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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
28
Set20

NEM CALDO FIADO, NEM MEL SEM SABOR!

Maria João Brito de Sousa

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NEM CALDO FIADO, NEM MEL SEM SABOR!
*

 

(Soneto em verso hendecassilábico)
*


Acima hei-de pôr a quem seu caldo entorne

De quem mesa adorne com ranço e bolor!

Sei bem que houve dor, uma dor enorme,

Complexa e disforme. Se inda havia amor...
*

 

Mas sei, sei de cor, não haver quem contorne

Coisa tão conforme com formas de expor

A alma da flor que em todos nós dorme;

Que a dor se transforme em seja o que for!
*

 

Falta-me propor que esse caldo entornado

Seja transformado em mancha incolor,

Não vá o odor denunciá-lo estragado...
*

 

Está posto de lado. Se sobrar vigor,

Renova-se a flor sobre um caule inventado;

Nem caldo fiado, nem mel sem sabor!
*

 

 

Maria João Brito de Sousa - 27.09.2020 - 13.22h

 

 

Imagem retirada daqui

 

Soneto inspirado numa ladainha rimada da Janita

 

 

27
Set20

O BANDO

Maria João Brito de Sousa

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O BANDO
*


Às negras asas, deixou-as pender,

Nem mesmo a queda agora a apoquentava;

Sabia que este vôo era a perder,

Pra quê lutar se desistir bastava?
*

 

No princípio teimara em não descer,

Mas entendeu que o fim se aproximava,

Que as asas se negavam a bater

E que a queda final pouco tardava.
*

 

Agora que sabia não poder

Escapar ao negro abismo que a chamava,

De que lhe valeria o verbo querer
*

 

Ou a férrea vontade que gabava?

Cerrou os olhos para não mais ver

O bando que a voar continuava.
*

 


Maria João Brito de Sousa - 27.09.2020 - 10.45h

 

À Clara, minha irmã.

 

26
Set20

UM PÃO QUE NÃO TEM PREÇO

Maria João Brito de Sousa

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UM PÃO QUE NÃO TEM PREÇO
*


A grandeza do poeta não se mede;

Em metros não se conta. Em peso, pesa

Exactamente quanto a natureza

De mãos dadas c`oa sorte lhe concede.

*

Se a verso usado um novo se sucede,

De espantos se lhe mede essa grandeza

Pois se o não satisfaz certa certeza,

Procura a que lhe dê mais que o que pede.
*

 

Cavalga-me o poema os dias mornos

Sem esporas e sem sela, nem adornos,

Perdendo-se em lonjuras que não meço...
*

 

Logo um segundo acode. Os seus contornos

Começo a vislumbrar. Acendo os fornos

Em que cozinho um pão que não tem preço.

*

 

Maria João Brito de Sousa - 26.09.2020 - 12.11h

 

Imagem - Os Comedores de Batatas - Vincent Van Gogh, 1885

 

25
Set20

PODE UM VERSO ALBERGAR RAZÕES QUE NEM SONHEI

Maria João Brito de Sousa

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PODE UM VERSO ALBERGAR RAZÕES QUE NEM SONHEI
*

(Soneto em verso alexandrino)
*


De negro pintarei a esplêndida verdade

De um verso que me agrade. Depois o cantarei

E aos outros deixarei voar em liberdade

Que essa necessidade impõe-se ao que criei.
*


Se algum sonhar ser rei, faça-se-lhe a vontade

E embora a realidade arrase o que engendrei,

Nunca aprisionarei um verso que se evade,

Nem mesmo se a saudade entender que eu errei,

*

 

Que mais quis que o que dei, que ousei contrariar

A órbita lunar, os homens e a lei...

Não, não me calarei. Se posso argumentar
*

 

Devo justificar aquilo por que optei

Em nome do que sei não dever desdenhar;

Pode um verso albergar razões que eu nem sonhei!

*

 

 

Maria João Brito de Sousa - 25.09.2020 - 10.00h

 

 

Desenho de JÚLIO

24
Set20

TODO O SONETO É SÍNTESE (IM)PERFEITA

Maria João Brito de Sousa

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TODO O SONETO É SÍNTESE (IM)PERFEITA
*

 

Todo o soneto é síntese (im)perfeita

Da chama que em nós arde à flor da pele;

Se tudo o que sentirmos couber nele,

É dele que há-de nascer-nos a colheita.
*

 

Fraca colheita quando, por receita,

Nasce um poema que se nos revele

Silenciando quanto ao sangue apele,

Curvando-se, medroso, ao que o rejeita.
*

 

Fraca colheita, a que se não rebele,

Fraco o soneto quando se sujeita

A submeter-se àquilo que repele.
*

 

Fraca estarei, por obra de maleita,

Mas não hei-de partir sem que cinzele

Um que me deixe plena e satisfeita!

*

 

 

Maria João Brito de Sousa - 24.09.2020 - 12.15h

 

 

NOTA - E claro está que este soneto não é um daqueles que me fazem sentir que "ganhei o ar que respirei". É apenas mais um soneto/síntese (im)perfeita...

 

IMAGEM - Tela de Álvaro Cunhal

 

 

23
Set20

QUE CASTIGO!

Maria João Brito de Sousa

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QUE CASTIGO!
*


Se me desdizes, não te contradigo...

Cada qual tem a sua opinião

Mas se eu entendo que tenho razão,

Não deixa essa razão de estar comigo...
*

 

Vês segurança onde destrinço perigo?

