Maria João Brito de Sousa
RAZÕES PARA TODAS AS MÃOS
DESTE MUNDO
*
O Mundo, sem ter razão,
Tem tanta que eu já pensei
Render-me à contradição
Deste mundo em que ela é lei
*
Faltou-me razão, porém,
Pra tão estranhas intenções
E às razões que o mundo tem
Venho opor minhas razões;
*
Ao nascer de cada dia
Opõe-se o gesto contrário
Que o quebra em monotonia
*
E passa o pão que a mão cria
Das mãos do Poeta-Operário
Prás mãos que alguém lhe estendia
*
Maria João Brito de Sousa - 29.09.2011 - 11.30h
NA FOTOGRAFIA - Manuel Ribeiro de Pavia, 1956
publicado às 12:14
Maria João Brito de Sousa
A ti que mais não podes pois te pesa
Um não sei quê, que nunca me pesou
E, quão mais livre, mais te sentes presa
A tudo quanto, a mim, me libertou,
Mas que, da poesia, és chama acesa
Que em tantos anos nunca se apagou,
A ti, mão criadora da beleza
Que em teus sonetos se manifestou,
Que consegues chorar como quem reza
Pois vais rezando como quem chorou
Cada palavra que é servida à mesa
Do verso heróico que te consagrou;
Quem, de pura amargura e de incerteza,
Te fez morrer... mas nunca te matou?
Maria João Brito de Sousa - 12.12.2015 -12.33h
IMAGEM - Fotografia de Florbela Espanca retirada do Google
publicado às 13:38
Maria João Brito de Sousa
TRAGICOMÉDIA, NUM ÚNICO SONETO EM DECASSÍLABO HERÓICO
(...infelizmente muito real...)
Agora é que começa o vislumbrado
Do acto derradeiro, a apoteose
Que culmina no mais que anunciado
Momento de curvar-me em grata pose,
Na mira de alcançar a parca dose
Dessoutro bem maior que, a chão firmado,
Permitirá que suba... desde que ouse
Negar, da Língua-mãe, génio e legado...
- "E qual das variáveis negarás?",
Indaga-me um leitor, já sonolento...
- "A todas achincalham! Tanto faz
Que a uma ou outra escolha! Ah, desalento,
Que assim me matas, pois não tentarás
Quem da língua (bem) escrita herdou sustento!!!"
Maria João Brito de Sousa - 05.12.2015 -14.23h
PS - Não li o "famoso" romance, nem vi o filme. Nunca.
publicado às 15:03
Maria João Brito de Sousa
(Soneto em decassílabo heróico)
Reajo ao dia certo, ao tempo exacto,
Ao ângulo perfeito, à luz correcta,
Ao chispar da fagulha no contacto
Entre o círculo, o ponto, a linha recta,
E a tela que consinta o estranho facto,
Tornando-se mais útil, mais concreta,
De deixar-se impregnar do som, do tacto,
Do que a mão me alcançar, sem rumo ou meta...
Nesse processo, nunca me apaixono
Por traços que não exprimam, claramente,
Pessoas como eu sou, sem fama ou dono...
Nem sempre lá estarei, mas será gente
Quem exponho numa tela em que abandono
Quanto, em me urgindo a chama, a mão consente...
Maria João Brito de Sousa – 01.12.2014 – 20.01h
publicado às 14:07