneto o lanço, agreste e vivo!
De assim tão vivo o ver, logo o protejo
Quer passe, quer não passe, pelo crivo
*

De quem possa julgar que o não cotejo
- embora em gesto quase intuitivo... -
Enquanto o vou escrevendo, se o desejo
*

Como sempre o desejo; sensitivo,
Ritmado - claramente! - e, como o Tejo,
Ousado, impetuoso e compulsivo.

*

Maria João Brito de Sousa - 08.09.2016 - 13.48h

*

Imagem retirada daqui

29
Abr21

IREI AONDE A MINHA MENTE FOR

Maria João Brito de Sousa

21248203_1681218571902750_4350933543648874998_o.jp

IREI AONDE A MINHA MENTE FOR
*


Eu que nunca saí do meu país,

Só por dentro de mim me faço ao mundo;

Se acaso no que afirmo vos confundo,

Perdão, mas não lamento o que não quis,
*

 

Nem anseio fazer o que não fiz...

Cá dentro, a Terra inteira, o mar profundo

E esta embriaguez de que me inundo

Quando o corpo me escapa, por um triz,
*

 

Ao mais escarpado pico da montanha,

Ou ao abismo mais assustador

Que no meu horizonte se desenha...
*


É só imaginar que sou condor,

Pardalito, que seja, ou mesmo aranha;

Eu vou aonde a minha mente for!
*

 

Maria João Brito de Sousa - 28.04.2021 - 15.43h
*

 

28
Abr21

BANCA(S)&MERCADOS

Maria João Brito de Sousa

bancas e mercados.jpg

BANCA(S) & MERCADOS
*

 

Leveda o verso. Há raios e coriscos
Nas veias e nos nervos do poeta
Sobre o qual chovem os cifrões dos fiscos
Com juro exponencial de acção directa.
*


No bar da esquina vendem-se os petiscos
Que cozinhou Benilde, a amada neta
Do saudoso Manel dos Olhos Piscos
Que, dizia-se, fora um grande atleta.
*


Na banca, apregoando o peixe fresco,
A ti Martina com seu ar burlesco
Escama garoupas, pargos e pescadas
*


E julgo ouvir ao longe os seus pregões
Sobrepondo-se ao medo, às convulsões
E ao Super de gestão “offshorizada”.

*


Maria João Brito de Sousa – 06.08.2018 – 19.49h
***

 

27
Abr21

ALTÍSSIMA TRAIÇÃO

Maria João Brito de Sousa

françoise gillot - picasso.jpg

ALTÍSSIMA TRAIÇÃO
*


Teus versos, réus de altíssima traição
No tribunal das causas mais sagradas,
Condenaram-me o corpo a tal paixão
Que as mãos se vão perdendo, atormentadas,
*

E não encontram já satisfação,
Nem rendidas me tombam de cansadas,
Pois vão de sensação em sensação,
Loucas por sensações não exp`rimentadas
*

E conduzem-me, toda frustração,
À tentação de as ver desnorteadas
Até à mais completa rendição,
*

Pois quanto mais perdidas, mais achadas
Nessa mais que (im)perfeita condição
De, por ti, terem sido atraiçoadas.
*


Maria João Brito de Sousa - Março, 2016
*

 

In A CEIA DO POETA (inédito)

*

 

Françoise Gillot, Pablo Picasso

26
Abr21

EM CARNE VIVA

Maria João Brito de Sousa

EU,2012.jpg


EM CARNE-VIVA
*

São como sal na f rida em carne-viva,
Estas estrofes que alheada escavo,
Curvada sobre a rima, o verso à d`riva
Sobre um destroço que antes fora um cravo
*

Mas, à rotina que me tem cativa
De criação de tão amargo travo,
Veio juntar-se, abrupta e punitiva,
A sanção relativa ao desagravo
*

Da voz canónica e repetitiva
Cujo "vibrato" foi ficando escravo
Do dogma e sua ilustre comitiva
*

Que lá do topo do seu desconchavo,
Em plena (dis)função judicativa
Decreta que o que leu "não vale um chavo".
*

 

Maria João Brito de Sousa - Março 2016

In A Ceia do Poeta (inédito)

 

25
Abr21

25 DE ABRIL - Relembro

Maria João Brito de Sousa

CRAVO.jpeg

 

 

RELEMBRO

*

Relembro um rio que em gesto resoluto

Cresce em caudal e soma em quantidade

A mesma urgência com que agora eu luto

E me dá força enquanto houver vontade;

*

 

Porque um poder perverso e dissoluto

Se nos impõe, esmagando a dignidade,

Sejamos fio de outro qualquer soluto

Que, em nos enchendo, engendre outra vontade!

