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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
20
Mar21

AURORA

Maria João Brito de Sousa

Aurora.jpg

AURORA
*
(Soneto em verso alexandrino)
*


Porque a vida não pára e o mar é tanto ainda,

Assim que noite finda, renasce a manhã clara

Sobrançando a antepara assim que a vela guinda;

Como será bem-vinda e como nos é cara!
*


Como é preciosa e rara assim que se deslinda

E a sorrir nos brinda enquanto nos prepara

Pra quanto nos separa em estando desavinda;

A aurora na berlinda e nós correndo para
*


A luz com que nos cinda assim que nos beijar...

Já esmaece o luar onde o sol vai espreitando

A barca sem comando ainda a flutuar
*


À deriva num mar nem sempre azul e brando;

Que remador, remando, a pode impulsionar

Se a aurora demorar e a luz lhe for faltando?
*

 


Maria João Brito de Sousa - 18.03.2021 - 10.08h

19
Mar21

"JUST ANOTHER VIDEO GAME"

Maria João Brito de Sousa

video game 2 do noticias ao minuto.jpg

"JUST ANOTHER VIDEO GAME"
*

 

Rejeito a espada e recuso a parede;

Se uma me fere, a outra me encurrala

Na minha velha, empoeirada sala

Que apenas tem saída para a "rede"
*


E, cá por dentro, cresce-me uma sede

Que, lá por fora, a muita gente abala;

Quando essa sede cresce, nada a cala

E tanto cresce que ninguém a mede...
*


Há porém que arriscar, eu bem o sei,

Pois entre um risco certo e um possível,

Será pelo segundo que optarei
*


Mas, caso haja mudança irreversível

Deste equilíbrio instável que alcancei,

Ou ganho o jogo, ou desço mais um nível...
*

 

Maria João Brito de Sousa - 18.03.2021 - 14.00h

18
Mar21

SERVIDO AO POSTIGO - Coroa de Sonetos - Maria João Brito de Sousa e Jay Wallace Mota

Maria João Brito de Sousa

rapunzel.jpg


SERVIDO AO POSTIGO

*
Coroa de Sonetos
*

Maria João Brito de Sousa (Oeiras, Portugal) e Jay Wallace Mota (Belém, Brasil)
***
1
*

Trago um soneto servido ao postigo;

Vá prá fila senhor concidadão

Tal qual como se fosse comprar pão

Ou tomar um café... sem um amigo.
*


Adquira um verso ou qualquer outro artigo

Pois passa o meu postigo a ser balcão

De um boteco de esquina sem patrão,

Sem tecto, sem cadeiras, nem abrigo...
*


Vou servir-lho no copo descartável

De um protesto que sei incoerente,

Mas que se vai tornando inevitável
*


Pois já não sei se sei s`inda sou gente

Se apenas sou mais uma variável

De uma curva ascendente ou descendente...
*


Maria João Brito de Sousa - 12.03.2021 - 11.21h
*

(em co-autoria com a minha irreverentíssima Musa)
***

2.
*

De uma curva ascendente ou descendente,

Depende o mundo todo, a cada dia,

Pra ver a evolução da pandemia

E decidir os passos para frente.
*

Mostrados em escala contundente,

Os gráficos revelam uma fria

Maneira de medir essa agonia

Porque só mostram números, não gente!
*

Mas o que posso ver pelo postigo

Pelo qual te proteges num abrigo,

Em um modo de agir tão consciente,
*

Que mesmo eficaz, frente a bruma turva,

Pouco importa a tendência da tal curva,

Tu serás variável dependente!
*

 

Belém, 14 de março de 2020.

