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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
29
Jun16

AUTO-RETRATO MUITÍSSIMO IRÓNICO

Maria João Brito de Sousa

 

 

Eu, em casa.jpg

(Soneto em decassílabo heróico)

*

 

Dez-reis de gente. A cinza dos cabelos

Aponta ao mundo o estágio da velhice

Que a pele ainda lisa lhe desdisse

Por obra e graça dos seus desmazelos,

*

 

Pois nem sequer cuidou de nunca tê-los,

E o tempo que não pára - que chatice! -

Fugir-lhe-á antes que a pieguice

Se lhe adiante aos versos que achar belos.

*

 

Dez-reis-de-gente-de-trazer-por-casa

Que sem a casa nem sequer vai ter

Esses restos de entulho em maré-vaza

*

 

Que lhe couberam quando ousou nascer;

Ah, quando ousar morrer, decerto arrasa,

Mas, certamente, só quando morrer.

*

 

 

Maria João Brito de Sousa - 24.06.2016 - 12.23h



 

26
Jun16

DER FLIEGENDE HOLLÄNDER - O Holandês Voador

Maria João Brito de Sousa

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DER FLIEGENDE HOLLÄNDER
*



Traz âncora de fogo e velas de aço

E a mão do leme o força contra o vento

Negando a força ao mar, ao tempo, ao espaço,

Contra todas as leis do firmamento...

*

Vermelha, a bujarrona - um pano lasso

Que se enfuna no tope -, é seu tormento

Eternizando em sangue, agora escasso,

Os tantos que ganharam seu sustento

*



Nesse convés, em tempos tão remotos

Que a memória das gentes - ou seus fitos -

Um por um, foi deixando entre os ignotos,

*

Ou, mais precisamente, entre os malditos

Que quais penedos, vagas e mar`motos,

Ganharam o lugar de velhos mitos.

*



Maria João Brito de Sousa - 12.06.2016 - 23.10h

 

23
Jun16

PENAS...

Maria João Brito de Sousa

digitalizar0015.jpg

 

 

(Soneto em decassílabo heróico)

 

Eu tenho tanta pena de ter pena

Do tanto que vou vendo destruído,

Que chego a deduzir que ser serena,

Se despiu de razões, perdeu sentido,

 

Pois mais sentido faz razão pequena

Que nem sequer conceba haver perdido

Razões que são da pena a razão plena

De nunca as ter sonhado, ou concebido,

 

Mas... pena de mim mesma? Coisa obscena!

Que fútil, ou que inútil terei sido

Durante esta jornada, nunca amena,

 

Pr`a tê-la de mil penas preenchido?

Pergunto, olhando o Nada que hoje acena

A Tudo o que me coube ao ter nascido...

 

Maria João Brito de Sousa - Março, 2016

 

In A CEIA DO POETA - (inédito)

 

20
Jun16

WHAT A WONDERFUL WORLD!

Maria João Brito de Sousa

Sol.png

 (Soneto em decassílabo heróico)

 

O mundo, Amor, será maravilhoso,

Mesmo depois de mim, quando no mar,

A minha velha Barca naufragar

Num Inverno qualquer, mais rigoroso,

 

Mas... se por um momento doloroso,

Eu deixasse, no Mundo, de apostar,

Não teria sabido ao Mundo amar,

Nem desta Vida obtido qualquer gozo...

 

Ah, Mundo-Vida, quanto me prendeste

Pois, de quanto tiraste, mais me deste

Desta riqueza a que nem vejo o fim

 

Quando, por dentro, a chama me acendeste

E, morra embora nalgum dia agreste,

Maravilhada, vi-te aceso em mim...

 

 

Maria João Brito de Sousa - 15.06.2016 - 14.22h

 

17
Jun16

SE AMOR DISSECO... IV

Maria João Brito de Sousa

Amor disseco.jpg

 

 

(Soneto em decassílabo heróico)

 

I

 

Ai, se um qualquer Mostrengo abocanhasse

Meus frágeis ossos velhos, gastos, fracos,

E, toda inteira, me deixasse em cacos,

Sem que eu fugisse, ou mesmo ripostasse,



Ou - ainda pior! - se eu suportasse,

Uns dentes feros, grossos como tacos,

Que me arrancassem três ou quatro nacos

Da muita, ou pouca, carne que sobrasse...



