Calar quando as palavras se me adentram
E me correm nas veias galopando,
Calar quando, ind` além do que comando,
Sou razão das razões que elas concentram
Se, nunca me bastando, mais me tentam
E mais me justificam se, cantando,
Nos dedos que são meus, frutificando,
Me crescem, me revelam, me sustentam...
Como calar-me, então, sem ser calada,
Mesmo por força bem intencionada,
Por falta de que sei estar inocente?
Como tornar-me, então, neutra, indif`rente
E reduzir-me, em vida, a quase nada,
Antes de assim sentir-me amordaçada?
Maria João Brito de Sousa - 28.10.2015 - 21.06h
Gravura de Cipriano Dourado
(Soneto em verso eneassilábico)
Tens a sorte, ou a graça divina,
de o teu corpo crescer debruçado
sobre um Tejo que corre à bolina
pelas ondas de um mar já salgado,
Que te acena e te chama menina,
ou te abraça e te encharca - cuidado,
que ele é mestre nas voltas que ensina,
mas depressa te afoga, se irado! -
Nos teus braços nasci. Pequenina,
fui crescendo contigo, a teu lado,
e hoje abraço esta casa de esquina,
Onde evoco presente e passado,
quando nela relembro essa sina
devolvendo-te ao sonho encantado.
Maria João Brito de Sousa - 11.10.2015 - 21.31h
(Soneto em decassílabo heróico)
Poema, dá-nos voz, matéria-prima,
Tacto, conhecimento e, sobretudo,
Tendo, ou não tendo métrica, nem rima,
Um bom-senso apurado e muito agudo,
Pois dá-nos quanto baste de auto-estima,
Podendo fornecer-nos quase tudo
Do que possa elevar-nos muito acima
De quanto nos eleva um qualquer estudo...
Fingido? Sê-lo-á quanto lhe baste!
(... mas, se o não for demais, tanto melhor...)
Pois, levando o conceito ao seu desgaste,
Plasma-se em quanto exista em seu redor
e faz, da crua dor com que o cantaste,
sofisma de um que diz ser FINGIDOR...
Maria João Brito de Sousa - 11.10.2015 - 17.19h
I
O sol é grande: caem coa calma as aves,
Do tempo em tal sazão, que sói ser fria.
Esta água que alto cai acordar-me-ia,
Do sono não, mas de cuidados graves.
Ó cousas, todas vãs, todas mudaves,
Qual é tal coração que em vós confia?
Passam os tempos, vai dia trás dia,
Incertos muito mais que ao vento as naves.
Eu vira já aqui sombras, vira flores,
Vi tantas águas, vi tanta verdura,
As aves todas cantavam de amores.
Tudo é seco e mudo; e, de mistura,
Também mudando-me eu fiz doutras cores.
E tudo o mais renova: isto é sem cura!
Francisco Sá de Miranda - 1481/1558
II
Filha de um novo tempo, nada sabes
das minhas mil razões, da minha dor,
da força que me eleva, como as aves
esvoaçam nesse azul em derredor,
Mas se em tempo distamos, se mal cabes
nos versos que deixei quando o vigor
soprava, poderoso, sobre as traves
do corpo, que era o meu, no seu melhor
Hoje coube-me ler-te e, num repente,
nasceu-me esta vontade de entender-te,
de ver-te, ainda vivo, inda presente...
Loucura minha, eu sei, pois, conhecer-te,
foi mero impulso que, embora premente,
soçobrou no momento em que ousei ler-te...
Maria João Brito de Sousa - 11.10.2015 - 14.21h
(Soneto em decassílabo heróico)
Procuro um quase-nada; o ponto exacto
onde a palavra abraça o designado,
usando quanto engenho e quanto tacto
nasçam de gesto tão determinado...
Procuro usando mente, usando olfacto
e usando um coração que, acelerado,
não dispensa a razão, que o deixa intacto
depois de loucamente ter pulsado...
Procuro, encontro e julgo ter, de facto,
atingido, no texto aqui deixado,
o ponto onde a palavra faz contacto
Com o que então designa... ou, tendo errado,
fiz tanta confusão que o meu retrato
se apresentou tremido... ou desfocado?
Maria João Brito de Sousa – 07.08.2015- 17.42h
Soneto dedicado aos amantes da fotografia, bem como a todos os que se batem pela sobrevivência das consoantes mudas nas palavras escritas em Língua Portuguesa.
Real é que o real, tornado instável,
vacilando, estremece e já nem cabe
na coisa estruturada e no palpável
de onde, provavelmente, então, se evade,
Tornando, em pouco tempo, inevitável
a extinção de si próprio. O que se sabe
é que, assim dividido, é bem expectável
que o real conhecido então se acabe
No longo estremeção dum espasmo lento
ou na re-criação do mero invento
da coisa que se expande... ou talvez não,
Porque auto-destruída no momento
em que, louca, se expande, em detrimento
das leis da sua própria concepção...
Maria João Brito de Sousa - 01.10.2015 -14.23h
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