Jay Wallace Mota
***

3.
*

"Tu serás variável dependente"

De uma resiliência natural

Hoje bem burilada por um mal

Que caiu sobre ti e toda a gente
*


E hás-de conseguir ser paciente

Pois verás que o convívio virtual

Embora bem mais pobre que o real,

É também fuga ao medo deprimente.
*


Se ao postigo me serves os teus versos

Nestes tempos tão duros, tão adversos,

Espero que, um dia, mos sirvas em mão...
*


Terá de haver um fim para a clausura

Ou morreremos todos desta cura

Porque também nos mata a solidão.
*

 

Maria João Brito de Sousa - 15.03.2021 - 11.32h
***

4.
*

Porque também nos mata a solidão,

Ao nos trancar qual fôssemos cativos

Que, a falta de melhor definição,

Nos torna verdadeiros mortos-vivos!
*

 

Não que me contraponha à solução,

Que nos impõe limites restritivos,

Os quais aceito, até sem coerção,

Pois vejo os resultados positivos.
*

Porém, o que de fato já me assusta

É perceber a forma, sempre injusta,

Que não distingue os fortes dos mais fracos;
*


Quando se impõe iguais obrigações

Aos poucos que se isolam em mansões

E a tantos que se juntam em barracos!
*

 

Belém, 15 de março de 2021.

Jay Wallace Mota.
***

5.
*

"E a tantos que se juntam em barracos"

Insalubres, tão pobres que um só pão

Se divide por cinco, à refeição

Que foi servida em louça feita em cacos.
*


Dormem no chão embrulhados em sacos,

Que muitos del`s não têm nem colchão

E, por mais que procurem solução,

Não conseguem tapar tantos buracos.
*


Do outro lado, em casas luxuosas,

Parece essa clausura um mar de rosas

Entre edredões de penas e o regalo
*


Das refeições servidas em bandejas;

Lagosta, caviar e, enfim, cerejas

Pr` acompanhar um Porto*, dos "de estalo"!**
*

 

Maria João Brito de Sousa - 15.03.2021 - 17.31h
*

* Vinho do Porto

** De estalo - expressão muito usada em Portugal para adjectivar os vinhos mais requintados.
***

6.
*

“P’ra acompanhar um Porto, dos de estalo”,

Para valorizar a refeição,

Que come sem sequer dar atenção

Aos números que assiste sem abalo!
*

 

Ignora que chegou-se ao gargalo

De um sistema em completa lotação,

Gerido por um louco fanfarrão,

Com quem ele costuma ir no embalo;
*

 

Bradando sempre contra o isolamento,

Pois só pensa em seu próprio rendimento;

Crítica os exageros sem motivos!
*

 

E enquanto toma um vinho envelhecido,

Vê seu trabalhador, todo espremido,

Exposto nos transportes coletivos!
*

 

Belém, 15 de março de 2021.

Jay Wallace Mota.
***

7.
*

"Exposto nos transportes colectivos"

Como se fosse carne pra canhão*,

Não gente com família e coração

E que é suporte dos que inda estão vivos.
*


Esses que afinal são os mais activos

Dos alicerces vivos da nação,

Vão sendo destratados sem razão

E sem medicação nem lenitivos
*


Vão tombando às dezenas, aos milhares,

Nas valas que os civis e militares

Vão abrindo e fechando sem parar.
*


Será que são deveras descartáveis

As vidas desses pobres miseráveis

Que sufocam assim, sem pinga de ar?
*

 

Maria João Brito de Sousa - 15.03.2021- 20.03h
*

*Carne pra canhão - Expressão muito usada na tropa para designar os soldados rasos que eram enviados para as frentes de batalha para morrer e que abrange também os mais pobres, os considerados "dispensáveis à sociedade".

***

8.
*

 

“Que sufocam assim, sem pinga de ar”

E passam a sentir dentro do peito

O tempo que se torna mais estreito

Que o tempo que dispõe pra procurar
*

 

Sem nada e sem ninguém com quem contar

Procuram encontrar de qualquer jeito

Nos hospitais lotados algum leito

Até morrer nas filas sem achar!
*

 

E justo quando já se tem vacina

O moribundo chora, se lastima

E luta pra ficar firme na raia...
*

 

Mas sem quem possa ouvir seu choro rouco,

Ele vai se entregando pouco a pouco,

C’a sensação de quem morre na praia!
*

 

Belém, 15 de março de 2021.(18:37h).

