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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
07
Mar21

DESOLAÇÃO - Coroa de Sonetos -

Maria João Brito de Sousa

desolação.jpg

 

DESOLAÇÃO
*

Coroa de Sonetos
*

Maria João Brito de Sousa e Laurinda Rodrigues
***


1.
*

Choro quem parte e temo por quem fica;

Se a vida tem remédio, a morte não

E o mundo vai caindo em depressão,

Sem que se saiba tudo o que isso implica
*


Já que ao que tudo ou quase tudo indica,

Pouco nos deixa, esta devastação

Pr`além do rasto de desolação

Que diante de nós se multiplica
*

 

Como vírus que, entrando em mutação,

Corrói um mundo do qual não abdica

Ao devorar-lhe a carne feita pão.
*

 


Lá longe, ouve-se um sino que repica

E uma voz que suplica a salvação

Na ilusão do que isso significa...
*


Maria João Brito de Sousa - 03.03.2021 - 11.07h
***

2.
*

"Na ilusão do que isso significa"

percorro os calabouços da memória

tentando perceber de toda a história

o que substancialmente significa.
*

Recordo aquela força compulsória

que a nossa vida, ao nascer, fabrica

em rejeições que em toda a alma fica

perpetuando a submissão de escória.
*

Não! Não temos perdão em aceitar

que tais e tantos bichos tão fatais

tomem conta da perfeição da gente!
*

Será que já esquecemos os arrais

que apontam aos humanos qual o cais

aonde aportará espécie diferente?
*

Laurinda Rodrigues
*


3.
*

"Aonde aportará espécie diferente (?)",

Humana, sempre, e mais evoluída,

Mais justa para toda e qualquer vida

Que a não destrua quando lhe faz frente?
*

 

No futuro, mas nunca de repente,

Que a pressa é inimiga da subida

E pode confundir-se se a saída

Estiver ainda longe do presente
*

 

E meta por saída que o não era...

Por mim, confio na tenacidade

Com que renasce cada Primavera
*

 

Tão segura na sua leviandade;

Quem ama a vida é da vida que espera

O doce fruto da maturidade.
*

 


Maria João Brito de Sousa - 03.03.2021 - 17.03h
*


4.
*

"O doce fruto da maturidade"

tem o sabor da antiga profecia:

quanto mais velho mais sabedoria

se caminhaste na senda da verdade.
*

Ela está dentro de ti e, com a idade,

podes rever, em consciência, a via

que te liberta da tensão vazia

para te preencher de felicidade.
*

A felicidade é um sentir sereno

onde flui tua alma em tempo ameno

ou mesmo se a tormenta te atacou...
*

Podes sentir-te docemente pleno

como sentiu Jesus, o Nazareno,

que, mesmo incompreendido, perdoou.
*

Laurinda Rodrigues
***

5.
*

"Que, mesmo incompreendido, perdoou",

(creio que excptuando os vendilhões)

Aos homens em geral, ódio, traições

E até a quem à morte o condenou.
*


Tão perfeita não fui - inda o não sou... -,

Nem tão boa e tão pródiga em perdões,

Mas cá me vou guiando por padrões

Que essa maturidade me doou
*


E embora ande no fio de uma navalha,

Conheço muito bem a f`licidade;

Come e bebe comigo e nunca falha
*


Quando lhe peço força de vontade,

Um poema mais belo, quando calha,

E a lucidez dos velhos-sem-idade.
*


Maria João Brito de Sousa - 03.03.2021- 19.23h
***

6.

"E a lucidez dos velhos-sem-idade"

não me venham dizer que é lucidez!

