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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
27
Jul15

UMA FROTA DE ILUSÕES

Maria João Brito de Sousa

 

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(Soneto em decassílabo heróico)



Da frota de ilusões, destaco, ao fundo,

bojuda vela em barca pequenina,

rumando à colisão, rasgando o mundo,

a silhueta frágil da menina



Que, num primeiro olhar, quase confundo

com tantas que encontrei de esquina em esquina

e de cujas memórias quase inundo

o verbo que me embala e me fascina...



Tão firme, a vasta frota de ilusões!

Avança devagar, mas sempre avança

num mar que não lhe aponta obrigações,



Senão a que lhe cumpre; ser criança

e transportar, na barca, as vocações

escondidas em porões que nunca alcança.

 



Maria João Brito de Sousa – 27.07.2015 – 16.25h

 

20
Jul15

CONVOCATÓRIA (Adiando tanto quanto puder)

Maria João Brito de Sousa

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(Soneto em decassílabo heróico)

 

Convoco-te, poema, em cada verso,
em cada estrofe enquanto não tecida,
em cada afirmação, no seu reverso,
no sopro que conduz do verbo à vida,

 

E sempre que comigo, em mim disperso,
te encontro e vou moldando já rendida,
perder-te-ei depois, depressa imerso
num mar cuja maré me traz perdida,

 

Mas essa sensação de, em tempo adverso,
estar presa, acorrentada e sem saída
num beco já distante e bem diverso,

 

Quando olhada de frente, foi vencida
no desdobrar final deste universo
que em versos multiplico, dividida...

 

 

Maria João Brito de Sousa – 20.07.2015 – 14.34h

16
Jul15

DEMOCRACIA(S)

Maria João Brito de Sousa

CRAVO.jpg

 

 

DEMOCRACIA(S)

*

Que capa ostentas tu, Democracia?

Conforme à “barricada” lhe convém,

assim te vais vestindo de ousadia,

ou de odalisca presa em pleno harém

*

Pois se, acaso, te abraça a tirania,

a capa desbotada é que irá bem

com essa com que a astuta oligarquia

disfarça a escravatura em que te tem

*

Mas, sendo uma questão de perspectiva,

dizer que és mesmo tu, vendo-te assim,

louvada por alguns, quando cativa,

*

Não sei, Democracia, se és, pr`a mim,

mero reflexo de outra que vi viva,

vestida de vermelho e... livre, enfim!




*

Maria João Brito de Sousa, 16.07.2015 – 15.04h





 

 

08
Jul15

UM SONETO A SANCHO PANÇA

Maria João Brito de Sousa

sancho pança.jpg

 

UM SONETO A SANCHO PANÇA
*


Foge-me o pensamento do soneto,
salivo e penso em pão. É mesmo assim,
pois quando a fome aperta não prometo
pugnar pelo soneto até ao fim
*

 

Embora seja um crime o que cometo
se o frémito ao passar me toca a mim
e, por me achar famélica, o remeto
pra depois de uma sopa e de um pudim...
*

 

São as coisas mesquinhas que o esqueleto
impõe a todos nós, neste ínterim
da crise que nos faz ver tudo a preto...
*

 

Absurdo, amigos meus, seria, enfim,
esquecer que o corpo cede ao que é concreto
e troca por um pão Musa e espadim.
*

 


Maria João Brito de Sousa

23.06.2015 – 15.01h
***

(Do meu baú das finíssimas ironias)

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