Avisar-te é a minha obrigação,

Mas se onde digo sim, tu dizes não,

Respeito e não discuto mais contigo.
*

 

Não me assistem vaidade e presunção,

Só me assiste a amizade e não te obrigo

A partilhar da minha convicção.
*

 

Não me imponhas a tua. Não consigo

Mentir para evitar a discussão,

Nem fingir que concordo. Que castigo!
*

 

 

 

Maria João Brito de Sousa - 23.09.2020 - 13.39h

 

 

22
Set20

FRAGILIDADES

Maria João Brito de Sousa

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FRAGILIDADES

Ou

Pequenas Grandes Fraquezas Que se Confessam a Brincar
*

 


Hoje de manhãzinha ia matando

O quase nada que de mim sobrou;

Dez quilos de gravilha levantando,

Senti que o coração quase parou,

*

 

Que as vértebras rangeram protestando

E que a força nas pernas me faltou...

De a tão pouco saber-me estar vergando

Toda a minh`alma se me rebelou
*

 

E o corpo inteiro, embora vacilando,

Na tarefa impossível se centrou;

Assim a terminei resfolegando,
*

 

Tonta do esforço (mais do que já sou...),

Os "bofes pela boca" arremessando...

Tão pouco fiz... e tanto me custou!
*

 

 

Maria João Brito de Sousa - 22.02.2020 - 13.05h

 

 

 

 

21
Set20

A ESCOLHA

Maria João Brito de Sousa

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A ESCOLHA
*

 


Esquerda ou direita? Qual de vós se atreve

A decidir-se nesta encruzilhada?

Quantos de vós nunca decidem nada,

Quantos irão por onde a sorte os leve?
*

 

A escolha nunca é fácil, nem é breve,

Mas eu não hesitei e fiz-me à estrada;

Não me arrependo! A escolha era a acertada

E à esquerda é que o poema se me escreve,
*

 

Que o coração me bate como deve,

Que se faz leve a dura caminhada,

Que nem sequer a morte me deteve
*

 

Sempre que tive a vida ameaçada;

Foi essa a direcção que se manteve,

Que a minha decisão não estava errada!
*

 

 

Maria João Brito de Sousa - 20.09.2020 - 15.04h

20
Set20

NÓ-CEGO

Maria João Brito de Sousa

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NÓ-CEGO
*


Tudo quanto é matéria se dissolve,

Se espalha por aí desfeito em pó

E enreda-se o fio e surge o nó

Da saudade maior que nos envolve.
*

 

Nó decisivo que ninguém resolve,

Definitivamente agreste e só,

Nascido pra magoar, pra criar dó,

Nó-cego desta dor que nos revolve...
*

 

Nódoa caída no mais puro pano,

Inamovível falha a causar dano

Na manta já tecida, fio por fio,
*

 

Dia após dia, um ano após outro ano;

Por cada fio, um nó acorre insano

Sem ter escolhido o pano em que caiu...
*

 

 

Maria João Brito de Sousa - 20.09.2020 - 11.36h

 

 

Imagem retirada daqui

 

19
Set20

NO POEMA ACABO POR RESSUSCITAR

Maria João Brito de Sousa

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NO POEMA ACABO POR RESSUSCITAR
*

 

Setembro de doença e de amargura,

De tempestade atrás de tempestade...

Quem disse que Setembro era ternura

Se, para mim, Setembro é só saudade?

*

 

Mas se o mês de Setembro me esconjura

E me ensombra a noção de liberdade,

Faço-lhe frente. Um pouco de loucura

E invento um sol que muda a realidade!
*

 

De mortos me enches? De versos te cubro

Até que morras nos braços de Outubro

E se também Outubro me magoar,
*

 

Mais versos tecerei. Sempre os descubro

E assim que a vida me derruba a murro,

No poema acabo por ressuscitar!
*

 


Maria João Brito de Sousa - 19.09.2020 - 11.15h

 

 

18
Set20

SILÊNCIO!

Maria João Brito de Sousa

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SILÊNCIO!


*

Silêncio, que um poema vai ser escrito

Ainda que a palavra esteja gasta,

Esvaziada, esmagada como pasta,

Sangue pisado de um verbo proscrito,

*

Mescla magoada que em versos debito,

Mosto de um vinho sem nome nem casta...

Calai-vos por favor, que isto me basta

E em nome deste nada me credito,
*

Pois se de alma dorida, atormentada,

Peço silêncio em troca deste nada,

Ouvi-me, que este nada é quanto tenho...
*

Silêncio, que a palavra, amargurada,

Só em silêncio pode ser gestada;

Dela renasço e nela me despenho!
*

 

Maria João Brito de Sousa - 18.09.2020 - 11.25h

14
Set20

MARIA CLARA BRITO DE SOUSA - 24.11.1962/13.09.2020

Maria João Brito de Sousa

Clara - 24.11.1962-13.09.2020.jpeg

Minha única irmã. Tão diferentes e tão iguais, tão distantes e tão próximas...

Ambas dotadas de um sentido de humor algo mordaz, cada uma com sua doença crónica em estado avançado, contactávamo-nos por telefone quase diariamente e encontravamos forma de nos rirmos um pouco tentando adivinhar qual de nós partiria primeiro. Chegámos a fazer apostas... e rimo-nos  com isso e rimo-nos por isso.

Desta vez, Clara, foste tu quem ganhou a derradeira aposta... e eu perdi o riso.

Levaste contigo mais um pouco do pouco que me restava. O vazio é maior, muito maior do que o que poderias ter imaginado.

Dorme em paz, minha irmã.

 

Maria João Brito de Sousa

 

14.09.2020

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