 *

Relembro o sangue em veias indomadas

E esta emergência em nós, sempre crescente,

Que nos transforma as mãos mais desarmadas

 *

Em espada erguida sobre o prepotente

Que ensombra as águas vivas, libertadas,

Duma outra força antiga e sempre urgente!

 *

 

Maria João Brito de Sousa – 15.04.2014 – 10.39h

*

 

Ao povo português que, desobedecendo a uma ordem directa, invadiu as ruas em 25 de Abril de 1974 e transformou um golpe militar numa verdadeira revolução.

 

23
Abr21

NANO-TRAGICOMÉDIA

Maria João Brito de Sousa

nano tragicomédia.jpg

NANO-TRAGICOMÉDIA

*
Musa e Eu
*


Desta humana tragédia que vivemos

(que Divina, afinal,  foi a comédia...)

Não sei se bem, se mal, retiraremos;

Que (des)humana mão encurta a rédea
*


Dos libertários sonhos que tivémos

Agora extrapolados pelos "media",

Se vamos, afinal por onde iremos

Enquanto mergulhados nesta acédia?
*


E, neste exacto ponto, a Musa pára,

Retira tudo o que foi sendo dito,

Afasta-se de pronto e faz-se cara;
*


- "Nisto que dizes, não sei se acredito,

Mas se a verdade é tua, então declara

Que foste quem a quis deixar por escrito!"
*

 

Maria João Brito de Sousa - 23.04.2021 - 10.30h

 

22
Abr21

SINESTESIA(S) II - Coroa de Sonetos - Maria João Brito de Sousa e Custódio Montes

Maria João Brito de Sousa

luar-no-mar-na-praia-60388289.jpg

 

SINESTESIA(S) II
*

Coroa de Sonetos
*

Maria João Brito de Sousa e Custódio Montes

1.
*

Vem desvendar-me a cor destes sentidos,
Deslinda-me o compasso em descompasso,
Pressente os dedos hábeis e compridos
Das mais simples palavras que aqui traço...
*

Em ti, mesmo que apenas pressentidos,
Terão a dimensão do mesmo abraço
Com que, letra por letra concebidos,
Magicamente, ou não, se abrem num laço...
*

Ah, soubesse eu que podes decifrar-me
E que, por cada letra que te estendo,
Te aponto mil razões pra adivinhar-me,
*

Ou que pudesses ver, no que desvendo,
A cor dos sons que entendem visitar-me
Na paleta do verbo em que me acendo...
*


Maria João Brito de Sousa - Março, 2016

In A Ceia do Poeta - (inédito)
***

2.
*

“Na paleta do verbo em que me acendo...”

Escrevo a tinta azul como convém

Misturo o vermelho e também

As cores que me chegam e vou vendo
*

Depois à claridade vou cedendo

Em tons que vejo e apanho nesse além

Provindo do horizonte e que me vem

Das imagens que chegam e vou lendo
*

Palavras que componho em harmonia

Com tudo o que me vai no coração

À paleta dou luz, sinestesia
*

Envolta numa troca de oração

Tentando que esta minha poesia

Não me fuja nem entre em contramão
*

Custódio Montes

20.42021
***

3.
*

"Não me fuja nem entre em contramão"

Verso que das entranhas me nasceu,

Tal como das entranhas nasci eu,

De minha mãe, depois da gestação...
*

Há sempre um tom escondido na canção

Que a paleta dos versos prometeu

E canta cada cor que se escondeu

Na palma agora aberta desta mão.
*


As letras são pequenas criaturas

Que se juntam em grupos coloridos

Para formar orquestras e pinturas
*


Que são captadas pelos meus sentidos

E que ao som de invisíveis partituras

Subvertem mil princípios estatuídos.
*


Maria João Brito de Sousa - 20.04.2021 - 17.33h

***

4.
*

“Subvertem mil princípios estatuídos.”

