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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
30
Nov17

CONVERSANDO COM MARIA DA ENCARNAÇÃO ALEXANDRE -PODER

Maria João Brito de Sousa

PODER.jpg

 

PORQUE SÓ AMAR É PODER SEGURO



Há quem do poder faça  seu amor

Numa entrega total quase paixão

Impondo-se pla força e sem pudor

Não se aceitando amar nem ver razão...

 

Mas que importa o poder sem o calor

E o carinho dum só toque de mão

Dum beijo e abraço dados com ardor

Sentindo bater forte o coração?

 

Se poder é o mando que dispõe

E que ímpio obriga e logo impõe...

Onde estará o amor real e puro?...

 

Não me peçam então que ame o poder

Nem sequer pra com ele conviver

Porque só amar é poder seguro...!

 

MEA

 

30/11/2017

 

***********

PODER(es)



Tão-pouco essa obsessão pelo Poder,

Alguma vez senti, ou entendi,

Por muito que o tentasse perceber,

Nunca pude, ao Poder, trazê-lo aqui.



Dissecá-lo – a mão firme e sem tremer... -,

Lamento confessar, não consegui,

Mas isso não bastou pra nel` não crer,

Porque, apesar de tudo, bem o vi,



Brutal na sua forma de exercer

A funesta paixão que se acender

Em todo o que o trouxer dentro de si.



Eu pouco posso e nada quero ter

Para além do que posso e que é escrever,

Mas, se algum dia o quis, nem o senti.





Maria João Brito de Sousa -30.11.2017 -16.20h

 

29
Nov17

GLOSANDO MARIA DA ENCARNAÇÃO ALEXANDRE - VIDA

Maria João Brito de Sousa

Bosão de Higgs.jpg

É LÁ NESSE LUGAR QUE A VIDA HIBERNA

 

Lá no alto onde o tempo se calou

Onde há nuvens que choram sem querer

Pra onde a lua foi e não voltou

E há estrelas acabadas de nascer…..

 

Lá no alto onde o tempo já brilhou

Quando o sol lá nasceu sem se esconder

Lá onde o azul do céu se misturou

Com as cinzas das estrelas a morrer

 

Fica o lugar mais belo, mais sereno

Onde a paz é maior o vento ameno

E a luz, eu direi mesmo que é eterna

 

Onde o sonho renasce e permanece

Quando a idade já nos entardece

…É lá nesse lugar que a vida hiberna!

 

MEA

28/11/2017

 

******

 

TAMBÉM NESSE LUGAR NASCE A POESIA

 

 

“Lá no alto onde o tempo se calou”

E os astros pulsam ao sabor do espanto

Cadências de um quasar que começou

Há milhões de anos sem que o desencanto,

 

“Lá no alto onde o tempo já brilhou”,

O impedisse de ir espraiando um manto

Sobre o vazio de um espaço que inundou

De química, primeiro, e... depois tanto,

 

 

“Fica o lugar mais belo, mais sereno”

De todos os locais que um ser terreno

Pode engendrar, se sonha e fantasia;

 

“Onde o sonho renasce e permanece”,

Cresce o Homem que ainda desconhece

Quanto de si é Ciência... e Poesia.

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 29.11.2017 – 18.10h

 



 

 

27
Nov17

CONVERSANDO COM O POETA ADÍLIO BELMONTE

Maria João Brito de Sousa

Ai quemme dera II.jpg

 


PINGOS DE CHUVA



Há no inverno e também neste verão,
Fazendo reflorir todas as flores
E muito amor ao nosso coração,
Livrando-nos a todos de suas dores.

Os pingos batem forte no telhado
Tal qual som musical em harmonia
Que sai do piano ao toque do teclado,
Como todos nós numa sinfonia.

Cantemos todos nós em dós e rés
Juntamente com todos trovadores,
Pois o grande concerto já se instalou.


Tal musicalidade é das marés
Sobre bravos e fortes pescadores
Dos mares que o poeta já nos falou.