Jay Wallace Mota.
***

9.
*

"C`a sensação de quem morre na praia"

Junto com a revolta que brotava

Do peito imóvel que antes ofegava

Como potro selvagem preso à baia.
*

 

Na contra-mão da vida, a morte ensaia

Uma dança letal que ninguém trava;

Já não respira alguém que respirava

E a espécie humana torna-se a cobaia
*

 

Da procura imp`riosa duma cura

Que ninguém sabe se será segura,

Ou se pode trazer um novo p`rigo
*


E enquanto o "jogo" assim se desenrola,

Eu, que não passo de uma velha tola,

Componho uns versos pra venda ao postigo...
*

 

Maria João Brito de Sousa - 15.03.2021 - 22.39h

***
10.
*

“Componho uns versos pra venda ao postigo...”

É sempre o que me dizes quando assunto,

Ou se indiscretamente te pergunto

Por que te isolas dentro deste abrigo!
*

Parece até que vives de castigo!

Ou será que não queres ninguém junto?

Que possa intrometer-se no conjunto;

Aquele que a tal musa faz contigo!
*

Não penso mexer nessa sintonia,

Mas quando terminar a pandemia,

E todos nos livrarmos desse medo,
*

Prometo, e vou cumprir tudo que digo,

Depois de escancarar esse postigo,

Vou ver, além da porta, o teu segredo!
*

 

Belém, 15 de março de 2021.

Jay Wallace Mota.
***

11.
*

"Vou ver, além da porta, o teu segredo"

Que não é mais do que uma minudência

Pr`aliviar o Estado de Emergência

Que fechara o comércio. E, que degredo!,
*


Só ao postigo é que, de manhã cedo,

Algumas lojas servem, com prudência,

Aquilo que esta nossa impaciência

Exigia normal, esquecendo o medo...
*


Esta medida, muito discutida,

Foi depois pelos "media" difundida...

Julguei que se soubesse, por aí,
*


Que os postigos, aqui em Portugal,

São os reis deste novo não-normal...

(sirvo, ao postigo, aquilo que escrevi)
*

 

Maria João Brito de Sousa - 16.03.2021 - 10.59h

***

12.
*

 

“(sirvo, ao postigo, aquilo que escrevi)”

O que parece ser o não normal

Neste momento triste em Portugal,

Eu te asseguro ser normal aqui!
*

 

Não só pelas razões que tens aí,

Em decorrência desse tal lockdown!

Além deste, há por cá um outro mal

Que, de banal, eu quase me esqueci!
*

 

Aqui, nossos receios, sobressaltos

Decorrem da frequência dos assaltos

Seja à porta de casa ou da oficina!
*

 

O que vai nos minando a resistência

Porque quando a doença é violência,

Nem se tem a esperança da vacina!
*

 

Mosqueiro, 16 de março de 2021, (14:38h).

Jay Wallace Mota
***

13.
*

"Nem se tem a esperança da vacina"

Na qual não tenho assim tanta confiança;

Este vírus sofreu tanta mudança

Que ressurgiu mais forte em cada esquina
*


Porém, antes ter esperança pequenina

Do que, de todo em todo, não ter esp`rança

Que eu bem me lembro da cruel matança

Da Pneumónica, a trágica assassina...
*


No caso da violência, Portugal,

É bem mais moderado. Essoutro mal

Não nos aflige tanto quanto a vós.
*

 

Neste "jardim à beira-mar plantado"

Toda a gente prefere ouvir um fado

A cometer um qualquer crime atroz.*
*

 

Maria João Brito de Sousa - 16.03.2021 - 18.30h

***

14.
*

 

“A cometer um qualquer crime atroz”

E assim levar alguém à fria cova,

Prefiro reviver a Bossa Nova,

Ouvindo João Gilberto a baixa voz!
*

 

C’alguém com quem pudesse estar a sós!

E viver meu momento Casanova,

Cantando meu amor; loas em trova!

Sem me importar com contras e nem prós!
*

 

Porém, devido à louca pandemia,

Não posso ter nenhuma companhia,

Quer seja como amante ou como amigo!

 

Porquanto, sem querer ser insensato,

Privado de estreitar qualquer contato,

“Trago um soneto servido ao postigo.”
*

 

Belém, 16 de março de 2021.

