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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
18
Jun20

BOM DIA/BOA NOITE

Maria João Brito de Sousa

1971.jpg


BOM DIA/BOA NOITE

**
(soneto em verso alexandrino)
*

 

Bom dia! Hoje inauguro um dia por nascer

E enquanto dia houver, as horas não descuro;

Se achar no que procuro o que mais ninguém quer,

Farei quanto puder! Depois, à noite, o escuro
*


Embala-me inseguro até me adormecer

E um novo amanhecer ressurge urgente e puro

Do céu cinzento, obscuro, em que o vou receber

Enquanto em mim bater um coração perjuro.
*


Boa noite, que agora o sono vai chegando

E a luz vai começando a desenhar lá fora

Uma aura tentadora à sonolência em que ando.
*


A visão escasseando algo perturbadora

Passa a dominadora e acena em gesto brando;

Boa noite, até quando acontecer a aurora!
*

 

 

Maria João Brito de Sousa - 18.06.2020 - 20.26h

17
Jun20

A QUEM SOUBER OUVIR O (EN)CANTO DOS PARDAIS

Maria João Brito de Sousa

pelo seu pé (2).jpg

A QUEM SOUBER OUVIR O (EN)CANTO DOS PARDAIS
*

(Em verso alexandrino)
*


Aos mortos nos covais e aos que estão por vir,

Aos que estão a dormir, aos que nem dormem mais,

Aos troncos verticais dos cravos a florir

E a quem souber ouvir o (en)canto dos pardais,

*

Aos rios nos seus caudais, aos montes por subir,

Às pedras por esculpir, aos mestres geniais,

Às infracções verbais, aos versos por escandir

E à morte que há-de vir porque somos mortais;
*

 

O poema é uma aventura incerta e fascinante

Que ninguém nos garante, infinda descoberta,

Quase uma frincha aberta ao gesto vacilante
*

 

Do que ainda hesitante abre quanto o liberta

Porque a frincha desperta o que o levara avante

Naquele exacto instante em que ele a dá por certa.
*

 


Maria João Brito de Sousa - 17.06.2020 - 12.31h

 

16
Jun20

PENDE DE CADA ANZOL UM PEIXE VIRTUAL

Maria João Brito de Sousa

Pieter Bruegel, 1557.jpg

PENDE DE CADA ANZOL UM PEIXE VIRTUAL
*


(Em verso alexandrino)
*


Amo o azul do mar, o verde da planura

E quanto da lonjura alcança o meu olhar...

Serei escrava de um lar que no mar se procura

Enquanto esta loucura assim me subjugar
*

 

E, sem me rebelar, nem fraca, nem perjura,

Ainda que imatura aceito este invulgar

Destino de varar um mar que só me augura

Os ventos da ventura em que hei-de naufragar.
*

 

Ao longe, pedra e cal, brilha um velho farol,

Branco como um lençol todo tecido em sal

E se me saio mal porque um raio de sol
*

 

Derrete e faz num fole esta rota ideal,

Há colisão real dos estros sem controle;

Pende, de cada anzol, um peixe virtual.
*

 


Maria João Brito de Sousa - 15.06.2020 - 16.09h

 

Gravura de Pieter Bruegel retirada daqui

 

15
Jun20

O IMORTAL SONETO

Maria João Brito de Sousa

WIN_20200615_15_28_39_Pro.jpg

O IMORTAL SONETO
*


(Em verso alexandrino)
*

 

Abre-se em leque extenso, amplia-se e seduz

Como raio de luz em nevoeiro denso...

Por vezes surge tenso e em fogo se traduz,

Mas é um ai-Jesus que queima como incenso.
*

 

Nunca haverá consenso entre quem lhe faz jus,

Mas ninguém o reduz pois faz jus ao bom senso

E quando um ódio intenso o quer levar à cruz,

Levanta-se e reluz, mostra-se infindo, imenso!
*

 

Ou suscita paixões ou raivas e desprezo,

Mas lá renasce ileso imune às agressões

E prenhe de ilusões, ainda vivo, aceso!
*

 

Tem forma e não está preso às velhas convenções,

Resiste às tentações, sustenta-lhes o peso;

Sabe bem quanto o prezo e, a mim, dá-me lições...
*

 

 


Maria João Brito de Sousa - 15.06.2020 - 15.23h

 

 

 

 