Adílio Belmonte



Belém – PA - Brasil

 

***********



DE OLHOS NO HORIZONTE E MÃO NO LEME



Que a musicalidade das marés
Te traga inspiração e força e esp`rança!
Que nessa Barca e sobre o seu convés,
Em vez de tempestade, haja bonança!

Que o céu, que agora está negro-de-pez,
Se encha das cores do arco-da-aliança
Preenchendo esse negro que ora vês
P´ra tornar mais harmónica a mudança!

Haja o que houver, que a Barca permaneça,
Que nas ondas do Mar nunca pereça
Essa que tudo enfrenta e nada teme

E nem a Tempestade nos impeça,
De rumar devagar, ou mais depressa,
De olhos no Horizonte e mão no Leme!


Maria João Brito de Sousa - 27.11.2017 - 10.12



Oeiras, Portugal

 

 

23
Nov17

CHUVA

Maria João Brito de Sousa

chuva-38.jpg

 

Mais três tímidos pingos se juntaram

Aos três primeiros, hoje anunciados,

E, bem depressa, mil outros tombaram,

Pois já cai chuva a rodos nos telhados,



Nos canteiros do buxo que ensoparam,

Nos vidros das janelas, salpicados,

Nas gentes que aqui passam, ou passaram,

Sob chapéus-de-chuva improvisados...



Bendita sejas tu, que dessedentas!

Bendita, pelo bem que representas

Para a terra sequiosa e para a vida!



Chorando sobre a crosta, a reinventas,

A cobres de verdura e a sustentas,

Ó chuva, tão sonhada, quão fugida!





Maria João Brito de Sousa – 23.11.2017 – 16.34h



NOTA – Na sequência do soneto “Só Três Pingos...” de Maria da Encarnação Alexandre.







 

 

20
Nov17

CONVERSANDO COM JOSÉ SARAMAGO

Maria João Brito de Sousa

rasto.jpg

SONETO ATRASADO



De Marília os sinais aqui ficaram,
Que tudo são sinais de ter passado:
Se de flores vejo o chão atapetado,
Foi que do chão seus pés as levantaram.

Do riso de Marília se formaram
Os cantos que escuto deleitado,
E as águas correntes neste prado
Dos olhos de Marília é que brotaram.

O seu rasto seguindo, vou andando,
Ora sentindo dor, ora alegria,
Entre uma e outra a vida partilhando:

Mas quando o sol se esconde, a noite fria
Sobre mim desce, e logo, miserando,
Após Marília corro, após o dia.



José Saramago

In “Os Poemas Possíveis”

 

**************

 

SONETO DO ENCONTRO TARDIO



Atrás de mim vieste e me alcançaste

No rasto dos sinais por mim deixados,

Mas tivesse eu mais rio, mais chão, mais prados,

Soubesse eu desses sonhos que sonhaste,



Mais sinais deixaria onde passaste;

Mais lágrimas, mais risos entoados,

Mas muito menos passos apressados

Teria dado até onde me achaste...



Caminhava apressada pela vida,

Sem cuidar de cuidar que havia um fim,

Sem notar que passava distraída,



Mas que um rasto deixava e, sendo assim,

Te apontava uma rota percorrida

Que antecipava a tua, atrás de mim...



Marília



(Maria João Brito de Sousa – 20.11.2012 – 11.20h)

17
Nov17

A ARCA DE FERRO

Maria João Brito de Sousa

A ARCA.jpg

 

(Soneto em verso hendecassilábico e rima encadeada)



Fecharam-me um dia numa arca de espantos;

Roubaram-me, uns tantos, fortuna, alegria,

Quanto eu possuía de força e de encantos

Deixando-me os mantos com que me cobria,



Quando eu mal sabia da dor, dos quebrantos,

Dos sábios, dos santos, do frio que faria...

Alguma energia, contida entre prantos,

Me ergueu desses cantos que eu desconhecia



E, aos poucos, fui vendo que essa arca de ferro

Era um simples erro e... de erros, entendo!