Jay Wallace Mota.
***

 

 

 

 

 

17
Mar21

PÁSSAROS DE PANO

Maria João Brito de Sousa

pássaro de pano.jpg

PÁSSAROS DE PANO
*


Trago no peito um pássaro de pano

Que anseia por voar mesmo sem asas

E vê gaiolas onde se erguem casas

A estiolar de pasmo e desengano.
*


Nos olhos, outro pássaro que, insano,

Vai esvoaçando sobre acesas brasas

Que são as sobras destas marés vazas

Que entraram na vazante há mais de um ano.
*


Dois pássaros são, pois, dos que não voam

Se não por dentro da sua loucura

E enquanto sonham, dos mais não destoam
*


Já que o pano que envergam tem textura,

Bom corte e até botões dos que abotoam...

Se teimam em voar, quem mos segura?
*

 

Maria João Brito de Sousa - 15.03.2021 - 15.00h

*

16
Mar21

MUDAM-SE OS TEMPOS...

Maria João Brito de Sousa

ampulheta.jpg

MUDAM-SE OS TEMPOS...
*

 

"Sem aos outros mentir, vivi meus dias"

E assim julguei poder continuar

A vida inteira, sem sequer sonhar

Que alguém me cobraria, em arrelias,
*


Verdades que desprezam cortesias

E que juraram jamais se vergar

Ao medo de poder não agradar,

Nem à vaidade ou às hipocrisias...
*


O tempo foi passando de mansinho,

Aos poucos fui crescendo e aprendendo

E, às tantas, dei comigo tão sozinho
*


Que dessa escolha agora me arrependo

E tanto minto enquanto aqui caminho,

"Que hoje nem creio no que estou dizendo"
*

 

Maria João Brito de Sousa - 15.03.2021 -16.09h
*


Entre aspas, versos de Guimarães Passos (Brasil) - Soneto criado para uma rubrica do Horizontes da Poesia

*
Nota - A autora NÃO se revê no que acaba de escrever

15
Mar21

PASSA A ÁGUA - Coroa de Sonetos

Maria João Brito de Sousa

passa a água.jpg

PASSA A ÁGUA

*
Coroa de Sonetos
*

Custódio Montes e Maria João Brito de Sousa

1.

*
Nas pedras passa a água a correr

Eu olho para ela devagar

Há gente junto ao rio a passear

Daqui sobre a ponte estou a ver
*


Nas margens há um verde a aparecer

Junto a uma casa um pomar

Com flores bem bonitas a brotar

Um branco um cor de rosa ...que prazer
*

Às vezes aparece um paraíso

Uma flor, uma imagem, um sorriso

Que dá tanto prazer e alegria.
*

Que a gente esquece a dor que às vezes sente

Remoça por momentos de repente

E vê em cada coisa poesia
*

Custódio Montes
*
13.3.2021
*

2.

*
"E vê em cada coisa poesia"

E sente em cada pedra em que se sente

Um coração pulsar pausadamente,

Tal qual vivesse a pedra, por magia...
*


Passa a água entoando a melodia

De um tema já esquecido mas presente

E passa a melodia pela gente

Como uma suave mão que acaricia...
*

 

Lá, nesse paraíso que descreve

Como se fosse mais que um sonho breve,

O dia pára tonto, embevecido,
*

 

E de um segundo faz-se eternidade;

Onde se erga esse templo sem idade,

Ajoelha-se o Tempo, a nós rendido.
*

 

Maria João Brito de Sousa - 14.03.2021 - 00.00h

*

3.
*

“Ajoelha-se o Tempo, a nós rendido”

Com cores, movimentos, um bailar

Da natureza em festa e o nosso olhar

Alegre e a sentir-se envaidecido
*

O rio transparente e agradecido

Entoa uma canção e esse cantar

Afaga as suas margens ao passar

Realça mais o verde colorido
*

A alma engrandece de alegria

À volta tudo encanta e a poesia

Envolve o nosso olhar e o nosso ser
*

Parece até mudarem-se os papéis

Em festa a natureza, nós os reis

Aos pés o nosso reino a agradecer
*

Custódio Montes

(14.3.2021)
*

4.
*

"Aos pés o nosso reino a agradecer"

