GLOSANDO ANTÓNIO DE SOUSA (meu avô paterno)
BANCARROTA
Esperei por mim em vão, suando rezas,
pragas, versos subtis, ruivas saudades,
Arrastei minhas horas indefesas
entre chusmas e fundas soledades.
Tive palácios de imortais certezas
com seus jardins de passear vaidades;
virtudes compassadas e burguesas
e dor sem nome, como o preso às grades.
Fui o fiel-conviva-de-banquetes,
o pálido-com-alma-pra-vender
nos mercados dos filhos de seus pais...
Subi-me ao céu nas canas dos foguetes,
fiz-me ladrão de sonhos, pra vencer,
e sei apenas que não posso mais!
António de Sousa
in "Livro de Bordo" (segunda edição)
Editorial Inquérito
CRÉDITO (tardio...)
"Esperei por mim em vão, suando rezas,"
quando era o verbo quem por mim esperava
e descobri-me cega e de mãos presas
a todas essas rezas que rezava...
"Tive palácios de imortais certezas"
feitos de um barro que ninguém moldava,
povoados por monstros e princesas,
dos quais fui, noite e dia, sendo escrava.
"Fui (o)a fiel-conviva-de-banquetes"
Estrangulada por mãos, quais torniquetes,
e desprezando o vôo dos pardais,
"Subi-me ao céu nas canas dos foguetes";
Vi homens a tombar, feitos joguetes
De uns poucos que "voavam" muito mais...
Maria João Brito de Sousa - 01.11.2016 - 13.35h
(revisto)
NOTA - Em ambos os sonetos foi utilizado o verso em decassílabo heróico.