Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

poetaporkedeusker

poetaporkedeusker

UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
30
Jul20

O NOSSO CANTINHO - Helena Fragoso e Maria João Brito de Sousa

Maria João Brito de Sousa

o nosso cantinho.jpg

O NOSSO CANTINHO 

Coroa de Sonetos

Helena Fragoso e Maria João Brito de Sousa
**


1
*

 

Guardei em minhas mãos o teu carinho

E nas tuas palavras meu amor

E assim vou prosseguindo este caminho

Entre a paz que me dás e alguma dor…
*


Guardei em mim o teu sabor a vinho

O teu toque suave, o teu calor….

Guardei o corpo teu que de mansinho

Ao meu se foi juntando com fervor….
*

Guardei, tudo guardei neste cantinho

Construído por nós devagarinho

Com todo este alicerce de valor…
*

Respeito, liberdade, um bocadinho...

Ternura, amizade e o carinho

E todo, todo o nosso imenso amor…
*

Helena Fragoso

**


2
*

"E todo, todo o nosso imenso amor"

Floresce na casinha que habitamos;

Dela somos escravos, sendo os amos,

Por ela abrimos asas de condor
*

E, sentindo prazer em vez de dor,

Alongamos as asas e voamos

Até ao infinito. Porque amamos

Até ao mais profundo despudor
*

A casa que, habitada, nos habita

Na qual até as tábuas pulsarão

E as portas são um órgão que palpita
*

Ao comando do nosso coração;

Pode essa casa ser, ou não, bonita,

Que é cega, louca e cega, esta paixão.
*

 

Maria João Brito de Sousa - 12.07.2020 - 12.35h
**

 

3

*

“Que é cega, louca e cega esta paixão”

Tão avassaladora de ternura

O que importa é que é boa enquanto dura

Tendo a dor e tristeza em contramão…
*

Tem a sonoridade da canção

O som de uma guitarra que em ternura

Ao dedilhar a melodia pura

Nos transmite uma paz de adoração…
*

Esse trinado suave de candura

Envolve este cantinho com doçura

E faz pulsar latente o coração…
*

Nos faz seguir a estrada com a ventura

Nos banha com carinhos e ternura

Seguimos lado a lado, mão na mão.
*

Helena Fragoso
*

 

4

*

"Seguimos lado a lado, mão na mão"

Abrindo portas a novos caminhos,

Tão convictas da nossa convicção

Quanto da confluência dos cantinhos

*

Onde guardámos, de alma e coração,

A pureza dos nossos brancos linhos;

A cabeça no céu e os pés no chão,

Lúcidas recusamos outros ninhos
*

Que mais forte é o ninho construído

Do que outro que nos seja prometido

Por quem não saiba amá-lo como nós;

*

O nosso, em liberdade concebido,

Não pode ser trocado nem vendido,

Pois nele habita a nossa própria voz.
*


Maria João Brito de Sousa - 17.07.2020 - 15.30h

*
5
*


"Pois nele habita a nossa própria voz"

E a tela que pintamos tu e eu

Em cores matizadas e onde nós

Desenhamos o que a vida nos deu…
*

Aqui estaremos juntos, nunca sós,

Teremos nossos astros, nosso céu.

Um cântico de paz que entre nós

Soará como o cântico de Orpheu…
*

Unidos pela própria nossa voz

Sempre seremos um, seremos nós,

Tudo neste cantinho que é tão meu…
*

Cantinho que será a nossa foz,

Nada o destruirá, pois é feroz,

Esta força que somos, tu e eu.
*
Helena Fragoso.
*

 

6
*

"Esta força que somos, tu e eu"

Neste nosso cantinho de poemas,

Leva-nos a voar da Terra ao céu

Nalguns instantes... segundos, apenas...
*

Outras vezes, porém, finge-se incréu

Rejeita um novo vôo e todo empenas

Cobre-nos com o pesado e denso véu

Das coisas mais pesadas, mais terrenas.
*

Este cantinho é tal e qual a vida

Que volta e meia prega uma partida,

Sem dar conta do susto que pregou
*

Nem eu estou, nem tu estás desprevenida

E em qualquer canto achamos a saída;

Abra-se a porta que o Tempo fechou!
*


Maria João Brito de Sousa - 19.07.2020 - 16.48h
*

 

7
*

Abra-se a porta que o Tempo fechou

Soltem-se sons da paz e da harmonia

E nos momentos aos quais eu me dou

Sempre renovo esta minha energia…
*

Aqui concentro aquilo que sou

Tudo o que sei e o que nem sabia…

Todos os sonhos que alguém já sonhou ..

