UMA PITADA DE (BOM) HUMOR EM FORMA DE QUADRAS POPULARES
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HÁ-DE HAVER QUEM VENÇA!
*
Morrem os velhos, morrem os doentes,
Morrem humildes e até poderosos...
Que dos que partem nasçam as sementes
Que irão vingar e dar frutos viçosos!
*
Fazem clausura crentes e descrentes,
Cessam abraços, por perniciosos,
Temem as gentes tornar-se os agentes
Desse contágio. Todos, quais leprosos,
*
Tapam os rostos, evitam tocar-se,
Que é grande o medo de contaminar-se;
Enorme o risco e tremenda a sentença!
*
Das negras noites nasce o fel dos dias,
Mas... vida é Vida e, depois das fobias,
Há-de haver risos, há-de haver quem vença!
*
Maria João Brito de Sousa – 29.03.2020 -20.31h
Imagem retirada da Web, via Google
DISTO ESTOU CATIVA
(Soneto/missiva)
*
Estive quase a morrer no hospital
E hoje estou quase cega, pouco vejo...
Peço, poeta, não me leve a mal
Não ter correspondido ao seu desejo
*
De amigável conversa virtual...
Creia, poeta, que não tive ensejo
De dar resposta, como habitual
E, de futuro, nada bom prevejo.
*
Doseio a conta-gotas o que leio
E também o que escrevo hoje doseio...
Tudo isto faço pra manter-me viva
*
Não vá a morte levar, de escanteio,
O que antes lhe neguei. Decepcionei-o?
Peço perdão, mas disto estou cativa.
*
Maria João Brito de Sousa – 29.03.2020 – 16.24h
**
Nota - Soneto enviado como resposta ao soneto "Missiva" que me foi enviado por um poeta amigo do Brasil, Raymundo Salles.
Imagem retirada da WWW, via Google
LEIA AQUI, SE FAZ FAVOR.
ARTIGO VIGÉSIMO PRIMEIRO
*
Segue de vento em popa o nobre sonho
Dos amanhãs que anseiam por cantar
E disto, apenas disto, hoje disponho
Para, estando acordada, inda sonhar.
*
A cada um dos dias que transponho,
Oiço uma voz de fundo a anunciar
Os (e)feitos de um vírus tão medonho
Que nem o povo o pode erradicar.
*
Assim, está posta em causa a liberdade;
Por cada passo dado na cidade,
Terão de dar-se contas. Tudo é novo
*
E ninguém sabe nada. Ninguém sabe
Se se irá resistir à mortandade,
Se sobrevive, ou não, a voz de um povo.
*
Maria João Brito de Sousa – 19.03.2020 – 10.32h
ABRE OS BRAÇOS À VIDA
*
Abre os braços à vida, besta louca,
Besta da forte chama que arde em mim,
Consegue-me mais tempo antes do fim
Daquilo que sei ser: humana e pouca!
*
Devolve-me a revolta em mar convulso,
Envolve-me em calor, em força ardente,
Firma na minha mão, neste meu pulso,
Glórias, como se fosse antigamente!
*
Hera, não mais serei, evoco Marte,
Irei buscar Neptuno às profundezas,
Já que a Terra ameaça em toda a parte,
Kafkiana de inocência e de certezas
*
Lacónico, este chão que piso e que amo,
Mede-me a cada passo que não dei,
Nenhum tempo concede ao que reclamo,
Oprime ao repetir-me o que já sei.
*
Passado não me falta. Só futuro.
Qual futuro?, pergunta-me a razão
Rindo de mim no nada em que procuro
Sombras de mim na antiga dimensão...
*
Tomba um entardecer como os demais,
Urdo, eu, um novo sonho amanhecendo,
Vibra ainda uma corda, um eco, uns ais
Wagnerianos, frágeis no crescendo,
*
Xaroposos, venais, enjoativos...
Yolo!,* grita-me o mar ao descobrir-me,
Zero!, responde a Terra, que é dos vivos.
*
Maria João Brito de Sousa – 04.03.2020 – 14.29h
*
Inspirado pelos poemas "Quadro Para a Vida", de Joaquim Sustelo, e no "Zelo Ansiosa Por Cada Olhar Teu", de MEA - Maria da Encarnação Alexandre.
Tela- "NU AZUL" de Pablo Picasso
COISAS COMUNS
*
As coisas mais comuns, mais pequeninas,
Tornam-se ameaçadoras, gigantescas,
E roem-te por dentro e escavam minas
Cada vez mais profundas, mais dantescas.
*
Pensavas dominá-las? Não dominas;
Tentas matá-las e renascem frescas
Do espectro das vitórias que imaginas,
Mais brutais, mais cruéis e mais grotescas.
*
Se eu pudesse escrever como escrevia
Quando olhos e razão me eram senhores,
Delas, decerto, conta nem daria,
*
Mas não sei se virão dias melhores,
Nem se as coisas comuns do dia-a-dia
Um dia deixarão de ser só dores.
*
Maria João Brito de Sousa – 08.39h - 03.93.2020h
*
Imagem - "A Ansiedade", Edvard Munch, 1894
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