Talvez seja pedaços de saudade

daquele imenso génio português,
*

Feito de sonho e força de vontade,

que fez frente ao vazio e à aridez,

buscando, em consciência, a placidez

de descobrir a luz, que o mar invade.
*

Vamos perdendo aquilo, já conquistado,

que é sangue desse sangue, semeado

na genética de muitos invasores
*

E, depois, numa síntese transformado

em ser diferente e sempre emancipado

de tantas turbulências e horrores.
*

Laurinda Rodrigues
*

***

7.
*

"De tantas turbulências e horrores"

Se vai cobrindo esta desolação,

Que alguns perdem o norte ao coração

E a razão já viu dias melhores...
*


A lucidez, porém, resiste às dores

E a todo o tipo de devastação;

Só mesmo a morte a verga se, à traição,

Lhe crava o letal ferro, entre estertores,
*


E, às vezes, a demência também vence

A lucidez profunda conseguida

Por esse ou essa a quem ela pertence,
*


Que a lucidez é graça garantida

A quem muito vivendo, muito pense

Sobre Si, sobre o Outro e sobre a Vida...
*


Maria João Brito de Sousa - 04.03.2021 - 10.57h
***

8.
*

"Sobre Si, sobre o Outro e sobre a Vida..."

é pensamento que devora os dias,

coberto de temores e de agonias,

para que a morte não seja consentida.
*

O corpo é uma história muito lida

nos sinais onde as horas são os guias

mas, nessas caminhadas tão vazias,

esquecemos que é a alma que convida

*

a descobrir a Si, ao Outro, Todos

sem nunca desistir com os engodos

que aparecem na sombra do caminho...
*

E, sempre navegando pelos lodos,

com paciência e com suaves modos,

não ficarás nem triste nem sozinho.
*

Laurinda Rodrigues
***

9.
*

"Não ficarás nem triste nem sozinho"

Quando souberes que tudo o que viveste

Faz parte do que, em ti, reconheceste

Como vestido teu tecido em linho
*


Por vezes com ternura e com carinho

E, outras, um bocadinho mais agreste,

Pois nem sempre o tecido que teceste

Teve a textura suave do teu ninho,
*


Não, não concebo um` alma independente

Deste corpo de carne e sangue e ossos

E só me sei tecer enquanto gente.
*

Ainda que me cubram de destroços,

É desse todo que me emerge, urgente,

A rebeldia que há nos velhos-moços.
*

Maria João Brito de Sousa - 04.03.2021 - 13.36h

***

10.
*

"A rebeldia que há nos velhos-moços"

não se confunde com pura teimosia

que a falta de razão às vezes cria

para fugir à prisão dos calabouços.
*

Mesmo com cordas presas aos pescoços

onde a voz, já cansada, desafia

quem inda possa ouvi-la muito fria

no momento final que a prende aos ossos,
*


Façamos esse gesto de clemência

de dizer versos perante uma audiência

que, entretanto, fugiu de tão cansada
*


E imploremos a Deus, numa deferência,

que nunca mais tenhamos consciência

de sermos, uns para os outros, quase nada.
*

Laurinda Rodrigues

***

11.
*

"De sermos, uns para os outros, quase nada"

E, simultaneamente, tanto mais

Quanto mais nos sintamos desiguais

Na sintonia mal sincronizada
*

Desta desolação quase assombrada

Das casas já sem portas nem umbrais

Porquanto pela porta já não sais

Se não depois de morta ou condenada.
*


Exagero, bem sei... e no entanto,

É mesmo assim que o sente a maioria

Que vive aprisionada no seu canto
*

Sem ter a bênção que é a poesia,

Sem estas asas de paixão e espanto,

Murchando à míngua de uma companhia.
*

Maria João Brito de Sousa - 04.03.2021- 17.30h
***

12.
*

"Murchando à míngua de uma companhia"

estamos todos agora em reclusão

sem sentirmos do Outro mão-na-mão

que nos inspira os temas da poesia.
*

Mas falar por falar, no dia a dia,

apenas por rotina ou compaixão

agrava esse sentir da solidão

que, já antes de agora, acontecia.
*

Exorto cada um à dança e ao canto.