E tantas coisas que eu nem sequer via…
*

Neste cantinho meu ser acordou

Viu o caminho e aqui se entregou

A suavidade que aqui existia….
*

Abra-se a porta que o Tempo fechou

Soam palavras que o vento cantou…

Nossos poemas feitos dia a dia….
*

Helena Fragoso
**


8
*

"Nossos poemas feitos dia a dia"

De incertezas, de risco e de ternura,

Vão conf`rindo suavíssima harmonia

Ao local deste encontro, na procura,
*

E o espaço da perfeita sintonia,

O centro da harmonia e da loucura

É esta pequenina sinfonia,

Ou esta melodia incauta e pura
*

Que sobre o meu joelho vou esboçando

Enquanto a pauta foge, esvoaçando,

E me deixa ao sabor de um improviso
*

Que me lança um sorriso honesto e brando;

Não sei se isto é real, se estou sonhando,

Mas correspondo, aberta num sorriso.
*


Maria João Brito de Sousa - 22.07.2020 - 15.00h

 

9
*

"Mas correspondo aberta num sorriso"

E te abençoo sempre com o olhar…

És o luar que amo e que preciso

Sempre presente na noite a brilhar…
*

E um poema sai-me de improviso…

Pinto uma tela neste nosso lar

Num tom perfeito, suave, conciso,

Como a ternura sabe desenhar…
*

E se estou triste ou se perco o juizo,

Logo me banhas com o teu sorriso,

E num abraço me vens acalmar…
*

Neste recanto tudo o que preciso

É a doce paz, um beijo, um sorriso,

Assim vivemos neste nosso lar.
*

Helena Fragoso
**

10

*


"E assim vivemos neste nosso lar"

Deveras pobre e, contudo, tão rico

Quanto o manto de prata do luar

E o brilho solar que nunca explico
*

Porquanto me fascina e faz calar

Bem mais que as coisas que nem qualifico

Por tão pouco as saber sequer explicar

Ao transcenderem quanto quantifico...

*


Neste cantinho nosso, muito nosso,

Há abraços à ceia e ao almoço,

Nada nos falta enquanto amor houver...
*

Bem sei que todo o fruto tem caroço

Mas, por enquanto, faço quanto posso

Pra que este (en)canto volte a renascer!

 

*

Maria João Brito de Sousa - 26.07.2020 - 15.46h

 

**
11
*


"Pra que este encanto volte a renascer"

Que tudo siga na forma mais certa

Que este ambiente de luz e prazer

Se não transforme em casa deserta.
*

Sempre sorrindo espelho no teu ser

Os meus desejos quando algo desperta..

E nos teus braços logo sinto ter

A calma , a paz e tudo se acerta.
*

E na essencia que te sinto ter

Posso encontrar a paz e o prazer

Vou caminhando segura, tão certa…
*

E este encanto volta a renascer

Pois é assim nosso jeito de ser,

E este amor será sempre uma oferta.
*

Helena Fragoso.
**

12
*

"E este amor será sempre uma oferta"

Que a este (en)canto trará mais beleza

E a luz que entrar pela janela aberta,

Também há-de sentar-se à nossa mesa
*

Inda que pobremente recoberta

E à meia-luz de uma só vela acesa...

perfaremos, contudo, a conta certa

E disso ambos teremos a certeza.
*

Espelham-se os versos meus nos versos teus,

Mais poemas nos nascem, feitos véus,

Dosséis que o nosso leito enfeitarão...
*

Depois serão os teus chamando o meus

E juntos voarão pr`além dos céus,

E, unidos, simplesmente... voarão!
*

Maria João Brito de Sousa - 28.07.2020 - 11.52h

**

13
*

"E unidos simplesmente voarão (!)"