Enquanto nós, rendidos, nos prostramos

Sabendo bem que jamais fomos amos

Nem mesmo do poema que nascer
*


Pois talvez o fiquemos a dever

À natureza que aqui contemplamos

Já que somos irmãos da flor, dos ramos

E amados filhos da raiz do Ser...
*


Seremos tudo e nada, por momentos;

Símbolos pontuais dos elementos,

Feitos de carne e osso e sonho e espanto
*


Qu` embalados pl`a musa dos sentidos,

Aos poucos vamos sendo convertidos

À adoração do seu perfeito manto.
*


Maria João Brito de Sousa - 14.03.2021 - 09.43h

***

5.
*

“À adoração do seu perfeito manto”

Que andamos neste tempo a contemplar

O sol a flor a água a marulhar

E tudo ao redor que é um encanto
*

O monte a engalanar-se e em cada canto

Sentimos alegria a germinar

Connosco a natureza par a par

Irmã ao pé de mim que amo tanto
*

Às vezes imagina que a beleza

Rodeia o nosso corpo e a natureza

É nossa mãe e em si nos faz nascer
*

E penso que sou árvore a sair

Lá das suas entranhas e a sorrir

Com a eternidade a acontecer
*

Custódio Montes

(14.3.2021)
***

6.
*

"Com a eternidade a acontecer"

Ali ficamos nós, meros mortais,

Sincronizados átomos, banais

Formulações da vida quando quer
*


Moldar-se em homem, esculpir-se em mulher

Pra com eles ascender aos ideias,

Pois tanto pode a Vida e muito mais

Que o pouco que julgamos, nós, saber...
*


Passa a água nas pedras do ribeiro;

Foi ela o nosso berço, o som primeiro,

Que se foi replicando em força e vida.
*


Tudo vem de uma eterna construção;

Mesmo a poesia é pura evolução

Multiplicada, enquanto dividida...
*


Maria João Brito de Sousa - 14.03.2021 - 11.11h
***

7.
*

“Multiplicada, enquanto dividida

Mas num élan maior se conjugada

A vida é bela então se irmanada

Que sem conjugação é mal vivida
*

O amor bem como a luta sempre erguida

Em prol da natureza tão amada

Aumenta o amor da gente nesta estrada

Agreste mas também muito florida
*

Irmã é sempre irmã para beijar

E para ter connosco e acompanhar

A cada tempo e hora com magia
*

A irmandade chega à natureza

Afagamos-lhe a alma e a beleza

E juntos lhe cantamos poesia
*

Custódio Montes

(14.3.2022)
***

8.
*

"E juntos lhe cantamos poesia"

Já que por ela fomos concebidos

E dela somos frutos prometidos

Ao compromisso de quem gesta e cria.
*


Passaremos, também, num qualquer dia,

Mas teremos, então, sido cumpridos

Não só no palco fértil dos sentidos,

Mas também nestes vôos da harmonia
*


Quando, em poemas vindos das entranhas,

Subimos montes, escalamos montanhas,

Numa vertigem que nos liga ao todo
*


E não paramos nem pra descansar;

Só na vertigem podemos criar

Pois não sabemos ser de um outro modo
*


Maria João Brito de Sousa - 14.03.2021 - 12.30h
***

9.
*

“Pois não sabemos ser de outro modo”

Que somos o que somos nada mais

Sem termos preconceitos doutorais

E sem pensar que o mundo é nosso todo
*

E deste pensamento à volta rodo

E não avanço aqui nada demais

A gente nunca deve ser jamais

Aquilo que não é nem mesmo engodo
*

Mas ter um sentimento uma paixão

É a forma de mostrarmos gratidão

Que nessa humildade há só grandeza
*

E nada é demais ver e louvar

A alegria de estarmos a cantar

A vida que nos dá a natureza
*

Custódio Montes
*

(14.3.2021)
***

10.
*

"A vida que nos dá a natureza"