Exorto ao grito de prazer e espanto

porque a voz com expressão tem de se ouvir...
*

E dentro de uma casa, num recanto,

deitem fora o papel que enxuga o pranto

e todos, todos juntos, vamos RIR.
*

Laurinda Rodrigues
***

13.
*

"E todos, todos juntos, vamos RIR"

Pra construir algo mais belo e são

Sobre os destroços da desolação

Que como tudo o mais irá ruir
*


Então, a solidão irá sumir,

A flor escondida vai brotar do chão,

Nas ruas vai dançar a multidão

E nessa noite ninguém vai dormir...
*


Mas muito tempo ainda vai passar

Antes desta batalha estar vencida

E muito, muito ainda há que lutar
*


Para podermos ter de novo a vida

Com a qual estamos todos a sonhar

No fim de uma batalha tão sofrida.
*


Maria João Brito de Sousa - 04.03.2021 - 18.48h
***

 

14.
*

"No fim de uma batalha tão sofrida

nem vamos perceber o que acontece

aquilo que foi vivido não se esquece

mas pode ser um ponto de partida
*


Para dar ao pesadelo a despedida

e paz ao coração, que bem merece,

no conforto do amor que o engrandece

sem ter de se afogar numa bebida.
*

E, mesmo sem negar o que passou,

a tragédia que a tantos alcançou

numa dor que só a cruz explica,
*

Aceito humildemente o que ficou

e, na prece que essa cruz honrou,

"choro quem parte e temo por quem fica"
*

Laurinda Rodrigues
***

 

 

 

06
Mar21

PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS - 100 ANOS DE LUTA!

Maria João Brito de Sousa

PCPBandeira-1024x751.jpg

SONETO DO PRODUTOR EXPLORADO

*
(Em decassílabo heróico)

 *

 

Eu, que injectei nas veias das cidades
Sentinelas de pedra e de aço puro,
Que conquistei a pulso as liberdades,
Que asfaltei com suor cada futuro,

 *

Eu, que paguei com sangue as veleidades
Registadas na pedra, em cada muro,
E sigo em frente e moldo eternidades
A partir do que engendro e não descuro,

 *

Não mais hei-de evocar forças ausentes!
Liberto o grito preso entre os meus dentes
Que irrompe deste barro em que me sou

 *

E arrancarei de mim quantas correntes
Me prendam à mentira, ó prepotentes
Donos do que julgais que vos não dou!

 *

 

 

Maria João Brito de Sousa – 30.07.2013 – 18.58h

 

 

04
Mar21

DESOLAÇÃO

Maria João Brito de Sousa

desolação.jpg

DESOLAÇÃO
*


Choro quem parte e temo por quem fica;

Se a vida tem remédio, a morte não

E o mundo vai caindo em depressão,

Sem que se saiba tudo o que isso implica
*


Já que ao que tudo ou quase tudo indica,

Pouco nos deixa, esta devastação

Pr`além do rasto de desolação

Que diante de nós se multiplica
*


Como vírus que, entrando em mutação,

Corrói um mundo do qual não abdica

Ao devorar-lhe a carne feita pão.
*


Lá longe, ouve-se um sino que repica

E uma voz que suplica a salvação

Na ilusão do que isso significa...
*


Maria João Brito de Sousa - 03.03.2021 - 11.07h

03
Mar21

MOIRA(S) - Coroa de Sonetos

Maria João Brito de Sousa

mitologia-moiras.jpg

MOIRA(S)
*

(Mitologia Grega)
*

 

Não são parcas, as Moiras, no seu zelo;

Fiam, tecem e cortam noite e dia

Sem se cansarem da monotonia,

Sem se esquecerem de nenhum novelo
*


Desponta o fio e logo irão tecê-lo

Com mão que sabiamente doba e fia,

Senhoras da tristeza e da alegria

Dos dias mais magoados e mais belos.
*


No fim, uma das Moiras corta o fio

Das luas e dos sóis de cada vida;

Só essa determina o fim de um rio,
*


Só essa indica a hora da partida;

Ela é quem sela o poderoso trio

Ante o qual Zeus recolhe a espada erguida.