Abrindo suas asas de condor

Em vôos de uma enorme dimensão

De ternura, de paz, riso e amor….
*

E nesses altos vôos mostrarão

Toda a verdade, todo esse valor…

Deste recanto e sua construção

Que nos abriga em seu doce calor
*

 

E juntos continuamos então

Neste caminho pleno de emoção

Unidos na poesia,no amor…
*

Fortalecendo assim nossa união

Unidos simplesmente voarão

Serão nossos poemas um louvor...
*

Helena Fragoso.
**

14
*

"Serão nossos poemas um louvor(...)"

Ao que em conjunto fomos construindo

E nada, para nós, será maior

Do que o que deste amor nos foi saindo...
*

Se alguém testemunhar, tanto melhor!

Se outro nos visitar, será bem-vindo,

Pois se ganhámos asas de condor

Foi pra, nelas voando, irmos subindo.
*

Haverá quem duvide, porventura,

Quem descreia de nós, desta candura,

Da existência, até, do nosso ninho,
*

Mas quem pode calar tanta ternura

Se para dela ficar bem segura

"Guardei em minhas mãos o teu carinho"?
*

 

 

Maria João Brito de Sousa - 30.07.2020 - 12.17h

29
Jul20

VISÃO

Maria João Brito de Sousa

concentração.jpg

VISÃO
*

 

Resvala-me uma mão, fruto impotente

De um segundo de amarga lucidez

Que me corta a palavra omnipresente

Sem dar-me o benefício de um talvez

*

Resvala-me outra mão, mesmo à tangente

Do verso que empunhara dessa vez,

E não há olhos que lhe façam frente

Nem há tamanho para o que desfez...
*

Noutro segundo, o gesto recomeça

Tomando rumo inverso. Ergue-se a mão.

Pode ser que o poema prevaleça
*

Apesar de inseguro... ou talvez não

Seja a visão a chave desta peça

Que exige muito mais do que visão.
*

 


Maria João Brito de Sousa - 29.07.2020- 12.05h

 

 

 

 

 

 

 

28
Jul20

PEÇO DESCULPA; NEM UM VERSO OUVI... - Coroa de Sonetos

Maria João Brito de Sousa

eu na praia ii.jpg

NEM UM VERSO OUVI... - COROA DE SONETOS

Maria João Brito de Sousa e Custódio Montes

*

1
*

Houvesse, hoje, um versito distraído

Que por aqui passasse por acaso

E que algo murmurasse ao meu ouvido,

Pra poder-vos dar conta deste atraso...

*

 

Fosse de pé quebrado ou mal medido,

Quase a desvanecer-se num ocaso,

Gago que fosse ou tão mal construído

Que em tudo semelhasse ângulo raso,
*

 

Que quisesse ser recto e não se erguesse

Um grauzito sequer que graça desse

A quem o visse ou lesse por aí...
*

 

Mas este que encontrei sem voz, nem dono,

Tudo quanto fará é dar-vos sono;

Peço desculpa. Nem um verso ouvi.
*

 

 

Maria João Brito de Sousa - 24.07.2020 - 14.30h
**

2
*

Também eu não ouvi sequer um verso

Pois fui passar uns dias à aldeia

Sem versos, claro, venho de alma cheia

E este estado assim é bem perverso
*

Trazer a alma toda em anverso:

A alma com poesia sem que leia

O ritmo que entre ela se encandeia

E firmem no conjunto um universo
*

É termos o poema cá bem dentro

E a forma arredada do seu centro

E não o publicar nem o fazer
*

Às vezes fica o mundo frio, escuro

Sem vermos o presente e o futuro

E um verso só bastava para o ver.
*

Custódio Montes

**

3
*

"E um verso só bastava para o ver"

Pois bastaria apenas tê-lo ouvido,

Mas... desta vez escondeu-se, emudecido,

Talvez sentindo medo de morrer,

*

Talvez pensando poder-se perder

Quiçá de si, do seu próprio sentido,

Que entre hospitais se sente já perdido

E nunca tem vergonha de o dizer...
*

A Musa foi de súbito tomada

Por um medinho atávico, ancestral,

E escondeu-se debaixo de uma escada
*

Assim que viu, ao longe, o hospital.

