Maria João Brito de Sousa
(Soneto em decassílabo heróico)
A tarde era de sol, mas eu tremia
E recordava as ondas altaneiras
Deste meu Tejo que, em maré vazia,
Só me evoca a estiagem das ribeiras
O novo tempo a todos desafia
De formas tantas e de tais maneiras
Que até o próprio Tejo se arrepia
E veste espuma tóxica e poeiras.
Dessa água, nenhum bicho irá beber
E os peixes mortos boiam como toros
Num leito onde mais nada irá nascer
Porque exala venenos pelos poros;
Que triste rio me irá sobreviver?
Um Tejo assim, sem fauna, flora ou esporos?
Maria João Brito de Sousa – 23.02.2018 – 18.02h
NOTA(S)–
a)Não tenho sabido da evolução da situação de poluição da bacia hidrográfica do Tejo, mas espero que alguma coisa esteja a ser feita... e bem feita.
b)Este soneto nasceu na sequência da leitura de um soneto da MEA - “Era Tarde de Sol em Tarde Fria”
publicado às 09:00
Maria João Brito de Sousa
(Soneto em verso hendecassilábico e rima intercalada)
Se sinto ou pressinto esse rótulo estreito
De quem, por defeito, confirma que minto,
Quase por instinto o desminto e rejeito;
Com jeito ou sem jeito, só escrevo o que sinto
E, logo que o finto, reclamo o direito
De ter um suspeito, embora distinto
Do tal labirinto composto a preceito
Pra quem seja atreito a excessos de... tinto.
Com fogo - não extinto... - pulsando no peito,
Só rendo o meu preito a quem eu consinto
Que solte o seu cinto e se abeire de um leito
Por mim já desfeito. Meu caro Filinto,
Ao seu leito eu finto, nesse não me deito;
Não tiro proveito do quarto... de um quinto.
Maria João Brito de Sousa – 22.02.2018 – 10.39h
publicado às 11:10
Maria João Brito de Sousa
ENAMORAMENTO
*
(Soneto em verso hendecassilábico)
*
Subindo do fundo da soma impossível
de duas constantes sem sombra, nem sol,
coberto de neve qual alvo lençol,
movendo-se agora, conforme o desnível,
*
Já cresce que cresce, embora invisível,
algo que mal vejo, talvez um atol,
talvez – pressuponho - um simples farol
no centro improvável de um mar mais sensível...
*
Será um poema que ao longe me chama,
ou mera faísca que brilha e me inflama
o sangue e as mãos... e por dentro e por fora?
*
Ah, seja o que for que assim se me imponha,
vou já dar-lhe troco pois não me envergonha
crer que outro soneto de mim se enamora.
*
Maria João Brito de Sousa – 22.02.2018 – 09.00h
publicado às 09:02