*

Maria João Brito de Sousa - 27.02.2021 - 12.00h


`***

2

Ante o qual Zeus recolhe a espada erguida.

E as mouras poderosas com seu tino

Dispunham do humano e seu destino

Cada uma com seu poder ungido

*

Três irmãs poderosas, sem ruído

Decidiam a vida e o sentido

Do futuro por elas escolhido

Ou mal ou bem conforme o preferido

*

Eram más, eram feias, rancorosas

Sem dizer investiam poderosas

Para o bem mas mais vezes para o mal

*

O homem e a mulher eram usados

Pelas Mouras. E todos dominados

Que nem Zeus intervinha em seu final

*

Custódio Montes
***


3.

*

"Que nem Zeus intervinha em seu final"

Pois sendo ao seu mau-génio invulneráveis,

Olhavam-no do alto, as respeitáveis

E altivas tecelãs de Bem e Mal
*

Que um e outro teciam por igual,

Já que um do outro não são separáveis...

Não as concebo feias e execráveis,

Mas construtoras de algo que é fatal*
*


Já que eram elas quem assegurava

Que a vida por aqui continuava

A nascer, a crescer e a morrer...
*

E Zeus, que era tirano, bem sabia

Que sem Moiras nem ele existiria,

Pois mesmo um deus precisa de viver...
*


Maria João Brito de Sousa - 27.02.2021- 18.22h
*

*Fatal, do latim Fatum = fado/destino
***

4.
*

“Pois mesmo um deus precisa de viver...”

E tinha que se pôr bem à tabela

Que podiam armar-lhe uma esparrela

Impotente, ele, Zeus, nada fazer.
*

Que elas, combinadas, com poder,

Dominam a andar na passarela

E lançam para a frente a que é mais bela

E ele langoroso fica a ver
*

As Moiras fazem truques fabulosos

Os fracos sem poder e os poderosos

São todos dominados de seguida
*

São elas que comandam, congeminam

Só elas mais ninguém é que dominam

São elas que comandam toda a vida
*

Custódio Montes

(27.2.2021)
***

5.
*

"São elas que comandam toda a vida"

Sem terem a noção de mal ou bem;

A morte vem porque à vida convém

Que se renove a coisa envelhecida.
*


É apenas humana, a dor sentida

Quando da vida se despede alguém,

Mas não sabem, as Moiras, quem lá vem,

Nem conhecem quem esteja de partida...
*

São neutras e limitam-se a cumprir

O que a si próprias terão de exigir

Já que nem Zeus as pode controlar
*


E são a pura essência do destino

Que, com a inocência de um menino,

Cria um brinquedo só para o quebrar.
*


Maria João Brito de Sousa - 27.02.2021 - 23.00h

(a estas horas, não sei como consegui, mas consegui!!!)

***

6.
*

“Cria um brinquedo só para o quebrar”

E dobra e redobra como quer

A vida e sorte de homem e mulher

Nas penumbras que passam pelo ar
*


E de repente mudam seu olhar

Alternam como querem seu poder

E levam a fortuna ou o perder

A quem era feliz e vai penar
*


As longas unhas duma vão ferir

O cerne dum humano que ao sentir

O tudo que antes tinha fica em nada
*


Os grandes dentes doutra comem tudo

A terceira de gorda e bojuda

Completa a grande força irmanada
*

Custódio Montes

(28.2.2921)
*

7.
*

"Completa a grande força irmanada"

Que inconsciente de fazer sofrer,

Nos confere a certeza de, ao nascer,

A espécie humana ser perpetuada.
*


Assim os gregos davam por explicada

Esta estranha aventura de viver,

Que as Moiras, muito mais do que PODER,

Simbolizam a VIDA renovada.
*


Uma pega num fio, vai-o fiando,

A outra mais não faz que i-lo dobando

E a outra vem cortá-lo, sem maldade,
*


Porque esse corte à vida é necessário...