Bem a chamei. Não me serviu de nada...

Estou "desmusada" e a sentir-me mal!
*

Maria João Brito de Sousa - 25.07.2020 - 11.25h

**

4
*

"Estou "desmusada" e a sentir-me mal"

Melhoras lhe desejo a si e à musa

Mas mais a si que esta isso escusa

Doente embora é fenomenal
*

Os versos que ela engendra são sinal

De veia que se mostra bem difusa

Reergue-se depressa e não recusa

Andar correr e ser original
*

Por isso não se queixe, minha amiga

Senão olhe que Deus inda a castiga

Nós não o desejamos nem queremos
*

Doenças têm cura e melhora

E mesmo apenas sã uma só hora

São belos os poemas que lhe lemos.
*

Custódio Montes
**

5
*

"São belos os poemas que lhe lemos",

Poeta que ontem foi à sua aldeia

E dela veio com a bela veia

Que hoje frutificou, como aqui vemos!
*

Entrou na Barca Bela e fez-se aos remos

Sem medo do "mar grande" e da sereia,

Nem do rochedo e dos bancos de areia

Nos quais já tantas vezes perecemos...
*

Chegou e dou-lhe agora as boas vindas

Porque assim se recebem bons amigos

Que foram visitar as praias lindas
*

Que já foram seus berços, seus abrigos;

Desejo felicidades sempre infindas

E poucos ou nenhuns dos meus castigos.
*

Maria João Brito de Sousa - 26.07.2020 - 08.40h

**

6
*

"E poucos ou nenhuns dos meus castigos"

Os seus castigos são materiais

E não como se vê de outros mais

Pois olha e vê bem longe por postigos
*

Que outros pelo ar e com perigos

Tão só divisam coisas bem normais

Sem luas sois ou tardes outonais

Com sonhos ou quimeras como abrigos
*

Ainda para mais desculpas pede

De não ouvir um verso ou melodia

Quando nada se vê de que se arrede
*

E produz seus poemas dia a dia

De toda a realidade a que acede

E isso porque é toda poesia ....
*

Custódio Montes

(26.7.2020)
**

7
*

"E isso porque é tod(a)o poesia"

E merece o respeito e a amizade

De quem a responder-lhe não se evade

E o faz com muitíssima alegria

*

Haja quem nos secunde com mestria,

Que eu, dos meus olhos, sinto já saudade

E ao lume deixo a açorda que, em verdade,

Por um pouquinho mais se queimaria...
*

Alguma coisa ainda vejo, sim,

Mas a cabeça dói-me, os olhos ardem,

E já nem sei o que será de mim
*

Se for em vão que meus olhos aguardem

As cirurgias... mas, até ao fim,

Vou crer que sim, por muito que elas tardem!
*

Maria João Brito de Sousa - 26.07.2020 - 11.29h
**

8
*

"Vou crer que sim, por muito que elas tardem!"

Mas vão chegar depressa isso vão

Aos olhos também fiz operação

E agora vejo bem e já não ardem
*


Que os deuses a protejam e a guardem

E que lhe restituam a visão

Para podermos ter sua lição

Que os médicos se apressem, não aguardem
*

Eu penso que vai tudo correr bem -

Comigo assim foi e eis a prova

Puseram lentes novas e também
*

Se foi a miopia, o que renova

A vista que alcança mais além -

E vai ficar, amiga, como nova.
*

Custódio Montes

(26.7.2020)
**

9
**

"E vai ficar, amiga, como nova",

Diz-me o amigo, muito gentilmente...

