Maria João Brito de Sousa
(Soneto em verso eneassilábico)
Se dissinto e me exalto e procuro,
Nestes versos de terra batida,
O perfeito local do Futuro
Onde erguer, no futuro, outra vida
É por ser-me insondável, mas puro,
Este querer que me torna aguerrida
E este ser, de que não me descuro,
Neste estar de chegada e partida!
Se, amanhã, ou depois, me esquecer
Do que agora me move e me enleia
Nestes ramos de humano saber,
Será tempo de o tempo o dizer
Mas, enquanto este qu`rer me norteia,
Terei tempo e razões pr`a viver!
Maria João Brito de Sousa – 29.04.2013 – 19.42h
IMAGEM - Desenho de Álvaro Cunhal, série "Desenhos da Prisão"
publicado às 20:48
Maria João Brito de Sousa
(Em decassílabo heróico)
Sussurra-me, esta voz que me acompanha
E aqui se assume inteira e colectiva,
Um gesto que em palavras se desenha
Pr`a cumprir-se em canção; sonora e viva!
Então, como se a voz me fora estranha,
Dona de autonomia e quase altiva,
Flui por mim toda até que em mim se entranha
Pr`a me deixar, depois, de si cativa…
Mil palavras me nascem no momento
Em que faço da voz discernimento
E amor à língua-mãe que me norteia
Porque ela me ultrapassa em “sentimento”
E consegue dar voz ao que nem tento
Se acato o que outra língua em mim cerceia.
Maria João Brito de Sousa -17.04.2013-18.32h
publicado às 14:17
Maria João Brito de Sousa
(Soneto em decassílabo heróico)
Numa ânsia de lutar por seu país,
Fez-se d`aço a pureza dos seus versos
No vigor de mil golpes controversos
Contra invasor tão vil que nunca o quis…
Que a voz nunca lhe falte e, é já feliz…
Quem sabe, agregue, um dia, ecos dispersos
D`alguém que, nos momentos mais adversos,
Hesite em repetir quanto hoje diz…
(…)
Por sua gente, em luta levantada;
Seu verso militante erguendo a espada!
Contra o jugo de alguns que tudo querem;
O sabre da vontade, essa indomada!
(… e o momento a deixá-la agrilhoada
às grades que aos "outsiders" convierem…)
Maria João Brito de Sousa – 12.04.2013– 21.39h
publicado às 21:57
Maria João Brito de Sousa
POEMA MATER(IA)
*
(Soneto em decassílabo heróico)
*
No topo da matéria, uma palavra
E lá dentro, pulsando, as palavrinhas…
Mas, por belas que sejam, sendo minhas,
Nunca irão designar quanto eu esperava
*
E apenas a paixão, de amante e escrava,
Sem opor resistência a tais rainhas,
Me obriga à persistência destas linhas
Que tão estranha obsessão me comandava
*
Porém, recusam mando que não venha
Do fundo deste amor que as não desdenha,
Ou do corpo/matéria em que me sou
*
Quando, em mim, toda inteira, se desenha
O verbo que do alto se despenha
Sobre a própria palavra que engendrou.
*
Maria João Brito de Sousa – 10.04.2013 – 13.36h
publicado às 13:41
Maria João Brito de Sousa
ESPADA DE POETA
(Soneto em verso eneassilábico) Cá estou eu, decidida a vender Muito cara a provável derrota, Com poemas e rimas por frota, Na batalha ao rigor do Poder!
* Não sei bem se esta luta me quer, Se enfeitada com elmo e com cota Chego a ver a mudança da rota, Ou consigo sequer combater,
* Mas se luto é por grandes anseios E se avanço enfrentando os receios, Uma gota – não mais! – lhe acrescento
* Porque o faço negando os recreios De que os palcos de guerra estão cheios E, por espada, uso o simples talento.
*
Maria João Brito de Sousa – 02.04.2013 – 18.52h
publicado às 00:43