Quem poderá dizer que isto é contrário

Ao que se passa na realidade?
*


Maria João Brito de Sousa - 28.02.2021 - 12.57h
***

8.
*

“Ao que se passa na realidade?”

Sim, porque o povo grego bem sabia

Que a vida era terrena dia a dia

E as Moiras traduziam a verdade
*

Que elas é que teciam em irmandade

Cortavam e mantinham com mestria

O fio condutor, paz e alegria

Que em si constituía a sociedade
*

Se o fio condutor era cortado

O sopro duma vida era apagado

E nisso as Moiras tinham opção
*

Noutras continuavam a tecer

E davam mais um tempo ao viver

Como é toda a nossa condição
*

Custódio Montes

(28.2.2021)
***

9.
*

"Como é toda a nossa condição"

De humanos imperfeitos e mortais

E, tal qual como os outros animais,

Produto de uma mesma evolução.
*


Ascendendo à consciencialização,

Que a nós nos coube e a todos os demais

Humanos (mais ou menos...) racionais,

Cabe-nos entender que essa Razão
*


Que rege os predicados naturais,

Se a solo, produz coisas maquinais;

Exequível não é, sem Emoção!
*


Tecem as Moiras as vidas actuais,

E as de todos os nossos ancestrais,

Segundo o Mito Grego, sem paixão...
*


Maria João Brito de Sousa - 28.02.2021 - 16.11h
***

10.
*

“Segundo o Mito Grego, sem paixão...”

Mas isso era dantes porque agora

Sendo o mesmo processo que vigora

Já não subsiste o Mito como então
*


O Mito deu lugar à precisão

E temos cientistas mundo fora

Que estudam estas coisas hora a hora

Firmando-se o saber da evolução
*

Para nós esse Mito ainda serve

Para ver o poder que a Moira teve

E dar o fundamento à poesia
*

Aos deuses nós dizemo-lhes adeus

Às Moiras e ao seu colega Zeus

Ao seu saber e à sua fantasia
*

Custódio Montes

(28.2.2021)
***

11.
*

"Ao seu saber e à sua fantasia"

Rendo-me toda inteira quando penso

Quanto este velho mito tem de imenso

Conquanto seja só simbologia...
*


A própria Ciência reconheceria

Que o que o mito revela, por extenso,

É algo bem real, nada pretenso,

Que corresponde ao nosso dia a dia.
*


Claro está que nos vem da antiguidade

E, se levado à letra, é inverdade,

Mas a mensagem nunca caducou;
*


Somos fio que desponta e que é dobado

Pra ser, logo a seguir, recambiado

Lá para o "não-sei-quê" de onde brotou...
*


Maria João Brito de Sousa - 28.02.2021 - 19.23h

***

12.
*

“Lá para o "não-sei-quê" de onde brotou...”

Eu nunca neguei tal filosofia

Nem o que as Moiras tinham de mestria

Apenas que o Mito já passou
*

E que a ciência foi ao que encontrou

Investigar a luz que esclarecia

O que o Mito então já conhecia

E que com tal saber se avançou
*

O saberes que os gregos nos deixaram

Ainda se mantêm e lá ficaram

Para evoluir todo o saber
*

E criaram ainda eles o Mito

As Moiras, também Zeus, ficando escrito

O que a ciência foi lá depois ler
*

Custódio Montes

(28.2.2021)
***

13.
*

"O que a ciência foi lá depois saber"