Mas eu pergunto quando. É mesmo urgente

E esta quase-cegueira bem o prova.
*

Esforçadamente leio ou escrevo a trova

E tudo faço assim; esforçadamente,

Além do que se exije a toda a gente

E, pior, estando já c`os pés prá cova
*

Já que esperança de vida, pouca tenho

E, se bem que isso encare com bravura,

Melhor fora podarem-me este lenho
*

Que à vida me traz dor e desventura

E darem-me a visão que tive antanho

Pra não andar, das teclas, à procura...

*

Maria João Brito de Sousa - 26.07.2020 - 13.21h
**

10

*
"Pra não andar, das teclas, à procura"

Mas vê bem as palavras, isso vê

Pois nota isso a gente que a lê

Que encontra nelas força e candura
*

Arrojo, sentimento com doçura

E criatividade e os porquês

De tão bem escrever em português

De ser muito vernácula e pura
*

Mas não vou parecer adulador

Que o que se diz às vezes tem um custo

Mas ser omisso outras é pior
*

E eu não tenho peias não me assusto

Afirmo sempre aquilo que é melhor

E aqui o que eu afirmo é tudo justo.
*

Custódio Montes

(26.7.2020)
**

11
*

"E aqui o que eu afirmo é tudo justo"

Mas o que não é justo, com certeza,

Foi deixarem-me, há anos, assim presa

A escrever tudo com tão grande custo!
*

Não será facilmente que me assusto,

Conseguirei manter certa frieza

E por vezes até sair ilesa

Do confronto com quem é mais robusto,
*

Se confronto existir, que o não procuro!

Mas conseguindo ser muito objectiva,

Não tenho medo nem sequer do escuro!
*

Ainda que "pitosga", estou bem viva

Mas devo confessar que é muito duro

De tanta "pitosguice" estar cativa!
*

Maria João Brito de Sousa - 26.07.2020 - 14.25h
**

12
*

"De tanta "pitosguice" estar cativa",

Atrasos sem desculpa e sem valor

Seria menos mau e até melhor

Ir ter ao hospital e aflitiva
*

Dizer a alma aí caritativa

Que tem sua visão má e pior

Que há só escuridão e sente dor

E ser frontal e bem explicativa
*

Eu sei que a poetisa não faz isso

Mas muitos há decerto que lá vão

Conseguem de certeza compromisso
*

De formas pouco lícitas que são

Escuros, tristes modos e por isso

Pratica só quem age em corrupção.
*

Custódio Montes

(26.7.2020)
**

13
*

"Pratica só quem age em corrupção"

Esses truques e manhas, bem o sei...

Para a minha pensão - pensão de rei! -

Duzentos e setenta; mais não são!
*

Para quem sobrevive a tal pensão,

Sem recorrer ao que antes mencionei,

Não está fácil a vida... lei é lei!

Pra corrupta não trago vocação!
*

E agora que escrevi a bom escrever,

Que lhe falei de (algumas) desventuras

E que aqui me fui dando a conhecer,
*

Vou tomar um café; estou com tonturas

E a tensão está de novo a prometer

Descer de lá do topo das alturas
*

Maria João Brito de Sousa - 26.07.2020 - 16.38h
**

14
*

"Descer de lá do topo das alturas"

Mas tem que o fazer bem devagar

Senão pode cair e se aleijar

Perdendo os sentidos com tonturas
*


Beber café é sim uma das curas

Para a tensão poder remediar

Melhor seria não subir/baixar

E não ter de curar essas rupturas
*


Desejo-lhe as melhoras, fique bem

Merece ser feliz e ver vencido

O mal que a rodeia e que contem
*

Estando bem, aposto, convencido

Brincava certamente aqui também,

"Houvesse, hoje, um versito distraído"...
*

Custódio Montes


(26.7.2020)

 

 

27
Jul20

DE ARMAS E BAGAGENS

Maria João Brito de Sousa

WIN_20200719_00_04_23_Pro.jpg

 DE ARMAS E BAGAGENS
*

 

Pr`aqui me mudo de armas e bagagens;

Quinhentos anos de caminho errado

Perfazem-me o tristíssimo legado

Do quase nada achado entre miragens.
*

 

Aqui, solto o meu verso, esculpo imagens,

Dignifico o soneto harmonizado

E, em mim, descubro o barco naufragado

Que, do naufrágio, tirou mil vantagens;