Mas sem essas palavras que seria

Nada mais que um montão, cacofonia

Sem grandes pensamentos construídos
*


Agrupadas em tons bem coloridos

As palavras contêm a melodia

Que ouvimos e nos trazem alegria

Mantendo-nos no sonho embevecidos
*


As letras são as cores das palavras

Que enfeitam a conversa e a nossa vida

São sementes que crescem entre as lavras
*

Pintada a palavra é colorida

Nunca deteriora ou escalavra

O tema (em) que, com cor, fica inserida
*

Custódio Montes

20.4.2021
***

5.
*

"O tema (em) que, com cor, fica inserida"

Transmuta-se em cenário ou em paisagem

E faz, cada palavra, uma viagem

Em direcção à terra prometida
*


Que é um soneto quando ganha vida

E, embora formal, vibra selvagem,

Metade som e outra metade imagem

Numa duplicidade garantida...
*

Minh` âncora é também isto que faço

E a minha barca, que nasceu comigo,

Faz-se num dia ao mar e noutro ao espaço
*

Sem ter destino nem porto de abrigo;

Mil sensações nascendo em cada traço

E esta semi-cegueira - o meu castigo!
*


Maria João Brito de Sousa - 20.04.2021 - 18.49h
***

6.
*

“E esta semi-cegueira - o meu castigo”

Mas eu nessa cegueira vejo luz

E ao ver tudo tão claro isso seduz

E corro sem saber se o consigo
*

Mas se falhar, amiga, é cá comigo

Porque esta desgarrada que propus

A novas árias lindas me conduz

E corro indiferente no perigo
*

O jogo das palavras traz encanto

Alumia a candeia ao pensamento

E ao vir a ideia então eu me levanto
*

Afasto as amarguras e o tormento

E fico tão contente no meu canto

Que sou muito feliz nesse momento
*

Custódio Montes

***
7.
*
"Que sou muito feliz nesse momento"

Em que o verso me nasce e, sem travões,

Bem mais depressa voa que os tufões

Não causando, contudo, sofrimento
*


Que o verso é sábio, mago e tem talento;

Por tudo e nada se exalta em paixões

E arrebata os nossos corações

(embora o meu já esteja sonolento...)
*


Como é dif`rente escrever devagar

De escrever a galope, à rédea solta...

Amanhã voltarei a galopar!
*


Sumiu-se-me a visão. Hoje não volta,

Mas amanhã, assim que eu acordar,

Renascerá, embora em névoa envolta!
*


Maria João Brito de Sousa - 20.04.2021 - 21.05h
***

8.
*

“Renascerá, embora em névoa envolta!”

Às vezes com um olho é-se rei

E mesmo assim governa ele a grei

E anda toda a gente à sua volta
*


A palavra é assim e anda à solta

Mas ordenada bem como é de lei

É monumento em si como logrei

Ver na forma tão bela como a escolta
*


Queixume muitas vezes é a mais

A névoa não impede o seu valor

A palavra consigo tem ramais
*


Que expressam pensamentos com fulgor

Em poemas que são monumentais

Em tudo que lhes dá com tanto amor
*


Custódio Montes

20.4.2021
***
9.
*

"Em tudo que lhes dá com tanto amor",

E em dobro cada verso lhe devolve

Quando em doçura infinda se dissolve

No poema a que empresta o seu sabor.
*


Queixume? Não, pois não cedi à dor,

Cedi a uma névoa que me envolve

Quando nem mesmo o esforço me resolve

Esta impotência que já sei de cor...
*


Por tempo limitado sei vencê-la

Juntando as letras, em vez de soltá-las,

Mas quando a noite chega, ganha-me ela;
*


Só vejo nebulosas, baças, ralas,

Manchas indecifráveis sobre a tela...

