Maria João Brito de Sousa
BOM ANO, BOM ANO! *
Bom ano, bom ano!, por tudo e por nada, sorrindo encantada desejo um bom ano, melhor, mais humano porque desvendada a rota enganada do meu desengano... *
Bom ano, bom ano! Que o seja à chegada da noite marcada por todo este plano que sempre é sob`rano e, nos mapas traçada, vem bem orquestrada por mão de tirano... *
Bom ano pr`a vós e também para mim! Que belo festim, o dos dias por vir, noites pr`a dormir e manhãs sem ter fim... *
Será mesmo assim, ou terei de admitir, que o quero é sentir e só digo que sim pra “noutro latim” não ter de o desmentir?
*
Maria João Brito de Sousa- 30.12.2017 – 12.23h
(Soneto em verso hendecassilábico e rima encadeada)
NOTA - O bom ano que vos desejo é do fundo do coração!!! Este soneto é que é para ser lido e pensado em termos mais latos. Peço desculpa por vos tentar fazer pensar um pouco mais profundamente, numa data tão festiva...
publicado às 12:48
Maria João Brito de Sousa
… E QUE O DIA NASÇA!
(Soneto em verso hendecassilábico e rima intercalada)
… e que nasça o dia depressa e sorrindo,
Que é sempre bem-vindo quem saiba sorrir
E enquanto eu dormir não sei quem vem vindo,
Se é feio, ou se é lindo... só sei quando o vir.
Virá pr`a se abrir, ou virá se cobrindo
De um cúmulo-nimbo que o tenta encobrir?
Não sei descobrir que manto o vai vestindo,
Mas nunca prescindo de o querer pressentir
Antes da surpresa que chega ao romper
Do que me couber desse dia nascendo
No suave crescendo de um amanhecer...
Escolha o que escolher, estou sobrevivendo
E sei que os vou tendo sem mais pretender
Que um dia a nascer de uma noite morrendo...
Maria João Brito de Sousa – 29.12.2018 -15.29h
publicado às 15:40
Maria João Brito de Sousa
(Soneto em verso hendecassilábico e rima intercalada)
***
Deixai que a noite entre, que eu morro de sono
E em doce abandono me entrego a Morfeu,
Que, tal como eu, nunca ousou ser meu dono,
Só dono do sono que me adormeceu
Num berço só meu, neste suave abandono...
Se abuso e ressono, que o faça só eu
Na noite de breu em que ao dia me abono
Se embarco sem dono, sem sonhos, sem véu,
Nem medo escusado das coisas do escuro;
Não sei que futuro, mas trago um passado
E ao que houve de errado tornei já seguro
Pois, saltando o muro, deixei-o de lado,
Perdido, olvidado. Amigos, vos juro
Que o meu sono é puro, nunca amargurado...
Maria João Brito de Sousa – 28.12.2017 – 13.59h
Na sequência do soneto “Deixai que a Noite Entre!” de Maria da Encarnação Alexandre (MEA)
Imagem -"Le Berceau", Berthe Morrisot
publicado às 15:15
Maria João Brito de Sousa
CONVERSANDO COM HELENA TERESA RUAS REIS
"De primaveras mesmo sendo Inverno",
De um Verbo novo e sempre mais eterno
Por cada nascituro abrindo a vida,
Dar novo olhar à dor que foi vencida.
Natal feliz: um mundo p'ra o que sofre.
Abaixo os sons do mal e o cheiro a enxofre!
Renove-se p'la paz todo o terror
Co'a Bíblia ou o Corão chamado Amor.
O sono de Jesus nos dê sossego
Num berço onde a miséria enobrece
E humildes nos curvamos numa prece.
Fruto terno e raiz a que me apego...
Ó inverno em Natal nossa esperança,
Quimera que nasceu doce criança!
Helena Teresa Ruas Reis
*********
"Quimera que nasceu doce criança"
E a todas as crianças representa
Fazendo, do Natal, terna mudança
Que a todos nos enlaça e nos sustenta.
Calem-se, então, os loucos da matança
Cuja riqueza, injusta e opulenta,
Nos torna a vida dura e sem parança
E sempre sacrifica alguém que tenta
Contra a ganância impor-se e dizer; Não!
Que nunca, nunca mais se nasça em vão,
Que nunca mais se sofram agonias,
Que se unam sempre o Amor e a Razão,
Pois cada um de nós tem por missão
Construir um Natal todos os dias!
Maria João Brito de Sousa – 22.12.2017
publicado às 17:51
Maria João Brito de Sousa
MEU LUGAR
Carmo Vasconcelos
O meu lugar cativo está no Além,
que este daqui, por marco provisório,
tem seu tempo marcado, transitório,
é morada perpétua de ninguém.