14
Jun20

SE ME FOR DADO CRER

Maria João Brito de Sousa

A Jovem Tecelã - Marina Colasanti.png

SE ME FOR DADO CRER
*
(Soneto em verso alexandrino)
*


Se me for dado crer, que seja assim que creia;

Que a dor que me cerceia esta ânsia de viver

Me não deite a perder o fio de cada ideia,

Que me não falte à ceia o pão para comer,
*

E que enquanto viver, embora gasta e feia,

Castelos sobre a areia alcance ainda erguer

Onde me recolher a cada maré cheia

Do mar quando se alteia em vagas, a crescer.
*

Caso assim possa ser, que quanto me rodeia

Me seduz e me enleia enquanto eu cá estiver,

Não pare de acender a luz que me norteia
*

E que não seque a veia, a tal que ousou tecer

No tear do dever, a rubra, imensa teia

Que no meu estro ondeia enquanto escolha houver.
*


Maria João Brito de Sousa - 14.06.2020 - 19.42h

 

Imagem - A Jovem Tecelã - Marina Colaseti

retirada daqui

 

13
Jun20

GARANTO QUE CRESCI

Maria João Brito de Sousa

EU e O MEU PAI - Jardim Botânico.jpg

GARANTO QUE CRESCI

 

(Soneto em verso alexandrino)

*

 

Perdidamente amei, perdidamente cri

Naquilo que perdi do tanto que encontrei

E evoco o que não sei se vi ou se não vi

Até que encontre aqui quanto aqui procurei.

*

 

Tentando honrar a lei que não reconheci,

Jamais lhe resisti, jamais a confrontei,

Mas se pouco lhe dei, bem menos lhe pedi

E se acaso menti, a mim me castiguei.

*

Amo o chão que pisei, a terra onde nasci,

A chama em que aqueci os sonhos que engendrei

E as cerdas que entrancei nas cordas que teci.

*

Dos versos que escandi às telas que pintei,

Do quanto gargalhei às mágoas que engoli,

Garanto que cresci... e juro que gostei!

*

 

Maria João Brito de Sousa – 13.06.2020 – 17.39h

 

 

12
Jun20

ESTRANHAS VOLTAS DA VIDA

Maria João Brito de Sousa


ESTRANHAS VOLTAS DA VIDA

*

 

(Soneto em verso alexandrino)

*

"E entardeço na luz que me vem do carinho"

Desmaio sob o sol erguendo-me a seguir,

Cubro os passos que dei de mel e rosmaninho

E expando-me depois, mas sem de mim sair.

*

Sempre que um passo dou, desconstruo o caminho

Mas dou um passo atrás para o reconstruir

Que isto de ser-se só, de se escrever sozinho

Ganha pernas pr`andar se se souber fruir.
*

Entre uma volta e outra há passos não perdidos

Enquanto os dias são contados ou medidos

Até que finde o tempo o espaço a caminhada.
*

Vai sendo muito longa a minha curta estrada

Por três vezes cortada em todos os sentidos;

Pra retomá-la dei três passos revertidos.


*

 

Maria João Brito de Sousa - 12.06.2020 - 11.59h

 

NOTA - Soneto criado a partir de um verso alexandrino de MEA (Maria da Encarnação Alexandre)

 

Foi-me impossível fazer download de imagem

11
Jun20

DIÁLOGO EM CATORZE SONETOS ALEXANDRINOS - 2ª parte

Maria João Brito de Sousa

 

 

7

 

“Que nunca digam “não!” a tudo o que é diferente”;

 

Há coisas que nem eu sobre mim sei explicar,

 

Mas tento e tentarei fazê-lo lentamente

 

Já que assim, a correr, não posso lá chegar.

*

 

Se não adormecer, estarei sempre à tangente

 

De um sono insano, intenso a  fazer-me pesar

 

As pálpebras que abri muito esforçadamente

 

E que não deixarei que Morfeu vá cerrar!

 

*

 

Já vos menti, porém; Morfeu sempre venceu

 

Sem se esforçar sequer, nos sonhos me prendeu

 

À revelia desta inútil força minha...

*

 

E só quando assim quis e bem o entendeu

 

Me soltou, desprendeu... venceste-me, Morfeu...

 

Sei que não foste meu, mas vê; não estou sozinha!

*

 

Maria João Brito de Sousa – 08.06.2020 – 21.07 h

*

 

**

8

 

 

"Sei que não foste meu; mas vê! não estou sozinha!"

