Maria João Brito de Sousa
EMBONDEIROS
*
Parecem-me dedos, estes ramos vivos
Saídos de mãos que se erguem expectantes
E encimam pulsos/troncos criativos
Que tudo condensam no espaço de instantes.
*
Sim, semelham dedos mas nunca cativos
Porque porta-vozes de seres verdejantes
Que vivem milénios, serenos, altivos,
Pouco se afastando do que foram dantes.
*
Sempre que vos olho, humildes/soberbos,
Assumo a cadência da ausência de verbos,
Também emudeço ante a vossa grandeza,
*
E vós, tão mais sábios do que isto que sou,
Falais sem palavras do mundo em que estou,
Dos grandes caprichos da mãe natureza.
*
Maria João Brito de Sousa – 15.08.2019 – 11.50h
NOTA - Soneto hendecassilábico criado para um desafio poético no site HORIZONTES DA POESIA (ligeiramente modificado)
Imagem retirada daqui
publicado às 09:45
Maria João Brito de Sousa
DO NADA QUE TENHO AO POUCO QUE SOU
*
“Perdi a esperança, perdi a vontade”...
Tudo, na verdade, perdi da abastança
Vinda da bonança após a tempestade.
Mas tudo se evade que a vida é mudança
*
E a ponta da lança é de ferro e saudade...
Mas urdi-me em jade, com perseverança.
Desfiz-me da trança, gritei; Liberdade!,
Da trivialidade moldei a pujança.
*
Pouco me sobrando, por dentro me sondo
E vou recompondo do duro, o mais brando,
Até não sei quando, num gesto redondo,
*
Janelas que rondo, assim me franqueando
Se sigo teimando, tal qual marimbondo*
Zumbindo e compondo, juntar-me ao meu bando.
*
Maria João Brito de Sousa – 01.08.2019 – 10.03h
*
NOTA – O primeiro verso é da autoria de MEA no seu soneto DO POUCO QUE QUERO, QUASE NADA TENHO
* Marimbondo (do kimbundo, Angola) – Vespa, vespão
publicado às 10:34