Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores.
...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
São de astros os dez mastros dos teu dedos E destros os teus estros decantados Que enquanto livres voam são escoltados Por montanhas cobertas de arvoredos, *
Picos armadilhados de rochedos, Vales numa vertigem desenhados, Despenhadeiros quase despenhados De alturas outras, que não geram medos. *
São de astros feitos, esses teus sonetos, Poeta da casaca de cometas, Razão em suspensão sobre os afectos *
Que calam, nos silêncios que prometas, A lucidez dos nomes simples, rectos, Que, lá do topo, vão lançando as setas. *
De fel me cubro se de mel me cobres; Já não há beijo que esta boca adoce Nem há paixão carnal que me destroce, Ainda que em doçura te desdobres. *
Nos cantos que tomei por meus alfobres Não houve espaço, por menor que fosse, Para que conseguisses tomar posse Do não-sei-quê que nunca em mim descobres *
Terás de perceber que estou velhinha, Que nada crio se não estou sozinha, Que da amizade sei tirar prazer *
E que, quando era jovem, um bastou Pra que soubesse que esta que hoje sou Decerto quebraria sem torcer. *
Sigamos Maio afora confiantes Sabendo, embora, quanto nos espera; Sejamos mais do que o que fomos antes Em cada Maio e em cada Primavera, *
Que Maio sempre fez de nós gigantes Diante da malícia de uma fera Que nos tem por dispersos, vãos, errantes Cavaleiros do sonho e da quimera. *
Sigamos Maio afora; Junho e Julho Esperam por nós, de nós terão orgulho, Tal como cada mês que está por vir *
Nos há-de abrir os braços, finalmente, Quando o futuro se tornar presente De quanta gente em Maio o construir! *
Maria João Brito de Sousa - 02.05.2020 - 08.39h
*** 2 "De quanta gente em Maio o construir!" Esse futuro por agora tenso Que o mês de Maio irá fazer surgir Envolto em sonhos bons tal como penso
*
Junho há-de com mais força também vir A força de vencer, que me convenço Depois deste "maduro Maio" florir Irá florir o mundo ao qual pertenço
*
Confio em ar mais puro... a atmosfera Irá consolidar a primavera Nos campos e nas almas desta gente,
*
Que agora ainda está na incerteza
Mas que depois verá com mais clareza
Todo um futuro alegre e sorridente.
*
Joaquim Sustelo
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"Todo um futuro alegre e sorridente" Há-de chegar um dia, não duvido, Mas ainda haverá que fazer frente A um tempo difícil e dorido. *
Sou optimista, não inconsciente Dos riscos do caminho já escolhido E tu, que és meu irmão, terás em mente Que há que roer este osso... e bem roído! *
Não se pode sonhar... sonhando apenas Como se o tempo fosse de açucenas E apenas nos bastasse acreditar *
Que há pão na mesa que vemos vazia Ou música se sopra a ventania... Também há que lutar, lutar, lutar!
*
Maria João Brito de Sousa
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"Também há que lutar, lutar, lutar" E nessa luta haver vários reveses Não basta nós ficarmos a esperar Pelo Maio passar e mais uns meses
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Só muitos, muitos mais a ajudar Mas em tempo contínuo e não às vezes Muit'água pelos rios há-de passar Há-de pregar-se em muitas dioceses
*
Mas sempre com querer, com confiança Que a última a morrer é a esperança E o homem quando quer pra melhor muda
*
Então vamos fazer, nós, todo o povo, Que nasça brevemente um mundo novo Que quase em horizonte nos saúda.
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Joaquim Sustelo
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5
"Que quase em horizonte nos saúda" Pois nunca poderemos lá chegar A menos que uma coisa mais graúda Nos lance, de repente e sem tardar... *
Não espero que minha alma inda se iluda, Já que tem a razão para a amparar, Mas, meu irmão, às vezes fica muda De tanta coisa estranha contemplar... *
Mas, não, nunca descri dos amanhãs Que hão-de falar de coisas menos vãs Cantando alto e bom som, ou sussurando, *
Que há justiça na Terra para os povos! Não será para nós, é para os novos, Pró homem, prá mulher que vão chegando! *
Maria João João Brito de Sousa
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6
"Pró homem, prá mulher que vão chegando!" Talvez ele até venha um mundo novo Com calma a pouco e pouco se implantando Com grande f'licidade em todo o povo
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Eu creio. E nessa fé cá vou pensando No que será... Por vezes me comovo Quando se adensa o sonho, ou seja quando Mais forte o sinto em mim e o renovo
*
Nós não estaremos cá, vamos de "férias" Porém não penses que isto é tudo lérias Pois tenho até uma forte convicção!
*
E vamos passo a passo, rua a rua Num sonho que por ora continua A adentrar-me a alma e o coração.
*
Joaquim Sustelo
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7
"A adentrar-me a alma e o coração" Como se um bando de aves me adentrasse Gerando vida, espanto, evolução Que a morte nunca visse, nem sonhasse. *
Sonhar é também ter a convicção De mais tentar, ainda que bastasse À nossa muito humana condição Um nada de ambição que um desenlace *
Mais ou menos feliz, desse à função, Dessa existência, quando se apagasse A pequenina chama da razão. *
Talvez, depois, a fome já não grasse Nem a doença, nem a frustração Com que o tempo nos brinda neste impasse... *
Maria João Brito de Sousa
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8
"Com que o tempo nos brinda neste impasse..." Que afeta todos nós em mais ou menos Mudando a cada dia a nossa face Por nossos pensamentos não serenos
*
Como se este Covid não bastasse Os tempos que aí vêm, nada amenos, Nem fazem com que a gente aqui já trace Tão boas plantações pelos terrenos...
