Maria João Brito de Sousa
(Soneto em decassílabo heróico)
E anima-se a matéria criativa
até ao ponto exacto e necessário
para que nasça, enfim, matéria viva
do que, antes, parecera o seu contrário
E cresce, a cada dia mais activa,
não pára de fluir de modo vário
na direcção daquilo que a motiva
pr`a desaguar, por fim, no seu estuário...
Digo, porém, que não será cativa
da força de algum ponto estatutário,
nem verga à reprimenda punitiva,
Porque é pertença do mais rico erário
duma Arca que flutua e que anda à d`riva
no rio do nosso humano imaginário.
Maria João Brito de Sousa - 29.08.2015 - 17.56h
NOTA - Esta Fórmula, ou como lhe entendam chamar, aplica-se às línguas - todas elas! -, mas não só...
publicado às 10:59
Maria João Brito de Sousa
(Soneto em decassílabo heróico)
Obscenamente bela, a flor letal
que abrasara a cidade de Hiroshima,
rasga o céu sobre um eixo vertical
ao plano destroçado onde se anima
E vibra e desabrocha e colossal
se expande numa rosa que assassina,
derruba, carboniza e, por igual,
colhe a vida do velho e da menina...
Mas morre-me a palavra à flor dos dedos
que mais vos não dirão, mudos de espanto,
teimando em não falar dos seus segredos,
Depois de vislumbrado o frágil manto
com que o tempo velara antigos medos
Pr`a todo o sempre, espero... ou por enquanto?
Maria João Brito de Sousa – 06.08.2015 – 22.56h
publicado às 00:12
Maria João Brito de Sousa
(Soneto em decassílabo heróico)
… e quando mais não pode e só comeu, de véspera, o pão duro, amanhecido, das sobras que outro alguém lhe ofereceu apesar de o não ter, sequer, pedido,
E quando toda a esp`rança já perdeu porque lhe foi negado o seu sentido e apenas sobra a cinza do que ardeu depois de com seu esforço o ter erguido,
E quando o próprio sonho já esqueceu, sem ter vaga noção de o ter esquecido, nem longínqua memória do que ergueu,
Então, porque o apontas, convencido de podê-lo julgar num gesto teu, se condenado foi, quando traído?
Maria João Brito de Sousa – 22.07.2015 – 12.55h
Imagem - "Os Retirantes", Portinari
publicado às 22:05