REDENÇÃO
Ler aqui, se faz favor
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Ler aqui, se faz favor
OLHO-TE, SOL...
*
Olho-te, Sol. Não sei se por mim chamas
Nas chamas cruas de que te compões,
Porquanto sou de carne e de emoções
E tu és tudo aquilo que proclamas
*
Nos calorosos raios que hoje emanas
E dos quais vão surgindo reacções
Que cambiarão conforme as condições
Das ilhas de matéria em que os derramas.
*
Contudo, tendo prazo - como tudo... -,
Também te apagarás. Ficará mudo
O espaço que hoje ocupas. E vazio.
*
De nós, proclamadores de eternidades
A quem encheste de oportunidades,
Que guardarás depois de morto e frio?
*
Maria João Brito de Sousa – 26.05.2019 – 14.43h
EXULTAÇÃO PONTUAL
*
Chegou num céu azul, inda impoluto,
O Verão que pensei nunca mais ver,
Já que este Inverno deitou a perder
Ramadas férteis que nem deram fruto.
*
Mas ei-lo agora, quente e resoluto,
Impondo-se-me aos frutos por nascer,
Aquecendo-me ainda, ainda a ser
Arauto do meu último reduto.
*
Por algum tempo - pouco infelizmente -
Não tremerei de frio e esquecerei
Parte de cada mal que me atormente,
*
Porque enquanto me aqueça um astro-rei
Que para todos nasça, estou contente;
Por quanto tempo exulto, é que não sei.
*
Maria João Brito de Sousa – 22.06.2019 – 10.47h
FRÁGIL SERIA O FRUTO E FRACO, O CHÃO
*
Quero-te, solidão, mais do que ao mar
E mais do que ao vulcão que trago aceso
Nas mil e uma noites sem luar
Dos dias em que o sol se compra a peso.
*
Do tanto que te quero e sei mostrar,
Do muito que te anseio, adubo e prezo,
Fico, de corpo e alma, a levedar
A massa do meu pão posto em defeso.
*
Porque és amante que poucos entendem
E mãe dos versos que me surpreendem
No ventre do silêncio, ó solidão,
*
Se não fora por ti, fermento vivo
Do verso-pão que como e que cultivo,
Frágil seria o fruto e fraco, o chão.
*
Maria João Brito de Sousa – 19.06.2019- 12.38h
VÔOS
*
Por vezes somos espada, somos bala,
Por vezes somos flor que já murchou...
Num dia somos voz que ninguém cala
E, noutro, uma memória que ficou.
*
Por vezes, quando imóveis numa sala,
Chegamos onde mais ninguém chegou
E, sem o peso de nenhuma mala,
Voamos como mais ninguém voou...
*
Se temos asas dessa envergadura,
Sem outro esforço que o de uma procura
Percorreremos todo este universo,
*
Que se outros há, perdoem-me a loucura
De preferir voar estando segura
Da raiz que me prende ao velho berço.
*
Maria João Brito de Sousa – 16.06.2019 – 12.15h
Imagem retirada daqui
O DESVENDADOR DE ALMAS
*
Decifro-te anseios, silêncios e medos...
Desvendo segredos. Cá tenho os meus meios
Nem belos nem feios, nem tristes nem ledos,
Nem sequer azedos como os teus receios...
*
Aos anéis, comprei-os, mas... postos nos dedos,
Ficaram tão quedos que cansei-me e dei-os
Apesar de cheios de mistério e credos,
Visões de degredos, vislumbres de enleios.
*
Contudo desvendo sonhos, ambições
E até frustrações que mal compreendo,
Mas logo apreendo sem mais confusões.
*
Se há contradições no que vou tecendo,
Nada mais pretendo, face às condições,
Do que alguns tostões pelo que hoje vendo.
*
Maria João Brito de Sousa – 14.06.2019 -21.53h
*
Imagem retirada daqui
NADA OS SEGURA!
*
Das pontas desgastadas destes dedos
Vão nascendo os folguedos de toadas
Talvez pouco afinadas, mas sem medos
Se a penas e degredos são votadas
*
Por fúteis quase nadas, por segredos,
Ou por falsos enredos e charadas...
Colhem espigas doiradas. Qu`rê-los quedos,
Aos incansáveis dedos, camaradas,
*
É perfeita loucura! Voltarão
A andar na contra-mão de uma procura
Do que trouxe amargura à servidão,
*
Pois contra a opressão da ditadura
Crescerão em estatura e dimensão
Ao dizerem que não. Nada os segura!
*
Maria João Brito de Sousa – 06.06.2019 – 23.00h
NOTA - Soneto experimental, em decassílabo heróico com rimas na sexta e na décima sílaba métrica.
Tela de Silva Porto, retirada daqui
À MEA
*
Que possa Juno em Junho consolar-te
De tão imensa dor. Eu nem me atrevo
A mais do que entender-te e abraçar-te,
Pois mais não sei. Só sei que mais não devo
*
Porque, afinal, que mais terei pra dar-te
Pr`além do que te dou quando te escrevo,
Se me sabe a tão pouco desejar-te
Coragem, nas palavras que aqui levo?
*
Pra dor que só se espelha na mudez,
Nem eu vejo o consolo que não vês
Nos abraços sentidos que te oferecem,
*
Mas nada mais te posso oferecer
Pois, quando a vida assim nos faz doer,
Só o Tempo imporá que as dores dispersem.
*
Maria João Brito de Sousa – 05.06.2019 -11.00h
Imagem retirada daqui
Ler aqui, por favor.
162 seguidores
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.