*
Porém, se o pensamento em nós já lavra, Sabemos ser a força da palavra Aliada a um crer, forte... eficaz,
*
Duma forte mudança, o seu fator E do ressurgir pleno do Amor Que até hoje não trouxe ainda a paz.
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Joaquim Sustelo
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"Que até hoje não trouxe ainda a paz" Pela qual tanto, tanto nós pugnamos E que tão grande falta ao mundo faz Embora o contradigam grandes amos... *
Talvez a nossa voz seja incapaz De se fazer ouvir, mas bem tentamos E há sempre uma vozita mais audaz Que sobe ao alto dos mais altos ramos, *
Ou que grita mais alto, embora atrás Dos que já se destacam, entre humanos, Perecíveis... que importa se subjaz *
Esta vontade imensa? Longos anos Faltarão pra sabermos que nos traz O tal futuro que hoje lobrigamos, *
Maria João Brito de Sousa
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"O tal futuro que hoje lobrigamos", Não vem em nosso tempo nem lá perto Por ele há muito tempo que lutamos Mas o caminho é... inda algo incerto
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Porém fazer por ele sempre vamos No campo da poesia, neste "aperto", Em que a nossa vontade apregoamos Se bem que o chão se mostre algo deserto
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Virá o Junho, o Julho e o Agosto Virão os outros meses e aposto Que sempre alguma coisa vai mudar
*
"Se nós mudarmos todo o mundo muda" (*) Ah que ninguém se fique e nem se iluda Pois este mundo velho há de cessar.
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(*) frase do dr. Lair Ribeiro
Joaquim Sustelo
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"Pois este mundo velho há-de cessar" E havemos de tomar um novo rumo Sem que haja sempre alguém a cobiçar Do fruto humano a polpa, o próprio sumo.
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Um mundo bem mais justo, um mundo-lar Do qual cada um seja o fio-de-prumo, No qual a luz do sol possa brilhar E onde se não se morra envolto em fumo. *
Nisto, sei que vou sendo idealista... Talvez o que aqui sonho nunca exista, Talvez não passe de uma outra utopia *
Mas não me peças nunca que desista De te falar do sonho. Cada artista Compõe conforme sente a melodia... *
Maria João Brito de Sousa
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12
"Compõe conforme sente a melodia..." E toca consoante o instrumento Indo todos criar a sinfonia Que se for bem tocada dá alento
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Tocar muito melhor, sim, eu queria Se bem que à melodia esteja atento Porém há sempre um toque de mestria Que não vou atingir, se bem que tento...
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Somos uns idealistas? Não faz mal Todos devemos ter um ideal E este é dos melhores que há na vida
*
Imaginar a estrada especial Pugnar por ela vir de pedra e cal Assim atapetada... assim florida...
*
Joaquim Sustelo
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"Assim atapetada... assim florida" Como se jardim fora, ou astro errante Soltando a cabeleira colorida, Coberta de poeira flamejante... *
Irmão, juntei ao astro a cor da vida E vi, ou julguei ver, por um instante, A humanidade menos dividida, Mais forte, mais feliz e mais pujante; *
Poetas e também trabalhadores Cantavam, lado a lado, os seus amores Como se nada, nada fosse em vão *
Mas, nesse mundo que mal vislumbrei, Não pude ver que houvesse qualquer rei, Nem vi que a alguém faltasse tecto ou pão. *
Maria João Brito de Sousa
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"Nem vi que a alguém faltasse tecto ou pão" Havia um equilíbrio, uma equidade Que todos adquiriram a noção De a ter de pôr em prática. Em verdade,
*
Ganhavam dia a dia o seu quinhão Pelo que produziam, não metade Do que cabia à mesa do patrão Que açambarcara dantes com maldade
*
Fosse sonho ou não fosse o que tu viste Uma etapa feliz já coloriste Pintando a de cor negra que era dantes
*
A pouco e pouco iremos... e sorrindo Sabendo que esse tempo ele é bem-vindo - Sigamos Maio afora confiantes.
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Joaquim Sustelo
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NOTA - Coroa de sonetos dialogada a quatro mãos e em menos de doze horas.
Poema registado ao abrigo dos direitos de autor, a editar brevemente.
Maduros os mostos, montada a treliça, De pronto se atiça uma zanga nos rostos E os pressupostos de haver nova liça Incham qual carriça espantando os opostos. *
Confrontam-se os postos, deflagra a cortiça Na chama castiça de antigos agostos Que a tudo dispostos, jubilosa eriça Com fúria maciça explodindo em compostos. *
Dos mostos maduros mais bem fermentados, Serão decantados os vinhos mais puros... Não sei que futuros nem sei que passados *
Só sei que há legados funestos e duros E outros com furos muito bem guardados Por lábios cerrados, disfarces e muros. *
Depois a gente chora, a gente ri, A gente, como dantes, nasce e morre E há-de calar-se a voz que em mim discorre Sobre as coisas que agora escrevo aqui *
Alguém virá dizer-vos que morri, Outro alguém cuidará do que me sobre (que não é pouco, embora eu seja pobre) E talvez sobreviva o que escrevi. *
Isto temos por certo, mas enquanto Houver lugar prá vida e para o espanto, Aproveitemos esta caminhada *
Que quase nunca é fácil e segura Já que pra muito poucos há fartura E para quase todos, quase nada. *