É sempre assim. Não estranhes o que digo:

pensei que era aventura, que à alma se avizinha,

quando perco o sentido para aquilo que prossigo.

*

 

Tu e eu. Teu e meu. Pequeno e grande mundo

de palavras cruzadas a esgotar o tinteiro.

De tanto te escrever, deixei de ver o fundo

do poço virtual que não tem gosto ou cheiro.

*

 

Talvez seja do sono ou do sonho acordada

mas tenho esta visão de uma aura sagrada

que me envolve, brilhando, quando a noite escurece.

*

Quantas voltas já dei para dormir na cama

e quantas outras dei para descobrir quem ama

sem ter qualquer razão... só porque lhe apetece.

*

Laurinda Rodrigues 

 

 

 

9

 

 

“Sem ter qualquer razão... só porque lhe apetece”,

 

Faz-me o mal que quiser, sem ter essa intenção;

 

- Por favor vai pedir ao sono que se apresse,

 

Senão perco a razão e tudo me entontece!

 

*

 

Lá entende Morfeu a minha situação;

 

Pega na minha mão e sussurra; adormece!

 

Acabam muito bem as horas de aflição

 

Se evoco esse Morfeu que sempre me aparece...

*

 

O pior, o pior, é quando vem de dia

 

E sem nada dizer, reclama a primazia

 

Das horas laborais, dos versos, dos poemas...

 

*

 

Vem Morfeu quando quer, não quando deveria

 

E se o não detiver, começa a distopia;

 

- Deixa-me em paz, Morfeu! Já chega de problemas!

*

 

 

Maria João Brito de Sousa – 09.06.2020 – 17.18h

 

**

10

"Deixa-me em paz, Morfeu! Já chega de problemas"

De problemas estou cheia que julgo não merecer

Será que foste tu que inventaste os esquemas

de torturar a mente para nunca adormecer?

*

 

Eu sei, Morfeu, eu sei, que és o filho da noite

o deus grego do sono que fala ao inconsciente

Vou descobrir a arma que a tua alma açoite

até que a minha alma possa acordar diferente

*

 

E a lucidez regresse com serena humildade

sem que o meu corpo sinta qualquer medo ou vaidade

mesmo, quando cansado, não consegue sorrir...

*

 

Talvez um companheiro pudesse aliviar-me

oferecendo um abraço que pudesse acalmar-me

e toda a minha noite fosse um eterno partir.

*

Laurinda Rodrigues 

**

 

 

 

11

 

 

“E toda a minha noite fosse eterno partir”

 

Num perfeito ir e vir daqui pra mais além,

 

Não fora vir alguém para me distrair,

 

Que agir só por agir nem sequer sabe bem...

*

 

Bem sei que já ninguém me pode proibir

 

De ser ou de exprimir o que mais me convém

 

E nem a dor detém aquilo que eu sentir

 

Desperta ou a dormir, com companhia ou sem.

*

 

Desobedeço, sim, se injustiçada for

 

E faço frente à cor da dor que trago em mim...

 

Talvez não seja assim que alguém se deva impor

*

 

Nunca fui, porém, flor, nem vivo num jardim,

 

Mais sou pé de alecrim escondido, sem se expor

 

Ao sol e ao calor... mas firme até ao fim.

*

 

Maria João Brito de Sousa – 09.05.2020 – 20.05h

´***

 

12

"Ao sol e ao calor... mas firme até ao fim"

Ninguém tente impedir-me a denúncia do mal

Há uma luz secreta a distinguir para mim

a minha parte humana de uma parte animal

*

.

Não reajo, impulsiva, apenas por prazer

e esta minha vontade depende da razão.

Que venha então Morfeu para me adormecer

depois de mais um dia que não me foi em vão.

*

 

Nas palavras já ditas, quer em prosa ou poesia,

são as minhas mensagens de paz e alegria

para todos aqueles que me queiram ouvir...

*

 

Ah, como é bom sentir que a vida continua

a olhar toda esta gente que caminha na rua

para calar o medo, que a pôs a dormir!

*

Laurinda Rodrigues

**

 

13

 

*

 

“Para calar o medo que a pôs a dormir”,

 

Deitou-se a descobrir o sinistro segredo

 

E a Morfeu deixou quedo incapaz de admitir,

 

Tentando reagir, em vão rezando um credo...