*

 

Grávidos, os porões, de mil mensagens,

Descubro-lhes, por fim, o cadeado

E a Chave bem complexa nas clivagens
*

 

Dos dentes. Tudo fora conservado

Pelo sal, apesar das duras viagens

Que esta tola enfrentou no seu passado.
*

 


Maria João Brito de Sousa - 27.07.2020 - 14.23h

 

 

 

 

 

26
Jul20

URGÊNCIAS DO DIA A DIA

Maria João Brito de Sousa

debruçada na varanda dos meus olhos.jpg

URGÊNCIAS DO DIA A DIA
*

 

 

No varandim de uns olhos imprestáveis

Debruça-se a razão que, em desespero,

Tenta dar conta de tudo o que eu quero

E só vislumbra vultos sempre instáveis,
*

 

Sombras indefinidas, improváveis,

Rastos já desgastados pelo esmero

Com que os gastei. Até ao fim, severo,

O anseio de torná-los decifráveis
*

 

E, nublando a alegria natural,

Emerge a nitidez de uma impotência

Que faz doer bem mais que o próprio mal.
*

 

Depois... depois dilui-se essa emergência

Na criatividade pontual

E prontamente acudo à nova urgência.
*

 

Maria João Brito de Sousa - 26.07.2020 -10.37h

 

Imagem retirada daqui

25
Jul20

SE O CHICOTE DO RAIO ME ILUMINA

Maria João Brito de Sousa

Avó Alice, avô poeta e eu - Algés.jpg


SE O CHICOTE DO RAIO ME ILUMINA
*


Se hoje escrevo com força de trovão

E o chicote do raio me ilumina,

São as minhas memórias de menina

Que, debruçadas no meu coração,
*

 

Me acendem, das razões que há na razão,

A improvável vela que, à bolina,

Singra agora, indomável peregrina

Dos ventos fortes, rumo ao furacão.
*

 

Lembras-te, avô poeta, desses dias

De fortes chuvas e de ventanias

Que saudávamos sempre fascinados?
*

 

Das vergastas de luz que ribombavam,

Colorindo as rajadas que sopravam

E os nossos rostos, mudos, assombrados?
*


© Maria João Brito de Sousa - Julho, 2020

(no dia a seguir à grande trovoada de Verão)

 

Imagem, avó Alice, avô poeta e eu, na casa da Rua Luís de Camões, Algés

24
Jul20

PEÇO DESCULPA; NEM UM VERSO OUVI...

Maria João Brito de Sousa

NA PRAIA.jpg

PEÇO DESCULPA, NEM UM VERSO OUVI...
*

 

 

Houvesse, hoje, um versito distraído

Que por aqui passasse por acaso

E que algo murmurasse ao meu ouvido,

Pra poder-vos dar conta deste atraso...

*

 

Fosse de pé quebrado ou mal medido,

Quase a desvanecer-se num ocaso,

Gago que fosse ou tão mal construído

Que em tudo semelhasse ângulo raso,
*

 

Que quisesse ser recto e não se erguesse

Um grauzito sequer que graça desse

A quem o visse ou lesse, por aí...
*

 

Mas este que encontrei sem voz, nem dono,

Tudo quanto fará é dar-vos sono;

Peço desculpa. Nem um verso ouvi.
*

 

 

Maria João Brito de Sousa - 24.07.2020 - 14.30h

23
Jul20

AOS FUTUROS ENCANTADOS

Maria João Brito de Sousa

O ENCANTADO.jpg


AOS FUTUROS ENCANTADOS
*

 

Aos encantados que um dia me cantem;

Mais tarde, assim que o tempo acenda a hora

De cantar quem partiu, quem foi embora,

Que sejais vós os que em versos me espantem.
*

 

Agora, aguardo apenas que levantem

A cortina de ferro da demora

Para encantar-me toda, como outrora,

Nas sementes dos versos que outros plantem.
*

 

No espaço deste tempo em que me sei,

Vou conservando em molho de luar

As sementes dos versos que plantei,
*

 