Não me deixa, essa névoa, decifrá-las.
*

 

Maria João Brito de Sousa - 21.04.2021 - 11.15h
***

10.
*

“Não me deixa, essa névoa, decifrá-las”

Mas sempre vê aquilo que pretende

Alcança e é sagaz como um duende

Que salta tudo em frente e até valas
*


Princesa que passeia pelas salas

E olha em redor e tudo entende

Navega sobre as ondas, não ofende

E vence sem mostrar festas e galas
*

Na cor é um matiz de muito enfeite

Adorna o seu palácio de beleza

Que olhado no seu todo é um deleite
*

Eu gosto desse tom de realeza

Nessa cama deixe, amiga, que me deite

A sentir e a olhar essa grandeza
*

Custódio Montes

21.4.2021
***

11.
*

"A sentir e a olhar essa grandeza"

Que, amigo, só no verso é bem real;

Eu sou tão pequenina e tão banal

Quão banal possa ser qualquer burguesa...
*


Mas, sim, terá lugar na minha mesa

Desde que a refeição seja ideal;

Sirvo a palavra coberta do sal

Que colho nas salinas da pobreza.
*


Se vir beleza nisto que lhe of`reço,

Ficarei tão feliz por convidá-lo,

Que da minha pobreza até me esqueço
*


E este repasto irá ser um regalo;

Aguarde-me um minuto enquanto aqueço

O manjar com que irei presenteá-lo.
*


Maria João Brito de Sousa - 21.04.2021 - 14.25h
***

12.
*

“O manjar com que irei presenteá-lo”

Amiga, que prazer em aceitar

Sentados sobre a areia junto ao mar

À tarde, à noite até cantar o galo
*

Delícias que já vejo e de que falo

E sem o condimento me escapar

Uma pinga de Dão a terminar

Só desta vez vai ver que é um regalo
*

Nas doenças nem pense que a alegria

Compensa-nos queixumes e mazelas

Junto ao mar nós os dois com a magia
*

Das ondas a vogar sob as estrelas

Do enlevo do sonho e poesia

Com odes e cantigas das mais belas
*

Custódio Montes

21.4.2021
***

13.
*

"Com odes e cantigas das mais belas"

Iremos celebrar a poesia

E ainda a singular sinestesia,

À luz das ondas e ao som das velas...
*


Saber-nos-á, esse manjar, a estrelas,

Crescerá a maré quando vazia

E arredondar-se-á a maresia

Num círculo perfeito, em nossas telas.
*


O Dão também será imaginário

E embora imaginado, embriagante;

Não mais que um golo será necessário
*


Pra trazer até nós o céu errante

Que este sistema em código binário

Engendrou para unir quem está distante.
*


Maria João Brito de Sousa - 21.04.2021 - 19.23h
***

14.
*

“Engendrou para unir quem está distante.”

E pinta na paleta as suas cores

Num quadro enfeitado com as flores

Mais belas e de aroma inebriante
*


Eu pinto as tuas mãos em tom sonante

Em ilha que me leva onde fores

A ilha desvendada dos amores

Sinestesia sim dialogante
*


E ouço uma guitarra e uma canção

Que soa suavemente aos meus ouvidos

Em decibéis que vêem e se vão
*


E este entrecruzar de sons queridos

Se os não vês a pulsar no coração

“Vem desvendar-me a cor destes sentidos”
*

Custódio Montes

21.4.2021
***

 

 

 

 

 

 

20
Abr21

SINESTESIA(S) II

Maria João Brito de Sousa

sinestesias II.jpg

SINESTESIA(S) II


Vem desvendar-me a cor destes sentidos,
Deslinda-me o compasso em descompasso,
Pressente os dedos hábeis e compridos
Das mais simples palavras que aqui traço...
*

Em ti, mesmo que apenas pressentidos,
Terão a dimensão do mesmo abraço
Com que, letra por letra concebidos,
Magicamente, ou não, se abrem num laço...
*

Ah, soubesse eu que podes decifrar-me
E que, por cada letra que te estendo,
Te aponto mil razões pra adivinhar-me,
*

Ou que pudesses ver, no que desvendo,
A cor dos sons que entendem visitar-me
Na paleta do verbo em que me acendo...
*