 

*

 

Era um impulso ledo, uma urgência de rir,

 

Uma ânsia de sentir sabor menos azêdo

 

Que o último degredo a fizera engolir

 

Depois de a denegrir e de apontá-la a dedo.

*

 

Mas nem sequer negou; o riso a preencheu

 

E assim se apercebeu do tanto que ganhou

 

No riso que a vingou do que outrora temeu.

 

*

 

Talvez nesse “ela” um “eu” vos mostre o que ficou

 

De um tempo que passou mas nunca se esqueceu;

 

Tudo quanto perdeu, por fim frutificou!

*

 

 

Maria João Brito de Sousa – 10.06.2020 – 10.45h

 

**

14

 

"Tudo quanto perdeu por fim frutificou

na terra do planeta, cheia de água e calor 

e a energia do ar onde o aroma passou

todos em harmonia procriaram o amor.

*

 

Há janelas abertas e uma luz a inundá-las.

Há um som de magia, de uma nova estação

de palavras ousadas, que querem transformá-las

numa janela que se abre perante a imensidão.

*

 

Estou sozinha mas sinto que pertenci ao todo

onde gestos libertos de uma raiva de lodo

estenderam pela areia o desenho do mar.

*

 

Talvez não compreendam esta minha ansiedade

de não perder o tempo com canto de saudade:

"impõe-se-me escrever, mais do que respirar"!

*

 

Laurinda Rodrigues

10
Jun20

DIÁLOGO EM CATORZE SONETOS ALEXANDRINOS - 1ª parte

Maria João Brito de Sousa

diálogo.jpg

DIÁLOGO EM CATORZE SONETOS ALEXANDRINOS

*

 

Maria João Brito de Sousa e Laurinda M. O. Rodrigues da Silva

*

 

DESOBEDIÊNCIA

*

(Soneto Alexandrino)

*

 

 

Impõe-se-me escrever, mais do que respirar!

Caso o não consumar, irei adoecer

Sem chegar a saber se me posso curar

Da dor de me calar, do mal de o não esquecer.

 

*

 

Venha quanto vier, tudo irei registar

Nas noites de luar , se acaso me aprouver,

Ou, se escolher puder, sob o sol de rachar

Das ondas do meu mar, quando a maré crescer .

*

 

Mas se a lua nascer e o manto lunar

Vier aconchegar o meu adormecer,

Vou desobedecer só pra contrariar

 

*

Morfeu, que vem espreitar meu sono de mulher...

Hoje, Morfeu, vou ser capaz de te ensinar;

Podes-me dominar, mas só quando eu quiser!

*

 

Maria João Brito de Sousa – 08.06.2020- 12.26h

**

 

2

 

Nós todos somos luz que raramente acende

escondida no tear das coisas naturais

Mas há aquela mão que tece de repente

as mais suaves fibras nos nossos ideais.

*

 

A sombra do caminho às vezes assustada

quando o lume da chama a acorda em sobressalto

oferece-nos a árvore com a copa perfilada

para que nos resguarde da queda no planalto.

*

 

Olhando então o mundo que sem ti é tremendo

olhando bem para dentro onde escutei o vento

numa nova mensagem que vem do mar profundo

*

 

Reconheço que a luz, escondida, se acende

numa imagem tranquila que me olha tremente

e que traz a manhã vinda à tona do fundo.

*

Laurinda Rodrigues

***

 

 

 

3

 

“E que traz a manhã vinda à tona do fundo”

 

Como uma imensa bóia astral antes submersa

 

Que nos trouxesse o Sol a metade do mundo,

 

Enquanto a escuridão tinge a metade inversa.

 

*

 

Recebendo Morfeu sob o Sol, me confundo

 

Mas tento não lhe dar confiança ou conversa;

 

Se ao sono me convida aponto o sol rotundo

 

Que tanta luz nos traz à tarde em luz imersa.

 

*

 

Pede, Morfeu, perdão: - Talvez me confundisse...

 

Seria o ar cansado, essa tua velhice

 

A apagar-te o olhar, o gesto e o sorriso...

*

 

Não saberei explicar, mas não te deixarei

 

Enquanto em ti faltar aquilo que não sei

 

Mas que tu sabes bem que sempre te é preciso!