Rebentos qu`inda estão por rebentar

Na memória do verbo em que me dei

A vós, os encantados por chegar.
*

 

 

Maria João Brito de Sousa - 21.07.2020 - 12.34h

22
Jul20

CONFINAMENTOS

Maria João Brito de Sousa

confinamentos.jpg

 

CONFINAMENTOS

*

 

Não fosse eu ter a prática que tenho

Em cativeiros e confinamentos

E ficaria seca como um lenho,

Em vez de abrir-me em versos suculentos...
*

 

Enfrentemos, amigo, o tempo estranho

Ainda que espantados, sonolentos,

Recordemos em vão tempos de antanho

Enquanto os dias, cada vez mais lentos,
*

 

Parecem ser, de Tântalo, a tortura

E se guarda o abraço e a ternura

No baú velho das coisas vividas;
*

 

Não roda a chave nesta fechadura,

Mas há-de haver alguém qu`inda a procura;

Que se ache antes do fim das nossas vidas!
*

 

Maria João Brito de Sousa - 22.07.2020 - 14.18h

 

 

Ao poeta amigo José Primaz

21
Jul20

A VELA AROMÁTICA

Maria João Brito de Sousa

WIN_20200721_23_30_24_Pro (2).jpg


A VELA AROMÁTICA

*

 

Da Madona Sistina à minha sala,

De Rafael até à poesia

Vêm os anjos de que faço gala

Mostrar-lhe nesta vela que alumia
*


E que um perfume delicado exala

Deixando a sala inteira em harmonia

Com a alegria desta que a não cala

Quando em soneto expressa essa alegria.
*


Ei-la aqui, luminosa e rescendente

Enquanto cada anjinho, paciente,

Nos olhos guarda décadas sem fim.
*


Por esse olhar os séculos passaram

E nem por um segundo dormitaram

Os anjos das asinhas de cetim.
*

 

 

Maria João Brito de Sousa - 21.07.2020 - 23.48

À Janita

20
Jul20

FRACA JUSTIÇA INDUZ IRA TEMÍVEL

Maria João Brito de Sousa

dragão furioso.jpg

FRACA JUSTIÇA INDUZ IRA TEMÍVEL

ou

 

VÊS MOINHOS?, SÃO DRAGÕES!


*

 

 


São moinhos de vento, estes meus dedos,

E meus olhos lanternas apagadas

A semi-vislumbrar cifras toldadas,

A adivinhá-las, como se a segredos,

*

 

Austeras fragas, disformes rochedos,

Sombras informes, loucas revoadas

De ilusões imprecisas, desmembradas

Ou enredadas em estranhos folguedos.
*

 

Não fora a desmedida teimosia

Que a decifrar tais vultos desafia

Esta semi-cegueira (ir)reversível(?)
*

 

E eternizada pela pandemia...

Ah, não vos sei dizer o que faria,

Mas se em brado o soltasse... era temível!
*

 

 


Maria João Brito de Sousa - 20.07.2020 - 11.30h

 

Pág. 1/3

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Em livro

DICIONÁRIO DE RIMAS

DICIONÁRIO DE RIMAS

Links

O MEU SEBO LITERÁRIO - Portal CEN

OS MEUS OUTROS BLOGS

SONETÁRIO

OUTROS POETAS

AVSPE

OUTROS POETAS II

AJUDAR O FÁBIO

OUTROS POETAS III

GALERIA DE TELAS

QUINTA DO SOL

COISAS DOCES...

AO SERVIÇO DA PAZ E DA ÉTICA, PELO PLANETA

ANIMAL

PRENDINHAS

EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE POETAS

ESCULTURA

CENTRO PAROQUIAL

NOVA ÁGUIA

CENTRO SOCIAL PAROQUIAL

SABER +

CEM PALAVRAS

TEOLOGIZAR

TEATRO

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D

FÁBRICA DE HISTÓRIAS

Autores Editora

A AUTORA DESTE BLOG NÃO ACEITA, NEM ACEITARÁ NUNCA, O AO90

AO 90? Não, nem obrigada!