Estamos de passagem, mas porém,
não é caminho vão, de todo inglório,
pois se revela p'ra alma sanatório
de erros passados - carma que detém.
Na breve estada cabe-nos saldar
o "deve" e "haver" de vidas mal vividas
na displicência própria dos infantes;
sair da senda dos ignorantes,
crescer na luz das chances concedidas,
p'ra ganharmos, enfim, "nosso lugar".
Carmo Vasconcelos
DE TOMBO EM TOMBO ATÉ SE DESFAZER
Seja Depois o meu lugar cativo,
que no Tempo o concebo e não no Espaço
onde inteira me entrego ao tempo escasso
de amigos e poetas com quem privo.
Também estou de passagem... se hoje vivo,
nunca sei se amanhã se solta o laço,
mas enquanto te encontro, a ti me abraço,
poema que me tentas, louco e esquivo...
No “deve” e no “haver”, fico a perder;
devo mais do que dou, dando-me inteira
de corpo e alma e mais do que o possível,
Mas foi-me agreste a sorte que, insensível,
transmutou rocha em seixo de ribeira
que tomba e rola até se desfazer...
Maria João Brito de Sousa – 29.12.2017 – 11.10h
publicado às 13:41
Maria João Brito de Sousa
SAUDADE DO PIUÍÍÍ
*
Regina Coeli
Lá longe, onde o passado jaz perdido,
Sempre via um alegre trem passar;
Deixava som saudoso ao meu ouvido,
Um gostoso "piuííí" solto no ar...
*
A criançada, olhar embevecido,
Aplaudia o trenzinho em seu cantar,
"Piuííí, Piuííí!", um eco repetido
Até sumir sua imagem devagar...
*
No relembrar de dias tão distantes
Fica-me uma tristeza acre e sem fim:
Jamais verei "piuííís" como vi antes...
*
Um trem desliza e corre pelo chão,
Circula e encanta todos, não a mim,
Porque não traz "piuííí” ao coração...
*
Regina Coeli
Brasil
MEMÓRIAS DO “POUCA-TERRA, POUCA-TERRA”
*
Não houve “piuííís” no meu Dafundo,
Mas houve um “pouca-terra, pouca-terra”
Que enchia todo o meu pequeno mundo
Das fantasias que outro mundo encerra...
*
Passa agora um comboio, longe, ao fundo,
Mais distante e tão rápido que enterra
Ao passar bem veloz, num só segundo,
Sessenta e cinco anos, quando berra
*
Sobre os carris de ferro que devora...
Ao velho “pouca-terra” evoco em vão;
Não é tristeza, não, que essa não mora
*
No mais profundo do meu coração...
A menina cresceu, sofreu... não chora,
Mas ama ainda como amava então...
*
Maria João Brito de Sousa -19.12.2017 – 18.28h
Portugal
publicado às 10:05
Maria João Brito de Sousa
"E nasce outro dia de sonhos, de esp`rança"
Desta gasta noite de desilusões
Que vence o cansaço, que traz a bonança
Que à beira do palco conduz multidões...
Cantemos que o mundo ainda é criança!
Crianças, nós todos, rumando às paixões
Que o soneto acende... e enceta-se a dança
Que o cria e partilha sem mais concessões!
Vai ficando escuro... do escuro da sala,
Um verso que nasce espontâneo se exala
Das pontas dos dedos, geladas, geladas...
Conversas que passam, mas nada nos cala;
Se um verso nos chama, passemos à fala
Que ao escuro da sala nos trouxe as chamadas.
Maria João Brito de Sousa - 19.12.2017
NOTA - O primeiro verso - entre aspas - é da autoria do poeta Joaquim Sustelo
publicado às 14:29
Maria João Brito de Sousa
AQUECE-ME A ALMA II
Aquece-me a alma, que a trago gelada
E há coisas de nada que a deixam quentinha;
Uma palavrinha bem intencionada,
Lhe basta, coitada, que está tão velhinha
Esta barca minha já desmantelada,
Em terra encalhada, mas do mar vizinha
Que nada adivinha e que sonha calada
Com onda exaltada, sendo ribeirinha...
Aquece-me a alma! Quero navegar
Nas ondas do mar e nas rotas do sal!
Talvez faça mal, mas o meu lugar
É onde eu chegar, não só o areal
Onde Portugal parou para sonhar...
Aquece-me, Mar, porque hoje é Natal!
