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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
30
Jun18

EU, O LOBO

Maria João Brito de Sousa

Lobo-770x439_c.jpg

 

EU, O LOBO



(Soneto de Coda)



Sou um lobo e nasci para predar

Quanto me baste pra me garantir,

Bem como a todo o fruto que gerar

Na compulsão de me reproduzir,



Todo o bicho passível de matar

A dureza da fome que eu sentir,

Que também eu a sinto a protestar

Quando o sustento vai tardando em vir...



Se te assusto nas noites de luar

C´o uivo prolongado que emitir,

Mais a mim me violento, se o calar!



Mais tu matas do que eu possa caçar

E bem mais do que a fome te exigir;

A ti, dono e senhor do teu mal-estar,



Que apenas caças para te exibir,

Que mais posso dizer-te pra mostrar

Ter, também, o direito de existir?

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 27.06.2018 – 13.48h

29
Jun18

MIOPIA(S)

Maria João Brito de Sousa

atena.jpg

 

MIOPIA(S)



A musa está esgotada e já não esgrima

Os floretes dos versos com mestria;

A lâmina gastou-se, rima a rima,

E embotou-se-lhe o gume à fantasia.



Enverga uma armadura que abomina

Que a sufoca, que a aperta e que a arrepia,

Porque há questões que a musa não domina

Quanto às contradições da Poesia,



Por isso hesita e toda se sublima,

De florete na dextra, contra o clima

Que extrema, quando em extremos se extasia



Pois, crendo ver à frente uma obra-prima,

Avança e logo dela se aproxima,

Mas mais não vê que a própria miopia...





Maria João Brito de Sousa – 24.06.2018 – 13.14h



 

28
Jun18

FUTURO IMPERFEITO

Maria João Brito de Sousa

FUTURO IMPERFEITO II.jpg

 

FUTURO IMPERFEITO



Num porto inseguro, um futuro imperfeito

Promete a seu jeito. Com jeito o esconjuro

Que a outro futuro, só outro, eu aceito;

Não muda o conceito, depois do que apuro!



Saltando algum muro, espraiada no leito

De um quarto desfeito pintado de escuro,

Nunca me descuro, mas pouco me enfeito;

Meu crivo é bem estreito, não tem nem um furo



E nem estrangulada por ferros de algemas

Fiquei afastada dos sons, dos fonemas,

Dos velhos poemas que nascem do nada



Na terra lavrada por falsos sistemas...

Meu fruto, entre os temas da voz divulgada,

Qual fruta bichada, só causa problemas.

 

 

 



Maria João Brito de Sousa – 20.06.2018 – 10.47h

 

27
Jun18

SEMENTINHA(S)

Maria João Brito de Sousa

SEMENTINHA.jpg

 

SEMENTINHA



Ó minha língua, minha Língua-Mãe,

Por cá, cheirando a salsa picadinha,

A açorda de alho, a azeite e a sardinha

Pingando sobre o pão, como convém,



Por lá, temp´rada de óleo de dendê(m),

Bebendo água de côco ou caipirinha

E pondo, na muamba de galinha,

O gindungo, que ardeu mas soube bem...



Abriste em flor e nada mais detém

Os ventos que te levam muito além

Da “cosa nostra” desta terra minha,



Mas tem cuidado, não te arranque alguém

A raiz que frondosa te mantém

No chão de onde brotaste, sementinha!





Maria João Brito de Sousa - 26.06.2014 – 13.17h

(No hospital de Egas Moniz)

 

26
Jun18

ROL DE VERSOS

Maria João Brito de Sousa

ROL DE VERSOS.jpg

 

ROL DE VERSOS

 

Do mal que me governa ou desgoverna,

Do bem que eu faça ou deixe de fazer,

De Platão, quando engendra uma caverna,

Dos muitos que à caverna irão descer,

 

De uns tantos que a subiram sem lanterna,

Do Sol que nasce a cada amanhecer,

Da Lua quando prenha ou da taberna

Onde homem e mulher a vão beber,

 

Dos dias em que a noite é quase eterna,

Dos vivos que desistem de a viver,

Dos soldados de chumbo sem caserna,

 

Do chumbo que os atinge e  faz morrer

E, deste rol de temas, a fraterna

Partilha dos poemas que eu escrever.

