Maria João Brito de Sousa
Não me apontem sentidos quando eu vejo
Que sigo um rumo próprio e produtivo
Que irá bem mais além, se eu tenho ensejo
De enchê-lo das razões de que me privo
Quando, num verso, encontro o tal solfejo
E, num soneto o esboço, agreste e vivo!
De assim, tão vivo o ver, logo o protejo
Quer passe, quer não passe, pelo crivo
De quem julgue que eu própria o não cotejo
- embora em gesto quase intuitivo... -
Enquanto o vou escrevendo, se o desejo
Como sempre o desejo; sensitivo,
Ritmado - francamente! - e, como o Tejo,
Valente, renovado e compulsivo...
Maria João Brito de Sousa - 08.09.2016 - 13.48h
Imagem da nascente do Tejo, serra de Albarracín
publicado às 14:07
Maria João Brito de Sousa
PALAVRAS AO LUAR
Vim! E trouxe comigo mar bravio
Que destrói esta praia que me deste
Ao ver-te, alga, arrastada por navio
Num trajecto sem rumo e tão agreste
Há ondas que me afundam num vazio
Quando sinto, que nada, já fizeste
Que te afaste do mal negro e sombrio
Que assombra o teu caminho como peste
Acalmo este meu mar, de ondas gigantes
Teço-me de faróis, só vigilantes
Porque pra nada mais sou soberana
Perfumo as tuas noites, de luar
Pra que quando em teus braços se deitar
Leve a minha saudade, da semana
Maria da Encarnação Alexandre
05/09/2016
(Ainda à minha mãe)
CONFISSÃO...
"Vim! E trouxe comigo o mar bravio"
Desde o primeiro instante em que cheguei...
Depois, provei a fome e tive frio,
Mas não desdisse o mar, quando o provei!
"Há ondas que me afundam num vazio"
E outras que me juram que voei,
Que fiz, de cada vácuo, um desafio,
Que, por perder-me, muito mais ganhei...
"Acalmo este meu mar de ondas gigantes"
Na plenitude destes meus instantes
De breves, semi-breves e colcheias,
"Perfumo as tuas noites de luar",
Mas sou, mais do que tudo, onda de um mar
Que aspira a circular nas tuas veias...
Maria João Brito de Sousa - 06.09.2016 - 13.56h
(A todos os poetas que ousam navegar...)
publicado às 14:23
Maria João Brito de Sousa
SONHEI CONTIGO...
Sonhei que era contigo que sonhava
E que nesse acordar era verdade...
O sonho tão real se me mostrava
Aos meus olhos de espanto, de saudade.
Sonhei ver esse rio que me cantava
Seus fados e canções, na mocidade,
E os jacarandás! Como adorava,
Na avenida mais bela da cidade...
Sonhei que nas ameias me sentava
E que meu peito aberto mergulhava
Daquela Torre em saltos de ansiedade...
Que no meu Tejo, ali, mesmo nadava.
Quando acordei confesso, já chorava,
Pois só em sonho foi realidade.
Helena Fragoso
REBENTAÇÃO...
"Sonhei que era contigo que sonhava",
ó minha casa-mãe, meu berço e chão,
e que eras tal e qual te recordava,
bem mais do que uma antiga construção...
"Sonhei ver esse rio que me cantava"
como se fosse líquida, a canção
e me tornasse, inteira, uma onda brava
numa estranha e complexa solução...
"Sonhei que nas areias me sentava"
olhando a vaga quando rebentava
nos mil estilhaços dessa insurreição,
"Que no meu Tejo, ali mesmo, nadava"
sonhando que ao sonhar me transmutava
em espuma branca, qual rebentação...
Maria João Brito de Sousa - 02.09.2016 - 16.31h
publicado às 21:11