Maria João Brito de Sousa – 17.12.2017 – 11.12h
In horizontesdapoesia.ning.com
publicado às 11:52
Maria João Brito de Sousa
Concedo aos meus poemas, quando os faço,
mui garantidamente ousar tecê-los
como se foram fios de mil novelos
que tivessem tombado em meu regaço.
Cedo-me inteira, embora sendo escasso
o tempo em que o meu colo irá sustê-los,
mas... outras garantias, outros zelos,
não posso conceder-lhos neste espaço
Em que ao tecê-los me encho de cansaço,
e de saudades me encho ao não escrevê-los...
Tão pouco posso e tanto quero erguê-los,
Que me escapam novelos. Solto o laço?
Prendo-me a cada fio, traço por traço,
e, mesmo exausta, volto a concebê-los?
Maria João Brito de Sousa – 16.12.2017 -09.27h
Oeiras, Portugal
publicado às 09:31
Maria João Brito de Sousa
SONATINA XII (do livro "Treva Branca")
É bom que eu viva ao léu, pois me acostumo
à solidão que assusta a quem não crê,
pois se de algum receio eu sou mercê,
passeio, canto e ando, rio e fumo.
Num certo dia que virá, presumo,
não tendo amigos nem sequer você,
talvez que eu me lamente, só porque
a sorte não nos pôs no mesmo rumo.
E, se ao chegar a hora em que se apaga
a luz da vida, uma saudade vaga
quiser velar na minha soledade,
ouvidos não darei ao seu alento,
porque saudade é sempre sofrimento
por mais que seja alegre uma saudade.
Alda Pereira Pinto
Brasil
Soneto recolhido no blogue “O Secular Soneto”
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ENCONTRO CASUAL DE DUAS SOLISTAS
Não passeio, nem canto. Escrevo e fumo
enquanto grafo um verso... talvez dois...
outros doze, a jorrar, virão depois
completar-me o soneto em que me assumo
Reflexo de um poema – ou seu resumo... -
nos estilhaços em que o desconstróis,
honesto, firme, não sonhando heróis,
de ti colhendo o fruto. A polpa. O sumo.
Vi-te por mero acaso. Este soneto
foi o ponto de encontro, o mar secreto
onde já de partida eu navegava
Quando te vi passar rebelde, agreste...
Olhei-te fixamente, mas nem deste
por mim, que estranhamente em ti me olhava.
Maria João Brito de Sousa – 14.12.2017 – 09.00h
Portugal
publicado às 09:07
Maria João Brito de Sousa
"Pensando nos secamos e perdemos Esta força selvagem e secreta Esta semente agreste que trazemos E gera heróis, homens e poetas"
Ary dos Santos
Glosa
"Deuses somos nós!"
"Pensando nos secamos e perdemos"
Mas, não pensando, iremos na colecta
Do que outrem, mais astuto, nos prometa
E que, no fundo e sem saber, já temos;
"Esta força selvagem e secreta"
Em que, hora a hora, nos reacendemos
Já que concretamente a concebemos
Abstracta, de aparência, mas concreta,
"Esta semente agreste que trazemos"
Nesta barca de espanto, em seus dois remos,
Na vela que reclama hastes erectas
"E gera heróis,(e) homens e poetas"...
Eis quanto nos define. O que seremos?
Dessa mesma matéria o talharemos!
Maria João Brito de Sousa - 22.06.2017 – 16.48h
In “ERA UMA VEZ UM POETA...
ARY DOS SANTOS, UM POETA ORIGINAL”
Antologia Horizontes da Poesia, 2017, Euedito
publicado às 19:34
Maria João Brito de Sousa
Montei o meu presépio em tempos idos,
Em tempos idos ergui meu pinheiro,
Pois tudo tem seu tempo. Os diferidos
Sempre serão sequelas do primeiro,
Desses originais que estão perdidos;
Nenhum tem o sabor do verdadeiro,
Nunca o mesmo alvoroço dos sentidos
Se faz sentir depois, no corpo inteiro...
Não é hábito meu falar de mim,
Ou, falando de mim, fazê-lo assim,
Como se eu fora o centro deste mundo,
Mas... se digo a verdade, o que fazer?
Chegue, ou não, ao Natal que puder ter,
Nenhum será igual aos do Dafundo...(*)
Maria João Brito de Sousa – 01.12.2017 – 11.21h
(*) Cruz-Quebrada, Dafundo – Antiga Freguesia do Concelho de Oeiras, extinta pela reorganização administrativa de 2012/2013, sendo o seu território integrado na União de Freguesias de Algés, Linda-a-Velha e Cruz-Quebrada/Dafundo.
publicado às 11:50