Maria João Brito de Sousa - Março, 2016

In A Ceia do Poeta - (inédito)

19
Abr21

SINESTESIA(S)

Maria João Brito de Sousa

orquestra.png

SINESTESIA(S)

*

 

Mudas de espanto e sem fazer sentido
Nascem palavras, brotam sentações
Que se entrechocam num ponto perdido,
Gerando lagos, montanhas, vulcões,
*

Trocando as voltas ao que foi pedido,
Emudecendo a voz de outras questões
Com que se tenham já comprometido,
Sempre senhoras das suas razões...
*

Como ecos fundos, vibram sons distantes
Que, cá por dentro, fazem ressoar
Roucos murmúrios de ideias sonantes,
*

Músicas loucas, vibráteis, pulsantes
Em que o poema se ousa decifrar
Na pauta (in)glória de uns versos cantantes
*


Maria João Brito de Sousa - 2016

*

In A Ceia do Poeta (inédito)

e

In RECLUSÃO,

Junho, 2022

a quatro mãos com Laurinda Rodrigues

18
Abr21

ESTA VELHA MENINA - Coroa de Sonetos - Maria João Brito de Sousa e Jay Wallace Mota

Maria João Brito de Sousa

WIN_20200714_15_56_07_Pro.jpg

ESTA VELHA MENINA

*

(Desgaste)
*


Coroa de Sonetos
*

Maria João Brito de Sousa e Jay Wallace Mota


*

1.
*

Esta menina, velha quanto baste,

Exibe uma grisalha cabeleira

E muito embora brinque, inda faceira,

Já dos anos acusa um bom desgaste.
*


Sorriu quando menina lhe chamaste,

Mas já percorre a rampa derradeira

Que a reconduz à última fronteira

E se aproxima, por mais que ela a afaste.
*


Menina que o não é mas já o foi

E que já deve um tempo à sepultura,

Sabe bem quanto custa e quanto dói
*


Contrariar um mal que não tem cura

E a chaga que desgasta e que corrói

O fio/pavio da chama que a segura.
*

 


Maria João Brito de Sousa - 12.04.2021 - 16.24h
*

Ao Gil

***
2.
*

O fio/pavio da chama que a segura
Já desafia a própria medicina!
E a morte, que já torce pela cura,
Parou pra ouvir os versos da menina!
*
E vê-se que a trevosa criatura
Se curva mais e mais a cada rima,
Mas logo então corrige tal postura,
Num gesto de respeito a uma obra prima!
*
E de repente tomba de joelhos,
Abre seus olhos frios e sem celhos,
Voltando o negro rosto para cima!
*
E num murmúrio, rouco e gutural,
A morte, numa prece surreal,
Suplica pela vida da menina!
*

Belém, 13 de abril de 2021.
Jay Wallace Mota.
***

3.
*

"Suplica pela vida da menina(!)"

Aquela a quem cabia terminá-la

Pois, vendo que a menina se não cala,

Quer aprender as coisas que ela ensina.
*


A Morte que, sem culpa, é assassina,

Ao lado da menina então se instala

E, sendo surda e muda, agora fala

Na voz de cada verso que germina!
*


Mal se sinta, a menina, mais cansada,

Coberta de mazelas e dorida,

Logo virá a Morte transmutada
*


Em curandeira, prolongar-lhe a vida;

"Vá, escreve um pouco mais! Como me agrada

Saber-te por mim mesma protegida!"
*

 


Maria João Brito de Sousa - 13.04.2021 - 15.36h
***

4.
*

 

“Saber-te por mim mesma protegida!”

Exclama a própria Morte seu dilema!

Assim, entre matar ou dar a vida,

Lisonjeada, optou por um poema!
*

 

Sabendo que abrir mão da própria lida

Encerra sua escolha mais extrema,

Porém estava mesmo convencida

Que a tal postergação valia a pena!
*

 

Assim, ora enfermeira, ora aprendiz,

A Morte, a cada verso, mais feliz,

Concede, por mais tempo, um novo aval,
*

E assim, fazendo versos à cada hora,

A poetisa dribla a Morte agora

E a poesia ganha uma imortal!
*

 

Jay Wallace Mota.

