Maria João Brito de Sousa
Que me invada, sustente e suporte
Esta tão castigada impaciência
Que, surgindo, me abrace e conforte
Qualquer forma de alada aparência!
Mas… pensando melhor, que desnorte
Me invadiu e me impôs tanta urgência
Quando a mão mais pesada da sorte
Se abateu sobre a minha imprudência?
Quanto mais pesa o corpo, mais pede,
Mais e mais a razão se nos mede
Pelas pautas de um sonho improvável
Numas asas que a mente concede
E que, às vezes, nos brotam da sede
De um conceito ou de um gene insondável.
Maria João Brito de Sousa -30.11.2012 – 19.56h
IMAGEM - O último Anjo de Maria - Maria João Brito de Sousa, 1999
publicado às 22:15
Maria João Brito de Sousa
Depois de uma janela, outra janela
Se abriu de par em par, nesse protesto…
Mil se abriram depois, fazendo o resto,
Assim que a voz do sonho ecoou nela!
Completo, nasce o sol, derruba a cela,
Infiltra-se-lhe a luz no duro asbesto
E, nessa convicção que ao sono empresto,
Traduz-se-me em vontade enchendo a tela…
Transmutada a janela em peito aberto,
Fosse essa luz descrita a voz roubada
À vivência de um tempo insano, incerto,
Estaria essa vitória bem mais perto
E já se glosaria, em qualquer estrada,
Invicta, esta alegria em que eu desperto!
Maria João Brito de Sousa – 24.11.2012 – 09.39h
Imagem retirada da net, via Google
publicado às 13:29
Maria João Brito de Sousa
Não pedimos faustosos vestidos
Sobre as carnes já tão castigadas
Do chicote das lascas dos vidros
Das janelas de esp`ranças quebradas!
Queremos pão, pois não fomos vencidos,
E o direito, que é nosso, às moradas
De alicerces por nós construídos,
Pelas mãos que, ora, vedes paradas!
Exigimos saúde e futuro
Sobre um solo a que temos direito
E este sonho indomável, mas puro,
De alcançar esse fruto maduro
Que, ao crescer, cá por dentro do peito,
Nos falou de um devir menos duro!
Maria João Brito de Sousa – 22.11.2012 – 19.45h
IMAGEM - Os Comedores de Batatas - Vincent Van Gogh
publicado às 18:30
Maria João Brito de Sousa
É tão crua esta oblíqua navalha
Que apunhala os sentidos da gente,
É tão suja, é tão vil que não falha;
Assassina e… disfarça, inocente!
Se debalde lhe foge a canalha
Que afinal lhe foi sempre indiferente,
Ela fixa, encurrala e estraçalha
Cada um dos que em fuga pressente.
Mas que importa a navalha cruenta
De um poder que nos quer degolar
Se outra força imperiosa argumenta
Numa voz que até mortos sustenta
Pr`a dizer que é morrer ou lutar
E, à navalha, nem sangue a contenta?
Maria João Brito de Sousa – 22.11.2012 – 01.48h
IMAGEM - The Charnel House - Pablo Picasso 1944/45
publicado às 11:15
Maria João Brito de Sousa
Mil protestos `spontâneos, mas sábios,
Vêm desde o mais fundo de mim
Sem que os vá “recortar” de alfarrábios,
Sem sonhar se os lerão mesmo assim…
Meus protestos são feridas gritadas
Sobre a crosta arrancada dos dias,
A correr, por aí, de mãos dadas
C`o prenúncio do fel de agonias!
Sabereis quanta gente aqui morre
Sem ter leito onde encoste a cabeça?
Cuidareis, todos vós, dos “sem nome”?
Qual de vós, “milionários”, discorre,
Sem que uma autocensura o impeça,
Sobre o mal desta impúdica fome?
Maria João Brito de Sousa – 21.11.2012 – 18.22h
Imagem retirada da net, via Google, sem registo de autor
publicado às 18:35
Maria João Brito de Sousa
Sobre as terras lançaram, salgando
A semente, a promessa, o legado,
Do que tantos lá foram plantando
No retorno do esforço gerado…
Sobre os mares foi lançado um feitiço,
Um conluio orquestrado e sem cura,
Que tornou impotente e submisso
Quem dele tira alimento e ventura…
Foram expulsos das velhas cidades
Despojadas dos seus habitantes
Os que irão espalhar sonho e saudades
Na procura de abrigo e salários
Noutras terras diferentes, distantes,
Tantos mil produtores, bons operários…
Maria João Brito de Sousa – 19.11.2012 -16.04h
Imagem retirada da internet, referente à emigração da década de sessenta do século passado
publicado às 16:58
Maria João Brito de Sousa
publicado às 00:00
Maria João Brito de Sousa
Eu, pobre e suburbana, me confesso
Nas “lides de ideais” fraca figura!
Deveras insensata, reconheço
Ser muito avessa a “jogos de cintura”…
Diz-me, a razão, que irei pagar o preço
Desta desprotecção, desta loucura,
Mas falta-me o dinheiro, ou cheque impresso,
Que assegure, ao saldado, a cobertura.
Eu, pobre e suburbana, nunca meço
O alcance do que intuo… ou se o mereço
E defendo o direito a ser quem sou,
Por vezes destemida, no começo,
Se aflorando questões que desconheço,
Fico perdida, sem saber que o estou...
Maria João Brito de Sousa – 04.11.2012 -20.19h
publicado às 20:38