Lá fui aprendendo com erro após erro...



Nessa arca me encerro mas, dela nascendo,

Ouve-se, em crescendo, um protesto, um berro

E os dentes que cerro, rangendo, rangendo...

 



 

Maria João Brito de Sousa – 17.11.2017 – 13.20h







 

16
Nov17

PORQUE O CÉU NÃO TEM LIMITES...

Maria João Brito de Sousa

PORQUE O CÉU NÃO TEM LIMITES.jpg

 

(Soneto em decassílabo heróico)



O céu não tem limites, nem fronteiras

E, tanto quanto sei, nem tecto tem,

Mas nem por isso é pobre e verdadeiras

Serão sempre as estrelas, mais além,



Brilhando como tiaras ou pulseiras

Nas frontes e nos pulsos de ninguém,

Pulsando até às vistas derradeiras,

Iluminando tudo e mais alguém...



No céu, hás-de ver estrelas que estão extintas

E nunca as que estão hoje a começar,

Portanto, mundo meu, nunca me mintas;



Não passarei de um raio de luar,

Mas sei avaliar coisas distintas

E tenho estrelas pr`a me iluminar!





Maria João Brito de Sousa – 16.11.2017 – 16.05h



 

15
Nov17

NEM VIVA, NEM MORTA...

Maria João Brito de Sousa

Nem viva nem morta.jpg

 

Não jogo, não jogo, não jogo nem morta!

Retiro-me absorta, não brinco com fogo!

Se quase me afogo na maré mais torta,

A Barca suporta tudo o que lhe rogo,

 

Porque, logo, logo, me salva e conforta,

Abrindo-me a porta, vencendo outro jogo,

Nunca o que me arrogo... esse pouco importa,

Nem viva, nem morta, lhe aceito o regougo!

 

Ó Barca cativa das minhas algemas,

Guarda-me, não temas as penas que eu viva

Se a sorte me priva de embalar poemas

 

Mantém-te passiva nas tardes amenas,

Sonha com fonemas na noite furtiva,

Mas sê sempre altiva; não cedas, nem tremas!

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 14.11.2017 – 17.05h

 

 

NOTA - Soneto em verso hendecassilábico, rima encadeada e acentuação tónica na quinta sílaba métrica.

 

14
Nov17

"UPSIDE DOWN"

Maria João Brito de Sousa

upside down.jpg

 

 

Pequeno poema escrito em contra-mão,

Não te sei compor, mas deixo uma razão;

Sinto-me aturdida, perco-me de ti,

 

Não te oiço pulsando, nada sei senão

Que fugindo ao tom, escapas-me à canção...

Poema, que fazes ao teu “dó-ré-mi”

 

Que escondes, que guardas tão longe de mim?

Peço-te desculpa, pois rude pareço,

Mas bem reconheço; estranha, sou-o sim,

Se te escrevo assim, pondo o fim no começo,

 

Mas nunca te impeço desta forma, assim,

Tornar-te  jardim, jardim em que tropeço

E no qual me empeço muito antes do fim,

Nalguns ramos de alecrim... eis o teu preço!

 

 

Maria João Brito de Sousa – 14.11.2017 – 10.04h

 

 

NOTA – Soneto "excêntrico" escrito no seguimento de um soneto do poeta Albertino Galvão, em verso hendecassilábico e acentuação tónica na sétima sílaba métrica.

 

 

09
Nov17

SONETO BÁRBARO

Maria João Brito de Sousa

INVASÕES BÁRBARAS.jpg

 

SONETO BÁRBARO

 

Pedem tónicas na sétima? Cá vão elas, cá vão elas,

A dançar, deselegantes, como bandos de elefantes

Que às doze não chegarão, nem estarão perto de tê-las,

Mas vale a pena tentar, mesmo que em versos gigantes

*

 

Solfejando um “dó-de-mim” sobre umas linhas singelas,

Construir algumas delas que nos soem mais cantantes,

Sabendo que não serão, nem de longe, coisas belas,

Antes são, em vez de estrelas, versos muito dissonantes.