II



Disseco Medos, para além de Amor

E, sem dar troco a seja lá quem for

Que venha, lesto, pr`a calar-me agora,



Descubro ainda, sem qualquer pudor,

Da(s) causa(s) "prima"(s), cada dissabor

E, nas mãos de Eva, gestos de Pandora...



Maria João Brito de Sousa- 11.06.2016 - 19.23h

 

 

14
Jun16

SE AMOR DISSECO... III

Maria João Brito de Sousa

inteligenciacoletiva1.jpg

 

 

(Soneto em decassílabo heróico)

 

Se Amor disseco, encontro-lhe as fraquezas;

O ciúme, a traição, as perversões

E as mais que conhecidas distorções,

Irmãs de Amor, aue sempre a Amor vão presas,

 

Unidas pelas próprias naturezas

E del`nascidas, contra as convicções

Que, afirmam, não de Amor, só de paixões,

Nascerem, por excepção, tão vis surpresas...

 

Porém, se Amor disseco... ah, quanto vejo!

O mesmíssimo Amor que pede um beijo

Pode exigir, depois, total pertença,

 

E destruir o que antes foi desejo...

O contrário de Amor - sem medo, ou pejo!-,

Ódio não é, garanto! É Indif`rença...

 

 

Maria João Brito de Sousa - 11.06.2016 - 16.53h

 

12
Jun16

SE AMOR DISSECO... II

Maria João Brito de Sousa

450px-Relação_da_viagem,_e_Naufragio_da_nao_S._P

 

(Soneto em decassílabo heróico)

 

Se tanto teve e, por Amor, a privas

De dar-se um pouco, para além de amar,

Como pudeste, sem razão, privar

A quem te amou nas horas mais excessivas

 

De outras paixões, que teve de calar,

Concretas, muito embora criativas,

Mas fortes, persistentes, compulsivas...

E a todas ignorou, pr`a te agradar?

 

Eu, quando Amor disseco sem parar

E mais me encontro enquanto dissecar

Amor, nos corações das coisas vivas,

 

Recordo, Amor, que qu`rendo-te abarcar,

Não me encontrava, a mim, neste meu Mar

Que, hoje, de Amor, me ergueu vagas altivas...

 

 

Maria João Brito de Sousa - 10.06.2016, 19.30h

 

10
Jun16

SE AMOR DISSECO...

Maria João Brito de Sousa

Henrique Simot Lombardo.jpg

 

(Soneto em decassílabo heróico)

 

 

Se Amor disseco, quanta vez me espanto

Da minha mão, cirúrgica, precisa,

Que, mal pressinta Humor, tudo analisa

Serenamente e sem qualquer quebranto...

 

No mesmo suave Amor que exalto e canto,

Pressinto humano Humor que a "ratio" visa

E que detecto, assim que a mão desliza

Pr`ó despojar desse inventado manto...

 

Mas, porque o faço tão naturalmente

Como respiro, ou vejo, claramente,

Que vão embranquecendo os meus cabelos

 

E os dentes me sucumbem, dente a dente...

Como evitá-lo, se a razão não mente,

Porquê escondê-lo, quando eu posso vê-los?

 

 

Maria João Brito de Sousa - 10.06.2016 - 15.41h

 

 

Imagem - "Anatomia do Coração",  Enrique Simonet Lombardo

 

 

06
Jun16

VERSO A VERSO...

Maria João Brito de Sousa

 

agua-gotas.jpg

 

 

(Soneto em decassílabo heróico)



 

Na tenaz destas coxas que te prendem

Conduzo-te, poema imaginário,

Por ondas e marés, doce corsário,

Ao cais onde estas vagas se me rendem...

 

Rotas hábeis que engendro e que te entendem,

Levar-te-ão, poema solitário,

Ao cais urgente, ao porto necessário

À nau que vara as ondas que a suspendem...

 

Afundo-te, poema, verso a verso,

Firmando o leme assim que tu, disperso,

Te desvias da rota e, já perdido,

 

Recusando, talvez, morrer submerso

Na doce embriaguês deste universo,

Te negas ao naufrágio prometido...

 

 

Maria João Brito de Sousa - Fevereiro, 2016

 

 

In A CEIA DO POETA (inédito)



 

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