Concede-nos paixão, mas não poder

Que esse não sabe nem pode entender

O quanto nos fascina essa beleza
*


Da ribeira que ri e chora e reza

Mas que não pára nunca de correr

Até chegar à foz e se render

Ao grande mar que a espera sem surpresa.
*


Dessa mesma humildade somos feitos

(embora alguns possam julgar-se eleitos)

Pois bem sabemos; tudo tem um fim
*


Mas a paixão, se mal compreendida,

Pode passar por ser intrometida,

Vaidosa, egocentrada... ou coisa assim....
*


Maria João Brito de Sousa - 14.03.2021 - 14.08h
***

11

“Vaidosa, egocêntrica...ou coisa assim”

Mas esta natureza que se canta

Com a paixão que sempre nos encanta

Não pensa desse modo tão ruim
*

Ao cantar-lhe a beleza até ao fim

Não nos pode acusar de forma tanta

Que nos deixe ficar pela garganta

O canto que há nas rosas dum jardim
*

A paixão que mostramos desta forma

É o modo como a gente assim a informa

De como nós gostamos tanto dela
*

Não é intromissão é modo de arte

Para cantá-la assim por toda a parte

Fazendo ressaltar como ela é bela
*

Custódio Montes

(14.3.2021)
*

12.

*

"Fazendo ressaltar como ela é bela"

E como dela nós fazemos parte,

Receio que me falte "engenho e arte"

Pra descrever os mil encantos dela
*

E, ou exagero, ou calo-me, à cautela...

Soubesse eu, natureza, aqui explicar-te

Como é que me é possível tanto amar-te

Sem poder retratar-te sobre tela,
*

Sem jamais ter tentado, no passado,

Reproduzir em tela um rio, um prado,

Ou as plantas que são minhas irmãs...
*


Mas os teus filhos, homens e mulheres,

Pintei como quem pinta mal-me-queres

Sob um sol que se enchia de amanhãs...
*


Maria João Brito de Sousa - 14.03.2021 - 15.40h

***

13
*

“Sob um sol que se enchia de amanhãs”

E ao cantar dessa forma, de certeza

Que o seu canto provém da natureza

E das flores que são nossas irmãs
*

Atrai, a natureza, como imãs

Que atiram para longe esta pobreza

Que rodeia o humano; e a nobreza

Faz-nos fortes, assim como titãs
*

Hoje cantou o rio e a sua água

E foi um dia inteiro sem ter mágoa

Contente e toda cheia de mestria
*

Não seja, minha amiga, tão modesta

Que pôs a natureza toda em festa

E a nós todos bem cheios de alegria
*

Custódio Montez

(14.3.2021)
***

14.
*

"E a nós todos bem cheios de alegria"

Por tão extrema beleza termos visto,

Ou mesmo imaginado. Até do xisto

Brota uma áspera torga, em rebeldia...
*


Rude mas bela, é pura sinfonia

Doce e selvagem em estranho registo;

Quando nela me (a)fundo, não existo,

Não sou nada onde tudo é sinergia!
*


A montanha escarpada, o vale escondido,

A brisa que sussurra ao meu ouvido

Segredos que não mais irei esquecer
*


E enquanto as aves sob o manto azul

Adiam a partida rumo ao Sul,

"Nas pedras passa a água a correr"
*

 

Maria João Brito de Sousa - 14.03.2021 - 17.20h


***

 

14
Mar21

AO SEXAGÉSIMO SÉTIMO ANIVERSÁRIO DE UMA POETA SEM IDADE

Maria João Brito de Sousa

A UMA POETA SEM IDADE.jpg

AO SEXAGÉSIMO SÉTIMO ANIVERSÁRIO
DE UMA POETA SEM IDADE
*

À MEA
*

 

Sessenta e sete, já? Ninguém diria!

Ao lê-la tenho sempre a sensação

De estar a ler alguém cuja paixão

Se eternizou em flores e poesia,
*


De quem, não tendo idade, contraria

O facto de estar já no fim do V`rão

Da sua muito humana condição...