 

 

Maria João Brito de Sousa – 24.06.2018 – 18.09h

25
Jun18

NAS ARTÉRIAS E VEIAS DA CIDADE

Maria João Brito de Sousa

FADO II.jpg

 

NAS ARTÉRIAS E VEIAS DA CIDADE

 

 

O sangue inunda as veias da cidade

Vindo da fonte humana que o contém,

E só por uns instantes se detém

Para beber um copo na Trindade,

 

Para dizer bom dia a quem lá vem,

Pra dar-se num abraço de saudade,

Pra comer uns natinhas em Belém,

Ou na Avenida que é da Liberdade.

 

 

Corre o seu sangue em puro descompasso

Do Marquês ao Terreiro que, do Paço,

Passou a ser do povo que é sa(n)grado,

 

E nessa imensa/infinda hemorragia,

Esvai-se a cidade inteira, dia a dia,

Ao som das mansas notas do seu fado.

 

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 22.06.2018 -15.48h

 

 

NAS ARTÉRIAS E VEIAS DA CIDADE.jpg

 

24
Jun18

ALHO PORRO

Maria João Brito de Sousa

ALHO PORRO.jpg

 



ALHO PORRO





Se à rua sais levando um alho porro

Para enfeitar a noite ao São João

E alguém, ao ver-te, grita por socorro,

Não sabendo o que trazes tu na mão,



Segue em frente. Nas ruas que percorro,

Na da Memória e na da Tradição,

Encontras quem recorde o que eu discorro

E te devolve, rindo, o gesto são.



O martelinho de hoje está distante

De trazer-me a alegria esfusiante

Do “porro” dos meus tempos de menina,



Quando o brandia em gesto triunfante

Ou, fingindo ter medo do tratante,

Me apressava a esconder-me em qualquer esquina.

 



Maria João Brito de Sousa- 23.06.2018 – 19.40h

 

 

23
Jun18

SONETO AO POOOOOOOSTE!!!

Maria João Brito de Sousa

SONETO AO POOOOOOOSTE!.jpg

SONETO AO POOOOOOSTE!!!



Escreve a ponte-de-lança – e vai lançada... ,

E falha numa nota – Assim, já foste!,

Mas nem a multidão se ergue exaltada,

Nem se ouve alguém gritar: - Soneto ao pooooste!



Continua a escrever... não se ouve nada,

Mas pode bem haver quem não desgoste

Da nota musical mais afinada

Que escanda entre jogadas que nem mostre...



Foi golo ou não foi golo? É sempre incerto

Torcer por quem da morte está tão perto

Que só sabe estar viva porque escreve



E não desiste de ir compondo um tango...

Alguns irão espalhar que “meteu frango”,

Mas mais nada lhe importa e... entra em greve.

 

 



Maria João Brito de Sousa -



Entre 18.06.2016 (primeira estrofe) e 18.06.2018 (estrofes seguintes)

 

 

22
Jun18

TOLERÂNCIA ZERO

Maria João Brito de Sousa

CAMPOS DE SEPARAÇÃO.jpg

 

TOLERÂNCIA ZERO

 

 

Mas onde e quando ouvi a mesma história?

Ouvi-a de Treblinka e de outros mais

Onde os filhos morriam sem os pais,

Sem um nome, sem tempo e sem memória

 

Em nome de uma abjecta, absurda glória

Por causa de um punhado de ideais

(que o foram, muito embora o não creiais...)

Engendrados de forma aleatória.

 

Quão perversa se torna a raça humana

Se se dizima e a si se desengana

Quando se extrema em sonho... ou pesadelo?