Belém, 13/04/2021, às 15:12h.
***

5.
*

"E a poesia ganha uma imortal"

Que apenas o será enquanto viva...

Mas, sim, parece a Morte estar cativa

Dos sonetos que eu escreva, bem ou mal,
*


E, agora, não a tenho por rival

Que se tornou, a Morte, criativa;

Viu-se, talvez, sob uma perspectiva

Que lhe não era nada habitual...
*


Eu, como Xerazade, vou criando,

Soneto após soneto, sem parar,

E, por cada soneto, conquistando
*


Direito a mais um dia sem expirar;

Não posso é garantir-vos até quando

Vou conseguir a Morte fascinar...
*

 


Maria João Brito de Sousa - 13.04.2021 - 20.0
***

6.
*

 

“Vou conseguir a Morte fascinar!”

Arguis, com a modéstia costumeira,

Pois ante o teu talento singular,

Subestimas o gosto da parceira!
*

 

Que já mostrou saber apreciar

Os teus poemas, duma tal maneira,

A ponto de por eles adiar

Tua morte, fazendo-se videira!
*

 

Mas se acaso o cansaço te vencer,

Antes que a Morte possa perceber,

E pense, finalmente, em te ceifar,
*


Propõe, com um dos teus fechos perfeitos,

Fazer uma coroa de sonetos

E a Morte nunca mais vai te matar!

 

Jay Wallace Mota.

 

Belém, 13 de abril de 2021, às 17:55h.
***

7.
*
"E a Morte nunca mais te vai matar(!)",

Dizes-me tu que estás bem longe dela,

Mas eu, que a sei de cor, que estou com ela

Plasmada nalgum céu por inventar,
*


Não sei que mais fazer para a acalmar...

Sou a pálida chama de uma vela

E nem o brilho imenso de uma estrela

Conseguiria a Morte iluminar!
*


Não desisto, porém! Se sou poeta

Aquilo que me move é muito forte

E mendigar-lhe tempo é coisa infecta!
*


Muito diversa é esta minha sorte

Que em espanto e rebeldia se completa;

Escrevo prá Vida, desafio a Morte!
*


Maria João Brito de Sousa - 14.04.2021 - 11.00h

8.
*

“Escrevo pra Vida, desafio a Morte!”
Se o desafio vão te agrada, insiste!
Tens munição pra luta de tal porte...
Quando de alguma briga desististe?

*

Mas quando te faltar algum suporte,
Só peço não te deixes ficar triste;
Não há o que temer por tua sorte!
Pois, afinal, a Morte nem existe!

*

E mesmo conhecendo tuas infensas
A tudo que pra ti pareçam crenças,
Existe uma verdade definida,

*

Que reina independente do que pensas
E ainda que dela nunca te convenças,
Poeta, existe vida além da vida!
*

 

Jay Wallace Mota.

Mosqueiro, 14 de abril de 2021, às 15:40h.
*

9.
*

"Poeta, existe vida além da vida(!)"

E, de feliz por ti, vou-te dizer

Que é essa a vida que estou a viver

Enquanto a morte aguarda, distraída,
*


Que eu vá abrir-lhe a porta de saída;

Falta-me tempo para a receber

E tenho tantos versos pra escrever

Antes da hora incerta da partida...
*


A vida além da vida é uma só

E é por isso que tento prolongá-la

Enquanto me não vou desfeita em pó
*


Juntar-me a essa morte que me cala;

A morte é neutra e nunca terá dó

De quem, com versos, tente enfeitiçá-la...
*


Maria João Brito de Sousa - 15.04.2021 - 10.30h

***

10.
*

 

“De quem, com versos, tente enfeitiçá-la,”
No intento de enganar quem te intimida!
Mas acho um desperdício fazer sala
A uma figura tão controvertida...
*

Melhor fazer teus versos sem dar pala,
De maneira a passar despercebida,
Mostrando que a megera não te abala,
Ainda que vivas mesmo uma só vida!
*

Justo porque crês nisso, realmente,
E eu tendo este soneto tão somente,
Não posso me perder em teoria...
*

Pra mim, já és eterna, entre outras divas,
Entretanto, é preciso que tu vivas,
Pois viva dás mais vida à poesia!
*


Jay Wallace Mota.