*

 

A musiqueta, essa, foi-se desta pauta putativa

Que, para manter-se viva, dá por cada verso, um coice

E - juro! - a gente condói-se, se de harmonia se priva!

*

 

Eis a música cativa, já sem martelo e sem foice,

Dando coice atrás de coice na pobre da comitiva

Que jamais foi punitiva! Mas o soneto constrói-se!

*

 

 

Maria João Brito de Sousa – 09.11.2017 – 10.00h

 

 

NOTA – Chama-se BÁRBARO a todo o soneto composto por versos de mais de doze sílabas métricas. Este é composto, na sua totalidade, por dois hemistíquios (metades de um verso) de sete sílabas métricas, o que, como poderão verificar, nem sempre resulta num verso de catorze sílabas métricas, dadas as palavras proparoxítonas (esdrúxulas) utilizadas na sua construção, bem como à dificuldade em criar um ponto neutro (átono) entre os dois hemistíquios de cada verso.

 

08
Nov17

MEMÓRIAS DE INFÂNCIA

Maria João Brito de Sousa

digitalizar0053.jpg

 

(Soneto em verso hendecassilábico e rima encadeada)

 

 

Castelos na praia... quem lhes reconhece

Aval que se aprece em direitos de autor,

Se feitos de amor e do espanto da prece

Quase me acontece sabê-los de cor?

 

São quase um pendor... quando um desfalece

Logo outro se of`rece e lhe iguala o esplendor

De fruto, ou de flor, que ninguém desvanece

E assim permanece, seja como for!

 

Memórias de infância, de infância remota,

Quem não as anota num canto qualquer

Que o corpo escolher, quando as não derrota?

 

Ressurgem-me em frota, mesmo sem eu qu`rer,

Tomando o poder, mudando-me a rota...

Ah, fazem batota... mas deixo-as viver!

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 08.11.2017 – 11.32h

 

 

 

 

02
Nov17

CONVERSANDO COM MARIA DA ENCARNAÇÃO ALEXANDRE -Lisboa, Tejo, Mar e Barra

Maria João Brito de Sousa

ALI...NO CAIS DO SODRÉ

283px-Forte_de_sao_juliao_da_barra2.jpg

 

 ALI... NO CAIS DO SODRÉ

 

Ali onde o Tejo parecendo o mar

Vem bem de mansinho encostar-se no cais

E em sua dormência fica a suspirar

Aos pés de Lisboa seus factos reais

 

Com doces meneios a quer abraçar

Faz juras de amor, dizendo que jamais

Em dia de sol ou noite sem luar

Deixará de vir murmurar-lhe seus ais

 

E ela enamorada vem cantar-lhe um fado

Num doce clamor num tom apaixonado

E com ar brejeiro vai mostrando o pé

 

E o Tejo promete,que num gesto eterno

Virá sempre dar-lhe aquele abraço terno

Ali, bem juntinhos, no Cais do Sodré

 

 

MEA

1/11/2017

******************************


AQUI, NA BARRA

 

Aqui, onde o Tejo, deixando pr`a trás

Todo o manso espanto que o prende à cidade

E, avançando sempre, às ondas se faz

Deste mar imenso e, tenso, o invade

 

Sem medos, nem freios, ainda que em paz

O mar o receba – que o Tejo é saudade

que o mar nunca esquece por não ser capaz -

Num fraterno abraço, sem qualquer maldade,

 

Só mesmo as gaivotas se fazem ouvir

Mais alto que as ondas do mar que, a rugir,

Com elas faz coro e desgarra, desgarra...

 

Ouvindo o seu coro, não sei senão ir

Atrás desse som que não sei produzir,

Mas que ecoa em mim e por toda esta Barra!

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 01.11.2017 – 16.44h

 

(Portuguesa, natural de Oeiras e S. Julião da Barra)

 

 

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