 

Como prever ou como prevenir

Toda a desgraça que estará por vir

Se se repete ainda este modelo?

 

 

Maria João Brito de Sousa – 21.06.2018 – 15.05h

 

Imagem retirada da Net, via Google

 

21
Jun18

... ME APAGO, SE ACESA...

Maria João Brito de Sousa

vela apagada.jpg

 

… ME APAGO, SE ACESA...





O crime das horas, nestas horas minhas,

É, quais libelinhas, quais aves canoras,

Serem sedutoras, mas também daninhas,

Não para estas linhas dardejando auroras,



Mas para as penhoras dos reis, das rainhas

Que deixam sozinhas as mãos produtoras,

Essas, sim, senhoras dos trigos, das vinhas,

Das frutas fresquinhas sempre tentadoras...



Deixando-me ilesa, correm muito lestas,

Passam pelas frestas, sopram sobre a mesa,

Levam de surpresa rascunhos, palestras...



São vivas arestas às quais fico presa;

Fundem-me à certeza de etéreas orquestras,

Estas horas. Nestas, me apago, se acesa.





Maria João Brito de Sousa – 19.06.2018 – 19.42h

 

 

 

Soneto dedicado ao poema O CRIME DAS HORAS, de António Codeço.

 

 

 

 

20
Jun18

O ÚLTIMO DEGRAU

Maria João Brito de Sousa

O último degrau.jpg

 

O ÚLTIMO DEGRAU



Beijou, espantado, o último degrau,

Saiu cambaleando até cair

Redondo e tão sem vida quanto um pau

Que não servisse mais, nem pra partir...



Dos passos dados, nenhum fora mau

E a este, nem cuidou de o prevenir;

Foi num rompante que passou a vau

O rio que separava o seu porvir,



Do caixão onde cumpre agora a morte,

Só porque, no degrau, foi a má sorte

Quem o veio buscar quando caiu.



Por mais que seja um homem fraco ou forte,

Pode perder da vida o passaporte

Por causa de um degrau que ninguém viu...





Maria João Brito de Sousa – 17.06.2018 – 18.10h

 

19
Jun18

CONVERSANDO COM ALBERTINO GALVÃO - VALORES

Maria João Brito de Sousa

Picasso - self portrait 1907.jpg

 

FALO DO QUE SINTO

 

(soneto hendecassílabo com rimas encadeadas)

 

 

Já mortos, no tempo, andam os valores

mas nascem “senhores” neste nosso chão

que serão, ou não, por formação doutores...

porém... estupores?!... Isso eu sei que são!

 

Com ou sem razão, a esses tais “senhores”

chamo ditadores e aos que a eles dão,

por bajulação, aplausos e louvores

chamo de impostores! Digam lá que não!?

 

Sempre fiz questão de escrever de falar...

sem medo apontar injustiças que vejo

jamais p’lo desejo de ser aclamado...

 

foi-me já legado! Sem me comparar

a Ary vou gritar, porque nele me revejo,

não sou nem almejo ser vate castrado!

 

 

Abgalvão

 

...*…

 

 

TAMBÉM DO QUE SINTO, FALO!

 

 

Também do que sinto falo sem pudor,

Sem mudar de côr. Sobre essas, não minto,

Nem douro, nem pinto valor que é valor,

Nem que erga o teor à dor que hoje consinto

 

 

E que evito e finto, seja como for...

Sem um só rubor, direi tudo o que sinto

Sem branco nem tinto que altere o sabor,

Melhor ou pior, do que é claro e distinto.

 

Fujo ao tal estrelato que não me seduz,

Que sempre reduz a memória do facto

Ao mero aparato de uns jogos de luz...

 

Isto me conduz e portanto delato

Maldade, mau trato e quanto os traduz

Porque os reproduz sem um termo... e a contrato!

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 18.06.2018 – 12.38h

 

 

Pablo Picasso - Self Portrait, 1907

 

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