Maria João Brito de Sousa
(Soneto em decassílabo heróico)
Da frota de ilusões, destaco, ao fundo,
bojuda vela em barca pequenina,
rumando à colisão, rasgando o mundo,
a silhueta frágil da menina
Que, num primeiro olhar, quase confundo
com tantas que encontrei de esquina em esquina
e de cujas memórias quase inundo
o verbo que me embala e me fascina...
Tão firme, a vasta frota de ilusões!
Avança devagar, mas sempre avança
num mar que não lhe aponta obrigações,
Senão a que lhe cumpre; ser criança
e transportar, na barca, as vocações
escondidas em porões que nunca alcança.
Maria João Brito de Sousa – 27.07.2015 – 16.25h
publicado às 16:56
Maria João Brito de Sousa
(Soneto em decassílabo heróico)
Convoco-te, poema, em cada verso, em cada estrofe enquanto não tecida, em cada afirmação, no seu reverso, no sopro que conduz do verbo à vida,
E sempre que comigo, em mim disperso, te encontro e vou moldando já rendida, perder-te-ei depois, depressa imerso num mar cuja maré me traz perdida,
Mas essa sensação de, em tempo adverso, estar presa, acorrentada e sem saída num beco já distante e bem diverso,
Quando olhada de frente, foi vencida no desdobrar final deste universo que em versos multiplico, dividida...
Maria João Brito de Sousa – 20.07.2015 – 14.34h
publicado às 16:08
Maria João Brito de Sousa
DEMOCRACIA(S)
*
Que capa ostentas tu, Democracia?
Conforme à “barricada” lhe convém,
assim te vais vestindo de ousadia,
ou de odalisca presa em pleno harém
*
Pois se, acaso, te abraça a tirania,
a capa desbotada é que irá bem
com essa com que a astuta oligarquia
disfarça a escravatura em que te tem
*
Mas, sendo uma questão de perspectiva,
dizer que és mesmo tu, vendo-te assim,
louvada por alguns, quando cativa,
*
Não sei, Democracia, se és, pr`a mim,
mero reflexo de outra que vi viva,
vestida de vermelho e... livre, enfim!
*
Maria João Brito de Sousa, 16.07.2015 – 15.04h
publicado às 17:24
Maria João Brito de Sousa
UM SONETO A SANCHO PANÇA *
Foge-me o pensamento do soneto, salivo e penso em pão. É mesmo assim, pois quando a fome aperta não prometo pugnar pelo soneto até ao fim *
Embora seja um crime o que cometo se o frémito ao passar me toca a mim e, por me achar famélica, o remeto pra depois de uma sopa e de um pudim... *
São as coisas mesquinhas que o esqueleto impõe a todos nós, neste ínterim da crise que nos faz ver tudo a preto... *
Absurdo, amigos meus, seria, enfim, esquecer que o corpo cede ao que é concreto e troca por um pão Musa e espadim. *
Maria João Brito de Sousa
23.06.2015 – 15.01h ***
(Do meu baú das finíssimas ironias)
publicado às 00:12