Indicia que o mito é o começo

Daquilo que na ciência reconheço

Como caminho certo a percorrer.
*


Ressuscitei o mito, sem esconder

Que é sempre pela ciência que me meço

E as Moiras foram simples adereço

Com que esta Coroa se quis guarnecer...
*


Contudo, há teses de doutoramento

Que exigem estudos e discernimento,

Sobre o Mito que eu trouxe à colação
*


Por culpa de uma musa inexistente

Que me falou das Moiras num presente

Que fez dos mitos fósseis da razão...
*


Maria João Brito de Sousa - 01.03.2021 - 09.28h
***

14.
*

“Que fez dos mitos fósseis da razão”

E talvez eu pecasse ao vir trazer

À colação ciência e meter

Esta conversa a pôr tanto travão
*

A esta oportuna discussão

Sobre o valor das Moiras e sem ver

A enorme importância e o saber

Que deram à ciência e ainda dão
*

E para terminar faço justiça

Para dizer e assim trazer à liça

O trabalho das Moiras e dizê-lo
*

Passo a passo, com força criativa,

Mostrando-nos a luz da morte e vida,

“Não são parcas, as Moiras, no seu zelo”
*

Custodio Montes

(1.3.2021)
***

 

Imagem retirada daqui

02
Mar21

O BANQUETE DOS ABUTRES

Maria João Brito de Sousa

A CEIA DOS ABUTRES II.jpg

O BANQUETE DOS ABUTRES
*


Quando os lençóis freáticos não freiam

O rumor das profundas incertezas

E as benditas dúvidas, ilesas,

Saltitam pelas mentes que incendeiam
*


Enquanto novas dúvidas semeiam

No betão das comportas das represas

E exigem mais respostas sobre a mesas

Dos pobres que trabalham mas não ceiam,
*


Acumulam, alguns, tantas riquezas

Quanta a miséria que os demais hasteiam

Nas bandeiras das lutas e das rezas
*


Que assim que o vento sopra, ainda ondeiam;

Conquanto amordaçadas, cegas, presas,

Não esquecem os abutres que as rodeiam.
*

 

Maria João Brito de Sousa - 01.02.2021 - 13.41h
*

01
Mar21

QUEM NÃO TEM CÃO... - Maria João Brito de Sousa e Custódio Montes

Maria João Brito de Sousa

O GATO.jpg

QUEM NÃO TEM CÃO...
*

COROA DE SONETOS
*

Maria João Brito de Sousa e Custódio Montes
*
1.
*

Erato não serei, poeta amigo,

Que para tal não tenho engenho e graça,

Mas posso garantir-lhe garra e raça

Sempre que aceite que escreva consigo.
*


Não ostento os cabelos de oiro ou trigo

Que enfeitam qualquer deusa quando caça,

Mas meu arco-de-versos tem a traça

Do que não tem idade, sendo antigo.
*

Se errar "humanum est", eu errarei,

Mas pode crer que lhe não faltarei,

Se Erato me ceder a sua vez...
*

Porque "quem não tem cão, caça com gato",

Sempre que o ignorar a bela Erato,

Conte c`oa minha humana pequenez!
*


Maria João Brito de Sousa - 22.02.2021 - 18.37h
***


(Soneto escrito em resposta ao soneto ERATO do poeta Custódio Montes.)
***


2.
*

“Conte c’oa minha humana pequenez”

Isso digo eu, digo, digo e digo

Tenho muito prazer de a ter comigo

Nas rimas que oferece cada vez
*

Pequenino sou eu com escassez

De presente e passado em que me abrigo

E recorro à musa e prossigo

Humilde, a esconder a timidez
*

A Erato imagino para mim

Mas quando a refiro tenho um fim

Provocar quem me inspire a poetar
*

Andar sempre a aprender isso é-me imposto

E quase sempre encontro quem eu gosto

Como agora que acabo de encontrar
*

Custódio Montes

(22.2.2021)

***

3.
*
"Como agora que acabo de encontrar"