 

*

 

Maria João Brito de Sousa – 08.06.2020 – 1q5.33h

 

     4

 

"Mas que tu sabes bem que sempre te é preciso"

pois não sabes viver sem o sol do poente

que tinge de vermelho o teu amplo sorriso

e alimenta o meu sonho enquanto estás ausente.

*

 

Eu não quero dormir porque o sono é a morte

mesmo que o dia nasça numa outra manhã...

E se o sonho a dormir traz mensagem de sorte

é sempre uma mensagem inconsistente e vã.

*

 

Dependemos do sol num planeta inseguro

mas o sol não nos diz se vai estar claro ou escuro

quando soar o alarme das sirenes fatais.

*

 

Então sobra-me o tempo para tecer um poema

que fale de relógios, de esperas, como tema

e nunca me responda às perguntas finais.

*

Laurinda Rodrigues

**

 

 

 

5

 

“E nunca me responda às perguntas finais”,

 

Nem julgue que com isso eu venha a desistir

 

De tudo questionar, ou questionar-me mais

 

Sobre o que venha, ou não, um dia a descobrir.

*

 

Há tempo pra pensar nas coisas mais banais,

 

Há tempo pr`acordar e há tempo pra dormir,

 

Mas hoje contrariando os meus ritmos normais

 

Mal consigo escrever e mal consigo ouvir

 

*

 

No meu ouvido interno o sonoro compasso

 

Disto que nunca sei porque é que em mim ressoa

 

E flui no tempo assim, com tal desembaraço

*

 

Que mais do que fluir, se insurge, eleva e voa

 

 Ao sonoro compasso em que jamais destoa,

 

Ao compasso sonoro em que aqui me desfaço.

 

*

 

 

Maria João Brito de Sousa – 08.06.2020 – 19.31h

**

6

"Ao compasso sonoro em que aqui me desfaço"

perdi a direção de tantos instrumentos

e fico em turbulência a marcar o compasso

com uma partitura cheia de pensamentos.

*

 

Mas, afinal, quem é essa mulher tão estranha

que, sem me conhecer, marca comigo o tom

de louca inspiração que se abre e entranha

dentro da minha alma sem desvendar o som?

*

 

Era apenas um Ser vindo de outro país

onde aquilo que se ouve é aquilo que se diz 

sem mistério nem farsa, falarmos simplesmente.

*

 

Talvez ninguém entenda mas também não importa:

somos as navegantes onde um espírito exorta

que nunca digam "não!" a tudo o que é diferente.

*

 

Laurinda Rodrigues

**

 

 

 

(continua)

08
Jun20

DESOBEDIÊNCIA

Maria João Brito de Sousa

MORFEU.jpg

DESOBEDIÊNCIA

*

(Soneto Alexandrino)

*

 

 

Impõe-se-me escrever, mais do que respirar!

Caso o não consumar, irei adoecer

Sem chegar a saber se me posso curar

Da dor de me calar, do mal de o não esquecer.

 

*

 

Venha quanto vier, tudo irei registar

Nas noites de luar , se acaso me aprouver,

Ou, se escolher puder, sob o sol de rachar

Das ondas do meu mar, quando a maré crescer .

*

 

Mas se a lua nascer e o manto lunar

Vier aconchegar o meu adormecer,

Vou desobedecer só pra contrariar

 

*

Morfeu, que vem espreitar meu sono de mulher...

Hoje, Morfeu, vou ser capaz de te ensinar;

Podes-me dominar, mas só quando eu quiser!

*

 

Maria João Brito de Sousa – 08.06.2020- 12.26h

 

 

Imagem retirada daqui 

 

 

06
Jun20

"I CAN`T BREATHE!"

Maria João Brito de Sousa

quadrado2.jpg

"I CAN`T BREATHE!"
*


Não posso respirar e sinto medo

Deste joelho que me esmaga o peito,

Da força bruta deste preconceito

Que me maltrata sempre que não cedo.

*


Disto que digo não façam segredo

Nem silenciem quanto não aceito!

Não escondam as algemas que rejeito

Sob as mentiras que vos não concedo!
*


Estão-me a calar a voz, o corpo inteiro,

Mas fica este gemido derradeiro

Que talvez nunca mais possam calar
*


Porquanto implora o meu direito à vida

No que me resta desta voz sumida;

- Não vês que já não posso respirar?
*

 


Maria João Brito de Sousa - 06.06.2020 - 10.53h

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FÁBRICA DE HISTÓRIAS

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