Mosqueiro, 15/04/2021, às 15:30h.
***

11.
*

"Pois viva dás mais vida à poesia(!)"

E respondo, a sorrir, que bem o sei,

Que faço por viver e viverei

Até sentir-me de versos vazia
*


Assim me faça a Vida a cortesia

De conceder-me os versos que sonhei

E toda em versos me transformarei

Até um dia, amigo, até um dia...
*

Ah, sim, respiro ainda, ainda sonho

Com um mundo mais justo e mais fraterno,

Mais verde, mais sereno e mais risonho
*

Porque este que hoje encaro é puro inferno;

Desigual, violento e tão bisonho

Que mais parece um monstro em desgoverno.
*


Maria João Brito de Sousa - 15.04.2021 - 20.21h
***

12.
*

 

“Que mais parece um monstro em desgoverno.”

Com o homem e o ambiente em agonia,

Há muito que o planeta sofre, enfermo,

Vítima da mais burra vilania!
*

 

Porquanto, é preciso por um termo

A tudo que nos traz desarmonia,

Antes que o mundo vire um lugar ermo,

Levando a Morte, enfim, a epifania...


*

 

E contra forças tão coercitivas,

Mais uma vez importa que tu vivas!

Pois, do pouco que resta de ilusões,
*

Se não dá pra contar com governantes,

Quem sabe são teus versos instigantes

Que vão mobilizar os corações!
*

 

Jay Wallace Mota

Belém, 15/04/2021, às 21:35 h.

***

13.
*

"Que vão mobilizar os corações"...

E talvez isso venha a acontecer,

Pois também eu passei a vida a ler

Para consolidar-me em convicções
*


Enquanto equilibrava as frustrações

Pra melhor conjugar o verbo ser...

Bem sei que um dia terei de morrer,

Mas vivo ainda... e versos são paixões!
*

Que venha a morte quando o entender;

Estou pronta a recebê-la com canções

Que talvez a consigam convencer
*


A ponderar as suas decisões;

É isso mesmo o que eu irei fazer

Pois, pra viver, sobejam-me razões!
*


Maria João Brito de Sousa - 16.04.2021 - 10.37h
***

14.
*

 

“Pois, pra viver, sobejam-me razões!

O que sobressai claro em teus poemas;

Mesmo quando tu fazes alusões

A dores, a mazelas ou problemas!
*

 

Nasceste pra grafar inspirações,

Teus versos dão mais vida a quaisquer cenas

E tocam as mais frias atenções,

Mesmo quando alma e Morte são pequenas
*

 

Para ti o verbo ser tem só presente
E como uma menina irreverente
Vais entreter a Morte, com tal arte,
*

Que pra a ela, por teu gosto de viver,
Nada mais restará, senão fazer,
Esta menina, velha quanto baste!
*

 

Jay Wallace Mota.

Belém, 16/04/2021, às 12:52h.
***

 

Pág. 1/3

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Em livro

DICIONÁRIO DE RIMAS

DICIONÁRIO DE RIMAS

Links

O MEU SEBO LITERÁRIO - Portal CEN

OS MEUS OUTROS BLOGS

SONETÁRIO

OUTROS POETAS

AVSPE

OUTROS POETAS II

AJUDAR O FÁBIO

OUTROS POETAS III

GALERIA DE TELAS

QUINTA DO SOL

COISAS DOCES...

AO SERVIÇO DA PAZ E DA ÉTICA, PELO PLANETA

ANIMAL

PRENDINHAS

EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE POETAS

ESCULTURA

CENTRO PAROQUIAL

NOVA ÁGUIA

CENTRO SOCIAL PAROQUIAL

SABER +

CEM PALAVRAS

TEOLOGIZAR

TEATRO

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2013
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2012
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2011
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2010
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2009
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2008
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D

FÁBRICA DE HISTÓRIAS

Autores Editora

A AUTORA DESTE BLOG NÃO ACEITA, NEM ACEITARÁ NUNCA, O AO90

AO 90? Não, nem obrigada!