Voz gémea que, em perfeita sintonia,

Vá compondo, na pauta, a sinfonia

Que ambos nos preparamos pra criar.
*

Das notas que tangemos sem parar

Entre a realidade e a magia,

Nasce este não-sei-quê que desafia

A própria Erato a vir-nos escutar.
*

Ah, se a cada improviso mais se aprende,

Erato sobre nós o manto estende

E os versos nunca param de nascer...
*

Soberbos frutos desta humana sede,

São os versos que Erato nos concede

Quando desce até nós, para nos ver.
*


Maria João Brito de Sousa - 25.02.2021 - 12.29h
***

4.
*

“Quando desce até nós para nos ver”

A si sim, vê-a sempre e a mim não

Eu bem clamo por ela mas em vão

E nunca a vejo aqui aparecer
*

Aquilo que eu escrevo pode ser

Um verso semelhante, um verso irmão

Que segue o irmão mais velho....imitação

No falar, no brincar e no dizer
*

Mas a irmã mais velha é quem comanda

Eu sou irmão mais novo que atrás anda

Que a musa não me dá um grande trato
*

Respondo como posso atrás de si

Compondo como vejo ao vir aqui

Porque quem não tem cão caça com gato
*

Custódio Montes


(26.2.2021)
***

5.
*

"Porque quem não tem cão caça com gato",

Se assim cria sonetos tão sem par,

Creio bem que se quer menorizar

Ao dizer que é a mim que fica grato...

*

Também sou aprendiza dessa Erato

Que aqui estamos os dois a partilhar;

Nenhum de nós lhe chega ao calcanhar,

Ninguém, como ela, sabe o ponto exacto
*


Da perfeita harmonia a que aspiramos

Na profusão de versos que engendramos

Dando sempre o melhor que houver em nós.
*


Humildes aprendizes vamos sendo,

E criativos sempre que escrevendo

Ao som da sua doce e clara voz.
*


Maria João Brito de Sousa - 26.02.2021 - 12.24h
***

6.
*

“Ao som da sua doce e clara voz.”

Também concordo, amiga, que aprendiz

É todo o ser que avança e é feliz

Que quem não aprender não chega à foz
*

Mantém-se emaranhado e fica a sós

Não sabe progredir nem o que diz

A áurea sempre em baixo e a cerviz

E raro chega ao cais ou é veloz
*

E se além da Erato e seu engenho

Tivermos uma amiga como eu tenho

Então voa-nos alto o pensamento
*

Alcançam-se horizontes alargados

Poemas de excelência e afamados

Com engenho e arte em casamento
*

Custódio Montes

(26.2.2021)
***

7.
*

"Com engenho e arte em casamento"

De que Erato se digne ser madrinha,

Nasce esta força que nos encaminha

E nos concede a graça do talento.
*


A si, que me alimenta, eu alimento,

Que a reciprocidade se adivinha

Em cada estrofe ou mesmo em cada linha

Do que aqui transformamos em sustento.
*


Por vezes é lirismo, o que nos move,

Noutras é a revolta, quando chove

Sobre este humano mundo o preconceito...
*


Erato, tolerante, não condena

A autonomia desta nossa pena,

Desde que o verso nos brote do peito.
*


Maria João Brito de Sousa - 26.02.2021 - 15.40h

***

8.
*

“Desde que o verso nos brote do peito.”

Do fundo, bem do fundo lá da alma

Depois ninguém nos vence e leva a palma

A forma de dizer, também o jeito
*

A ideia às vezes vem quando me deito

E surge então a musa muito calma

Segreda-me ao ouvido e assim me espalma

Um tema e um caminho a preceito
*

Não sei se é Erato, a musa bela,

Mas não identifico o nome dela

Por isso é que a chamo dia a dia
*

Mas sei que é uma musa muito fina

Que manda e encarrega quem me ensina

O que me inspira e dá muita alegria
*

Custódio Montes

(26.2.2021)
***

9.
*

"O que me inspira e dá muita alegria"