Mas que era intemporal, já eu sabia;
*


Brinca c`os versos como uma menina

E é tão madura quanto um figo doce,

Por isso é sempre grande e pequenina...
*


Poderia lá ser que assim não fosse

Se a concebo ora meiga, ora ladina,

Sobre os jardins floridos que nos trouxe?
*

 


Maria João Brito de Sousa - 13.03.2021 - 17.07h

*

À MEA

13
Mar21

SERVIDO AO POSTIGO

Maria João Brito de Sousa

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SERVIDO AO POSTIGO
*


Trago um soneto servido ao postigo;

Vá prá fila senhor concidadão

Tal qual como se fosse comprar pão

Ou tomar um café... sem um amigo.
*


Adquira um verso ou qualquer outro artigo

Pois passa o meu postigo a ser balcão

De um boteco de esquina sem patrão,

Sem tecto, sem cadeiras, nem abrigo...
*


Vou servir-lho no copo descartável

De um protesto que sei incoerente,

Mas que se vai tornando inevitável
*


Pois já não sei se sei s`inda sou gente

Se apenas sou mais uma variável

De uma curva ascendente ou descendente...
*


Maria João Brito de Sousa - 12.03.2021 - 11.21h
*

 

(em co-autoria com a minha irreverentíssima Musa)

 

 

 

12
Mar21

PRINCÍPIO E FIM

Maria João Brito de Sousa

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PRINCÍPIO E FIM
*

 

"Um dia o Sol virá num carro de ouro",

Fará, do gelo, gelo derretido

E amainará o vento já rendido

À terra que enrubesce, qual tesouro
*


Voarão borboletas e o besouro,

Que acordará depois de adormecido,

Rebolará o esterco intumescido

Das lavras que são lá do seu pelouro...
*


Ó V`rão da minha infância preservada

Nas coisas fragmentadas e sem fim

Que, como as pedras nuas da calçada,
*


Não sabem dizer "não" nem dizer "sim";

Irás comigo até ao fim da estrada

"E então vais renascer só para mim"!
*


Maria João Brito de Sousa - 10.03.2021 - 18.15h
*


Entre aspas, versos de Tito Olívio

*

Soneto em verso heróico criado a partir de dois versos do poeta Tito Olívio para uma rubrica do grupo de poetas do Horizontes da Poesia.

11
Mar21

SONETO PARA UM PIC-NIC NO JARDIM

Maria João Brito de Sousa

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SONETO PARA UM PIC-NIC NO JARDIM
*

 

Venho sentar-me num destes banquinhos;

Trago um poema no bojo da saia

E a curiosidade da catraia

Que explora bosques procurando ninhos.
*


Não dou conselhos nem sigo os caminhos

Pelos quais meu olhar se alonga e espraia

E é melhor que me sente antes que caia

Do alto dos meus passos rasteirinhos...
*


O meu soneto é para partilhar;

Foi cortado em fatias quase iguais

Pra que ambas o possamos degustar.
*


Não é pequeno nem grande demais

E foi cozido no forno solar

Em que preparo as refeições normais...
*

 

Maria João Brito de Sousa - 10.03.2021 - 21.49h

*

 

Para um  convite da Blue Bird

 

Imagem - "Dejéuner Sur L`Herbe" - Pablo Picasso (d`aprés Manet)

10
Mar21

CARTA DE UMA METADE DE MIM PARA A OUTRA METADE DE MIM

Maria João Brito de Sousa

DICOTOMIA.jpg

CARTA DE UMA METADE DE MIM

PARA A OUTRA METADE DE MIM
*

 

Foi-se-me a Musa! Tentarei dizer

Quanto não sei dizer se ela diria

Neste dia que nasce, ou noutro dia

Que pode ser um amanhã qualquer...
*


Faço de Musa e, como quem não quer,

Vou escrevendo esta carta à revelia

Do que uma completude inspiraria

Pois, quando unidas, somos um só ser.
*


No espaço que concedo à fantasia,

Esteja essoutra metade onde estiver,

Que lhe não falte nunca a ousadia
*


De assumir-se metade da mulher

Que a sua ausência tanto contraria

Por tanto de si própria depender...
*

 

Maria João Brito de Sousa - 10.03.2021 - 12.57h

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