É conversar consigo em verso e rima

Deixando que o soneto me redima

Desta insalubre e chã monotonia...
*


"Caça" com gata, sim, mas não vadia,

E sim com a que acolhe quanto exprima

Como quem saboreia uma obra-prima

E que, a partir dessa obra, também cria.
*


Destas nossas conversas musicais

Nascem-nos versos nem sempre banais

E outros que são banais, mas criativos.
*


Podem-se dar abraços desta forma,

Sem que nos multem por fugir à norma

Imposta a todos nós, que estamos vivos.
*


Maria João Brito de Sousa - 26.02.2021 - 21.23h

***

10.
*

“Imposta a todos nós, que estamos vivos”

A norma vale pouco se é mal feita,

Ou rebuscada e prenhe de maleita

Importa é antes sermos criativos
*

E também na palavra interventivos

Não basta ser a rima só perfeita

Mas ter um conteúdo que deleita

E sensações e gostos chamativos
*

Por vezes uma norma não tem rosto

E, mesmo tendo, há coisas que não gosto

Mal feitas, perigosas muito mais
*

Poema, para nós, é como um filho

Tem alma, dá prazer, ostenta brilho

E trocam-se “conversas musicais”
*

Custódio Montes

(27.2.2021)

***

11.
*

"E trocam-se "conversas musicais"";

Se as horas passam movidas a jacto

Sempre que nos visita a bela Erato

Esquecida de que somos só mortais...
*


E lá vamos nas asas pontuais

Do versejar lançado ao desbarato

Numa coroa, sem espinhos, nem recato,

Que se vai alongando mais e mais...
*


Musa, porém, não sou, nem nunca fui;

Sou obreira do verso que em mim flui

Como o sangue que as veias me percorre.
*


Podemos ser mortais, poeta amigo,

Mas o poema é algo muito antigo

E a Poesia, essa, nunca morre!
*


Maria João Brito de Sousa - 27.02.2021 - 12.39h

***

12.
*

“E a Poesia, essa, nunca morre!”

Também penso assim, é evidente,

Poeta é só quem poesia sente

E anda em seu caminho e o percorre
*

E poema a poema ergue uma torre

Que seja bem visível, saliente

Amada e sentida pela gente

Que a admira, a vê e a ela acorre
*

A musa anda aqui e anda ali

Não se vê, foge, foge, eu nunca a vi

Mas sente-se com muita precisão
*

Poema trás poema logo atrás

Então cada um vê que é capaz

E a musa é mesmo isso inspiração.
*

Custódio Montes

(27.2.2021)
***

13.
*

"E a musa é mesmo isso, inspiração",

Um quase intraduzível não-sei-quê,

Algo que nos habita e nem se vê

Mas que sempre deduzo ser paixão.
*


Chamem-lhe Erato, chama ou vocação,

A força que nos move é o que é...

Que importa se é ateia ou se tem fé,

Se se reparte em pura comunhão?
*

Quando nasci, trazia já comigo

A raiz desta graça... ou é castigo?,

Que nos impõe criar para viver...
*


Se é certo que brinquei, estudei, cresci,

Mais certo é que, de quanto já vivi,

Se escolha houvesse, isto iria escolher.
*


Maria João Brito de Sousa - 27.02.2021- 15.14h
***

14.
*

“Se escolha houvesse, isto iria escolher.”

Escolha não precisa, é natural

Nasceu num ambiente cultural

Que a inundou e assim a fez crescer
*

Eu andei pelo campo e a aprender

Olhei as andorinhas, bem e mal

O nascer e o crescer dum animal

E andei pelas encostas a correr
*

Se for condicional o que me afirma

Eu acredito ainda, o que confirma

Que Erato se parece bem consigo
*

Só assim compreendo toda a ênfase

Começando a coroa com a frase:

“Erato não serei, poeta amigo”
*

Custódio Montes

(27.2.2021)

***

 

 

 

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